Como eram e quem eram os Portugueses nativos?

belem

Cumulonimbus
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Cumulonimbus
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Agora uma notícia sobre os nossos monumentos megalíticos:

Iberian Megalithic Tombs: 6,000-Year-Old Lensless Telescopes?

A team of astronomers from the UK is exploring what might be described as the first astronomical observing tool, potentially used by humans around 4,000 BC.

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The view towards the east from the Carregal do Sal megalithic cluster, at dawn at the end of April around 4,000 BC, as reconstructed using a Digital Elevation Model and Stellarium. Aldebaran, the last star to rise before the Sun, is rising directly above Serra da Estrela, the ‘mountain range of the star.’ Image credit: Fabio Silva.

The team, led by Dr. Fabio Silva of the University of Wales Trinity Saint David, suggests that the long, narrow entrance passages to Iberian megalithic tombs from the Middle Neolithic period may have enhanced what early human cultures could see in the night sky.

The team’s idea is to investigate how a simple aperture, for example an opening or doorway, affects the observation of slightly fainter stars.

The scientists focus their study on passage graves, which are a type of megalithic tomb composed of a chamber of large interlocking stones and a long narrow entrance.

These spaces are thought to have been sacred, and the sites may have been used for rites of passage, where the initiate would spend the night inside the tomb, with no natural light apart from that shining down the narrow entrance lined with the remains of the tribe’s ancestors.

These structures could therefore have been the first astronomical tools to support the watching of the skies, millennia before telescopes were invented.

“It is quite a surprise that no one has thoroughly investigated how for example the color of the night sky impacts on what can be seen with the naked eye,” said co-author Kieran Simcox, from Nottingham Trent University.

The team targets how the human eye, without the aid of any telescopic device, can see stars given sky brightness and color.

The scientists intend to apply these ideas to the case of passage graves, such as the 6,000 year old Seven-Stone Antas in Portugal and Spain.

“The orientations of the tombs may be in alignment with Aldebaran, the brightest star in the constellation of Taurus,” Dr. Silva said.

“To accurately time the first appearance of this star in the season, it is vital to be able to detect stars during twilight.”

“The first sighting in the year of a star after its long absence from the night sky might have been used as a seasonal marker, and could indicate for example the start of a migration to summer grazing grounds,” the astronomers said.

“The timing of this could have been seen as secret knowledge or foresight, only obtained after a night spent in contact with the ancestors in the depths of a passage grave, since the star may not have been observable from outside.”

However, the astronomers suggest it could actually have been the result of the ability of the human eye to spot stars in such twilight conditions, given the small entrance passages of the tombs.

Dr. Silva and his colleagues presented their results today at the National Astronomy Meeting 2016 in Nottingham, UK.

_____

Fabio Silva et al. Arising and Laying Hidden Stars: their celestial dynamics and role in Neolithic Iberian Cosmology. NAM 2016


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Photographs of the megalithic cluster of Carregal do Sal: (a) Dolmen da Orca, a typical dolmenic structure in western Iberia; (b) view of the passage and entrance while standing within the dolmens’ chamber: the ‘window of visibility;’ (c) Orca de Santo Tisco, a dolmen with a much smaller passage or corridor. Image credit: Fabio Silva.


http://www.sci-news.com/astronomy/iberian-megalithic-tombs-lensless-telescopes-03987.html
 
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frederico

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Não sei se já escrevi aqui esta informação. Encontrei informação num livro do século XIX sobre um vale de uma ribeira do concelho de Tavira que estaria coberto de nogueiras e castanheiros. Já tinha encontrado informação idêntica para a zona num documento do século XVIII. No Outono hei-de ir explorar a zona a ver se ainda há alguma coisa. A nogueira cresce na minha freguesia natal nos solos do litoral mas precisa de alguma rega no Verão. Era comum ficarem junto a poços ou tanques, hoje em dia já não se vêem, conheço apenas um num quinta de uma casa antiga. Pelos vistos havia muito castanheiro em áreas da parte norte da serra do Caldeirão em Tavira, ainda existem alguns em Monchique e no Alentejo Litoral. Na serra de Aracena nas serras a sul da Extremadura (Espanha) ainda existem em abundância. Por que motivo o castanheiro desapareceu? E a nogueira? Uma combinação de quatro factores: doença da tinta, corte para lenha, não eram cultivados já no século XIX e incêndios. Portanto a castanha no passado deve ter tido uma importância enorme na alimentação dos portugueses, talvez maior do que julgamos. Na primeira metade do século XIX a serra da Lousã ainda estaria coberta por castanheiros...
 

frederico

Furacão
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Mais uma nota.

No tempo dos romanos no Norte de Portugal usava-se manteiga como gordura e não azeite...

A entrada da cultura da oliveira a Norte de Montejunto-Estrela pode ter sido apenas na Idade Média ou ainda mais tarde...
 

belem

Cumulonimbus
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Mais uma nota.

No tempo dos romanos no Norte de Portugal usava-se manteiga como gordura e não azeite...

A entrada da cultura da oliveira a Norte de Montejunto-Estrela pode ter sido apenas na Idade Média ou ainda mais tarde...

Talvez, mas atenção que já há vários milhares de anos, que se consomem azeitonas, na P. Ibérica:

«In the sixth millennium BC Andalusia experiences the arrival of the first agriculturalists. Their origin is uncertain, and though North Africa is a serious candidate, desertification of extensive regions in the few centuries before makes almost impossible archaeological work to retrieve related cultures that for now remain unknown and lost maybe to the sands or coasts; but they arrive with already developed crops (domesticated forms of cereals and legumes). The presence of domestic animals is uncertain, but the known later as domestic species of pig and rabbit remains have been found in large quantities, and though these could belong to wild animals their unique consumption seems to indicate some preference or made up availability to these. They also consumed large amounts of olives but it's uncertain too whether this tree was cultivated or merely harvested in its wild form. Their typical artifact is the La Almagra style pottery, quite variegated.»

https://en.wikipedia.org/wiki/La_Almagra_pottery
 

belem

Cumulonimbus
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Existem várias teorias sobre de onde teriam vindo os primeiros agricultores que chegaram à P: Ibérica. Aparentemente, eram bem mais primitivos, geneticamente e fisicamente, do que inicialmente se pensava, de tal forma, que provavelmente a maioria estaria relacionada maioritariamente com povos indigenas locais, que adoptaram o pacote agrícola, algures no Mediterrâneo Ocidental. Li algures que o Noroeste de África, experimentou uma mudança interessante com a chegada do Neolítico, em que os povos locais passariam a uma alimentação mais relacionada com os recursos aquáticos e passaram a viver mais em zonas costeiras, mas isto, a meu ver, não tem muito ou mesmo nada a haver com a chegada de povos do Médio Oriente ou da Anatólia (a quem tipicamente associamos os primeiros agricultores, que teriam uma alimentação mais «terrestre» e um tipo de organização territorial, completamente distinto), mas antes a uma adaptação a um modo de vida menos penoso e mais sedentário, por partes das populações mesolíticas locais. O mesmo se pode observar no Centro de Portugal. Análises genéticas em esqueletos de caçadores-recoletores de Taforalt, revelaram que a maioria seria oriunda da Europa (muito provavelmente, P. Ibérica). Análises genéticas nas populações mais antigas de Berberes, indicam uma importante contribuição europeia, muito provavelmente, de origem ibérica. Análises aos esqueletos pré-neolíticos, indicam uma interessante semelhança, presente desde o Atlântico ao leste Europeu e Médio Oriente, passando pelo Norte de África. Os caçadores mesolíticos portugueses de Muge, por exemplo, tinham uma relação próxima com alguns esqueletos da Rep. Checa, e Norte de França. E esta semelhança estendia-se até à Argélia!
Também há quem defenda a hipótese de que os primeiros agricultores, terão chegado do Leste de Espanha (em barcos). A Sardenha, também pode ter recibido um tipo de colonização semelhante.
Eu acho que não seria de excluir a França, também. De todas as formas, muito provavelmente, não poderiam ser radicalmente diferentes dos populações mesolíticas ibéricas ou então, não eram suficientemente numerosos, para alterar os povos locais. Pois, estudos genéticos e anatómicos, como os que já coloquei aqui no forum, indicam uma forte continuidade, entre Mesolítico e Neolítico, em Portugal. Claro que certas zonas experimentaram mudanças e terão sido zonas baixas, planas, férteis e com grandes rios, tal como certas partes da Estremadura, Algarve e Alentejo. O Algarve recebeu uma colonização relativamente rápida, por exemplo, comparativamente com Muge.O Sul serviu de chamariz e tampão, e deu tempo aos povos que viviam mais a Norte, de se adaptar e de quiçá fazer até trocas comerciais. De outra forma, não podemos explicar a falta de violência observada nos esqueletos mesolíticos portugueses, por exemplo e não só, claro.
A consequente redução do esqueleto, está registada nos fósseis, mas terá ocorrido bem antes, algures no Paleolítico Superior e até mesmo em climas mais frios, como os da Europa Central, onde podemos detetar as diferenças com clareza. E o mesmo sucede, quase por toda a Europa e bacia do Mediterrâneo. Os primeiros registos da raça mediterrânica no registo fóssil, são curiosamente feitos na Europa Central, ainda bem antes da Idade do Gelo. É portanto, o mais antigo dos 3 grandes grupos subraciais europeus, a aparecer.
Daí que seja verdeiramente penoso, a nivel anatómico, perceber de onde vieram os primeiros agricultores que chegaram à P. Ibérica, mas talvez com o tempo, se descubram mais coisas.
Mas parece praticamente ponto assente, que se tentou domesticar animais e provavelmente também plantas, por vezes com sucesso, outras vezes sem sucesso, na P. Ibérica, que os nossos caçadores tiveram um papel importante na transição para o Neolítico, e que quem depois se juntou a eles, não devia ser muito diferente e/ou não eram muito numerosos.
A composição população moderna nativa de Portugal, indica, surpreendentemente, que a maioria ainda está fisicamente relacionada, com os povos Mesolíticos do Mediterrâneo Ocidental (P. Ibérica incluida, naturalmente). Portanto, a nível evolutivo, foram e são povos altamente bem sucedidos. Os pontos urbanos mais importantes, terão as percentagens mais baixas deste povo, e os arredores (ainda densamente povoados) e sobretudo as zonas rurais terão as percentagens mais altas.
 
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belem

Cumulonimbus
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Isto há tanta coisa que se vai descobrindo que é difícil ter este tópico em dia (pois também não tenho tido tempo).
Posso colocar aqui algumas novidades:

Como alguns estudos (que já coloquei aqui) têm sugerido, as populações europeias que partilham menos antepassados em comum com outras populações são os Portugueses, os Espanhóis e os Italianos.

Coon aqui refere-se um pouco à questão que eu levantei, 3 posts acima:

« In the western and northern fringes (of Europe), away from the gates of entry, earlier peoples of Mesolithic and even Palaeolithic tradition remained. In Spain, Portugal, and Italy small Mediterranean types of pre-Neolithic or Early Neolithic dating may well have blended with the invaders in large numbers, but since the two elements would have been much the same it is impossible to determine the proportions of each. »

Existe alguma dificuldade, para o caso do Oeste Mediterrânico, em distinguir povos Mesolíticos e Neolíticos (em particular do Neolítico inicial).
Também esta questão tem sido apoiada por estudos mais recentes, sobre a morfologia craniana, como o de Mary Jackes, David Lubell, etc... Que identificam «continuidade» no período de transição entre o Mesolítico e o Neolítico, em Portugal.
Denise Ferembach nos anos setenta, fala-nos de alguma diversidade pré-histórica em Muge, e João Zilhão e vários outros autores, até se referiram a uma larga adopção de gentes Mesolíticas/Paleolíticas na população moderna Portuguesa (também usando o estudo de Denise Ferembach como base).
Coon diz que a população de Muge, tem continuidade até tempos modernos,na população Portuguesa
Howells (1995) parece confirmar tudo isto, sendo que em 10 crâneos de Muge, identificou o tipo Mediterrânico Europeu, em 9...
Alguns autores, também identificam o surgimento (no Neolítico) na P. Ibérica de um tipo humano mais alto, mas em tudo o resto praticamente idêntico aos caçadores pré-históricos ibéricos.

Têm sido encontradas linhagens paternais e maternais basais (de enorme antiguidade), em Portugal (até tipos distintos de Y-DNA A e mtDNA L3).

U6, que se pensava ter origem no Norte de África, e ter entrado na P. Ibérica, desde pelo menos o Paleolítico Superior, afinal foi encontrado (recentemente) na sua forma mais basal, num local bem longe (na Roménia, num esqueleto feminino pré-histórico, do período Gravetiano, que tinha traços morfológicos entre o Homo Sapiens e o Homem de Neanderthal).
Há quem diga que terá descido até ao Sudoeste Europeu, para se refugir das fases glaciárias (e eventualmente terá atravessado o estreito de Gibraltar), portanto pode ter tido, um movimento contrário ao que se pensava anteriormente.
O U6, na Europa moderna, aparece praticamente restringido ao Oeste Mediterrânico (sobretudo à P. Ibérica, onde apresenta uma enorme diversidade).
Numa passagem relativa ao tipo fóssil Predmost, que já coloquei aqui, foi referida a presença de algumas gentes com traços morfológicos semelhantes desde o Norte de África até à Rússia.

Em Portugal (moderno) encontrou-se uma linhagem basal de U6a1, mas o país está pouco estudado neste capítulo, podem haver mais linhagens basais, e muitas vezes, não se refere de onde se obtêm as amostras, e portanto ainda mais pode pode estar por descobrir:

«Our U6 tree built from mitogenomes shows that U6a1 is predominantly European because it contains a significant number of sequences of Mediterranean individuals mainly from the northwestern shore with a leading Iberian contribution (21 of the 29 European samples) and has an ancestral node in Portugal (accession number HQ651694).»


Mais aqui: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0139784

Os autores dizem que não encontraram na amostra portuguesa o L3, mas sabemos através de estudos anteriores, que está presente em Portugal (e até mais no Centro do país do que no Sul).
Houve um movimento de retorno migratório de linhagens genéticas, de Sul para Norte (apesar de maioria ter sido em sentido inverso (de Norte para Sul), desde uma fase pré-neolítica até à Idade dos Metais... Depois por alguma razão, as relações entre os ambos os lados do estreito de Gibraltar, começaram a fechar-se e os movimentos migratórios também.
E como eram os povos nativos do Noroeste Africano no passado? Antes de receberem os movimentos de migração mais recentes provenientes da África tropical, o mais provável é que fossem semelhantes aos Europeus, em particular, aos que viviam/vivem na fachada Atlântica (variedades que hoje em dia na região persistem ainda em algumas populações mais remotas de Berberes).

Relativamente aos Mouros, a expulsão em Portugal, deve ter sido muito eficaz (foi realizada em diferentes ocasiões e levou à movimentação organizada em massa, de milhares de pessoas).
O padrão genético (do lado paterno, que é o melhor indicador para nos dar pistas sobre a influência de um povo invasor), indica-nos uma influência praticamente (ou mesmo) nula em Portugal (0,00%), e praticamente nula em Espanha (0,05%). Pode ser que algum estudo bem orientado, encontre alguma coisa, mas a ser encontrado, deve ser em percentagens muito baixas... Um estudo realizado mais recentemente em Mértola (onde se pensava que havia boas probabilidades de encontrar alguma herança genética dos mouros), apresentou no fim, resultados inconclusivos...

Tal desoberta parece portanto reforçada por este estudo:

«High-resolution analysis of human Y-chromosome variation shows a sharp discontinuity and limited gene flow between northwestern Africa and the Iberian Peninsula»

Bosch E, Calafell F, Comas D, Oefner PJ, Underhill PA, Bertranpetit J.


E também por estudos de DNA nuclear, em que coloca os povos ibéricos modernos, longe dos povos norte-africanos modernos.


Mas mais se descobriu, por exemplo, o que há uns anos, se pensava ser tudo evidência de mistura africana recente (de origem Negroide), numa pequena minoria da população nativa portuguesa (e ibérica), afinal a maioria (pelo menos 66%) destas linhagens (e pessoas) é proveniente de movimentações bastante mais antigas, como o estudo postado acima indica, chegaram antes do Neolítico à P. Ibérica (foram encontrado até subclados europeus em certos haplogrupos (com o L1b).
O estudo de Cerezo et al (2012) foi quem identificou estes subclados europeus.
Estes estudos, também delimitaram claramente a diferença entre influência estrangeira africana recente (não nativa) de uma influência nativa muito antiga oriunda de África (como se tem dito, a Humanidade teve origem em África).
E como seriam estas gentes? Ainda é um mistério. Sabemos que haplogrupos L2 e L3, foram encontrados em caçadores pré-históricos, com morfologia Caucasóide.
Mas há uma grande diverisidade de tipos de Caucasoide (o primeiro grupo racial moderno a formar-se segundo os estudos baseados em fósseis).
Mas poderá ter havido convergência evolutiva a partir de um grupo distinto muito antigo...
Dá para ver, que existe provavelmente, influência de outros hominídeos arcaicos (de todas as formas serão sempre do género Homo (logo humanos, como nós)), em alguns individuos da população moderna nativa Portuguesa (como o caso do individuo que Roland Dixon nos trouxe) mas aparentemente não é só o Neanderthal que está por detrás disto... Certos indivíduos podem ter influência visível de outro tipo de hominídeo.

Estas descobertas, têm apoiado a presença de um substrato pré-histórico (pelo menos, Graveto-Solutreano, senão até mais antigo), no lado Oeste da Peninsula Ibérica.

Portanto e em jeito de resumo, várias descobertas recentes parecem indicar que a contribuição dos povos pré-históricos na população Portuguesa, afinal é ainda maior do que se pensava e muito provavelmente, praticamente todos os calculadores genéticos atuais, não têm em conta, estas novas descobertas (não foram atualizados).
 
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belem

Cumulonimbus
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Publicação recente reforça a teoria de que as gentes de Muge não foram assassinadas e portanto extintas (de certa forma suportada por vários estudos que coloquei aqui (como até análises anatómicas feitas à população moderna Portuguesa) e juntaram-se portanto, aos primeiros agricultores (houve uma integração cultural e genética):
http://agris.fao.org/agris-search/search.do?recordID=US201800009280

No passado houve quem pensasse que não tinham sobrevivido (e alguns autores mostravam algum pesar, pois trata-se de uma população aparentemente muito primitiva e com traços físicos algo peculiares).
.
Grandes notícias portanto, sobretudo para quem gosta de arqueologia, pré-história e afins.
 
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A parte materna da minha família veio de Portugal bem no início do século XX (famílias "Simões", "Carvalho" e "Leandro de Almeida".
Basicamente pessoas de pele extremamente clara, olhos azuis/verdes, estatura média e cabelos muito louros).
Minha mãe é assim: pequena, loura e de olhos azuis.
Já, eu, sou moreno, porque meu pai era, em parte, afrodescendente. Uma boa mistura, portanto.
Abraço a todos.

Edson
 

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A parte materna da minha família veio de Portugal bem no início do século XX (famílias "Simões", "Carvalho" e "Leandro de Almeida".
Basicamente pessoas de pele extremamente clara, olhos azuis/verdes, estatura média e cabelos muito louros).
Minha mãe é assim: pequena, loura e de olhos azuis.
Já, eu, sou moreno, porque meu pai era, em parte, afrodescendente. Uma boa mistura, portanto.
Abraço a todos.

Edson

O meu bisavô também andou pelo Brasil... aliás, no início do século XX e até à Grande Depressão, praí 80% do pessoal masculino do distrito de Aveiro emigrou, permanentemente ou temporariamente, para o Brasil.

Abraço
 

belem

Cumulonimbus
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Mais informações sobre o caso da Aroeira:

https://www.pnas.org/content/114/13/3397

Os autores avançam, com a (já algo esperada) possibilidade, de não se tratarem de Neandertais.
Interessante também a combinação algo peculiar de traços fisionómicos presentes no exemplar Aroeira 3.

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Claro que é impossível (pelo menos para já) tentar perceber se este de tipo de hominídeos contribuiu de alguma forma, para a população Portuguesa moderna.
Existe uma grande diferença temporal.
De forma evidente, contudo, já se encontrou a influência da variante «Aurignacensis» do Homo sapiens, que preservava/preserva alguns traços arcaicos e que alguns autores apontam como presente em Muge e em outros sítios arqueológicos.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Período_Aurignaciano
Está relacionado com os primeiros movimentos do Homo sapiens na Europa (que se conhece).
O menino do Lapedo é dos poucos casos, relativamente bem documentados, de influência anatómica de Neanderthal em Homo sapiens.
Portanto não é impossível de todo, que este ramo Aurignaciano, transporte «arcaicos» e também um tipo mais antigo de Homo sapiens, relacionado com os exemplares Skhul e Qafzeh.(https://en.wikipedia.org/wiki/Skhul_and_Qafzeh_hominins), ou seja basicamente Homo sapiens incipientes (que evidenciam alguma transição entre o ramo «Heidelbergensis» e o ramo «Sapiens»).

E em algumas análises, Skhul V, por exemplo, aparece como apenas Homo sapiens, mas em outras análises, em que foi comparado com Neanderthal, Heidelbergensis e Sapiens, aparece mais próximo dos ramos arcaicos (Neanderthal/Heidelbergensis) do que dos modernos («Sapiens») e ainda mais próximo do ramo «Heidelbergensis» do que o ramo «Neanderthal».

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Veja-se a posição de Sk5 (Skhul V)...
Referência: Journal of Human Evolution (in press)
doi:10.1016/j.jhevol.2010.09.008


Para explicar esta incipiência, alguns falam de hibridização com o povo Neanderthal local com o qual viveram quase lado a lado, ou até de uma evolução gradual do Neanderthal para o Sapiens (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1580351), mas tal aspeto não é consensual, como aliás se pode ver na comparação acima.
Aparentemente, esta população primitiva de Homo sapiens, poderá não ter sido bem sucedida em colonizar a região, pois há cerca de 80.000 anos atrás, aparentemente desaparece do registo fóssil local, e apenas permanece aí o Homem de Neanderthal.
Entretanto, o exemplar mais antigo que se conhece de Homo sapiens foi encontrado, bem aqui perto, em Marrocos: https://www.sciencemag.org/news/2017/06/world-s-oldest-homo-sapiens-fossils-found-morocco
Não se sabe se estes primeiros «Sapiens» marroquinos contribuiram directamente para o futuro dos humanos modernos, mas sabe-se que são os primeiros hominídeos que se conhece a evidenciarem algumas caraterísticas básicas dos humanos modernos.

Quanto ao ramo «Aurignaciano», poderá ter-se combinado com hominídeos arcaicos ou simplesmente, poderá ter preservado algumas características «heidelbergensis».

O povo Skhul/Qafzeh, poderá ter desaparecido, mas uma linhagem semelhante pode ter persistido algures.

Na Ásia, encontraram-se fósseis recentemente, que resultam da combinação entre diferentes hominídeos arcaicos (inclusive ramo «Denisova» X ramo «Neanderthal»: https://www.nature.com/articles/d41586-018-06004-0) e estudos mais recentes, usando a genética e mais fósseis, suportam estes achados.
Do ramo Aurignacoid, em alguns Portugueses modernos encontrou-se a influência Predmost e Combe Capelle (as principais, portanto).
Certos haplogrupos ainda presentes em Portugal, também podem evidenciar esta influência.
O exemplar Predmost 3, por exemplo, é considerado como semelhante em alguns aspetos (como o perfil) com Skhul IV, mas menos próximos neste aspecto entre si, do que 2 homens de Neanderthal entre si (ok, isto seria de esperar). Mais estudos são necessários, para esclarecer este aspeto...

Crâneos Aurignacoid, Neanderthal, Skhul V:

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Combe Capelle (França)

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Neanderthal (?) e Combe Capelle (França)

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Neanderthal (Saint Cesaire) e Predmost (número?)

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Predmost (número?)

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Skhul V



Aqui aparece de forma bem evidente, a presença de arcaísmo até tempos surpreendentemente recentes (primeiros registos de Combe Capelle surgem no Paleolítico Superior (Europa Central), mas estendem-se até ao Mesolítico (P. Ibérica, França, etc...), Neolítico (P. Ibérica, França) e até tempos modernos (P. Ibérica, França, Sardenha, etc...).
Mas a anatomia geral (como sobretudo no caso de Predmost), pode levar-nos ainda mais atrás.
Será que a influência do Predmost 3 está presente em Portugal? Não sei, na referência original, apenas falam em Predmost (termo geral). Tal subtipo foi descrito como presente em tempos modernos em Trás os Montes (e em poucos outros lugares do mundo), mas deverá ter certamente uma maior distribuição no nosso país, tendo eu já observado, como presente, em zonas menos remotas, como nos arredores de Óbidos.
Eventualmente, poderá é ser mais comum na Beira Interior e Trás-os-Montes, por exemplo.
 
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belem

Cumulonimbus
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Já agora deixo aqui uma notícia sobre a morte do homem mais velho do Minho (faleceu ontem com 106 anos):

https://ominho.pt/morreu-o-homem-mais-velho-do-minho-aos-106-anos/

Depois do Japão, Portugal é o país que se conhece, com o maior número de centenários, relativamente ao total da sua população (basicamente 38,9 (39) por cada 100.000 pessoas).
 
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VimDePantufas

Nimbostratus
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O maior estudo já feito sobre a história genética dos habitantes da Península Ibérica, hoje divulgado, revela que os ibéricos são maioritariamente descendentes de povos que migraram das estepes russas e que foram os bascos que menos se misturaram depois.

O estudo, publicado na revista Science, foi liderado pela Harvard Medical School, dos Estados Unidos, e pelo Instituto de Biologia Evolutiva, de Barcelona, Espanha, tendo a colaboração de um total de 111 investigadores, incluindo portugueses, da Universidade do Minho, da Universidade de Coimbra e da Universidade de Lisboa.

Num comunicado, a Universidade do Minho (UM) diz que a região ibérica é agora, provavelmente, a mais bem caracterizada do mundo ao nível do ADN humano antigo. Pedro Soares, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental, da UM, foi um dos participantes no trabalho.

O estudo analisa a população da região hoje dividida entre Portugal e Espanha dos últimos 8.000 anos, incluindo o fluxo genético correspondente à chegada da agricultura, há 7.500 anos, as trocas genéticas com o norte de África, desde há 4.000 anos, e o grande fluxo migratório do início da idade do bronze, há 4.500 anos, a partir das estepes russas e ucranianas.

“O padrão destes migrantes representava na altura cerca de 40% do perfil genético da Península Ibérica e praticamente 100% das linhagens masculinas do território. Isso sugere que aqueles migrantes das estepes eram sobretudo do sexo masculino e, de algum modo, substituíram os homens locais”, explica Pedro Soares, citado no comunicado da UM.

Ou seja, a investigação provou que um grande número de homens da Europa central se deslocou para a Península Ibérica e se juntou a mulheres locais, substituindo a população masculina existente.

As equipas analisaram os genomas de 403 antigos ibéricos que viveram entre 6.000 A.C. e 1.600 D.C., 975 pessoas de fora da Península Ibérica e cerca de 2.900 habitantes atuais da península.

A investigação permitiu concluir que em 2.500 A.C., há 4.500 anos, não havia ancestrais recentes de fora da Península e que 500 anos depois os ancestrais por via paterna iam dar à Europa central e de leste.

Diz o estudo que 40% dos antepassados gerais e 100% dos ancestrais patrilineares (pais e pais dos pais) podem ser rastreados até aos grupos que tinham chegado das estepes russas e ucranianas.

Os investigadores consideram o resultado surpreendente. Não acreditam na possibilidade de os homens ibéricos terem sido exterminados ou deslocados à força, porque não há indícios de violência nesse período, e admitem como possível explicação que as mulheres ibéricas, por alguma razão, preferissem os recém-chegados.

Apesar de ao longo dos séculos a ascendência paterna ter continuado a evoluir, diz a equipa de investigadores que a maioria dos homens da Península Ibérica de hoje são descendentes por parte do pai daqueles recém-chegados da Idade do Bronze.

O estudo conclui ainda que os bascos atuais são geneticamente semelhantes aos da Idade do Ferro, fazendo deles uma espécie de população típica dessa altura, o que faz supor que a ancestralidade e a língua bascas não foram afetadas depois da transformação operada pela chegada dos homens das estepes e permaneceram relativamente intactas, enquanto outros grupos à sua volta se misturaram de forma mais significativa ao longo do tempo.

Os investigadores identificaram ascendentes norte-africanos nas populações ibéricas datados de cerca de 2.000 anos antes de Cristo, indicando um fluxo dessa região para a Europa.

E já na era atual a ascendência norte-africana foi mais difundida na Península Ibérica, ocorrendo as influências genéticas muito antes da conquista árabe da Península durante o século VIII.

Revelando os principais eventos que moldaram as populações antigas da Península Ibérica, o estudo dá uma ideia dos movimentos e migrações do homem antigo.

E conclui também, por exemplo, que os grupos de caçadores-recoletores que viviam na Península Ibérica na altura do Mesolítico, cerca de 8.000 anos A.C., tinham uma composição genética muito diferente dos que viveram 5.500 antes de Cristo.

Tal sugere que já nessa altura havia migrações para a Península Ibérica, algo que conclui um outro estudo, também hoje divulgado na revista Current Biology.

Este estudo analisou os caçadores-recoletores e antigos agricultores que viviam na Península Ibérica entre há 13.000 e 6.000 anos.

Na última idade do gelo, que terminou há cerca de 12.000 anos, a Península Ibérica permaneceu relativamente quente, mantendo plantas e animais, funcionando como refúgio e recebendo migrantes do resto da Europa. A posição geográfica, ao lado do Mediterrâneo e do norte de África, terá também contribuído para essa mistura de povos.