Impacto agrícola da seca 2011-2012

Agreste

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Uma das coisas que vêm referidas neste capítulo do livro é que no Alentejo (Castro Verde), o nível de seca mais usual é o moderado e só depois aparece o extremo/severo. A norte os episódios de seca são mais recorrentes do que permanentes, o que era de esperar. O tempo não costuma ficar bloqueado por ai.
 


Aurélio

Cumulonimbus
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

1 - Os dados da tabela pequena são de Faro... a das datas corridas são nacionais.

2 - Exacto.

3 - Exacto; Ligeiro, Médio, Severo e Extremo.

4 - Os valores aparecem numa tabela da pag 66 mas não há nenhuma descrição de como os encontraram. Estive para publicar isto há mais tempo mas o livro neste ponto não descreve o cálculo nem da magnitude nem da intensidade.

O livro em si é uma compilação de vários estudos sobre esta temática. O preço é acessível mas o conteúdo é pesado e inclui vários cálculos matemáticos computacionais.

A intensidade aparenta ser o próprio índice, comparando com a tabela que o IM tem no seu site, mas fórmulas é que nem vê-las. A intensidade aparenta ter uma correlação com o nível da seca (normal, severa, ect ... ), enquanto que a magnitude aparenta ter uma relação com o numero de meses que ela perdura.

Faz-me confusão é se falar .... como dizes na 1ª tabela que é para o país todo, sabendo-se que podes ter uma região com 4 meses em seca e outra durante 16 meses por exemplo.

Por exemplo em termos de PDSI a região do litoral Norte e Centro já se encontra em seca pelo menos há cerca de 19 meses a 20 meses, se não estou em erro.
A região sul nomeadamente o Algarve está há cerca de 14 meses com intercalação de um mês, também salvo erro de memória.
Acho isto muito injusto tratar-se uma situação de seca de um país como um todo.
 

comentador

Nimbostratus
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2 Out 2012
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Re: Seg. Previsão do Tempo e Modelos - Outubro 2012

A quase ausência de vegetação deve-se ao facto do pastoreio (ou até sobrepastoreio) de gado, sobretudo aos bovinos (actualmente em maior representação no Alentejo) e aos ovinos e isto, independentemente de serem anos secos, normais ou húmidos. No Alentejo, as zonas de sequeiro a actividade principal passou a ser a pecuária em detrimento dos cereais para grão. Mas isto deve-se às políticas agrícolas.

É normal no Alentejo o estrato herbáceo estar completamente seco e ressequido com o calor do verão. Em termos arbóreos, (as florestais dominantes, azinheira e sobreiro) estão bem adaptadas ao nosso clima, com as chuvas irregulares no espaço e no tempo. Relativamente ao estrato arbustivo, este é em menor número, devido à mobilização dos solos para sementeira e ao pastoreio de gado.

Portanto é normal no final do verão/principio do outono termos zonas desnuadas de vegetação no Alentejo e quando existe é o estrato herbáceo seco. Quanto ao contraste que verificou, de certeza que em zonas serranas encontrou mais vegetação e nas zonas mais planas, verificou terrenos mais desnuados! Isso tem a ver com a politica de desflorestamento do Alentejo devido à campanha do trigo na década dos anos 30. Foi a chamada desflorestação da charneca do Alentejo, para a produção de cereais, sobretudo o trigo. Por isso encontramos áreas enormes com pouca vegetação natural.

Relativamente às barragens, também não exagere! Olhe que 10 anos seguidos de seca mesmo as grandes barragens ficariam sem água, pois o abastecimento público e o fornecimento para a agricultura consomem muita água, não se falando da evaporação atmosférica ou infiltração no solo dessa água, que representa uma parte das perdas. Existem outras!

Quanto às zonas com barragens de menor dimensão, tá claro que as dificuldades são maiores, em anos de seca, mas temos de ver também que os solos só podem ser ocupados face à sua aptidão para as culturas (tipo de solo, declive, etc). Acho que aqui tem de haver uma proporção do uso da água face à dimensão da albufeira. Se é menor, logo o perímetro de rega tem de ser menor. Trata-se aqui de uma questão da gestão da água e tenho verificado em muitas albufeiras que o uso não é eficiente e nem os perímetros de rega bem calculados face à dimensão da albufeira. Em algumas, a gestão é feita por gestores inexperientes, estão fora da realidade. As manutenções e conservações de canais e condutas mais das vezes não são feitas. Tenho visto água a ser desperdiçada durante o verão pelas más ou ausentes conservações do sistema, o que acarreta grandes perdas de água. É do tipo eu quero 5 litros de água por segundo no meu campo e à saída da barragem têm de mandar 10 ou 15 litros para ter a quantidade pedida no meu campo de rega.

Mais das vezes quando os níveis das barragens estão baixos, permitem a rega desse perímetro sem qualquer restrição de culturas, como se a barragem tivesse cheia.

É do tipo, enquanto houver água na barragem vamos vendendo aos agricultores, o que interessa é fazer dinheiro.

Meu caro Aurélio, cada caso é o seu caso, sabemos que em albufeiras mais pequenas e em anos secos os níveis baixam drasticamente, mas também há casos que é mesmo da má gestão, NÃO É SÓ DA SECA!!! A SECA sabemos o que faz, mas a má gestão, que eu tenho presenciado, NÃO SEI MUITO BEM QUAL É A PIOR PARA OS NÍVEIS BAIXOS DAS BARRAGENS!

Só quem não não está por dentro do assunto é que acredita que é mesmo da seca, mas é uma tristeza em alguns perímetros de rega ver água desperdiçada pelos canais e jogada por barrancos e ribeiras em pleno verão, só porque é fim de semana e o cantoneiro que abre e fecha a água ao agricultor, só começa a trabalhar na 2 feira!

Sabemos que o tempo por vezes vem contra a agricultura e as barragens secam-se, mas se tivéssemos boa gestão podiam reduzir, e muito, as perdas de água que se perdem.

É nesta e noutras áreas, dizemos tá mal tá mal, mas quem vai ao problema de fundo ou de raíz é que se apercebe bem da realidade. Quem não conhece, aceita e pensa que as coisas são mesmo assim....

Enfim, haja saúde para todos.....




Relativamente á minha região sempre tivemos muitos problemas com as secas e com aquela maior digamos assim (de 2004 - 2005), fez soar o alarme, pois como deve saber .... desperdiçar água é connosco. A Barragem do Alqueva foi a benção do interior alentejano e também do Algarve e conseguiu resolver a maior parte dos problemas de água. Arrisco dizer que não voltaremos a ter problemas hidrológicos, isto porque nos ultimos 20 anos se construiram várias barragens, sendo a maior de todas a do Alqueva.
Foram também construidas condutas de água para levar a água do Sotavento para o Barlavento algarvio devido aos problemas que a região central essencialmente sofria, porque por aqui não existem barragens e havia bastantes problemas com os furos não apenas devido á má qualidade em especial em alturas das secas, como também devido a constantemente ficarem quase secos.
O mesmo se passava em relação ao interior alentejano que em anos de seca é estilo Saara.
Por exemplo fiz a viagem até aí a Èvora agora em Setembro e parece existir quase uma barreira meteorológica da Vidigueira para cima, aliás existe um grande contraste em termos de vegetação (mas isso é normal ). Mas o que queria dizer aliás é que verifiquei uma grande secura na vegetação, quase ausência de vegetação, poucas culturas e o ponto que queria referir ... as pequenas albufeiras através das quais se faziam algumas culturas estarem também secas, e os animais muito magros. A região de Trás os Montes ainda está na "Pre-Historia" porque enquanto no Algarve se resolveu os problemas, em Trás os Montes parece existir inércia a resolver a situação, mas nem pense que choveu menos lá do que aqui. Olhe por exemplo aqui entre Dezembro e inicio de Outubro penso que somando tudo não ultrapassou os 80 mm, ou pouco mais.


Portanto em resumo em termos hidrológicos não temos nem vamos ter problemas a menos que haja uma seca durante uns 10 anos seguidos, contudo noutras regiões do país a que voçe chama de pequena pereferia, e que gosto mais de chamar barragens pequenas ou sem barragens de suporte, e que não têm como suporte uma grande barragem uma seca prolongada pode-se tornar um grande problema.
 

belem

Cumulonimbus
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O sobrepastoreio pode ocorrer, quando a exploração tem pouca vegetação e demasiados bovinos para sua área.

Em certas regiões com mais vegetação e com uma área maior para pastoreio, a presença de
bovinos (em especial de raças autótones mais primitivas), pode ser bastante benéfica.



 
Editado por um moderador:

algarvio1980

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Economia: Quebras em quase todas as culturas no Algarve

Seca ‘mata’ agricultura

A pouca precipitação e as temperaturas elevadas registadas ao longo deste ano estão a provocar uma grande quebra de produção aos agricultores algarvios, segundo o último relatório do Grupo de Acompanhamento e Avaliação dos Impactos da Seca, criado pelo Ministério da Agricultura.

Nos citrinos, a principal cultura permanente na região, a produção caiu entre 15 e 30%, em relação à média dos últimos cinco anos. Além disso, os frutos são mais pequenos. As altas temperaturas verificadas na primeira semana de Maio são apontadas como a principal causa desta situação.

Ao nível da uva para vinho, a qualidade é excelente, mas o calibre apresenta-se mais pequeno do que o habitual. A produção deverá registar uma quebra entre 10 e 15%, face aos últimos anos, sobretudo nas castas de vinho tinto.

No pomares de sequeiro, a amêndoa caiu entre 10 e 30%, devido ao facto de a maioria das árvores estarem envelhecidas, e a alfarroba teve uma quebra na ordem dos 35 a 43%, situação resultante fundamentalmente dos "efeitos da seca", segundo consta no relatório. O figo também sofreu uma diminuição de produção, entre 10 e 30% , e o calibre é menor.

Fonte: CM

A minha quebra na alfarroba rondou os 60% em relação ao ano passado e pelo andar da carruagem para o ano ainda deve ser pior. Não tarda, começa a nascer a candeia nas alfarrobeiras e sem chuva começa a cair tudo como o ano passado.

Já nas azeitonas, o ano passado as oliveiras estavam carregadas de azeitonas, mas como não choveu no início de Outubro caiu metade no chão, mas ainda deu uns 20 litros de azeite, este ano deu dois frascos de azeitona para comer. :angry:
 

Aurélio

Cumulonimbus
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A minha quebra na alfarroba rondou os 60% em relação ao ano passado e pelo andar da carruagem para o ano ainda deve ser pior. Não tarda, começa a nascer a candeia nas alfarrobeiras e sem chuva começa a cair tudo como o ano passado.

Já nas azeitonas, o ano passado as oliveiras estavam carregadas de azeitonas, mas como não choveu no início de Outubro caiu metade no chão, mas ainda deu uns 20 litros de azeite, este ano deu dois frascos de azeitona para comer. :angry:

Este ano nem me dou ao trabalho de apanhar a azeitona .... de tão pouca que é ... !A chuva ainda deve demorar bastante por estas bandas !