Ciclone de 15 Fevereiro 1941 em Portugal

Mário Barros

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O ciclone de 15 de Fevereiro de 1941

O ciclone causou em Sesimbra grandíssimos desastres deixando a população na miséria

Muitos feridos e quatro mortos

"Não temos palavras que possam descrever a pavorosa catástrofe de Sesimbra, ocasionada pelo ciclone.
Sabemos apenas dizer que Sesimbra, no dia 15 do corrente, viveu um dos dias mais trágicos da sua vida.
Não há memória de tão grande cataclismo.
As pessoas mais idosas da terra não se recordam de tão violenta tempestade, mesmo o memorável S. Martinho de 1755, segundo ouviram dizer a seus pais.
O ciclone, na sua fúria, devastava casas, embarcações, árvores, postos telefónicos e telegráficos.
Homens, mulheres e crianças imploravam a Misericórdia Divina, para que a tempestade abrandasse, mas o temporal, inexorável e impiedoso, não cedeu aos rogos desta pobre e aflita gente, e, na sua acção devastadora, continuava cavando mais fundo o abismo desta terra, que ficou impossibilitada de exercer a sua faina da pesca.
O mar (...) tudo devastou, num ímpeto mortífero e destruidor.
Ondas alterosas vinham rebentar nos largos e ruas circunvizinhas à praia e estendiam-se pela parte baixa da vila.
Os estabelecimentos e armazéns à beira-mar foram inundados e todos os haveres arrebatados pelo mar.
O pavor apoderou-se dos sesimbrenses, quando viram que o mar já se estendia pela Rua Jorge Nunes e chegava ao Largo do Município.
Nesta ocasião, registaram-se actos de heroísmo de muitos homens, que, desprezando suas vidas, se lançaram com ferocidade no salvamento de pessoas que eram arrastadas pelas ondas.
Entre eles, contamos João dos Santos Laureano, que, junto ao sítio da Califórnia, salvou, entre adultos e crianças, 8 indivíduos. Carlos Ribeiro, o conhecido nadador sesimbrense, que muitas vidas salvou, mereceu os maiores encómios da população.
O vento, com uma velocidade apavorante, impedia os trabalhos de salvados e, assim, perderam-se centenas de embarcações e muito tráfego de pesca.
Pescadores, que tinham as suas pequenas indústias de pesca, ficaram na miséria.
Os Bombeiros Voluntários prestaram assinalados serviços de salvamentos e transporte de feridos para o hospital.
O seu material teve uma acção beneficente no esgotamento das casas inundadas de na remoção de escombros, tendo até descoberto o cadáver do inditoso pescador Emílio Gonçalves Correia, de 38 anos, que ficou soterrado junto ao prédio da Sociedade Musical Sesimbrense.
A esplanada do Atlântico ficou completamente destruída. A casa onde funcionava a sopa aos pobres, bem como a propriedade dos herdeiros de João Casimiro Rosa, tiveram a mesma sorte.
Muitas outras famílias ficaram sem lar, por o ciclone lhes ter derrubado as suas habitaçãoes.
O resto do pequeno paredão que existia em 'Angra' foi também destruído pelo mar, e as embarcações que lá se encontravam, poucas foram as que escaparam à fúria dos elementos.
A Avenida Mar e Sol também ficou muito danificada.
Há quem avalie os prejuízos causados em 6 mil contos (...)

Mortos

Nesta horripilante catástrofe, perderam a vida: Primo António Nero, de 48 anos de idade, que deixa viúva a sr.ª Maria do Rosário Ferreira e dois filhos; Emílio Gonçalves Correia, de 38 anos, que deixa viúva a sr.ª Mariana Rosa e oito filhos, tendo o mais novo 17 meses; Joaquim Pedro Gomes, de 43 anos, que deixa viúva a sr.ª Assucena Ambrósio Gomes; Amaro Morais, de 59 anos, que deixa viúva a sr.ª Sofia Amélia Morais.

Devemos salientar aqui, também, as acções dos ex.mos Drs. Manuel José da Costa Junior, Alberto Augusto Leite e Manuel Florentino Matias, que foram incansáveis nos socorros prestados aos feridos, principalmente o dr. Matias, médico da Casa dos Pescadores.
Também muitas outras pessoas prestarm socorros aos pescadores, sendo justo salientar aqui o sr. dr. António Bernardo Ferreira, Conservador do Registo Civil.

A consternação é geral

As Direcções das colectividades recreativas, bem como o sr. João Batista Mota, empresário do Salão Recreio Popular, atendendo à consternação que lavra entre a população de Sesimbra, resolveram não realizar, este ano, bailes de máscaras, apesar de terem já efectuado contratos com grupos musicais (...)

No campo

Torna-se imposssível, por enquanto, descrevermos os estragos que o ciclone causou na freguesia do Castelo.
Todavia, sabemos, embora resumidamente, que a maioria das sementeiras foram devastadas, que milhares de árvores foram derrubadas, que muitas casas foram destruídas, etc.
Um verdadeiro pavor!
A miséria alastra-se, com todos os seus horrores, não se prevendo qual seja a sorte de Sesimbra."

Cabo Espichel

"O ciclone que desabridamente assolou o país causou, nesta região e arredores, muitos prejuízos.
O temporal, na sua fúria devastadora, derrubou chaminés, árvores, linhas telefónicas e telegráficas.
As casas anexas à Igreja de Nossa Senhora do Cabo encontram-se destelhadas, tendo os seus locatários abandonado os lares.
A casa do forno foi destruída.
Os prejuízos são importantes.
No farol, os estragos são também muito consideráveis, tendo abatido o prédio onde residia o faroleiro António Domingos, havendo mais casas destelhadas.
No lugar da Azoia, também a tempestade causou danos. O moinho do sr. Sebastião Marques foi destruído.
As sementeiras estão completamente perdidas."

Governador Civil de Setúbal


"No dia 19 do corrente, esteve em Sesimbra, o ex.mo sr. Barreiros Cardoso, ilustre Governador Civil de Setúbal, a fim de 'viso' observar os desastres causados pelo ciclone."

O cataclismo de Sesimbra

"A maioria da imprensa da capital tem-se referido às grandes desgraças que o ciclone do dia 15 causou à nossa terra." ("O Cezimbrense", n.º 762, 23.2.1941)

Ainda sobre o ciclone


"Os trágicos acontecimentos do dia 15 prejudicaram muito a classe piscatória, já tão duramente provadas, nestes últimos anos, pela falta de pesca.
Todos os jornais da capital - a propósito do ciclone, que do Norte ao Sul, impiedosamente, assolou o país inteiro - se referiram, também, aos desastres que Sesimbra sofreu, mas nenhum, a não ser 'A Voz', focava nos seus efeitos 'O Dia de Amanhã'.
Lemo-lo, ficando apenas a pensar na calamidade geral, abstraindo dos nossos prejuízos individuais.
Vemos com aprazimento as providências que aconselha ao Governo: 'para formar rapidamente uma Junta de Construções; que dê início à fabricação de barcos em série, e que, depois, os distribua com pagamentos a prazo'.
Após a catástrofe (...) deve (...) empreender-se a grande obra de reconstrução, a realizar quanto antes, pois estamos sem barcos e sem tráfego, coisas indispensáveis a Sesimbra, para continuar a exercer o seu labor, retomando o ritmo, suspenso devido ao ciclone.
A paralização da pesca é prejudicial não só a toda a população da vila mas também, e grandemente, à população de Lisboa, nosso principal mercado e que tanto aprecia e precisa do nosso peixe.
Até nas contas do Estado tem influência, pois o imposto do pescado, arrecadado pela alfândega, pesa grandemente no equilíbrio orçamental."

O efeitos do ciclone - A calamidade de Sesimbra

"Se relancearmos a vista pelos calamitosos estragos motivados pelo ciclone, verificamos que Sesimbra foi mortalmente ferida pelo cataclismo de 15 de Fevereiro.
Importante centro de pesca, e vivendo única e exclusivamente desta indústria, perdeu um grande número de barcos da sua frota, redes e mais aparelhos de pesca, impossibilitando assim que a classe piscatória possa angariar os meios de subsistência (...)
A situação de Sesimbra é grave. Assim o compreendeu o ilustre deputado da Nação, ex.mo sr. dr. Formosinho Sanches(que) reconhecendo a misréria em que ficavam os pescadores (...) no dia 21 de Fevereiro, ergueu a sua voz na Assembleia Nacional e, ocupando-se da trágica situação resultante do temporal para os pescadores, salientou que: 'na laboriosa classe há centenas de famílias sem abrigo, gente com fome e frio, homens de bem, sãos e valentes, que se enontram impossibilitados de trabalhar, porque o mar lhes arrebatou e destruiu os seus barcos, os seus aparelhos, o seu ganha-pão.
E barcos, redes e aparelhos não os podem obter, porque não têm dinheiro para os comprar.
É indispensável, é urgente que lhos forneçam (...)
Sr. Presidente: Peço a V. Ex.ª que seja intérprete junto do sr. Presidente do Concelho, do sr. Ministro da Marinha, do sr. Ministro das Obras Públicas, do país inteiro, para que se acuda imediatamente a essa plêiade de lutadores (...)
Eu peço, sr. Presidente, a tenção dos poderes públicos para esta medida imediata: a construção de novos barcos, redes e aparelhos dos nossos pescadores'.
O Governo - que após o temporal tomou as necessárias providências, para, na medida do possível, acudir às regiões devastadas e às vítimas da catástrofe - levou na mais alta consideração o humano e patriótico apelo do ilustre deputado, ordenando que, por intermédio da Junta Central da Casa dos Pescadores, fôsse feito um minucioso inquérito, para se avaliar quais os prejuízos causados à classe piscatória, para lhes ser prestada a assistência devida.
Em Sesimbra, esse inquérito está sendo feito pela Casa dos Pescadores.
Até à hora em que redigimos esta notícia, foi-nos fornecida a nota seguinte:
Embarcações partidas - 113
Custo das reparações - 133.940$00
Embarcações desaparecidas - 196
Valor da frota perdida - 342.750$00
Substituição da frota, segundo valor atribuído - 508.000$00".

Socorros à classe piscatória

"Na semana finda, estiveram, em Sesimbra, os srs. Comandante Henrique Tenreiro e António Pereira de Torres Fevereiro, membros da Junta Central da Casa dos Pescadores, e D. Maria Luísa Cardoso, visitadora da Casa dos Pescadores, a fim de informar das necessidades dos pescadores que ficaram sem os seus haveres e para lhes ser prestados socorros (...)
Também esteve, nesta vila, a observar os estragos ocasionados pelo temporal, o sr. Jaime Hanaory, um grande amigo e admirador de Sesimbra (que) condoído pela miséria dos pescadores, mandou distribuir, por 60 homens do mar, 1 quilo de arros, 2 quilos de batatas e meio quilo de pão, por pessoa.
O sr. Hanaory mandou, ainda entregar alguns géneros de primeira necessidade à viúva e órfãos do inditoso Emílio Correia Gonçalves, vítima do temporal". ("O Cezimbrense", n.º 763, 2.3.1941)
Sesimbra


Efeitos do ciclone

"A Junta Central da Casa dos Pescadores ordenou que fôssem reparados todos os barcos danificados pelo temporal de q5 de Fevereiro findo, tomando este organismo a responsabilidade do seu pagamento.
Aos sinistrados serão feitos bónus de 20% sobre o valor do custo das referidas reparações, ficando ao pescador o encargo de 80%, que pagarão conforme o produto da pesca.
Reparadas todas as embarcações partidas, proceder-se-á à construção de novos barcos, para substituir a frota perdida".
("O Cezimbrense", n.º 766, 23.3.1941)

http://expresso.sesimbra.pt/node/3775
 


Mário Barros

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http://setubaldoutrostempos.blogs.sapo.pt/
 

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A meio da manhã de 15 de Fevereiro de 1941, José Rosa, um rapaz de 11 anos, estava, como habitualmente, no armazém da traineira Santa Rita, junto ao Arco dos Pintos, a tomar conta de uma caldeirada de bacalhau para a companha, quando se apercebeu de que o mar se tornava cada vez mais
violento. Não estranhou, pois a noite tinha sido agitada e era esperado um grande temporal. De repente, porém, a aparente segurança do armazém foi interrompida por uma enorme vaga que
entrou pela porta entreaberta e arrastou tudo consigo. Surpreendido, conseguiu segurar-se como pôde aos prumos das tarimbas e só com muito esforço não foi levado. Apesar de ter ficado completamente
encharcado conseguiu recompor-se sem ferimentos e quando subiu a escada e olhou para a rua deparou-se com um cenário de destruição em toda a marginal. A força do mar era tal que
as ondas, tão altas como a Fortaleza, galgavam a muralha e puxavam as barcas que os pescadores haviam arrastado para zonas mais afastadas da praia e julgavam seguras, e devolviam à vila
apenas destroços. Aqueles que tentavam salvar alguns haveres punham as vidas em perigo e acabavam também arrastados. As casas e o comércio mais próximos do mar tinham sido invadidos
e completamente varridos pela água.

Apesar de terem passado sete décadas, foram momentos tão fortes e dramáticos que ainda hoje, aos 81 de 1941 anos, José Rosa continua a revivê-los com grande pormenor. A imagem de uma onda a levantar uma barca no ar e a parti-la em dois foi das que mais o impressionou e é uma das recordações
mais claras que guarda desse dia, em que o mar entrou pela vila.

No extremo Nascente, Joaquim Silva, ou Canário, como também é conhecido, tinha 15 anos e nesse dia decidiu trocar a praia, onde normalmente passava o tempo, pelo aconchego do antigo armazém
onde vivia com a família. Era uma manhã de Inverno e embora o mar estivesse mais revolto que o habitual, em circunstâncias normais nunca chegaria nem perto da zona onde se encontrava.
À hora do almoço foi interrompido pelos gritos do pai, bombeiro de profissão que o chamava e o mandava desesperadamente sair de casa. Sem ter tempo para perceber o que se estava a passar,
sentiu o pai a agarrá-lo e a puxá-lo pela encosta acima. O mar tinha ocupado a praia e em poucos minutos, perante os olhares incrédulos de ambos, engoliu a casa numa demonstração de força colossal,
deixando-os, de um momento para o outro, apenas com a roupa que tinham no corpo.

O Ciclone que assolou Sesimbra em 1941 foi um fenómeno meteorológico raro em Portugal, que afectou outras zonas do país e da Península Ibérica. Embora os relatos indiquem a zona de
Coimbra como a mais afectada, toda a faixa litoral sofreu graves danos materiais e em alguns casos humanos. Em Sesimbra, a experiência dos velhos homens do mar ajudou a prever a grande
tempestade na véspera, o que fez com que muitos começassem a puxar as embarcações para zonas mais resguardadas, como a Rua Jorge Nunes ou o Largo do Município. Outros, num acto de desespero
afundaram-nas, na esperança de as poderem recuperar após o temporal. Em ambos os casos, o mar foi mais forte e ao todo destruiu 309 barcos, um rude golpe para a frota da pequena vila piscatória.

Durante a maior parte do dia, as ondas fustigaram sem tréguas a muralha, que desta vez se mostrava frágil e totalmente impotente, perante a força das vagas, que entravam pelas ruas estreitas destruindo
tudo à sua passagem. Os ventos chegaram a atingir os 180 quilómetros por hora e diz-se que foi encontrada espuma do mar no Castelo. No campo, as rajadas fortes fizeram também muitos estragos,
embora em menor escala. Houve danos na Quinta de Calhariz e construções destruídas na Azoia e no Cabo Espichel.
Ao final da tarde, depois de várias horas de tormenta, o mar recuou finalmente e começou a dar sinais de acalmia. A noite viveu-se entre angústia e ansiedade. Todos queriam ir procurar os desaparecidos e avaliar os estragos causados.
Assim que o céu começou a clarear, os primeiros populares sairam à rua e tiveram uma visão aterradora da vila. Destroços de embarcações ocupavam as vias, havia construções completamente
destruídas e outras simplesmente desaparecidas. A praia estava irreconhecível e até a imponente Fortaleza de Santiago se apresentava como nunca ninguém a tinha visto. O mar retirara toda a areia
da sua base, como se a tivesse tentado arrancar, e por baixo da construção cabia agora um homem em pé. As estacas de madeira em que assenta toda a construção estavam à vista, para espanto de
muitos curiosos que se juntaram no local.

No meio de todo este drama, ficou para a história um safio de 14 quilos encontrado na Taberna do Casimiro, no Largo de Bombaldes, onde hoje se situa a marisqueira Tony. Em termos humanos,
o balanço foi trágico: quatro mortos na vila e uma mulher na Quinta do Conde, para além de vários feridos, alguns em estado grave. A frota de pesca, de que dependia a subsistência da comunidade,
estava parcialmente destruída, assim como os acessos ao mar. Muitas famílias ficaram sem casas e sem haveres, o que as colocou numa situação de grande vulnerabilidade.
A tragédia voltou, no entanto, a pôr à prova a capacidade de responder à adversidade dos sesimbrenses, sobretudo dos pescadores, e trouxe para a ordem do dia as condições de trabalho
dos homens do mar. No final dessa década avançou-se finalmente para a construção do Porto de Abrigo, que deu outro impulso à actividade piscatória local.
Apesar de não existirem testemunhos físicos do Ciclone, as marcas da sua passagem por Sesimbra continuam bem vivas, tanto na memória daqueles que como José Rosa ou Joaquim Silva o
viveram de perto, como em todos aqueles que tiveram familiares e amigos que viram as suas vidas serem alteradas profundamente nesse fatídico 15 de Fevereiro de 1941.

http://www.cm-sesimbra.pt/NR/rdonlyres/121F7259-C97F-4FE3-A660-CE32EEE31287/0/SA58a.pdf


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Mário Barros

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Montijo

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Em Fevereiro de 1941, a 15 do referido mês um ciclone assolou a região de Lisboa, provocando algumas mortes, destruindo casas e embarcações, bem como um número elevado de desalojados.
O rio encontra-se no estado nunca visto, o vento chega a atingir os 127 Kmh, e nalgumas vai mesmo até aos duzentos.
Em Montijo, o Tejo alteroso, galga as muralhas, submerge o cais e toda a zona ribeirinha, a ventania era tal que ruíram chaminés e telhados, caíram paredes e árvores, as fabricas junto do rio ficaram destruídas.
O rio chega á praça da Republica, inunda a Avenida dos Pescadores, as embarcações são levadas para sítios diferentes. No cais os barcos que lá se encontravam ficam numa confusão total.
O dia 15 de Fevereiro ficou para sempre marcado na memória dos montijenses que a ele assistiram, dos mais novos aos mais velhos que nunca se lembraram de tal haver visto.
A Autarquia teve de pagar um orçamento suplementar no valor de 30 000$00 escudos para acudir as despesas provocados pelo ciclone. Instalou uma comissão oficial de socorro às vítimas da tragédia.

http://aldeiagalegamtj.blogspot.com/2010/03/o-ciclone_16.html
 

Mário Barros

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Chingula

Cumulus
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16 Abr 2009
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Lisboa
Registo muito interessante.
Cumpts

Ainda referente à "reportagem transcrita" gostaria de referir:
Está descrito o "Tsunami" - maré costeira, das enseadas ou dos portos, associado à "Storm Surge" - maré da tempestade; efeito cumulativo da maré Astronómica, com o efeito do Barómetro Invertido - elevação do nível do mar devido à baixa pressão do campo barométrico à superfície (por cada 100 hPa de descompressão o nível médio do mar sobe cerca de 1 metro - calculado em relação ao nível médio do mar à pressão normal 1013,25 hPa) e da Agitação marítima, resultante dos ventos associados ao "ciclone"...
Os efeitos relatados em Sesimbra ocorreram por toda a Costa Portuguesa, seria interessante mais notícias como esta, pois percebendo o que aconteceu...pode-se ajuizar o que pode voltar a acontecer...
Cumpts
 

Chingula

Cumulus
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16 Abr 2009
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Lisboa
Ainda referente à "reportagem transcrita" gostaria de referir:
Está descrito o "Tsunami" - maré costeira, das enseadas ou dos portos, associado à "Storm Surge" - maré da tempestade; efeito cumulativo da maré Astronómica, com o efeito do Barómetro Invertido - elevação do nível do mar devido à baixa pressão do campo barométrico à superfície (por cada 100 hPa de descompressão o nível médio do mar sobe cerca de 1 metro - calculado em relação ao nível médio do mar à pressão normal 1013,25 hPa) e da Agitação marítima, resultante dos ventos associados ao "ciclone"...
Os efeitos relatados em Sesimbra ocorreram por toda a Costa Portuguesa, seria interessante mais notícias como esta, pois percebendo o que aconteceu...pode-se ajuizar o que pode voltar a acontecer...
Cumpts

Tendo chegado ao meu conhecimento uma publicação do Instituto Geofísico da Universidade de Coimbra (Breve notícia histórica ) - Coimbra 2001 de Vitorino Seiça Santos; transcrevo o apontamento referente ao Ciclone de 15 de Fevereiro de 1941:
" Não só no Instituto Geofísico mas toda a região central de Portugal foi atingida por um ciclone que teve meteorologicamente de importante a grande baixa da pressão atmosférica, que de 988,1 mb às 0h desceu a 936,3 mb às 17h45m. O vento foi violento e registaram-se várias rajadas com mais de 100km/h. Caíram várias árvores na cerca."

No livro "Miuzela a Terra e as Gentes" o Professor J. Pinto Peixoto diz:
"Com o ciclone, que assolou Portugal, em Fevereiro de 1941, caíu o cabanal, ruíram paredes, e voou parte do telhado da "nossa casa".
 

carlitinhos

Cumulus
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13 Jan 2009
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Fundão (540m)
deixo mais uma foto que espelha o fenomeno:

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retirado de:

- Ciclone de 15 de Fevereiro de 1941.
- Victor Gallo junto ao pinheiro derrubado pelo ciclone -

Imagens retiradas do livro:
\"Imagens do Século XX do Concelho da Marinha Grande\"
Autor:
Patrícia Alexandra Balbino Grilo
Edição:
Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Marinha Grande
(Edição integrada no âmbito da exposição intitulada «100 Anos de Fotografia do Concelho da Marinha Grande»)
Data de edição:
Outubro de 2001
 

irpsit

Cumulonimbus
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9 Jan 2009
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Inverness, Escocia
Tempestades destas são bem raras em Portugal, e embora pouco comuns na Europa também tem ocorrido com alguma frequência histórica quer no Reino Unido, França e Holanda.

Um exemplo disso foi a tempestade Kyrill em Janeiro de 2007. Os ventos chegaram aos 200km/h em vários locais da Europa.

http://en.wikipedia.org/wiki/Kyrill_(storm)
 

nimboestrato

Nimbostratus
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8 Jan 2008
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Pedras Rubras-Aeroporto
Nos arquivos da minha Mãe detectei esta foto
do meu Pai ( 2º a contar da esquerda) com uns amigos,no dia seguinte à tempestade na serra de S.Justa em Valongo em cima de um eucaplipto de grande porte tombado pela força do vento.



Embora de fraca qualidade, na foto percebe-se bem a dimensão do evento,
a julgar pela quantidade de eucaliptos deitados no chão.
O meu Pai ,já falecido há mais de 30 anos ,tinha 16 anos nesse dia
e contava-me amiúde pormenores dessa noite/madrugada/pricípio da manhã
de todos os ventos e assustadoramente marcante para quem a viveu...
 
  • Gosto
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vitamos

Super Célula
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11 Dez 2007
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Estarreja
Nos arquivos da minha Mãe detectei esta foto
do meu Pai ( 2º a contar da esquerda) com uns amigos,no dia seguinte à tempestade na serra de S.Justa em Valongo em cima de um eucaplipto de grande porte tombado pela força do vento.


Embora de fraca qualidade, na foto percebe-se bem a dimensão do evento,
a julgar pela quantidade de eucaliptos deitados no chão.
O meu Pai ,já falecido há mais de 30 anos ,tinha 16 anos nesse dia
e contava-me amiúde pormenores dessa noite/madrugada/pricípio da manhã
de todos os ventos e assustadoramente marcante para quem a viveu...

Um verdadeiro achado... Obrigado! :)
 

Vince

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23 Jan 2007
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Braga
O CICLONE
(Mais uma viagem à infância)

Há acontecimentos que, só por si, marcam o ano em que tiveram lugar, ou mesmo a data exacta (mas nesse caso é o dia e mês que ficam, com tendência para esquecer o ano). A sua memória é tanto mais duradoura e generalizada quanto maior tiver sido o seu impacto ou o número de pessoas que afectou.

Assim, por exemplo, e no que diz respeito ao nosso país, fala-se de 1755, e o que vem de imediato à ideia é o grande terramoto que destruiu Lisboa; fala-se de 1910 e logo nos ocorre a proclamação da Republica; falar de 1940 é falar da Exposição do Mundo Português; diz-se 1974 e é o 25 de Abril que nos vem à mente; e falar de 1941 é falar de quê? As pessoas da minha idade (nasci em 1929, recordo) certamente se lembram do acontecimento mais marcante desse ano, pois foi o ano do ciclone.

E digo, “certamente”, consciente de que, traiçoeira como é a nossa língua, ao contrário do que se possa supor, este vocábulo, que parece ser tão assertivo, significa quase sempre o contrário daquilo que pretende afirmar. Na verdade quando alguém, a propósito de determinada malfeitoria da qual se procura determinar o autor, diz com um ar muito categórico “com certeza que foi Fulano” (geralmente alguém que ele secretamente detesta) podemos nós ter a certeza que ele simplesmente não faz ideia nenhuma de quem foi. Complicadinha esta nossa língua, hein?!

Troco pois o “certamente se lembram” por uma expressão mais adequada e menos susceptível de erro e retomo a frase, dizendo que “é suposto as pessoas” do meu tempo lembrarem-se. É que nestas coisas de recordações nem toda a gente pode ter a mesma recôndita memória que eu tenho que, de tão recuada, às vezes penso que só não me lembro muito bem do acto de ter nascido. (presunção não me falta como se vê) E, contudo –ai de mim - como eu gostava de me lembrar agora, do que vou fazer quando me levanto com um ar muito determinado e, dados três ou quatro passos, volto ao local de onde parti. pois não faço já a mínima ideia do que tão determinadamente me levara a interromper o que estava fazendo.

Por exemplo, nunca encontrei nenhum “rapaz do meu tempo” que se lembre da Guerra da Abissínia, ocorrida em 1935. E, no entanto, eu recordo esse acontecimento com grande nitidez e lembro-me mesmo de ver, em grandes parangonas, na primeira página do Diário de Notícias, a notícia da capitulação dos abexins perante as tropas italianas invasoras e uma foto de Mussolini, muito empertigado, fazendo a saudação fascista em cima de um carro de combate, festejando a entrada em Adis-Abeba, como se fosse um grande feito derrotar um exército miserável como era o do imperador Hailé Selassié, conhecido por Negus …enfim, taras de ditador megalómano. O gajo julgava-se um herdeiro directo do seu antepassado Júlio César que, aliás, também era um bom traste. Entretanto este acto paranóico era apenas um ensaio para triste aventura que, juntamente com o seu parceiro Adolfo - enquanto as nações (ditas) democráticas assobiavam, fingidamente distraídas, para o lado - haveria de levar à barbárie da Segunda Guerra Mundial.

Não quer dizer que não haja, quem tendo então 7 anos, como eu, se lembre deste acontecimento, mas a verdade é que eu já pus a questão a muitos deles e nenhum dos questionados se lembrava. Se calhar é como Belenenses. Quando era garoto, a rapaziada lá do sítio era tudo sporting ou benfica, só o raio do Eduardo, mais conhecido por “Pechelips” (era assim que ele pronunciava o nome do seu rádio Phlips), não sei porque carga de água, se dizia obstinadamente adepto do Belenenses. Ora, como eu nunca conhecera qualquer puto ou qualquer outra pessoa que se proclamasse como belenense, levei anos e a anos a pensar que o Eduardo era o único adepto de tal clube, à face da terra”… e pronto, lá estou eu de novo a divagar… é da idade, por certo.

Mas onde é que a conversa já vai, meu Deus, lá diz o povo que ela é como as cerejas, puxa-se uma e vêm logo outras atrás e atrás dessas, outras, e assim se apanham grandes e inesperadas barrigadas e por vezes tremendas diarreias. "Caganeiras" seria o vocábulo mais propriado para falar de tão incómodo desarranjo, estivesse eu a conversar com um qualquer velho amigo, mas que, por uma questão de respeito, me coibo de utilizar consigo, caro leitor, se algum houver que tenha a pachorra de estar seguindo este meu mal alinhavado desfiar de recordações. Seja como fôr, a deglutição exagerada que levasse a tal destempero só seria possivel no tempo em que estes vistosos frutos se compravam ao preço da chuva e que, além de apetecíveis de comer, se penduravam nas orelhas, aos pares, como se fossem rubros brincos de rubis, pois actualmente estão pela hora da morte.


Voltando então ao ciclone, de 1941: ocorreu o dito em 15 de Fevereiro do referido ano. O dia começou negro e chuvoso e foi progressivamente aumentando a força e a velocidade das rajadas de vento, praticamente em todo o país, destelhando casas, fazendo voar chapas de zinco dos telhados dos barracões, derrubando árvores centenárias, arrastando automóveis, provocando estragos e inundações um pouco por todo lado.

Nesse dia a nossa mãe estava internada no hospital, o pai estava no trabalho, o nosso irmão mais velho, então com 18 anos, também estava fora a fazer pela vida, ou à procura de um qualquer emprego, que nem sempre encontrava, e em casa estava eu, com onze anos na altura, o Tino com oito, e o Lau com cinco anos apenas. Como a antiguidade é um posto (pelo menos na tropa é assim) e sendo eu o mais velho, competia-me a mim o comando da tropa-fandanga, bem como todos os cuidados da casa no velho sótão em que morávamos, na Travessa do Cauteleiro, nº4.

Mais do que uma vez, infelizmente, e sempre por internamentos hospitares de minha mãe, tive de assumir a chefia não desejada do que se podia designar lá em casa como o “pessoal menor” - designação algo pejorativa que, nesse tempo se atrbuia aos trabalhadores menos qualificados do funcionalismo público, comparativamente ao “pessoal graduado”, e ao "pessoal superior". Tudo muito escalonadinho como se vê. Só que lá em casa, a menoridade a que me refiro era apenas a da idade. Ora, entre o dito pessoal menor a meu cargo, além dos dois galfarros que atrás mencionei, estava também a Alicinha, nossa irmã mais nova, então bebé de 11 meses, competindo-me a mim (não tínhamos mais família naquela terra) dar-lhe banho, mudar-lhe a fralda, vesti-la, fazer-lhe a papinha... Estou a ver-me misturando a farinha com o leite e ir mexendo, mexendo sempre, para não a deixar engrolar e uma vez pronta e deitada numa trigela, ir introduzindo-a às colheradas na boquinha do impaciente bébé, até a tigela ficar vazia e a menina satisfeita. Esta era uma das minhas tarefas habituais, mas não naquele dia, porque uma senhora que era sua madrinha e morava não muito longe de nós a tinha vindo buscar.

Naquele dia eu estava, isso sim, encarregado de fazer o almoço para o mim, os meus outros dois irmãos, e meu pai que vinha almoçar um pouco depois das treze horas. O vento e a chuva toda a manhã tinham fustigado os vidros das janelas de uma forma não habitual, o que nos deixava um pouco acagaçados para utilizar a vernácula expressão que então era comum usar em casos e situações tais.

Ali estávamos nós, quais pintainhos abandonados à nossa sorte, sem o aconchego das asas protectoras da galinha mãe, enquanto por sua vez o galo era forçado a ciscar lá fora, no terreiro da vida, com que prover ao sustento da ninhada - que para pouco mais dava a magra féria que conseguia trazer para casa ao fim de cada semana. Lá nos fomos, contudo aguentando, eu entretido a descascar as batatas - no que me tornei um mestre, de tal modo que ainda hoje, se me apurar, consigo descasca-las do princípio ao fim, rapidamente e sem lhe partir a casca – enquanto os outros dois pirralhos se entretinham nas suas traquinices e quezílias habituais, só interrompidas, por algum golpe de vento mais inquietante, mais fortes rajadas de água fustigando os vidros das janelas, ou mais ameaçadores os estremecimentos das telhas do sótão, logo acima das nossas cabeças.

Por volta do meio dia e meia hora estava eu, de volta do fogareiro a petróleo, vigiando a cozedura das batatas para ver se podia meter o bacalhau, quando a casa toda estremeceu com um ronco assustador de um súbito golpe de vento e a chaminé desabou sobre a lage da cozinha, derrubado por terra o fogareiro as batatas, o bacalhau e tudo o que encontrou pela frente, não me tendo esmagado a mim não sei porquê, pois a meu pés e à minha volta restava apenas, ocultando o nosso rico almoço um montão de tijolos, argamassa antiga e caliça desfeita.

Não tive tempo para pensar. Foi só agarrar nos meus irmãos e fugirmos de escantilhão, escadas abaixo, eles nem se apercebendo bem do que se passava e eu completamente apavorado. Quando o nosso pai chegou, deparou com os três filhos chorosos à porta da rua e almoço, nicles. O que nos valeu foi a vizinha Felismina, também natural de Moncorvo, com a qual aliás não nos dávamos, que nos confortou o estômago com uma sopa quente e mais não sei o quê e onde passámos o resto do dia, Quanto ao nosso pai foi comer qualquer coisa na tasca do António Carvoeiro e lá voltou para o trabalho que a vida estava ruim e era preciso ganhar para a bucha.

No dia seguinte e por vários dias seguidos, os jornais vinham pejados de notícias e fotos documentando a fúria do ciclone e os seus estragos que abrangiam praticamente todo o país: Casas derrubadas, paredes rachadas, postes de alta tensão e telefónicos por terra, arvores centenárias arrancadas pela raiz, barcos afundados, automóveis virados, cheias e inundações por todo o lado, comunicações ferroviárias e rodoviárias cortadas - o que aliás acontecia com muita frequência nesse tempo, sobretudo no vale de Santarém. Uma calamidade!

Mesmo lá fora, a fúria do temporal que assolou o nosso país impressionou os nossos vizinhos europeus, sendo noticiado nos jornais e na rádio um pouco por todo o lado. Nesse tempo a apregoada grandeza do ditador era tão insignificante que só por más razões o nome de Portugal se projectava lá fora, como aconteceu e nessa altura, tal como sucedera por ocasião do terramoto de 1755 - objecto de notícias e comentários em vários países, inclusive de Voltaire, que viu na injustiça da terrível mortandade, a prova provada da não existência de Deus.

Quem sabe, se não foi inspirados nos efeitos devastadores do nosso ciclone que os nazis baptizaram de Ciclone-B um gás mortífero que, em 3 de Setembro desse mesmo ano de 1941, experimentaram no campo de concentração de Auschwitz, causando a morte por asfixia, de uma vez só, a mais de 600 prisioneiros – Uma estreia auspiciosa como se vê, pois dali para a frente foi “sempre a aviar”, com o “ciclone” e outros gazes ainda mais letais e mais rápidos, no seu almejado propósito de purificação da raça ariana.

Por cá por esse tempo não tinha pegado ainda a moda da subsídio-dependência crónica que agora se tornou norma e vício, e os desalojados e prejudicados pelo ciclone, tanto quanto julgo saber, limitaram-se a receber ajudas esporádicas, tratando cada um de se arranjar conforme pôde.

A propósito do actual espírito de pedinchice de subsídios por tudo e por nada – que, aliás, não é exclusivo do nosso pais, dizia-me há tempos um amigo brasileiro: ”Pobre é f*da! Passa o tempo a dizer que não tem nada e logo que chove diz que perdeu tudo” (*)


A verdade é que, como comecei por dizer, o ano de 1941, será sempre lembrado no nosso país e muito particularmente por mim que, criança ainda, perplexo e impotente perante aquela desconhecida força de elementos, a chuva e o vento, que até ali me habituara a considerar amigos, me vi a ombros com uma responsabilidade superior à minha idade e às minha forças - uma grande provação da minha vida, que esteve contudo longe de outras que ao longo dos anos haveria de suportar. 1941, será sempre o ano do ciclone e este um momento vital de passagem para a fase seguinte do meu crescimento, até me tornar o homem que vim a ser.

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(*) Nota: Estive tentado a substituir a expressão “pobre é f*da”, por uma equivalente no português do lado de cá “pobre é lixado” talvez, mas perderia o sabor caipira da frase. Esta expressão, aliás, usa-se no Brasil com muita frequência e ligeireza.

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2007

DO FUNDO DA ARCA
Escritos de António Melenas
ANTÓNIO JOAQUIM GOUVEIA (“ANTÓNIO MELENAS”) (1929-2008)
http://guardadonaarca.no.sapo.pt/O ciclone.htm