Região de Lisboa continua à mercê das inundações

Vince

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23 Jan 2007
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Região de Lisboa continua à mercê das inundações
Construção nos leitos de cheias é o maior perigo em caso de muita chuva

Se hoje chovesse tanto como na noite de 25 de Novembro de 1967, as cheias provocariam ainda mais estragos na região de Lisboa. Gonçalo Ribeiro Telles, o arquitecto paisagista que há 40 anos escapou à censura e foi à televisão explicar porque é que as inundações provocaram danos tão elevados, está convencido de que os poderes local e central têm "repetido e acumulado" os mesmos erros cometidos no passado. "A única diferença é que, entretanto, foram criados planos municipais para salvaguardar a circulação das águas das chuvas."

Mas isso de pouco vale porque boa parte destes projectos ainda "não saiu da gaveta". "Loures, Sintra ou Seixal são alguns dos municípios que ainda não aplicaram os seus planos de arquitectura de paisagem", denuncia o arquitecto, esclarecendo que há outros concelhos como Oeiras que nem sequer criaram os projectos. A autarquia de Lisboa também não escapa às críticas de Ribeiro Telles, uma vez que existe, desde 2005, um projecto para a construção de bacias de retenção de águas ao longo do vale de Alcântara que não foi aplicado.

Tudo isso tem consequências, avisa o especialista e, enquanto não se aplicarem estes planos, será possível continuar a construir nos leitos das cheias, reduzir a reserva agrícola - que graças aos seus solos orgânicos retêm mais água em caso de inundações - ou edificar junto ao litoral onde o terreno seria mais permeável às chuvas. Segundo o arquitecto, o problema não está nas chuvas fortes que serão cada vez mais frequentes e inevitáveis num clima mediterrânico: "A questão central passa por garantir a circulação das águas tanto nos meios rurais como urbanos."

José Luís Zêzere, especialista em dinâmica de cheias do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, defende que a região da Grande Lisboa continua "perigosamente" vulnerável às inundações repentinas, porque as situações complicadas detectadas em 1967 não foram eliminadas: "Nestes últimos 40 anos continuou-se a construir demasiado e perigosamente nos leitos de cheias", avisa o geógrafo, esclarecendo que, entretanto, a densidade urbanística foi crescendo nos vales do Trancão, de Odivelas, do Jamor ou da Laje.

Actualmente, explica José Luís Zêzere, os picos de cheia serão "muito piores" porque as bacias hidrográficas da região de Lisboa apresentam um nível de impermeabilização ainda mais elevado do que há 40 anos. Significa isto que a água não se infiltra nos solos, escorrendo rapidamente para as zonas baixas das cidades. Tal como aconteceu em Novembro de 1967. Ou, provavelmente, pior.
(c) Diário Notícias