Inverno 2009/2010 Hemisfério Norte, frio e mau tempo (causas)

Gerofil

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21 Mar 2007
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“Boa parte do Hemisfério Norte experimentou temperaturas extremamente frias em sua superfície em dezembro de 2009, mas o Ártico estava excepcionalmente aquecido. Se você mora próximo a algum lugar da América do Norte, Europa ou Ásia, não é novidade que dezembro de 2009 e o início de 2010 estavam frios. Esta imagem ilustra o quanto dezembro estava frio em comparação com a média de temperaturas registradas nos meses de dezembro, entre 2000 e 2008. Pontos azuis para áreas mais frias do que a média deste período, e pontos em vermelho para áreas mais quentes. Boa parte do Hemisfério Norte experimenta temperaturas frias na superfície continental, mas o ártico se apresentou excepcionalmente aquecido. Este comportamento climático é um sinal da Oscilação do Ártico.

NorthHemLSTanom_TMO_200912%5B9%5D.jpg
Imagem NASA Earth Observatory por Kevin Ward, baseado em dados fornecidos pelo Projeto NASA Earth Observations (NEO). Legenda de Holli Riebeek. Instrumento: Terra - MODIS. Áreas em azul, mais frias que a média. Áreas em vermelho, mais aquecidas que a média dos meses de dezembro, entre 2000 e 2008, em comparação com dezembro de 2009.

A Oscilação do Ártico é um padrão climático que influencia a clima de inverno no hemisfério norte. Ela é definida pela diferença de pressão entre o ar em latitudes médias (em torno de 45 graus Norte, sobre a latitude de Montreal, no Canadá ou Bordeaux, na França) e do ar sobre o Ártico. Uma massa de ar de baixa pressão domina o Ártico, enquanto os sistemas de alta pressão assentam-se sobre as latitudes médias. A força dos sistemas de alta e baixa pressão oscila. Quando os sistemas são mais fracos do que o normal, a diferença de pressão entre o Ártico e as latitudes médias diminui, permitindo que o ar frio do Ártico desliza para o sul, enquanto o ar aquecido se arrasta para o norte. A Oscilação ártica mais fraco que o normal é normalmente negativa. Quando os sistemas de alta e baixa pressão são fortes, a Oscilação Ártica é positiva.
Ao longo de Dezembro de 2009, a Oscilação do Atlântico Norte foi fortemente negativa, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos E.U.A. Esta imagem mostra o impacto da Oscilação do Ártico negativo sobre as temperaturas da superfície terrestre no hemisfério norte, como observou o sensor Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS), no satélite Terra da NASA. O ar frio do Ártico refrigerou a superfície da terra em latitudes médias, enquanto nas terras árticas, como na Groenlândia e no Alasca, era muito mais quente que o habitual.”

Rascunho Geo ©
 


irpsit

Cumulonimbus
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9 Jan 2009
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:thumbsup:

Boa reportagem Gerofil!
E pela explicação da AO negativa!
 

Paulo H

Cumulonimbus
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2 Jan 2008
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Desculpem a minha ignorância, mas parece-me que:

1 - Sempre que ocorre maior facilidade (longevidade x alcance = espaço x tempo) da circulação atmosférica "Jet Stream" entre os pólos e o equador do planeta, tanto menor (em média) o gradiente térmico horizontal entre estes, verificando-se anomalias positivas nos pólos e uma maior ocorrência de anomalias negativas nas restantes zonas (latitudes mais baixas).

2 - Verificam-se efectivamente zonas com maior anomalia negativa em locais menos comuns, embora no mapa mais acima não as represente nos oceanos.

3 - Tendo em conta, o princípio da conservação da energia, embora aqui não se aplique uma vez que o planeta é um sistema aberto para a energia, não creio que o Sol e outros factores externos cosmológicos consigam induzir tamanhos desvios nas anomalias, o que acontecem são as normais flutuações meteorológicas (embora aqui com um NAO negativo prolongado). Não nos podemos esquecer que a pressão atmosférica média do planeta continua sendo a mesma, a quantidade de água é a mesma, assim como os desvios da temperatura média do planeta decerto, não corresponderão às anomalias verificadas em alguns locais do hemisfério norte. Podemos mesmo observar que além das zonas a azul, também existem zonas a vermelho, seria necessário somá-las numericamente (somatório das áreas x valores das anomalias). Tenho a certeza, quase absoluta, de que o "calor" é sempre o mesmo no planeta (ignorando pequenos desvios anuais), e isso signigica que lá por existirem anomalias negativas, também se observam anomalias positivas (tanto mais extensas (em área) quanto menores os desvios (anomalia)).

4 - Quando se diz que o hemisfério norte está congelando, será o mesmo que dizer, que ocorreu menos frio no pólo norte. Não tenho dados acerca das flutuações médias de energia do Sol durante os ciclos, mas para a temperatura do planeta variar 1ºC num ano (ignorando outros factores no balanço energético: gases estufa, correntes dos oceanos,...) significa que 1ºC/273.15ºC = 0.366% do balanço energético global.
 

irpsit

Cumulonimbus
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Sim concordo contigo em tudo excepto no ponto em que referes a actividade solar. A temperatura do planeta varia naturalmente em ciclos, e é preciso distinguir no meio desse "ruído de fundo" as eventuais tendências de subida ou descida, que também podem ser cíclicas.

Parece óbvio que o input solar contribui significativamente para a variação da temperatura terrestre. Há todos os dados da observação astronómica que permitem concluir que o output solar varia. E ao longo dos séculos ocorrem variações da actividade solar que parecem correlacionar-se com a temperatura terrestre (máximo romano, mínimo medieval, máximo medieval, mínimo little ice age, máximo moderno...). Há vários estudos sobre isto.

Vê por exemplo, este excelente resumo em forma de tabela bibliográfica:http://www.geo.arizona.edu/palynology/geos462/holobib.html

Ou este estudo sobre o máximo de actividade solar medieval e efeito na temperatura
http://www.springerlink.com/content/q1510878h4857754/

A maioria das estrelas que vemos fora do sistema solar, se não mesmo todas, também variam de luminosidade em maior ou menor grau, e muitas vezes em ciclos, embora noutros casos erraticamente. Portanto será normal considerar que ocorre o mesmo para a nossa estrela, por muito que nos custe a nós, humanos, admitir essa instabilidade!

Agora o que se sabe é que existe um desfazamento entre o input solar e a temperatura terrestre, devido ao efeito inércia dos oceanos, que ainda "retém" o calor ou o frio. A quantidade de energia emitida pelo sol recentemente é a mais reduzida desde há décadas; caso continue, isso poderia resultar numa redução das temperaturas nas próximas décadas, embora não haja certeza. Ver a observação da NASA: http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2008-178
Há sobretudo *especulação* sobre uma próxima little ice age. Ver por exemplo este artigo da national geographic: http://news.nationalgeographic.com/news/2009/05/090504-sun-global-cooling.html

O efeito da actividade humana complica mais, já que os gases de estufa, deflorestação, etc, influenciam directamente no clima e possivelmente até nas correntes oceânicas. E se for o derretimento forte do gelo que houve no Ártico nos últimos anos que já está a resultar neste arrefecimento? Actualmente apesar do El Nino, o NAO negativo e circulação ártica negativa, resultam em anomalias frias nas latitudes baixas.

Há uns tempos, tinha saído cá para fora, um relatório secreto do Pentágono que afirmava uma little ice age para 2020, o estudo foi publicado em jornais como o Guardian, portanto parece-me que o relatório era autêntico embora fosse, claro, especulação! Ver http://www.guardian.co.uk/environment/2004/feb/22/usnews.theobserver

3 - não creio que o Sol e outros factores externos cosmológicos consigam induzir tamanhos desvios nas anomalias, o que acontecem são as normais flutuações meteorológicas (embora aqui com um NAO negativo prolongado). Não nos podemos esquecer que a pressão atmosférica média do planeta continua sendo a mesma, a quantidade de água é a mesma,
 

Mário Barros

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Agora com a subida do anticiclone iremos assistir a um retomar do padrão que estamos mais habituados a ver, a estabilidade no Atlântico norte irá levar a que as tempestades mais violentas vão já passar mais a norte não afectando a Europa Central, como tem acontecido até aqui.

Agora, será que é apenas uma pausa? ou o Inverno rigoroso dos últimos tempos ainda irá voltar? Ninguém sabe :rolleyes:

gfs0102.png
 

irpsit

Cumulonimbus
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Mário Barros, este mês (Janeiro 2010) teve uma anomalia bastante elevada (POSITIVA) da temperatura média do planeta, nas medições feitas por satélite ás camadas baixas da atmosfera.

Se esse dado for verdadeiro, que creio que sim, não se pode dizer que estámos perante um período frio.
 

Vince

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Sobre o Inverno 2009/2010, um texto e algumas cartas de anomalia interessantes de SST, pressão e vento no blog do Jeff Masters.

A fase negativa conjunta NAO e AO é a maior desde que há registos (1950), que além de frio e chuva nuns locais, levou calor a outros, como por exemplo um registo histórico de anomalia positiva no mês de Fevereiro da água no Atlântico a sul do stormtrack, sobretudo a sul/sudoeste das Canárias, devido ao regime de ventos.


Anomalia SST em Fevereiro

sstmar7.png



Pressão atmosférica Inverno 2009/2010 versus Normal 1968/1998

pressdecfeb2010.png



Anomalia Vento

windsdecfeb2010.png


Sea Surface Temperatures (SSTs) in the Atlantic's Main Development Region for hurricanes were at their highest February level on record last month, according to an analysis of historical SST data from the UK Hadley Center. SST data goes back to 1850, though there is much missing data before 1910 and during WWI and WWII. The region between 10°N and 20°N, between the coast of Africa and Central America, is called the Main Development Region (MDR) because virtually all African waves originate in this region. These African waves account for 85% of all Atlantic major hurricanes and 60% of all named storms. When SSTs in the MDR are much above average during hurricane season, a very active season typically results (if there is no El Niño event present.)

SSTs in the Main Development Region (10°N to 20°N and 20°W to 85°W) were an eye-opening 1.02°C above average during February. This easily beats the previous record of 0.83°C set in 1998. SSTs in the Main Development Region are already warmer than they were during June of last year, which is pretty remarkable, considering February is usually the coldest month of the year for SSTs in the North Atlantic. The 1.02°C anomaly is the 6th highest monthly SST anomaly for the MDR on record. The only other months with higher anomalies all occurred during 2005 (April, May, June, July, and September 2005 had anomalies of 1.06°C - 1.23°C).

What is responsible for the high SSTs?
Don't blame El Niño for the high Atlantic SSTs. El Niño is a warming of the Pacific waters near the Equator, and has no direct impact on Atlantic SSTs. Instead, blame the Arctic Oscillation (AO) or its close cousin, the North Atlantic Oscillation (NAO). The AO and NAO are climate patterns in the North Atlantic Ocean related to fluctuations in the difference of sea-level pressure between the Icelandic Low and the Azores-Bermuda High. They are some of the oldest known climate oscillations; seafaring Scandinavians described the pattern several centuries ago. Through east-west oscillation motions of the Icelandic Low and the Azores-Bermuda High, the AO/NAO controls the strength and direction of westerly winds and storm tracks across the North Atlantic. A large difference in the pressure between Iceland and the Azores (positive NAO) leads to increased westerly winds and mild and wet winters in Europe. Positive NAO conditions also cause the Icelandic Low to draw a stronger south-westerly flow of air over eastern North America, preventing Arctic air from plunging southward. In contrast, if the difference in sea-level pressure between Iceland and the Azores is small (negative NAO), westerly winds are suppressed, allowing Arctic air to spill southwards into eastern North America more readily. The winter of 2009 - 2010 has seen the most negative AO and NAO patterns since record keeping began in 1950, which caused a very cold winter in Florida and surrounding states. A negative AO/NAO implies a very weak Azores-Bermuda High, which reduces the trade winds circulating around the High. During December - February, trade winds between Africa and the Lesser Antilles Islands in the hurricane Main Development Region were 1 - 2 m/s (2.2 - 4.5 mph) below average (Figure 2). Slower trade winds mean less mixing of the surface waters with cooler waters down deep, plus less evaporational cooling of the surface water. As a result, the ocean has heated up significantly, relative to normal, over the winter. This heating is superimposed on the very warm global SSTs we've been seeing over the past decade, leading to the current record warmth. Global and Northern Hemisphere SSTs were the 2nd warmest on record in both December and January.

http://www.wunderground.com/blog/JeffMasters
 

irpsit

Cumulonimbus
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9 Jan 2009
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Inverness, Escocia
E continua o NAO negativo.
Ainda persiste e aumentou nas últimas semanas.
O recorde continua...

nao.mrf.obs.gif