Lince-Ibérico (Lynx pardinus)

belem

Cumulonimbus
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Sim, isso já se tem discutido aqui pelo forum. Coloquei a notícia essencialmente pela questão do aumento das presas (especialmente os coelhos).

A Malcata parece estar preparada para voltar a albergar uma população estável de linces, coisa que até há pouco tempo não acontecia.

Sim, eu reparei. E isso é muito bom! :)
Estava apenas a falar sobre a questão dos avistamentos e a falar do último lince-ibérico avistado na Malcata (Xara).
As provas genéticas é que já eram do conhecimento geral.
De acordo com o que tenho lido (a ser verdade...) dá-me a ideia que os linces do Maciço Central ibérico, têm-se reproduzido ( sim, aqui estou a especular), mas que deambulam mais do que os seus congéneres da Andaluzia... Não só em busca de território de caça como de reprodução.
Durante essas viagens ( autênticas situações de sobrevivência...) muito pontualmente permanecem num local durante alguns períodos e depois vão para outro. Daí que na Serra de Gata ou Malcata, por vezes seja possível passar uma temporada inteira sem encontrar qualquer vestígio da sua presença e se calhar no ano seguinte já se encontram 3, 4 ou mais linces.
Eu já li um artigo sobre os últimos linces do Sado e os cientistas constatavam este comportamento nos linces locais...
Não é para ser demasiado pessimista, mas quando isso acontece em felinos selvagens é porque estamos numa situação já algo preocupante. No entanto, ainda assim é surpreendente a capacidade destes felinos, em adaptarem-se a estas situações, evidenciando comportamentos tão anormais para a espécie, conseguindo assim sobreviver ( precariamente) a uma extinção quase anunciada. No estudo dos linces do Sado, constatou-se que por vezes os felinos selvagens, conseguem sobreviver em densidades muito baixas, desde que tenham a possibilidade de se deslocar entre diferentes habitats favoráveis ( mesmo que estes locais apenas possam oferecer benefícios temporariamente), saindo de um local para outro. Os de Monchique ( em que alguns acreditam que ainda existam, pois alguns cientistas já os têm detectado ( mas ainda sem provas genéticas)), adoptam/adoptavam o comportamento de andar a vigiar os rebanhos, procurando por crias indefesas ( em alternativa aos coelhos)... Utilizam/utilizavam até eucaliptais e pinhais como zonas de dispersão, para chegarem aos matagais mediterrânicos e zonas que alternam matagal e descampado. Matagal para refúgio e descampado para terreno de caça. Actualmente têm sido avistados linces de Monchique em reservas de caça ( onde há muito mais coelho e perdiz, embora eu tenha constatado pessoalmente, abundância de coelho fora destas zonas também), comportamento mais amplamente conhecido e também verificado em Doñana. Mas ainda não há provas conclusivas sobre a actual presença de linces em Monchique...
Existe assim uma surpreendente plasticidade comportamental no lince-ibérico, embora o essencial e preferível seja um território mais fixo e uma alimentação constituída sobretudo por coelho e logo a seguir perdiz-vermelha.
Estes últimos acontecimentos sobre a Malcata, vêm dar alguma esperança a estes linces tão importantes para o futuro do lince-ibérico, pois de acordo com as últimas informações que tive, possuem possivelmente uma genética algo diferenciada das populações do Sul da P. Ibérica.
 
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Seattle92

Nimbostratus
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Seattle92

Nimbostratus
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Centro de Reprodução do Lince Ibérico de Silves faz balanço positivo de um ano de actividade

O primeiro animal a chegar ao centro, a 26 de Outubro de 2009, foi a fêmea de cinco anos Azahar, nome árabe para flor de laranjeira, e a transferência dos 16 animais a partir de Espanha ficou concluída a 01 de Dezembro, tendo nessa altura começado o trabalho de preparação para a reprodução em cativeiro, que chegou a acontecer com duas crias nascidas em Abril, mas que acabaram por morrer.

Apesar de uma só ter resistido cinco dias e outra 15, a coordenadora do plano de acção para a conservação do lince ibérico em Portugal, Lurdes de Carvalho, considerou que "foi um sucesso haver reprodução de linces ibéricos na primeira época em que o centro abriu, sobretudo de um animal -- Azahar - que tinha tido duas tentativas sem sucesso em Espanha".

Lurdes Carvalho explicou que, apesar de as duas crias terem morrido por causa de uma "infecção bacteriana" e de "problemas congénitos", o facto de terem sido concebidas e nascido com vida só por si já é um factor positivo no primeiro ano de existência do centro porque se tratou das primeiras reproduções comprovadas em Portugal nos últimos 30 anos.

"Ficámos todos admirados por haver reprodução, porque é uma espécie que é muito difícil de se reproduzir sem as condições ideais. E o trabalho que está a ser desenvolvido está dentro das expectativas, apesar da morte das crias", afirmou, por outro lado, a presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Alexandra Cunha.

Os responsáveis do centro ainda tiveram que lidar em Março com uma infecção renal crónica numa das fêmeas, chamada Espiga, tendo o seu director, Rodrigo Serra, explicado na altura à Lusa que, dos 71 animais que integram o programa em Portugal e Espanha, 20 já tinham manifestado os sintomas da doença e três já tinham morrido.

Dias depois, fonte do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) disse que a fêmea estava a reagir bem ao tratamento e o seu estado de saúde não se estava a agravar.

Quando se cumpre um ano da chegada do primeiro animal ao Centro Nacional de Reprodução de Silves, Portugal recebe também o Primeiro Seminário do Lince Ibérico, que decorrerá entre quinta e sexta-feira na Universidade do Algarve (UAlg), em Faro.

"O objectivo do encontro é juntar todas as instituições que estão a trabalhar na conservação do lince ibérico em Portugal para trocar informação", disse à Lusa Alexandra Cunha, presidente da LPN, organizadora do seminário.

Além da parte técnica, o Seminário terá o segundo dia mais dirigido para a sensibilização da população de forma a estar preparada para a última fase do projecto, que prevê a libertação do animal no seu habitat natural, estando para o efeito a serem preparadas três zonas: em Moura/Barrancos, na Serra do Caldeirão e no Baixo Guadiana.

Em 1988 a população de linces ibéricos rondava os 1200 indivíduos, número que em 2005 caiu para os 200, tornando-o numa das espécies mais ameaçadas de extinção. A abertura do centro em Silves pretende evitar a extinção da espécie.

http://sic.sapo.pt/online/noticias/...+balanço+positivo+de+um+ano+de+actividade.htm
 

belem

Cumulonimbus
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Nada contra ti, Seattle, mas estou indignado e curioso sobre a origem dessas informações. Serra do Caldeirão? Existem lá habitats de boa qualidade e quantidade para sustentar uma população viável de linces ( mínimo de 15 animais)? Então e o caso de Monchique e arredores?
Área Moura/Barrancos separada do Baixo Guadiana porquê?
Há algo que impeça a um lince de ir desde Moura ou Barrancos ao Baixo Guadiana? Não serão habitats com continuidade?
E a Serra da Malcata não consta da lista porquê? Alguma explicação racional para estas decisões?
Sinceramente, nem me parecem vir de alguém que conheça a situação do lince-ibérico em Portugal... A não ser que hajam linces onde eu não saiba ( o que seria extraordinário), que a situação da Malcata esteja estabilizada (o que não está, pois há demasiados poucos linces (de acordo com o que tenho lido) ) e que o Baixo Guadiana seja num local diferente do que eu penso.
Bom, vou contactar algumas entidades para tentar saber o que se passa.
 
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Seattle92

Nimbostratus
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Realmente entre a serra do Caldeirão e a Malcata... não se percebe porquê escolher a primeira. Só se for para os bichos não fugirem para Espanha. ;)
 

Seattle92

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Olha que ainda hoje voltaram à carga com esses locais:


Matagal mediterrânico está a ser preparado para o regresso do lince-ibérico
29.10.2010 - 08:31 Por Helena Geraldes

O matagal mediterrânico - habitat do lince-ibérico, a espécie de felino mais ameaçada do planeta - está a ser recuperado simultaneamente em vários pontos do país tendo em vista a reintrodução do animal, explicaram ontem os peritos em Faro.

Mais de um ano depois de Azahar ter inaugurado o Centro de Reprodução em Cativeiro para o Lince-ibérico, que hoje tem 16 animais, os esforços de conservação desta espécie ultrapassam em muito os cercados deste centro em Silves.

Nas zonas da Malcata, Moura-Barrancos, Vale do Guadiana e Serra do Caldeirão estão a decorrer vários projectos para recuperar o matagal mediterrânico e a presa do felino, o coelho bravo.

Os responsáveis pelos projectos de conservação in situ deram conta dos progressos ontem no 1º Seminário do Lince-ibérico em Portugal, a decorrer até hoje na Universidade do Algarve.

A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) está a alargar a área de intervenção no que diz respeito à recuperação das populações de coelho bravo, com um novo projecto LIFE de co-financiamento europeu, o Projecto Habitat Lince Abutre. “Queremos aumentar o número de parceiros e aumentar a área de actuação até ao Vale do Guadiana e Serra do Caldeirão”, explicou Eduardo Santos, responsável pelo projecto da Liga. Entre as acções previstas está a promoção de corredores ecológicos para a espécie e a promoção da colaboração com quem gere o território, como agricultores e caçadores.

Lurdes Carvalho, do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) lembrou os esforços no âmbito do projecto VALLIA – Valorização e Qualificação do Habitat do Lince no Alentejo. “Este pretende ser um projecto de demonstração e que promove a participação de todos”, disse. No âmbito do projecto estão a ser feitas sementeiras para os coelhos, estão a ser construídos cercados de reprodução para o coelho bravo, visitas de demonstração e encontros de trabalho com proprietários para, entre outras coisas, identificar potenciais conflitos.

Na Reserva Natural da Malcata estão a ser recuperadas linhas de água e corredores e construídos abrigos para o coelho.

http://www.publico.pt/Ecosfera/mata...arado-para-o-regresso-do-linceiberico_1463399


Ao menos já referem a Malcata
 

belem

Cumulonimbus
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Olha que ainda hoje voltaram à carga com esses locais:




http://www.publico.pt/Ecosfera/mata...arado-para-o-regresso-do-linceiberico_1463399


Ao menos já referem a Malcata


Ah bom.
Essa notícia já me parece mais correcta, porque uma coisa é fazerem a recuperação de habitat e a outra é soltarem lá os animais.
Não me parece que a Serra do Caldeirão seja para já um sítio ideal para soltar linces. Pelo menos por agora.
Quanto à Malcata, já era esperado. :thumbsup:
 

Seattle92

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Mais uma notícia do Primeiro Seminário do Lince Ibérico

População selvagem de linces em Espanha ultrapassa os 200 animais
02.11.2010 - 09:00 Por Helena Geraldes

Os esforços para recuperar as últimas populações selvagens de lince-ibérico em Espanha já levam dez anos no terreno. Hoje estima-se existirem, pelo menos, 226 animais nas únicas duas populações viáveis, na Serra Morena e em Doñana, revelou o responsável espanhol pela conservação da espécie.


Miguel Simón, director do Programa de Conservação do Lince-ibérico na Junta de Andaluzia, contou num seminário que terminou sexta-feira em Faro que, segundo os dados mais recentes – referentes a 2009 – existem, pelo menos, 160 linces na Serra Morena. Destes, 40 são fêmeas e 48 crias. Em 2002 existiriam apenas um total de 66 animais. O responsável informou ainda que a zona com presença de lince-ibérico na Serra Morena será de 264 quilómetros quadrados.

A outra região onde ainda existem linces a viver na natureza é Doñana, com uma zona de presença de lince estimada em 445 quilómetros quadrados. No entanto, esta zona tem núcleos populacionais mais fragmentados do que na Serra Morena, devido principalmente à agricultura intensiva de regadio. Miguel Simón disse que em 2009 existia em Doñana um total de 66 linces, dos quais 18 fêmeas e 21 crias. “Esta é uma população pequena, que esteve isolada durante décadas, o que levou a uma diminuição da variabilidade genética”, contou Simón. Ainda assim, o especialista em conservação in situ acredita que a população de Doñana “parece agora começar a recuperar”.

Há cerca de dois anos, os técnicos espanhóis começaram a reforçar a população de Doñana com animais da Serra Morena, “fonte de exemplares para a reintrodução”. Em 2008 foi libertado um macho em Coto del Rey. “Hoje, este animal tem cinco descendentes e estes, por sua vez, já nos deram crias”, contou Simón. Em Dezembro desse mesmo ano, os técnicos da Andaluzia introduziram outro animal em Doñana vindo a Serra Morena, mas acabou por morrer perto do Parque Nacional de Doñana. Este lince, chamado Caribú, passou a fronteira para Portugal – para Moura-Barrancos -, em Janeiro, movimento confirmado pelas autoridades portuguesas graças a um dispositivo GPS colocado anteriormente no animal.

Para este ano, anunciou Simón, está prevista a transferência para Doñana de um casal vindo da Serra Morena.

Novo projecto quer criar novos núcleos populacionais

No mês passado foi apresentado um novo programa Life+ Natureza, para 2011-2016 – do qual também faz parte do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) -, que pretende realizar a reintrodução de linces em Portugal, Castela-La Mancha, Extremadura e Andaluzia. O objectivo, explicou Simón, é conseguir ter entre três a cinco novos núcleos populacionais com, pelo menos, cinco fêmeas cada um.

Os esforços de conservação in situ na Andaluzia começaram “a sério” em 2000, com a realização de um censo para conhecer o estado da situação da espécie em estado selvagem. Nas palavras de Simón, o declínio do lince deve-se, maioritariamente, ao facto de este ser um predador muito especializado – a sua alimentação assenta no coelho-bravo –, à fragmentação do habitat e ao furtivismo.

Neste momento está a decorrer o programa Life Lince-ibérico 2006-2011 que pretende conhecer melhor a situação do lince, aumentar as populações da Serra Morena e Doñana e criar novos núcleos.

Mas “em todo este processo, é essencial ter em conta a sociedade, tanto mais que toda a população de lince está em propriedades privadas”, salientou Simón. Neste sentido, as autoridades espanholas celebraram 170 acordos com proprietários e gestores de terrenos, abrangendo um total de 180.840 hectares. O território de um lince deverá ter, pelo menos, 500 hectares para ser viável.

http://ecosfera.publico.pt/biodiver...-em-espanha-ultrapassa-os-200-animais_1463887
 

belem

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Muito interessante, sem dúvida.
Parece também haver já uma tentativa de reconhecer a presença de lince-ibérico fora dos 2 principais núcleos ( Andujar e Doñana), daí a utilização da expressão « nas 2 únicas populações viáveis». Isto muitas vezes é considerado tabú para algumas pessoas ( por razões que não interessam a ninguém certamente), daí elogio a frontalidade e rigor científico a quem proferiu estas afirmações.
Penso então, que a reintrodução terá que incidir prioritariamente em zonas onde ainda há lince-ibérico, só que em situação crítica ( sem viabilidade reprodutora a médio/longo prazo).
 

duero

Nimbostratus
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Yo preferiría que se hiciera con el lince lo que hicieron con los bisontes.

Apañar todos los posibles y llevarlos a un área muy controlada, como lo acontecido en Bialowiecza, intentar reproducirlos y de ahí llevarlos a otros lugares.

No veo sentido ninguno a tener muchas áreas de linces con dos o tres linces, peligro de endogamia y totalmente inviables.
 

Seattle92

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^^

Mas as duas espécies são completamente diferentes.

Os bisontes vivem em sociedade, em manadas. É possível e aconselhável estarem várias dezenas no mesmo terreno. Eles vão reproduzir-se e a familia vai crescer.

No caso dos linces não sei se isso ajudava. Quer dizer, se fosse uma reserva enorme e cercada, até podia ser uma boa solução. Andariam em semi liberdade mas afastados uns dos outros, como é normal na espécie.

No geral concordo, que quando forem libertados os primeiros em Portugal (dos que estão no centro de Silves), isso deve acontecer apenas numa área. Têm de escolher a melhor zona entre as possíveis e apostar nessa. No futuro, quando tiverem uma área com uma população estavel, aí sim, podem apostar noutras zonas.