Carrasco (Quercus coccifera) de porte arboreo?



chicoria

Cirrus
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3 Jan 2012
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Também gostava de saber, jà agora, a localização exacta desses Q. canariensis! :thumbsup:

E ja agora, e sem querer desviar muito o assunto, mas visto estarmos a falar de Querci, gostava de vos perguntar se sabem dizer de que Quercus é que são estas bolotas. Compradas num mercado em França, a um marroquino, e vêem da zona do Atlas em Marrocos, e eram extremamente doces quer cruas quer cozidas! Eu so tenho conhecimento de bolotas doces de certas azinheiras, mas toda a literatura que pareço encontrar sobre Quercus de bolota doce no magrebe indicam que são sobreiros?? :huh:

img6379l.jpg


ps: tenho versão de maior resolução se for necessario
 

belem

Cumulonimbus
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Muito obrigado, Bergidium, por questionar este dado.
Parece-me realmente que a informação está um pouco dada por alto:

http://www.google.pt/search?q=querc....,cf.osb&fp=a03d30853c2aaa36&biw=1024&bih=587

Vejam no topo.
Não sei se apenas se referem a um tipo de associação florestal, ou mesmo à presença literal do Quercus canariensis na Arrábida.
É um dado que terá de ser confirmado.


De qualquer das formas, é bem possível que já tenham existido na Arrábida.
Tenho que ver mais modelos bioclimáticos.


Chicoria, não sei a que carvalho pertencem essas bolotas.
 

Bergidum

Cumulus
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22 Dez 2009
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Comarca del Bierzo. León. España.
Também gostava de saber, jà agora, a localização exacta desses Q. canariensis! :thumbsup:

E ja agora, e sem querer desviar muito o assunto, mas visto estarmos a falar de Querci, gostava de vos perguntar se sabem dizer de que Quercus é que são estas bolotas. Compradas num mercado em França, a um marroquino, e vêem da zona do Atlas em Marrocos, e eram extremamente doces quer cruas quer cozidas! Eu so tenho conhecimento de bolotas doces de certas azinheiras, mas toda a literatura que pareço encontrar sobre Quercus de bolota doce no magrebe indicam que são sobreiros?? :huh:

img6379l.jpg


ps: tenho versão de maior resolução se for necessario

Si vienen de Marruecos y son dulces: Quercus ilex ssp rotundifolia (Quercus rotundifolia). La encina de la mayor parte de la P. Ibérica y norte de África.
 

chicoria

Cirrus
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3 Jan 2012
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Editado por um moderador:

adiabático

Cumulus
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19 Nov 2007
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Sem dúvida, esse foi sempre aliás o grande problema das matas de Sintra, a introdução de espécies. Uma das matas mais resistentes ao vento é por exemplo a que rodeia o Castelo dos Mouros, no exterior das muralhas de nordeste a noroeste mas bem lá em cima, na zona do Penedo da Amizade. As matas originais dos cimos de Sintra eram sempre de baixa estatura, entrelaçavam-se com os penedos e umas ás outras, rastejavam mesmo. Agora que as espécies introduzidas atingem alturas enormes e a mata perde densidade parece irremediável que acabe por desaparecer dos cimos. No entanto é preocupante notar que os eucaliptos apesar da sua altura descomunal (são a segunda espécie com mais altos exemplares em todo o mundo a seguir às sequóias) vão ser capazes de resistir muito melhor ao vento. Embora constituídas principalmente por Cupressus Lusitanicus (que não são de qualquer modo autóctones, apesar do nome), as matas da Peninha mais ocidentais, muitas são pouco conhecidas, adaptaram-se no seu porte e inclusivamente o solo foi capaz de produzir um coberto notável devido à pouca altura das copas; aprenderam mesmo a rastejar e a criar copas do tipo almofada para resistir ao vento. Essa mata é das mais sustentáveis e regenera-se continuamente.

Desconhecia que o Cupressus lusitanica tivesse capacidade de auto-propagação em Portugal, mas porque não? O interessante dessa mata (do ponto de vista cénico) é o tipo de subcoberto, muito pouco denso, provavelmente devido a algum tipo de alelopatia, ao efeito do ensombramento, à acumulação das escamas sobre o solo. A mata da encosta do castelo dos Mouros é interessante, sem dúvida, já lá vi azevinho de porte arbóreo, mas não vou lá há muitos anos e ainda não fui desde que andaram a desmatar aquilo para dar visibilidade ao castelo. O eucalipto, curiosamente, mesmo resistindo ao vento, é uma árvore que em povoamento não compete bem com a vegetação autóctone, como se tem verificado no parque de Monsanto. Como o subcoberto, aí, não é "limpo", a morte de um eucalipto adulto é uma oportunidade para os carvalhos e sobreiros que ja estavam presentes na nova "clareira" de aproveitarem o bónus de sol e água para tomar conta do terreno. Imagino que o mesmo possa suceder com os cedros do Buçaco. Há coisas interessantes, em Sintra, por exemplo, um bosquete de bétulas na estrada da Malveira-da-Serra para o Linhó. Mas a vegetação autóctone não é nada desinteressante, do meu ponto de vista. Mesmo a carvaliça atinge porte arbóreo, tal como o carrasco na Arrábida (até em Oeiras eu já vi carrasco com 4m de altura, formando bosquetes que vistos de fora parecem moitas grandes, mas que têm fustes quase limpos, que não terão mais do que 30/40 anos pois estão em terrenos que eram de cultivo, o que me faz pensar que os carrascos da Arrábida não são de modo nenhum um caso sui generis).
 

frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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De facto o carrasco árboreo é uma espécie endémica de Portugal, e deveria ter outro estatuto de protecção.

Quanto ao Quercus canariensis, não existe apenas em Monchique, há indivíduos isolados e pequenos núcleos nos concelhos de Tavira, São Brás de Alportel e Loulé.

A distribuição dos carvalhos em Portugal está completamente alterada pela acção humana. Este Natal vi Quercus faginea a norte de Évora e na região de Montemor-o-Novo, ora diz-se que a espécie ocorre «apenas» na Estremadura! Há Quercus faginea no litoral alentejano. no Alto Alentejo, na Beira Interior, no Douro, e no Algarve, e não apenas no Litoral Centro ou na Arrábida.

O Quercus robur foi identificado no passado nas serras da Ossa e de São Mamede, junto dos cursos de água. Ainda existirão por lá alguns exemplares perdidos? Talvez...

Houve Quercus pyrenaica no Alto Alentejo com abundância e especulo sobre a presença da espécie em pontos altos do Baixo Alentejo e Algarve.

O Homem apenas manteve a azinheira e o sobreiro por causa da cortiça e da bolota, e da protecção legal secular que estas árvores têm. Milénios de pastorícia mais séculos de construcção naval e a ausência de florestas públicas preservadas conduziram à total descaracterização que existe actualmente no coberto vegetal.

Diz-se que o Sul do país estaria dominado por azinheiras e sobreiros, é falso. Pelo meio haveria Quercus canariensis e Quercus faginea com fartura, e em algumas zonas Quercus robur e Quercus pyrenaica.

No futuro quase todos os concelhos deverão ter os seus hectares de floresta nativa pública com fauna nativa. Terrenos abandonados não faltam. E não falo de matas com pinheiros. Falo de floresta a sério, com carvalhos, sobreiros, medronheiros, azevinhos, galerias ripícolas, árvores de frutos silvestres.
 

belem

Cumulonimbus
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Eu tenho que dar uma olhada nos registos fósseis provenientes do Sul do país, para dar uma melhor resposta a alguma das questões que aqui se pôem.

Também alguma documentação histórica, pode dar-nos algumas pistas

Li uma referência de Chodat (botânico suiço) aos palmeirais de Chamaerops humilis, que existiam na Arrábida, mas esta informação necessita de alguma confirmação (pelo menos na minha opinião).
Não que seja completamente descabida, mas pode haver alguma confusão nesta informação (nem sequer do próprio Chodat).

Também existem umas referências relativamente à presença de Quercus canariensis em locais inesperados, mas também parecem carecer de confirmação e ser demasiado generalizadas.

Posto isto, tenho a certeza que existe ainda muito por desvendar no nosso país. Existem ainda vários maciços florestais, que estão praticamente por investigar, neste e noutros capítulos (como por exemplo, na identificação de variedades locais versus variedades (re)introduzidas).
 
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frederico

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belem, quais são os locais inesperados para o Quercus canariensis?

Eu identifiquei a espécie no concelho de Tavira, num vale da serra do Caldeirão, onde a vegetação natural surpreendentemente não está muito alterada. Há também medronheiros em abundância, pereiros-bravos, azinheiras, sobreiros, choupos e freixos em torno daquela área. O vale está entre duas linhas de relevo com picos acima dos 500 m, a linha a sul de Cachopo e os cerros da Alcaria do Cume e de Água dos Fusos. O Quercus canariensis está oficialmente identificado nos concelhos de Odemira, Loulé e São Brás de Alportel.

O Quercus faginea também fez parte da paisagem algarvia, está identificada a sua presença nos concelhos de Faro, São Brás de Alportel e Loulé!
 

belem

Cumulonimbus
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belem, quais são os locais inesperados para o Quercus canariensis?

Serra da Arrábida

Eu identifiquei a espécie no concelho de Tavira, num vale da serra do Caldeirão, onde a vegetação natural surpreendentemente não está muito alterada. Há também medronheiros em abundância, pereiros-bravos, azinheiras, sobreiros, choupos e freixos em torno daquela área. O vale está entre duas linhas de relevo com picos acima dos 500 m, a linha a sul de Cachopo e os cerros da Alcaria do Cume e de Água dos Fusos. O Quercus canariensis está oficialmente identificado nos concelhos de Odemira, Loulé e São Brás de Alportel.

O Quercus faginea também fez parte da paisagem algarvia, está identificada a sua presença nos concelhos de Faro, São Brás de Alportel e Loulé!

Muito interessante! Eu por acaso lembro-me de ter lido um artigo que fala da evolução do coberto vegetal em algumas zonas do Algarve (desde há milhares de anos), a ver se o consigo encontrar e logo o colocarei aqui.
 

frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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Durante a mini-era glacial houve cultura de castanheiros no sotavento algarvio. Há inúmeras linhas de água no litoral do sotavento que nunca têm caudal, mesmo em meses mais chuvosos, para mim são um indício de que o Algarve já foi mais húmido . É mais que provável que durante alguns séculos o Algarve tenha sido mais chuvoso. Quando a Europa estava mais fria nos séculos XVII ou XVIII o jet deveria estar mais baixo e devem ter sido mais comuns os períodos de NAO negativo. O inverso deve ter acontecido na fase quente da Idade Média ou do Império Romano. Durante estes períodos devem ter ocorrido alterações da vegetação que deixariam depois bosques relíquia. Daí a presença de Quercus robur em Marrocos, na Extremadura espanhola ou no Alto Alentejo, ou de bosques de azinheira na Cordilheira Cantábrica.

São milénios de pastorícia, incêndios, exploração de madeira para carvão e construção naval. Por isso chegámos ao sécul XXI com o coberto vegetal todo alterado. A cultura mediterrânica também não parece ser nada amiga das árvores, o povo gosta do «terreno limpo».