Corço (Capreolus capreolus)

lreis

Cumulus
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O mapa de distribuição do Corço em Portugal (J. Fonseca, 1999) aparenta já estar significativamente desactualizado. De acordo com as informações que vou recolhendo, posso acrescentar o seguinte:

A – Norte do Douro; ocorrência numa área considerável do distrito de Viana do Castelo (no sentido da ocorrência em concelhos cada vez mais próximo do litoral), área ocupada no distrito de Vila Real é também já significativamente maior com observações em Boticas, Chaves, Vila Pouca, etc. No que diz respeito ao distrito de Bragança, a informação que disponho confirma a área de distribuição, não querendo isto dizer que não tenha havido um aumento assinalável da área ocupada pela espécie. O relato de observação de corço mais antigo que obtive é na zona da Serra da Nogueira e data do final da década de 60, onde aliás, se situa um dos mais sólidos “solares” do corço em Portugal. Aqui ocorreu uma expansão natural das populações a partir de Espanha.
Finalmente relativamente aos distritos de Porto e Braga, não acrescento mais informação.

B- Sul do Douro: se na região Norte, houve de facto uma expansão muito interessante nas últimas décadas, penso que é a Sul do Douro que a expansão desta espécie lança as questões mais interessantes. Não desprezando a expansão natural que ocorra a partir de Espanha para os distritos de Castelo Branco e Guarda, realço no entanto dois (re)povoamentos efectuados pelos ex-Serviços Florestais:
B.1 – Serra da Lousã – não tendo a certeza de quando este repovoamento foi exactamente efectuado (alguns na 1ª metade dos anos 90), o que é facto é que a expansão deste espécie na região foi “quase meteórica”, já que a população expandiu-se para o litoral (concelhos de Miranda do Corvo e Penela), para Sul (Castanheira de Pêra) e para o interior (uma maior expansão, que já alcança Pampilhosa da Serra e Arganil, sendo até provável que já tenha ocorrido para concelhos mais para o interior). Para Norte (no sentido de VN de Poiares e Penacova), não tenho qualquer informação e será um desafio ecológico interessante uma vez que o corço tem nestas áreas um habitat não tão favorável, onde pontifica o eucalipto.
B.2 – Beira Interior – a libertação dos animais desta população terá sido feita também na 1ª metade da década de 90, tendo a expansão sido igualmente assinalável. Das últimas informações que fui recolhendo, o corço expandiu-se para Sul até à Serra da Gardunha. Será também interessante perceber se o corço passa (ou quando passa) para os concelhos de Idanha e de Castelo Branco uma vez que, passamos a ter “habitats mais mediterrânicos” onde pontificam os montados de sobro e azinho. Relativamente ao mapa de Espanha, reparei que o corço existe também nesta áreas na região a Sul de Madrid, donde deve ser uma questão de tempo até o corço se expandir em direcção ao Sul em Portugal (se não o fez já).
Um outro vector importante de expansão, é a expansão desta população em direcção ao litoral, a partir da zona Norte da Serra da Estrela. Essa expansão terá como limite geográfico máximo a Serra da Freita, sendo que já se confirmou a presença em zonas como Vila Nova de Paiva e Momenta da Beira. Esta população vai ter um efeito importantíssimo porque irá contribuir certamente para a estabilização das alcateias ainda existentes entre a Serra do Leomil e Trancoso.
Duas outras questões interessantes se colocam:, a expansão para Norte em direcção ao Douro, de que não tenho informação, mas que me parece uma questão de tempo, bem como expansão na Serra da Estrela.
Relativamente a esta última, é muito provável que já exista colonização, muito embora não tenha também qualquer informação. Será aliás muito provavelmente no eixo entre Fundão e Gouveia que se fará a união das populações B1 e B2. A Serra da Estrela aparenta ter um grande potencial para o corço, donde é aqui também uma questão de tempo até esta surgir (se não estiver feita já e numa escala geográfica apreciável)
Na região Centro, existem ainda outras questões interessantes:
- como e quando se procederá à expansão do corço para as zonas do Pinhal Interior Sul, para além da área de Castelo Branco?;
- o que vai acontecer na região entre a zona interior de Coimbra e Sul de Viseu, onde existem áreas grandes de eucaliptais?;
- qual será a dinâmica da população de lobos, face à expansão desta população?
Abraços
Luís Reis
 


Seattle92

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O mapa de distribuição do Corço em Portugal (J. Fonseca, 1999) aparenta já estar significativamente desactualizado. De acordo com as informações que vou recolhendo, posso acrescentar o seguinte:

A – Norte do Douro; ocorrência numa área considerável do distrito de Viana do Castelo (no sentido da ocorrência em concelhos cada vez mais próximo do litoral), área ocupada no distrito de Vila Real é também já significativamente maior com observações em Boticas, Chaves, Vila Pouca, etc. No que diz respeito ao distrito de Bragança, a informação que disponho confirma a área de distribuição, não querendo isto dizer que não tenha havido um aumento assinalável da área ocupada pela espécie. O relato de observação de corço mais antigo que obtive é na zona da Serra da Nogueira e data do final da década de 60, onde aliás, se situa um dos mais sólidos “solares” do corço em Portugal. Aqui ocorreu uma expansão natural das populações a partir de Espanha.
Finalmente relativamente aos distritos de Porto e Braga, não acrescento mais informação.

Grande contributo para a discussão lreis. :thumbsup:

Com todas as indicações que tenho recolhido nos últimos tempos, fiquei com a ideia que a área de distribuição do corço a norte do Douro é realmente bastante significativa, o que não quer dizer que o número de animais o seja. Um exemplo disso é o relativo baixo número de indivíduos no Montesinho (quando comparado com veados e javalis), apesar de ser aceite que existem corços em toda a sua área.

Diria que em termos de distritos devemos ter mais ou menos esta situação:

Viana do Castelo:
A distribuição parece ocupar grande parte do distrito. Naturalmente a expansão foi feita a partir do parque da Peneda para oeste. Encontram-se referências sobre a existência de corços na zona de Arcos de Valdevez, Paredes de Coura, Ponte de Lima, até já mais próximo do mar, na serra da Agra, Vila Nova de Cerveira. Diria que com a excepção dos centros urbanos, já é possível encontrar o animal numa boa parte da área acima do Lima (o que não significa que o seu número seja grande)

Braga:
A distribuição será bem menor que no caso anterior, estando centrada na parte leste do distrito (Gerês e zonas mais próximas com a fronteira com Vila Real). Não me parece que existam populações a oeste e Braga. Havia uma referencia antiga a uma população a noroeste de Barcelos, mas que terá desaparecido.

Porto:
Naturalmente a área será muito pequena e resume-se há fronteira com o distrito de Vila Real (Alvão e Marão)

Vila Real:
Neste distrito já aparecem referências à existência de corços um pouco por todo o lado. A excepção parece ser a zona sudeste (Sabrosa, Murça, Alijó) a este do IP3. Não sei se haverá alguma razão para isso ou apenas uma questão de tempo.

Bragança:
A descrição de Vila Real serve para Bragança. Estão um pouco por todo o lado: Montesinho, Nogueira, Macedo de Cavaleiros, Douro Internacional,... A excepção parece ser a zona que liga à área de que falei do distrito de Vila Real, ou seja a zona sudoeste (a oeste do IP2)

A expansão nas ultimas duas décadas foi realmente impressionante. Apesar da área ter aumentado imenso e um pouco por todo o lado haverem registos de visualizações de corços, nem por isso parece haver um grande número de indivíduos. Pelo menos é a ideia com que fico dos vários estudos feitos no Marão, Gerês, Montesinho,...

Diria que a norte do Douro a expansão do Corço está praticamente feita. Com a excepção da tal zona sudeste de Vila Real e sudoeste de Bragança, as outras áreas onde o animal não se encontra são zonas de intensa agricultura e pressão urbana (onde naturalmente não há habitat para grande mamíferos), como toda a área que vai de Braga até ao Porto.

No entanto seria interessante perceber porque é que os efectivos populacionais nunca são muito grandes. É uma característica da própria espécie? Será que sofrem uma grande pressão da caça furtiva?


Mais tarde farei a análise da situação a sul do Douro :)
 

Lousano

Cumulonimbus
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Lousã/Casais do Baleal
O mapa de distribuição do Corço em Portugal (J. Fonseca, 1999) aparenta já estar significativamente desactualizado. De acordo com as informações que vou recolhendo, posso acrescentar o seguinte:

A – Norte do Douro; ocorrência numa área considerável do distrito de Viana do Castelo (no sentido da ocorrência em concelhos cada vez mais próximo do litoral), área ocupada no distrito de Vila Real é também já significativamente maior com observações em Boticas, Chaves, Vila Pouca, etc. No que diz respeito ao distrito de Bragança, a informação que disponho confirma a área de distribuição, não querendo isto dizer que não tenha havido um aumento assinalável da área ocupada pela espécie. O relato de observação de corço mais antigo que obtive é na zona da Serra da Nogueira e data do final da década de 60, onde aliás, se situa um dos mais sólidos “solares” do corço em Portugal. Aqui ocorreu uma expansão natural das populações a partir de Espanha.
Finalmente relativamente aos distritos de Porto e Braga, não acrescento mais informação.

B- Sul do Douro: se na região Norte, houve de facto uma expansão muito interessante nas últimas décadas, penso que é a Sul do Douro que a expansão desta espécie lança as questões mais interessantes. Não desprezando a expansão natural que ocorra a partir de Espanha para os distritos de Castelo Branco e Guarda, realço no entanto dois (re)povoamentos efectuados pelos ex-Serviços Florestais:
B.1 – Serra da Lousã – não tendo a certeza de quando este repovoamento foi exactamente efectuado (alguns na 1ª metade dos anos 90), o que é facto é que a expansão deste espécie na região foi “quase meteórica”, já que a população expandiu-se para o litoral (concelhos de Miranda do Corvo e Penela), para Sul (Castanheira de Pêra) e para o interior (uma maior expansão, que já alcança Pampilhosa da Serra e Arganil, sendo até provável que já tenha ocorrido para concelhos mais para o interior). Para Norte (no sentido de VN de Poiares e Penacova), não tenho qualquer informação e será um desafio ecológico interessante uma vez que o corço tem nestas áreas um habitat não tão favorável, onde pontifica o eucalipto.
B.2 – Beira Interior – a libertação dos animais desta população terá sido feita também na 1ª metade da década de 90, tendo a expansão sido igualmente assinalável. Das últimas informações que fui recolhendo, o corço expandiu-se para Sul até à Serra da Gardunha. Será também interessante perceber se o corço passa (ou quando passa) para os concelhos de Idanha e de Castelo Branco uma vez que, passamos a ter “habitats mais mediterrânicos” onde pontificam os montados de sobro e azinho. Relativamente ao mapa de Espanha, reparei que o corço existe também nesta áreas na região a Sul de Madrid, donde deve ser uma questão de tempo até o corço se expandir em direcção ao Sul em Portugal (se não o fez já).
Um outro vector importante de expansão, é a expansão desta população em direcção ao litoral, a partir da zona Norte da Serra da Estrela. Essa expansão terá como limite geográfico máximo a Serra da Freita, sendo que já se confirmou a presença em zonas como Vila Nova de Paiva e Momenta da Beira. Esta população vai ter um efeito importantíssimo porque irá contribuir certamente para a estabilização das alcateias ainda existentes entre a Serra do Leomil e Trancoso.
Duas outras questões interessantes se colocam:, a expansão para Norte em direcção ao Douro, de que não tenho informação, mas que me parece uma questão de tempo, bem como expansão na Serra da Estrela.
Relativamente a esta última, é muito provável que já exista colonização, muito embora não tenha também qualquer informação. Será aliás muito provavelmente no eixo entre Fundão e Gouveia que se fará a união das populações B1 e B2. A Serra da Estrela aparenta ter um grande potencial para o corço, donde é aqui também uma questão de tempo até esta surgir (se não estiver feita já e numa escala geográfica apreciável)
Na região Centro, existem ainda outras questões interessantes:
- como e quando se procederá à expansão do corço para as zonas do Pinhal Interior Sul, para além da área de Castelo Branco?;
- o que vai acontecer na região entre a zona interior de Coimbra e Sul de Viseu, onde existem áreas grandes de eucaliptais?;
- qual será a dinâmica da população de lobos, face à expansão desta população?
Abraços
Luís Reis

Apenas vou referir que tem de se considerar também a serra do Sicó, em virtude de já terem sido avistados corços junto ao IC3 (Penela-Ansião).

Questionando um clube de caçadores local, ou por exemplo o SEPNA da GNR de Pombal, poderá tirar-se essa dúvida.
 

Seattle92

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Apenas vou referir que tem de se considerar também a serra do Sicó, em virtude de já terem sido avistados corços junto ao IC3 (Penela-Ansião).

Questionando um clube de caçadores local, ou por exemplo o SEPNA da GNR de Pombal, poderá tirar-se essa dúvida.

Já tinha encontrado indicações disso mas em relação aos veados. Bom saber que os corços também se estão a espalhar para oeste :thumbsup:
 

Dan

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A expansão nas ultimas duas décadas foi realmente impressionante. Apesar da área ter aumentado imenso e um pouco por todo o lado haverem registos de visualizações de corços, nem por isso parece haver um grande número de indivíduos. Pelo menos é a ideia com que fico dos vários estudos feitos no Marvão, Gerês, Montezinho,...

O corço parece ser uma espécie se deixa observar com relativa facilidade. Aqui na região tenho avistado com muito mais frequência corços que veados.
 

Seattle92

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^^

Um exemplo do que estava a falar é precisamente perto de Bragança. Numa zona estudada por causa de duas alcateias de lobos

Verificou-se que tanto no território da Alcateia de Bragança Norte como no território da Alcateia de Bragança Sul, das 3 principais presas (Javali – Sus scrofa-, Veado – Cervus elaphus - e Corço – Capreolus capreolus -), o javali é a espécie mais frequente (16% e 13% dos registos fotográficos obtidos respectivamente), seguido pelo veado (11% e 9% dos registos respectivamente) e depois o corço (entre a 1 a 2% dos registos fotográficos).
http://faunaiberica.blogspot.com/


Obviamente que isto é apenas um exemplo e não quer dizer que seja assim em todo o lado. Mas já tinha reparado noutros estudos no Gerês e Alvão por exemplo, onde o efectivo populacional dos corços não parece ter aumentado muito nos últimos anos.
 

Seattle92

Nimbostratus
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B.1 – Serra da Lousã – não tendo a certeza de quando este repovoamento foi exactamente efectuado (alguns na 1ª metade dos anos 90), o que é facto é que a expansão deste espécie na região foi “quase meteórica”, já que a população expandiu-se para o litoral (concelhos de Miranda do Corvo e Penela), para Sul (Castanheira de Pêra) e para o interior (uma maior expansão, que já alcança Pampilhosa da Serra e Arganil, sendo até provável que já tenha ocorrido para concelhos mais para o interior). Para Norte (no sentido de VN de Poiares e Penacova), não tenho qualquer informação e será um desafio ecológico interessante uma vez que o corço tem nestas áreas um habitat não tão favorável, onde pontifica o eucalipto.

Sim, efectivamente o repovoamento da serra da Lousã foi um grande sucesso (tanto no caso do corço como do veado). Já encontrei algumas indicações que os veados ocupavam uma área bem maior que os corços, mas outras referências que vou encontrando não dão essa ideia.

Do ponto mais a oeste onde há indicações da sua presença (Ansião-Penela) ao ponto mais a este (mata da Margaça na Serra do Açor), há cerca de 50 km de distância. É realmente uma área considerável.

Se fizermos uma recta num mapa a unir estes dois locais, vemos que a linha segue exactamente por cima da cordilheira que une a serra da Lousã à serra do Açor (e que depois segue para a serra da Estrela). Isto parece indicar que a expansão do corço nesta zona do país está a ser feita essencialmente ao longo das serras.
Se calhar enquanto houver serra para colonizar (e ainda há, nomeadamente a maior de todas :)), esta população não se irá espalhar muito para norte (distrito de Viseu), nem para sul (Pinhal Interior).

Um dos grandes interesses desta população é saber quando e onde vai ocorrer a ligação com a população da beira interior. Será na serra da Estrela, será na zona do Fundão. Será que já ocorreu?

Já agora, porque é que o veado já é caçado nesta zona do país e o corço ainda não?
 

Seattle92

Nimbostratus
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B.2 – Beira Interior – a libertação dos animais desta população terá sido feita também na 1ª metade da década de 90, tendo a expansão sido igualmente assinalável. Das últimas informações que fui recolhendo, o corço expandiu-se para Sul até à Serra da Gardunha. Será também interessante perceber se o corço passa (ou quando passa) para os concelhos de Idanha e de Castelo Branco uma vez que, passamos a ter “habitats mais mediterrânicos” onde pontificam os montados de sobro e azinho. Relativamente ao mapa de Espanha, reparei que o corço existe também nesta áreas na região a Sul de Madrid, donde deve ser uma questão de tempo até o corço se expandir em direcção ao Sul em Portugal (se não o fez já).
Um outro vector importante de expansão, é a expansão desta população em direcção ao litoral, a partir da zona Norte da Serra da Estrela. Essa expansão terá como limite geográfico máximo a Serra da Freita, sendo que já se confirmou a presença em zonas como Vila Nova de Paiva e Momenta da Beira. Esta população vai ter um efeito importantíssimo porque irá contribuir certamente para a estabilização das alcateias ainda existentes entre a Serra do Leomil e Trancoso.
Duas outras questões interessantes se colocam:, a expansão para Norte em direcção ao Douro, de que não tenho informação, mas que me parece uma questão de tempo, bem como expansão na Serra da Estrela.
Relativamente a esta última, é muito provável que já exista colonização, muito embora não tenha também qualquer informação. Será aliás muito provavelmente no eixo entre Fundão e Gouveia que se fará a união das populações B1 e B2. A Serra da Estrela aparenta ter um grande potencial para o corço, donde é aqui também uma questão de tempo até esta surgir (se não estiver feita já e numa escala geográfica apreciável)
Na região Centro, existem ainda outras questões interessantes:
- como e quando se procederá à expansão do corço para as zonas do Pinhal Interior Sul, para além da área de Castelo Branco?;
- o que vai acontecer na região entre a zona interior de Coimbra e Sul de Viseu, onde existem áreas grandes de eucaliptais?;
- qual será a dinâmica da população de lobos, face à expansão desta população?
Abraços
Luís Reis


Em relação há população da Beira Interior tenho algumas dúvidas. A primeira de todas é saber se estamos a falar apenas de uma população continua, ou várias isoladas, fruto de diferentes reintroduções.

Começando pelo norte, existe uma população que (ao que parece) atravessou o Douro e continuou a expandir-se para sul, ao longo da fronteira com Espanha e que já chega (no mínimo) até ao IP5. Mais a sul existe a população que apareceu na Malcata, não se sabe se vinda de Espanha ou das várias reintroduções que foram feitas nas redondezas. Uma coisa que ainda não consegui perceber é se estas duas populações estão ligadas e formam apenas uma, ou se ainda há uma zona entre o IP5 e a Malcata que não apresenta esta espécie.

Na Beira Interior a fronteira actual a sul deverá andar pela zona do Fundão. Apesar da mudança de habitat que começa a haver na zona de Castelo Branco e depois mais para sul no Alto Alentejo, não me parece que este seja um factor que impeça a expansão desta espécie. Basta olhar para as populações de corços no sul de Espanha (Estremadura, Andaluzia,...) para se perceber que a espécie se adapta bem ao clima e habitat mediterrânicos.

A serra da Estrela é aquela dúvida que tem sido falada aqui no fórum. Será que a nossa maior serra ainda anda vazia de grandes mamíferos? Se anda não será por muito tempo. Está completamente cercada por populações de corços e veados, tanto a sul como a este :).
Existiu uma reintrodução desta espécie num cercado em Manteigas há vários anos, mas depois disso nunca mais se ouviu falar da presença deste animal, por isso é possível que não tenha tido sucesso. Talvez o ICNB possa responder a esta dúvida, tanto sobre a tal população de Manteigas, como sobre outras que estão mesmo às portas da serra (Fundão, Belmonte, serra do Açor,...).

Sobre este testemunho fiquei com muitas dúvidas em relação à expansão para litoral na área entre o Douro e o IP5. Estamos a falar da expansão natural para oeste da população que existe junto à fronteira de Espanha? Ou de várias reintroduções feitas em diferentes zonas do distrito de Viseu? Estamos a falar de uma área de distribuição contínua até à fronteira com o distrito de Aveiro, ou várias populações isoladas nas diferentes serras de Viseu?
Se calhar são ambas as situações. Ou seja, as populações das várias reintroduções feitas no distrito de Viseu ao longo da ultima década foram-se ligando entre si e com a população natural do distrito da Guarda e actualmente já formam uma população continua.
Não sei, mas apesar da expansão da espécie estar-se a dar a um ritmo realmente espectacular, acho demasiado optimista a ideia de toda aquela zona já estar colonizada.

Em tempos li um estudo sobre a possibilidade de reintroduções de corços e veados no maciço da Gralheira. Ou seja toda aquela zona das serras da Freita, Arada, São Macário e Arestal. O estudo tinha poucos anos e falava dessa possibilidade, ou seja a reintrodução ainda não teria ocorrido. Pelos vistos ocorreu entretanto, mas isso reforça a ideia que no distrito de Viseu deverão haver algumas populações isoladas em determinadas zonas (fruto de reintroduções) e não uma distribuição contínua em toda a área.

O lreis tem ideia das reintroduções especificas que foram feitas?
 

Dan

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Já há alguns anos que me têm relatado avistamentos de “cabras selvagens” numa área que corresponde ao extremo sul do PNSE. Nunca dei grande importância a esses relatos, mas como as pessoas desta área não conhecem os corços, é bem possível que estejam a confundir estes animais com “cabras selvagens”.
 

Seattle92

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Olha para esta notícia (que já tinha colocado anteriormente) de 2000 sobre reintroduções na zona da Serra da Estrela:

O cercado de produção é semelhante aos de Aldeia Velha e Manteigas, e está prevista a sua abertura para dentro de dois anos, o que necessita, anteriormente, de um trabalho de sensibilização das populações, que, como referiu o técnico, está prevista no projecto mas que ainda não aconteceu. «É complicado ir de terra em terra falar com as pessoas que nem sequer conhecem um corço, chamam-nos de "cabras selvagens"»

Pelos vistos os locais usam exactamente essa expressão para designarem este "novo" animal :thumbsup:
 

lreis

Cumulus
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Alguns comentários aos últimos posts:

- A questão da expansão da população de corço para novas áreas de colonização pode implicar que o seu efectivo se altere em determinada região “já colonizada”, no sentido de haver até uma diminuição significativa. O Seattle92 e o Dan alertam para uma questão muito pertinente: o efectivo de corço no Gerês, Marão e Bragança poderá já ter tido melhores dias.

Confirmo também a referência feita pelo Dan para a zona de Bragança: tenho tido mais facilidade em ver corço do que veado.

- A descrição do Seattle92 para a distribuição em Trás-os-Montes é muito interessante. No fundo ficamos por perceber qual o grau de colonização na Terra Quente transmontana, porque tudo o restante terá a presença de corço confirmada;

- Já na região Centro, a referência introduzida por Lousano à Serrra de Sicó é muito importante, porque de facto esta zona, com os seus carvalhais, tem habitats muito interessantes para o corço. Não tinha referências a ocupação desta zona mas era de facto bastante previsível. Tanto para o corço como para o veado.

- Os pontos introduzidos pelo Seattle92 relativamente à colonização de corço a Norte de Viseu são muito pertinentes. Tenho a ideia que o contingente desta região resultará de repovoamentos isolados (especialmente no caso de Moimenta/Vila Nova de Paiva) e que poderá já ter-se ligado com outros núcleos populacionais adjacentes (introduzidos?), fruto de uma expansão interessante. Dou ainda mais importância a esta linha de raciocínio uma vez que não tenho referências a observações nas zonas de Sernancelhe, Meda, Trancoso/Serra do Pisco, área que faz um contínuo com a originalmente repovoada na década de 90 (Guarda, Manteigas, Sabugal). Vou investigar este aspecto.

Agora, o facto de existir corço nos concelhos de Moimenta e Vila Nova de Paiva significa que é uma questão de tempo que ele chegue, por um lado ao eixo São Macário-Arada-Freita e por outro lado a Montemuro.

No fundo, a expansão do corço no Centro, como o Seattle92 afirma, segue muito neste momento os eixos das serranias, só ocupando o restante numa fase posterior (no Norte, provavelmente também foi assim, mas já se ultrapassou “esta fase” talvez há uma década(?)). Daí a dúvida que lancei ao perguntar como se efectuará, por exemplo, a colonização da área do Pinhal Interior Sul, que já não é tão serrana quanto isso mas em contraponto é bastante desertificada (realço em termos humanos).

Finalmente, é uma boa pergunta o facto do corço ainda não se caçar na zona da Lousã. Vou também investigar. Infelizmente, já existirá certamente furtivismo suficiente para poder afectar a população existente. Esta nota aliás aplica-se a muitas outras regiões do país, sendo uma preocupação recorrente para quem observa/analisa a grande fauna portuguesa.

Cumprimentos
lreis
 

Lousano

Cumulonimbus
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12 Out 2008
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Lousã/Casais do Baleal
Finalmente, é uma boa pergunta o facto do corço ainda não se caçar na zona da Lousã. Vou também investigar. Infelizmente, já existirá certamente furtivismo suficiente para poder afectar a população existente. Esta nota aliás aplica-se a muitas outras regiões do país, sendo uma preocupação recorrente para quem observa/analisa a grande fauna portuguesa.

Cumprimentos
lreis

Não sei se o corço estará numa das espécies englobadas, mas realizam-se várias montarias mistas em vários locais da serra da Lousã.

Um exemplo:

http://www.matilhamacedo.com/montarias.php

E caça furtiva também existe como é óbvio, mas parece-me em declínio devido ao desinteresse da carne das cabras.