Al Gore nomeado para Prémio Nobel da Paz

Vince

Furacão
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O debate do aquecimento global tem 3 problemas graves , que quanto a mim inviabilizaram para sempre o debate, sem possibilidade de retorno.

1) Políticos
Este é um debate que deveria sempre manter-se na esfera cientifica. Quando entra na arena política, está tudo destruido, deixou de ser cientifico e passou a ser uma guerra de camisolas e bandeiras, entre esquerda e direita e liberais ou não liberais (liberal no sentido clássico e económico).
Historicamente, os principais responsáveis por essa situação foram sectores ligados à esquerda e principalmente extrema esquerda, aqui e em todo o mundo. Nas últimas décadas o ambientalismo sempre foi uma causa mediática, as manifestações, os protestos, os bloqueios, etc,etc. E são quase sempre os mesmos grupos que ora se manifestam contra uma central nuclear, ora destroem parte duma cidade numa manifestação contra a globalização.
Hoje em dia 95% das pessoas que falam e escrevem sobre o aquecimento global servem-se simplesmente dele para luta politica, situação que se agravou substancialmente a partir do momento em que Bush não assinou Quioto. Na verdade estas pessoas estão-se nas tintas para o aquecimento global, a luta é simplesmente politica e o aquecimento global é uma arma de arremesso. Iniciada esta guerra, do outro lado das barricadas organizam-se as fileiras e responde-se hoje em dia da mesma forma com radicalismo negacionista. Somos hoje permanentemente bombardeados com informações e estudos vindos dos dois lados da barricada, deixando o comum cidadão confuso e cada vez mais na dúvida.
Dito isto, o Al Gore, para mim representa o expoente máximo dessa intomissão política num debate que deveria ser cientifico. Por muitas boas e genuinas razões e preocupações que ele eventualmente tenha, os anti-corpos politicos que ele gera em nada ajudam, antes pioram, e muito.
Pessoalmente, aqui há uns anos eu até gostava do homem, no tempo do Clinton. Mas hoje em dia, pelas razões acima citadas, não o aprecio mesmo nada. E desde que no ano passado li uma entrevista dele em que ele subtilmente se considerava uma especie de Winston Churchill desta geração no seu combate contra o aquecimento global a minha opinião sobre a sua personalidade caiu a pique.

2) O Alarmismo
O segundo problema do debate sobre aquecimento global é o alarmismo. Neste aspecto, a grande responsabilidade é dos media, que adoram duas coisas:
- alarmismo
- jornalismo de causas.
Mas o alarmismo em todo o tipo de eventos causa muitos estragos à própria causa. Quer seja no aquecimento global quer seja noutra coisa qualquer como uma gripe das aves. As pessoas ouvem tantas e tantas vezes falar de cenários apocalipticos que acabam por se cansar, desinteressar e tendem a menorizar a sua importância, ou mesmo desprezar de todo o assunto.

3) A ciência mediática
Intimamente relacionado com o ponto 2) surge a ciência mediática. Vivemos hoje em dia numa sociedade demasiado alarmista e mediática, e a própria ciência afundou-se nesse pantano.
Como qualquer estudo alarmista tem um enorme e imediato eco na comunicação para uma audiência global, a tendência de muitos cientistas é produzirem relatórios alarmistas, por variadas razões, umas nobres, outras nem tanto, coisas tão simples como quererem mais notoriedade para si prórios, ou mais usual, para receberem mais fundos que sustentem o seu trabalho e o das suas instituições. Qualquer estudo alarmista tem de imediato direito a milhares de páginas de jornal. Um estudo não alarmista passa completamente despercebido.



É por isto tudo que cada dia que passa cada vez mais gente se junta às fileiras dos "negacionistas". Pelas razões politicas que apontei no ponto 1) mas também porque cada vez mais as pessoas estão cansadas deste assunto e destas guerras.
Quem fica a perder com tudo isso, é o debate cientifico própriamente dito.
 


kimcarvalho

Nimbostratus
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19 Nov 2005
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Elvas
O debate do aquecimento global tem 3 problemas graves , que quanto a mim inviabilizaram para sempre o debate, sem possibilidade de retorno.

1) Políticos
Este é um debate que deveria sempre manter-se na esfera cientifica. Quando entra na arena política, está tudo destruido, deixou de ser cientifico e passou a ser uma guerra de camisolas e bandeiras, entre esquerda e direita e liberais ou não liberais (liberal no sentido clássico e económico).
Historicamente, os principais responsáveis por essa situação foram sectores ligados à esquerda e principalmente extrema esquerda, aqui e em todo o mundo. Nas últimas décadas o ambientalismo sempre foi uma causa mediática, as manifestações, os protestos, os bloqueios, etc,etc. E são quase sempre os mesmos grupos que ora se manifestam contra uma central nuclear, ora destroem parte duma cidade numa manifestação contra a globalização.
Hoje em dia 95% das pessoas que falam e escrevem sobre o aquecimento global servem-se simplesmente dele para luta politica, situação que se agravou substancialmente a partir do momento em que Bush não assinou Quioto. Na verdade estas pessoas estão-se nas tintas para o aquecimento global, a luta é simplesmente politica e o aquecimento global é uma arma de arremesso. Iniciada esta guerra, do outro lado das barricadas organizam-se as fileiras e responde-se hoje em dia da mesma forma com radicalismo negacionista. Somos hoje permanentemente bombardeados com informações e estudos vindos dos dois lados da barricada, deixando o comum cidadão confuso e cada vez mais na dúvida.
Dito isto, o Al Gore, para mim representa o expoente máximo dessa intomissão política num debate que deveria ser cientifico. Por muitas boas e genuinas razões e preocupações que ele eventualmente tenha, os anti-corpos politicos que ele gera em nada ajudam, antes pioram, e muito.
Pessoalmente, aqui há uns anos eu até gostava do homem, no tempo do Clinton. Mas hoje em dia, pelas razões acima citadas, não o aprecio mesmo nada. E desde que no ano passado li uma entrevista dele em que ele subtilmente se considerava uma especie de Winston Churchill desta geração no seu combate contra o aquecimento global a minha opinião sobre a sua personalidade caiu a pique.

2) O Alarmismo
O segundo problema do debate sobre aquecimento global é o alarmismo. Neste aspecto, a grande responsabilidade é dos media, que adoram duas coisas:
- alarmismo
- jornalismo de causas.
Mas o alarmismo em todo o tipo de eventos causa muitos estragos à própria causa. Quer seja no aquecimento global quer seja noutra coisa qualquer como uma gripe das aves. As pessoas ouvem tantas e tantas vezes falar de cenários apocalipticos que acabam por se cansar, desinteressar e tendem a menorizar a sua importância, ou mesmo desprezar de todo o assunto.

3) A ciência mediática
Intimamente relacionado com o ponto 2) surge a ciência mediática. Vivemos hoje em dia numa sociedade demasiado alarmista e mediática, e a própria ciência afundou-se nesse pantano.
Como qualquer estudo alarmista tem um enorme e imediato eco na comunicação para uma audiência global, a tendência de muitos cientistas é produzirem relatórios alarmistas, por variadas razões, umas nobres, outras nem tanto, coisas tão simples como quererem mais notoriedade para si prórios, ou mais usual, para receberem mais fundos que sustentem o seu trabalho e o das suas instituições. Qualquer estudo alarmista tem de imediato direito a milhares de páginas de jornal. Um estudo não alarmista passa completamente despercebido.



É por isto tudo que cada dia que passa cada vez mais gente se junta às fileiras dos "negacionistas". Pelas razões politicas que apontei no ponto 1) mas também porque cada vez mais as pessoas estão cansadas deste assunto e destas guerras.
Quem fica a perder com tudo isso, é o debate cientifico própriamente dito.


Vince!!!!! :surprise: FABULOSA análise/ponto de vista!!!! :palmas: :palmas: :uau: Até conseguiste que me arrepiasse ao ler este magnífico post!
Completamente de acordo!! :thumbsup:

Tu não serás político nem nada não?? :D ;)
 

Minho

Cumulonimbus
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6 Set 2005
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Melgaço
:palmas: :palmas: :palmas: :palmas:

Vince para a presidência!! :D



Tu não serás político nem nada não??

Oh kim tás a insultar o Vince? :D
 

dj_alex

Nimbostratus
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14 Dez 2005
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O debate do aquecimento global tem 3 problemas graves , que quanto a mim inviabilizaram para sempre o debate, sem possibilidade de retorno.

2) O Alarmismo
O segundo problema do debate sobre aquecimento global é o alarmismo. Neste aspecto, a grande responsabilidade é dos media, que adoram duas coisas:
- alarmismo
- jornalismo de causas.
Mas o alarmismo em todo o tipo de eventos causa muitos estragos à própria causa. Quer seja no aquecimento global quer seja noutra coisa qualquer como uma gripe das aves. As pessoas ouvem tantas e tantas vezes falar de cenários apocalipticos que acabam por se cansar, desinteressar e tendem a menorizar a sua importância, ou mesmo desprezar de todo o assunto.

3) A ciência mediática
Intimamente relacionado com o ponto 2) surge a ciência mediática. Vivemos hoje em dia numa sociedade demasiado alarmista e mediática, e a própria ciência afundou-se nesse pantano.
Como qualquer estudo alarmista tem um enorme e imediato eco na comunicação para uma audiência global, a tendência de muitos cientistas é produzirem relatórios alarmistas, por variadas razões, umas nobres, outras nem tanto, coisas tão simples como quererem mais notoriedade para si prórios, ou mais usual, para receberem mais fundos que sustentem o seu trabalho e o das suas instituições. Qualquer estudo alarmista tem de imediato direito a milhares de páginas de jornal. Um estudo não alarmista passa completamente despercebido.


Não entrando muito no ponto 1, porque realmente são politiquises...no entanto não quero deixar de referir que são os politicos que tomam as decisões em relação as alterações climaticas...É muito bonito "o poupar", o "reciclar", mas no fundo são as industrias, sector energetico e o sector transportes que cabe muita da poluição no nosso país...e a esses só o estado pode fazer algo para mudar mentalidade/politicas.

Quanto ao ponto 2 - alarmismo- a culpa vai inteiramente para os jornalistas...Quando se ouve nas televisões, jornais, as maiores calinadas sobre alterações climaticas e sobre as próprias noticias de meteorologia. Em portugal não existe jornalismo ciêntifico. Existem talvez 1 ou 2 jornalistas mais aptos....

O ponto 3 está intimamente ligado com o 2...No entanto só quero deixar uma opinião que acho que toda a gente de acordo....
O mundo como está não pode continuar: aumento da poluição, recursos a ser destruidos, etc, etc...Se o alarmismo do aquecimento global ajudar a reduzir os atentados que se tem feito contra o planeta, eu cá sinceramente não me importo.
 

Seringador

Cumulonimbus
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29 Ago 2005
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bemm concluíndo é tudo uma fantochada, bom Discurso Vince:palmas: :palmas:
Gostava que houvesse outro Marquês do Pombal.. sabem que entre muitas coisas foi inovador na gestão de catástrofes, utilizando métodos e processos que ainda são hoje exmplo para muitos gabinetes de crise ao nível mundial.;)
 

Mago

Nimbostratus
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25 Out 2006
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(...)No entanto só quero deixar uma opinião que acho que toda a gente de acordo....
O mundo como está não pode continuar: aumento da poluição, recursos a ser destruidos, etc, etc...Se o alarmismo do aquecimento global ajudar a reduzir os atentados que se tem feito contra o planeta, eu cá sinceramente não me importo.

Estou muito de acordo com esta parte...:) , mesmo metendo pelo meio politiquices mas falando-se nas questões ambientais já desperta muitas consciências, se se ficar numa penumbra de silencio penso que os efeitos serão negativos.

O documentário ou filme que vi do Al Gore seja aproveitamento politico ou não na minha optica não é nenhuma "fantochada" pelo contrário são documentários como este que se poderão sensibilizar a elevar-nos a qualidade de vida e salvaguardar o futuro de todos os seres vivos que o nosso planeta alberga. Fiquei admirado Seringador com formação em especialização em Ordenamento Território, e Gestão Riscos Naturais classificar isto como "fantochada".:shocking:
 

Minho

Cumulonimbus
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6 Set 2005
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O ponto 3 está intimamente ligado com o 2...No entanto só quero deixar uma opinião que acho que toda a gente de acordo....
O mundo como está não pode continuar: aumento da poluição, recursos a ser destruidos, etc, etc...Se o alarmismo do aquecimento global ajudar a reduzir os atentados que se tem feito contra o planeta, eu cá sinceramente não me importo.


É isso Alex, o mundo está demasiado obcecado com a questão do aquecimento global, enquanto as florestas e os ecossistemas são destruídos todos os dias. Para mim são tão maus da fita a China e os Estados Unidos como todos os países que permitem que a indústria madeireira destrua aquilo de mais precioso que temos :sad:
Preocupa-me muito mais o desaparecimento da Amazónia, a subida de 1 metro da água do mar... olhem para a próxima não construam em cima das dunas :thumbsup:
 

filipept

Cumulus
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11 Out 2006
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Isto por vezes é mais complicado do que parece. Nas ciencias sociais, e em particular nas ciencias politicas, é muito dificil objectivar pois estamos a lidar com pessoas o que cria milhões de variáveis, não nos é possível ir para laboratório e EUREKA consegui a solução da "governança" mundial (até porque eu pessoalmente não acredito nela no sistema actual). Existem ideologias que são seguidas como o realismo, multilateralismo,liberalismo, etc.
Por vezes a explicação está na nossa história, e eu penso que se formos investigar a sério encontraremos na história explicação para o que se está a passar.
Segundo este novo relatório do IPCC, existem 90% de possibilidades de vir a acontecer aquilo que eles estão a prever. Mas eles estão a utilizar modelos para prever, como sabemos os modelos valem o que valem e raramente funcionam a longo prazo :D
 

Vince

Furacão
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É muito bonito "o poupar", o "reciclar", mas no fundo são as industrias, sector energetico e o sector transportes que cabe muita da poluição no nosso país...e a esses só o estado pode fazer algo para mudar mentalidade/politicas.

Certo, são os politicos que tomam decisões, mas às vezes é preciso olhar fundo nas decisões para perceber se são boas politicas ou se são apenas marketing e propaganda. Por exemplo, relativamente a Quioto, os americanos pelo menos foram sinceros, disseram que não assinavam porque prejudicava a economia e o protocolo não resolve problema nenhum. E é verdade, Quioto na verdade não resolve problema nenhum, porque ficando de fora dos limites países em desenvolvimento, em especial a China e a India, as emissões que os signatários conseguirem reduzir nunca cobrem as emissões crescentes destes países. Não estou a criticar Quioto, que até tem boas ideias, como o mercado de carbono, mas o que é um facto é que não resolve nada, quando muito é um bom princípio, mas que precisa urgentemente de ser repensado.

Voltando à politica, por exemplo o nosso Governo está apostado em ser um país modelo em energias alternativas. Muito bem, mas há dois problemas. O mesmo governo há poucos meses decidiu manter artificialmente as tarifas de energia eléctrica abaixo do custo real, estando a acumular o diferencial num défice que alguém terá que pagar. Ora, do ponto de vista da eficiência energética a pior coisa que se pode fazer é consumirmos energia abaixo do custo real da mesma. Outro problema com a aposta na energia alternativa é a de que esta é mais cara, e terá impactos na nossa competitividade. Como sabes, Portugal está numa situação já muito complicada, será que temos mesmo que ser lideres e modelos da Europa neste assunto ? Que custos terá isso na nossa economia e competitividade ? E depois há sempre a dose habitual de propaganda. Diz-se que se quer fazer, que se vai fazer. Mas eu por exemplo ficaria mais descansado se visse o Socrates a tomar a decisão dificil de mandar construir a barragem de Sabor ou mesmo repensar de novo Foz Coa, em vez de ver o mesmo Socrates a prometer que vai apostar nas hidricas. Entre as promessas e a realidade vai uma grande distância.

A mesma observação sobre a propaganda pode ser feita com Al Gore, que desde os anos setenta e oitenta sempre defendeu causas ambientais, mas posteriormente quando Al Gore foi vice presidente dos EUA durante 8 anos, não se lhe conhecem grandes decisões práticas ou revoluções nesta área enquanto foi dirigente do país.

O mundo como está não pode continuar: aumento da poluição, recursos a ser destruidos, etc, etc...Se o alarmismo do aquecimento global ajudar a reduzir os atentados que se tem feito contra o planeta, eu cá sinceramente não me importo.

Aqui estamos todos de acordo. A minha opinião há muitos anos sobre este assunto é a de que todos os produtos que são produzidos devem conter no seu custo todas as externalidades negativas como a poluição. Fala-se há muitos anos da ideia do poluidor/pagador, básicamente é isso.

Para perceberes melhor a ideia, olhemos por exemplo para 3 formas de produzir energia:

- central eólica
- central térmica
- central nuclear

Destas 3,a eólica é a mais cara, e a nuclear a mais barata. Mas isso está errado, porque se se incorporasse no custo da energia térmica a externalidade poluição, esta se calhar ficaria ao mesmo preço da eólica. E a nuclear ? A nuclear não gera quase nenhuma poluição, mas tem associado outra externalidade, o risco, por muito reduzido que seja, tornaria esta forma de energia muito mais cara que todas as outras. E como se calcula o risco, simples, os seguros calculam risco todos os dias. Na prática nenhuma seguradora assumiria o risco duma central nuclear, quem o faz são os países. Mas o custo desse risco não está incorporado no preço final da energia nuclear, mas deveria estar. E na verdade se a energia nuclear tivesse que pagar esse risco, imagina, um prémio de seguro anual, essa forma de energia seria tão cara que ninguém a poderia utilizar.

Olhando para o mercado de carbono do protocolo de Quioto, para mim é uma excelente ideia e que funciona, básicamente do exemplo que eu te dei, o mercado de carbono é uma forma da central térmica pagar a tal externalidade da poluição.

Mas eu acho que tem que ser implementado um sistema para todo o tipo de poluição, não faz sentido que emissões duma central térmica sejam pagas desta forma, e que por exemplo outro tipo de poluição não o seja, por exemplo descargas poluentes para rios, produção que gera residuos perigosos, risco de acidentes, etc,etc.

Ou seja, tudo o que é actividade produtiva tem que ter um custo ambiental associado, e tudo isso teria que ser feito a uma escala global, e não apenas sobre as emissões, mas sobre todo o tipo de poluição. Esquecer o aquecimento global e a confusão em que este se tornou. Estabelecer isto como uma politica ambiental global, é sobre a poluição e não sobre o aquecimento global. Tem a ver com contabilizar o impacto daquilo que fazemos ao ambiente, quer este aqueça quer não.

E como é que se pode controlar isto a uma escala global ? Talvez não seja dificil, ontem o Chirac na apresentação do relatório do IPCC disse uma coisa que vem de encontro a isto, que se os EUA não aderissem a Quioto, os produtos americanos exportados para a Europa teriam que ser taxados com um valor equivalente ao custo das emissões da produção desses produtos por cá. Parece-me um bom princípio, mas como disse, deveria ser para todas as externalidades negativas, e não apenas para as emissões.

E finalmente, tudo isso tem implicações económicas como deves calcular. Muitos produtos ficarão mais caros, consome-se menos, a economia mundial retrai-se, aumenta o desemprego,etc,etc, e aí voltamos à tua observação inicial do "é muito bonito". Quem estará disposto a assumir isso ? Quantos de nós estão dispostos a pagar mais pelos produtos, pela energia, usarmos menos o automóvel, o ar condicionado, etc,etc porque ficarão mais caros ?
E qual é o impacto disso nos países em desenvolvimento ? Eles tem tanto direito de poderem crescer e poluir como nós tivemos nos últimos 2 séculos. Eles não podem continuar a andar de bicicleta e nós de automovel. É um grande dilema, porque se os deixas de fora como o protocolo de Quioto deixou, na prática não se resolve problema nenhum....

É sobre isto tudo que os grandes lideres mundiais se tem que debrucar. Gostei bastante da intervenção do Chirac ontem, ele propôs a criação duma especie de ONU para esta área. Parece-me um bom passo, mas se olharmos para a própria ONU, se calhar também não resolve nada como é costume.
 

filipept

Cumulus
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A mesma observação sobre a propaganda pode ser feita com Al Gore, que desde os anos setenta e oitenta sempre defendeu causas ambientais, mas posteriormente quando Al Gore foi vice presidente dos EUA durante 8 anos, não se lhe conhecem grandes decisões práticas ou revoluções nesta área enquanto foi dirigente do país.

Temos que ver que nos USA existe o sistema de cheks and balances (freios e contrapesos), isto é, o congresso também tem peso nas decisões da politica interna e externa. No caso de Kyoto, Bill Clinton já tinha concordado mas foi o congresso que não aprovou, aliás nem foi a votação porque verificou-se que estavam quase todos contra.
Não estou a defender o Al Gore ou Bill Clinton, até porque me posiciono numa area diferente, mas a minha posição nada conta quando estou a analisar a politicaext. :D
 

Rog

Cumulonimbus
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Certo, são os politicos que tomam decisões, mas às vezes é preciso olhar fundo nas decisões para perceber se são boas politicas ou se são apenas marketing e propaganda. Por exemplo, relativamente a Quioto, os americanos pelo menos foram sinceros, disseram que não assinavam porque prejudicava a economia e o protocolo não resolve problema nenhum. E é verdade, Quioto na verdade não resolve problema nenhum, porque ficando de fora dos limites países em desenvolvimento, em especial a China e a India, as emissões que os signatários conseguirem reduzir nunca cobrem as emissões crescentes destes países. Não estou a criticar Quioto, que até tem boas ideias, como o mercado de carbono, mas o que é um facto é que não resolve nada, quando muito é um bom princípio, mas que precisa urgentemente de ser repensado.

Voltando à politica, por exemplo o nosso Governo está apostado em ser um país modelo em energias alternativas. Muito bem, mas há dois problemas. O mesmo governo há poucos meses decidiu manter artificialmente as tarifas de energia eléctrica abaixo do custo real, estando a acumular o diferencial num défice que alguém terá que pagar. Ora, do ponto de vista da eficiência energética a pior coisa que se pode fazer é consumirmos energia abaixo do custo real da mesma. Outro problema com a aposta na energia alternativa é a de que esta é mais cara, e terá impactos na nossa competitividade. Como sabes, Portugal está numa situação já muito complicada, será que temos mesmo que ser lideres e modelos da Europa neste assunto ? Que custos terá isso na nossa economia e competitividade ? E depois há sempre a dose habitual de propaganda. Diz-se que se quer fazer, que se vai fazer. Mas eu por exemplo ficaria mais descansado se visse o Socrates a tomar a decisão dificil de mandar construir a barragem de Sabor ou mesmo repensar de novo Foz Coa, em vez de ver o mesmo Socrates a prometer que vai apostar nas hidricas. Entre as promessas e a realidade vai uma grande distância.

A mesma observação sobre a propaganda pode ser feita com Al Gore, que desde os anos setenta e oitenta sempre defendeu causas ambientais, mas posteriormente quando Al Gore foi vice presidente dos EUA durante 8 anos, não se lhe conhecem grandes decisões práticas ou revoluções nesta área enquanto foi dirigente do país.



Aqui estamos todos de acordo. A minha opinião há muitos anos sobre este assunto é a de que todos os produtos que são produzidos devem conter no seu custo todas as externalidades negativas como a poluição. Fala-se há muitos anos da ideia do poluidor/pagador, básicamente é isso.

Para perceberes melhor a ideia, olhemos por exemplo para 3 formas de produzir energia:

- central eólica
- central térmica
- central nuclear

Destas 3,a eólica é a mais cara, e a nuclear a mais barata. Mas isso está errado, porque se se incorporasse no custo da energia térmica a externalidade poluição, esta se calhar ficaria ao mesmo preço da eólica. E a nuclear ? A nuclear não gera quase nenhuma poluição, mas tem associado outra externalidade, o risco, por muito reduzido que seja, tornaria esta forma de energia muito mais cara que todas as outras. E como se calcula o risco, simples, os seguros calculam risco todos os dias. Na prática nenhuma seguradora assumiria o risco duma central nuclear, quem o faz são os países. Mas o custo desse risco não está incorporado no preço final da energia nuclear, mas deveria estar. E na verdade se a energia nuclear tivesse que pagar esse risco, imagina, um prémio de seguro anual, essa forma de energia seria tão cara que ninguém a poderia utilizar.

Olhando para o mercado de carbono do protocolo de Quioto, para mim é uma excelente ideia e que funciona, básicamente do exemplo que eu te dei, o mercado de carbono é uma forma da central térmica pagar a tal externalidade da poluição.

Mas eu acho que tem que ser implementado um sistema para todo o tipo de poluição, não faz sentido que emissões duma central térmica sejam pagas desta forma, e que por exemplo outro tipo de poluição não o seja, por exemplo descargas poluentes para rios, produção que gera residuos perigosos, risco de acidentes, etc,etc.

Ou seja, tudo o que é actividade produtiva tem que ter um custo ambiental associado, e tudo isso teria que ser feito a uma escala global, e não apenas sobre as emissões, mas sobre todo o tipo de poluição. Esquecer o aquecimento global e a confusão em que este se tornou. Estabelecer isto como uma politica ambiental global, é sobre a poluição e não sobre o aquecimento global. Tem a ver com contabilizar o impacto daquilo que fazemos ao ambiente, quer este aqueça quer não.

E como é que se pode controlar isto a uma escala global ? Talvez não seja dificil, ontem o Chirac na apresentação do relatório do IPCC disse uma coisa que vem de encontro a isto, que se os EUA não aderissem a Quioto, os produtos americanos exportados para a Europa teriam que ser taxados com um valor equivalente ao custo das emissões da produção desses produtos por cá. Parece-me um bom princípio, mas como disse, deveria ser para todas as externalidades negativas, e não apenas para as emissões.

E finalmente, tudo isso tem implicações económicas como deves calcular. Muitos produtos ficarão mais caros, consome-se menos, a economia mundial retrai-se, aumenta o desemprego,etc,etc, e aí voltamos à tua observação inicial do "é muito bonito". Quem estará disposto a assumir isso ? Quantos de nós estão dispostos a pagar mais pelos produtos, pela energia, usarmos menos o automóvel, o ar condicionado, etc,etc porque ficarão mais caros ?
E qual é o impacto disso nos países em desenvolvimento ? Eles tem tanto direito de poderem crescer e poluir como nós tivemos nos últimos 2 séculos. Eles não podem continuar a andar de bicicleta e nós de automovel. É um grande dilema, porque se os deixas de fora como o protocolo de Quioto deixou, na prática não se resolve problema nenhum....

É sobre isto tudo que os grandes lideres mundiais se tem que debrucar. Gostei bastante da intervenção do Chirac ontem, ele propôs a criação duma especie de ONU para esta área. Parece-me um bom passo, mas se olharmos para a própria ONU, se calhar também não resolve nada como é costume.

Quioto é um príncipio. Temos de começar por algum lado. Porquê Portugal se aventurar nisto das energias renováveis? Porque portugal é um petroleo-dependente. A energia de Portugal é mais de 95% importada. Qqer alteração no preço do crude internacional deixa-nos a fazer contas à vida.
E se os EUA ou China não assinam, deve seguir na mesma, por algum lado tem de começar, e não podemos sempre nos regermos pelo que os EUA façam ou deixem de fazer; devemos apenas fazer o que acharmos melhor.
Todas as alterações devem ser realizadas de forma progressiva.
Por falar no Sr. Chirac é bom saber que ele pensa dessa forma construtiva; pena é pensar que a França é dos paises que menos têm investido em eólica e fotovoltaica, só pensam no nuclear... e já agora, podiam dar o exemplo reduzindo a quantidade de luz nas grandes cidades como Paris, muita desnecesssária.
Al Gore, é como o filipept disse, mesmo o governo tendo as intenções o chumbo do comgresso não deu margem para seguir em frente.
 

Seringador

Cumulonimbus
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Fiquei admirado Seringador com formação em especialização em Ordenamento Território, e Gestão Riscos Naturais classificar isto como "fantochada".:shocking:

Classificar a nomeação para o Nobel da Paz é uma fantochada;) e o filme MAIS dele " Al Gore", acho que é um filme para o Marketing com situações actuais e reais!
E é por ter essa formação é que classifico isto uma fantochada, pq o filme pode ser didático mas,não veio acrescentar nada de novo além disso já se discute á decadas este tema, sem nenhuma acção prática global.:disgust:
Por isso na minha opinião é uma brilhantejogada de Marketing, nunca ninguém tinha feito um filme deste género, só gostava de ver o €€ do total das receitas para quem produziu o filme e os direitos de autor;)
Agora por ter participado numa acção falar de nóbel é uma FANTOCHADA MAGO...:buh: :buh: :suicidio: