O pânico da Primavera rigorosa

Mário Barros

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18 Nov 2006
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Cientistas estudam anomalias meteorológicas recentes na Europa
Agência britânica promove reunião para avaliar causas de situções anormais, como esta Primavera fria, que ainda traz neve à serra da Estrela.

Se acha que a meteorologia está estranha, com neve em Junho na serra da Estrela, a poucos dias do Verão, não está sozinho. Cientistas britânicos estão reunidos nesta terça-feira na sede da agência meteorológica do Reino Unido – o Met Office – para discutir as possíveis razões de condições anormais do tempo na Europa nos últimos anos, incluindo o frio persistente dos últimos meses.

“Temos assistido a uma série de estações invulgares no Reino Unido e no Norte da Europa, como o Inverno frio de 2010, o ano passado húmido e a Primavera fria deste ano”, explica Stephen Belcher, director do Hadley Centre, o centro de investigação climática do Met Office, num comunicado.

Em Dezembro de 2010, o Reino Unido enfrentou um gélida onda de frio, com o termómetro a descer a níveis inéditos nos últimos 100 anos. No Verão passado, foi a vez da chuva, que fez daquela estação a segunda mais húmida desde que há séries comparáveis de registos meteorológicos.

Agora, é novamente o frio. Segundo o Met Office, a Primavera de 2013 foi a mais fria dos últimos 50 anos. Entre Março e Maio, a temperatura média foi de seis graus Celsius – 1,8 graus abaixo do que o normal para o período de 1981 a 2010.

Em Portugal, as condições andaram pelo mesmo quadrante. O país enfrentou o mês de Maio mais frio dos últimos 20 anos, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), com 0,84 graus Celsius abaixo da média. Embora Abril tenha sido ligeiramente mais quente (mais 0,29 graus), Março foi bem mais frio (menos 0,76 graus) e extremamente chuvoso.

Em meados de Maio, a neve caiu com alguma intensidade na serra da Estrela. Em Junho, voltou a surgir, com alguns flocos registados na Torre no passado dia 7, segundo informação de um órgão de comunicação local. De acordo com o IPMA, havia de facto condições para tal naquele dia, com precipitação e temperatura mínima nos 0,3 graus Celsius nas Penhas Douradas, que está cerca de 600 metros abaixo da Torre.

As mesmas condições repetiram-se na madrugada de segunda para terça-feira. O IPMA tinha previsto a possibilidade de neve nos pontos mais altos da serra, embora não tenha tido a confirmação nem do Centro de Limpeza da Neve, em Piornos, nem de comerciantes locais, de que tenha de facto nevado.

Neve na serra da Estrela em Junho é tudo menos normal. “É uma situação muito pouco frequente, com uma baixa probabilidade de ocorrência”, afirma a climatologista Fátima Espírito Santo, do IPMA. Na estação meteorológica das Penhas Douradas, nos últimos 70 anos há registo de neve em Junho apenas em 1984. Outras estações climatológicas, entretanto desactivadas, detectaram neve em Junho também em 1953, 1963, 1971 e 1977 – neste último ano, no dia 12 de Junho.

O que os cientistas britânicos vão discutir hoje é até que ponto tais situações se devem apenas à variabilidade natural do clima – que pode sofrer grandes oscilações de ano para ano –, ou se há outras explicações.

Ironicamente, uma das teses que têm vindo a ser discutidas para explicar verões húmidos ou primaveras frias tem a ver com o aquecimento da atmosfera. Um artigo publicado em Março do ano passado na revista Geophysical Research Letters associa o aumento da temperatura no Árctico com alterações nas chamadas “correntes de jacto”, que sopram de oeste para leste, na alta atmosfera.

O Árctico está a aquecer a uma velocidade maior do que o resto do mundo, em parte porque está a perder parte da sua cobertura gelada, que reflecte a radiação solar. Expostos, o mar ou a terra absorvem mais calor, amplificando o aquecimento. Com isso, a diferença de temperatura entre as latitudes elevadas e médias é menor, o que faz com que as correntes de jacto se tornem mais sinuosas, atrasando a progressão de padrões atmosféricos.

O resultado é um “aumento da probabilidade de eventos meteorológicos resultante de condições prolongadas, como secas, cheias, episódios de frio e ondas de calor”, escrevem os autores do artigo, Jennifer Francis e Stephen Vavrus, das universidades norte-americanas Rutgers e de Wisconsin-Madison.

Seja qual for a explicação, as notícias não são as melhores em Portugal para os próximos dias, pelo menos em parte do país. No litoral norte e centro, as nuvens vão continuar a cobrir o sol, com possibilidade de alguma chuva fraca, segundo a previsão do IPMA. Em Lisboa, a temperatura subirá até ao fim-de-semana, mas apenas até aos 24 graus Celsius. Já no interior, prevê-se sol, com o termómetro mais próximo do que seria de se esperar para a estação. Évora, no sábado, pode chegar aos 31 graus.

Público

Já não é a primeira vez que leio uma noticia que fala do problema de a primavera ter sido tão rigorosa, foi algo tão anormal que até já vai levar a estudos, e pelos vistos profundos.