Urso-pardo de volta a Portugal?



boneli

Nimbostratus
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12 Jan 2008
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Penso que em tempos, nomeadamente na Idade Média a ocupação territorial do Urso em Portugal seria bem extensa. A partir do século XV e com os descobrimentos muito do seu território começou a regredir para os locais que mais estão documentados. Penso que não resta muitas dúvidas que este andou pelas serranias do Gerês e Montesinho até século XX. Isto é a minha opinião segundo registos escritos.

Agora o mais importante é que este crescimento sustentado das duas populações espanholas continue. Claro que para nós a população Cantábrica é a que seguimos com mais atenção, mas não podemos esquecer que apesar do aumento de individuas esta população ainda é muito débil e o isolamento dos núcleos populacionais não ajuda em nada à sustentabilidade da espécie.

Corredores ecológicos são muito importantes que existam. Continuo convicto que se as medidas de conservação se mantiverem aliado a outros fatores poderemos a médio prazo ter estes animais a visitarem o nosso território. Não devemos criar grandes espectativas e ser realistas, mas essa possibilidade existe.

Quero agradecer também ao colega Pek pela informação que deixa neste fórum. Uma delicia e um bem haja.
 

belem

Cumulonimbus
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10 Out 2007
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Sintra/Carcavelos/Óbidos
Algumas fotos do Parque Natural de Montesinho e arredores (Nordeste de Portugal):


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2lxuyqh.jpg



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Pek

Cumulonimbus
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24 Nov 2005
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Menorca
Obrigado Pek, pelos dados.

Dá para perceber que ainda existe potencial no extremo Nordeste Português, para a presença do urso-pardo (ainda que a baixa densidade).

Eu penso que , tendo em conta os bons habitats e algum isolamento que ainda existe no NE transmontano e algumas zonas montanhosas do Minho , o regresso do urso a Portugal e uma questão de tempo , espero eu .

Penso que em tempos, nomeadamente na Idade Média a ocupação territorial do Urso em Portugal seria bem extensa. A partir do século XV e com os descobrimentos muito do seu território começou a regredir para os locais que mais estão documentados. Penso que não resta muitas dúvidas que este andou pelas serranias do Gerês e Montesinho até século XX. Isto é a minha opinião segundo registos escritos.

Agora o mais importante é que este crescimento sustentado das duas populações espanholas continue. Claro que para nós a população Cantábrica é a que seguimos com mais atenção, mas não podemos esquecer que apesar do aumento de individuas esta população ainda é muito débil e o isolamento dos núcleos populacionais não ajuda em nada à sustentabilidade da espécie.

Corredores ecológicos são muito importantes que existam. Continuo convicto que se as medidas de conservação se mantiverem aliado a outros fatores poderemos a médio prazo ter estes animais a visitarem o nosso território. Não devemos criar grandes espectativas e ser realistas, mas essa possibilidade existe.

Quero agradecer também ao colega Pek pela informação que deixa neste fórum. Uma delicia e um bem haja.

Muchas gracias por vuestros amables comentarios :)

Estoy completamente de acuerdo con vuestras opiniones, tanto en lo referente a próximas visitas de ejemplares al nordeste transmontano (sobre todo) y a las zonas montañosas de las regiones de Minho-Lima y Baixo Minho (algo más complicado pero no descartable), como en lo relacionado con los corredores ecológicos. :thumbsup:

Un saludo
 
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AnDré

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22 Nov 2007
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Aquela serra parece-me grosso modo a serra de Portel e da Vidigueira. Ainda hoje essa serra especialmente perto do Alqueva e do Guadiana tem vestígios bem conservados da floresta original, pelo que historicamente deve ter sido uma zona do país pouca sujeita à acção da pastorícia e da agricultura. Daí talvez a existência de ursos.

Não concordo muito com o mapa. O mais certo e provável é termos tido ursos em todo o território pelo menos até à romanização.

Reza a lenda do Mosteiro de Odivelas que:

"Andando El-Rei D. Dinis à caça no distrito de Beja , no sítio de Belmonte, perdeu-se dos companheiros e foi atacado por um corpulento urso que o derrubou do cavalo e o segurou entre as patas. Vendo o Rei que o animal lhe tiraria a vida, pediu a proteção de S. Luís, bispo de Tolosa e prometeu construir um mosteiro se o Santo bispo o salvasse daquele perigo. S. Luís logo lhe apareceu, dizendo-lhe que matasse a fera com o punhal que tinha à cintura, o que o rei fez de imediato. Para agradecer a proteção do Santo, mandou edificar em Odivelas o Mosteiro de S. Dinis, que ainda hoje existe."

http://www.cm-odivelas.pt/index.php...ens#lenda-da-fundação-do-mosteiro-de-odivelas
 

frederico

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9 Jan 2009
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Para haver viabilidade futura na preservação desta e de outras espécies por cá é necessária uma rede de floresta nativa pública. Em Portugal apenas 3% da floresta é pública. Este valor supera os 50% em muitos países ricos.

Dos 3% de floresta pública que temos, boa parte são pinhais. Ora nos somos um país de carvalhais. Acima de tudo, um país de carvalhais. E destruímos quase tudo.

Penso que esta deve ser uma batalha para as associações ambientalistas e até para algumas autarquias.

No caso de Montesinho não deve ser muito difícil negociar os terrenos com os proprietários. A população está envelhecida, os mais jovens na sua maioria não tencionam voltar. Após a compra dos terrenos estes devem ser limpos, para remover eventuais invasoras, o que pode ser feito por voluntários com uma prévia formação. Deverão ser feitas acções anuais de limpeza e de auxílio às árvores nativas, por exemplo, espalhar manualmente bolotas. Deve haver também pelo menos um guarda de vigia e recursos às novas tecnologias para prevenção de incêndios no Verão.

Isto não é tão caro quanto isso e as vantagens para nós seriam imensas a longo prazo, em termos de regulação hídrica, recuperação de solos, exploração turística sustentável e exploração florestal sustentável.
 

MSantos

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3 Out 2007
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Aveiras de Cima
Para haver viabilidade futura na preservação desta e de outras espécies por cá é necessária uma rede de floresta nativa pública. Em Portugal apenas 3% da floresta é pública. Este valor supera os 50% em muitos países ricos.

Dos 3% de floresta pública que temos, boa parte são pinhais. Ora nos somos um país de carvalhais. Acima de tudo, um país de carvalhais. E destruímos quase tudo.

Penso que esta deve ser uma batalha para as associações ambientalistas e até para algumas autarquias.

No caso de Montesinho não deve ser muito difícil negociar os terrenos com os proprietários. A população está envelhecida, os mais jovens na sua maioria não tencionam voltar. Após a compra dos terrenos estes devem ser limpos, para remover eventuais invasoras, o que pode ser feito por voluntários com uma prévia formação. Deverão ser feitas acções anuais de limpeza e de auxílio às árvores nativas, por exemplo, espalhar manualmente bolotas. Deve haver também pelo menos um guarda de vigia e recursos às novas tecnologias para prevenção de incêndios no Verão.

Isto não é tão caro quanto isso e as vantagens para nós seriam imensas a longo prazo, em termos de regulação hídrica, recuperação de solos, exploração turística sustentável e exploração florestal sustentável.

A Terra Fria é a região do País em que a flora está melhor preservada e em que há menos invasoras, a regeneração natural de carvalhos e azinheiras tem sido notável nos últimos 20 anos e com envelhecimento da população e consequente abandono da agricultura esse processo tem acelerado.

Na minha opinião os valores naturais do Parque Natural de Montesinho são até superiores aos do Parque da Peneda-Geres, apenas perdendo para este em termos paisagísticos, acho que o Parque devia ser promovido a Parque Nacional.
 

james

Cumulonimbus
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16 Set 2011
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A Terra Fria é a região do País em que a flora está melhor preservada e em que há menos invasoras, a regeneração natural de carvalhos e azinheiras tem sido notável nos últimos 20 anos e com envelhecimento da população e consequente abandono da agricultura esse processo tem acelerado.

Na minha opinião os valores naturais do Parque Natural de Montesinho são até superiores aos do Parque da Peneda-Geres, apenas perdendo para este em termos paisagísticos, acho que o Parque devia ser promovido a Parque Nacional.


Sem duvida . Alias , dar um passeio pela parte norte do concelho de Vinhais ( no PNM ) e um exercício fantástico de contemplação de natureza selvagem , um mar de carvalhais , um hino a biodiversidade .

Eu penso que a atual lei - quadro das áreas protegidas equivale os parques naturais aos parques nacionais , porem estou plenamente de acordo que alguns parques naturais poderiam ser denominados parques nacionais , pelas suas excepcionais caraterísticas florísticas, faunísticas , geomorfológicas ou culturais . Alem do já existente da Peneda - Geres eu sugeriria também o Montesinho, o Douro Internacional, a a Serra da Estrela, a Arrábida e o Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina .

Voltando a região do Montesinho , corredor ecológico Serra Nogueira / Montesinho / Sanabria / Montes Leão e um dos mais ricos em biodiversidade da Península Ibérica , com alguns dos maiores carvalhais da PI , 1/4 da população ibérica de lobos , os ursos vão regressando. . .

Podemos estender um outro corredor ecológico ainda bem preservado que se estende ate a Peneda - Geres , onde todo esse território ainda e frequentado pelo lobo , eu penso que num futuro mais ou menos próximo , o urso tem condições para percorrer esse corredor e regressar as montanhas do Minho e Galiza . O desafio depois e saber preservar essa riqueza .
 
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frederico

Furacão
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9 Jan 2009
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Penso que a Peneda-Gerês tem uma maior biodiversidade botânica que Montesinho. No entanto, parece~me que a gestão do parque é uma desgraça. As invasores proliferaram de uma forma brutal nos últimos 10 a 20 anos. Isto é incompetência. As mimosas começam por colonizar sempre as valas junto às estradas, o que facilitaria muito a sua contenção. Bastaria localizar os núcleos que fossem aparecendo e eliminá-las. Nem que fosse a herbicida na estação seca.

Há locais escondidos tão importantes como a Mata da Albergaria sem qualquer estatuto especial de conservação, ameaçados pelo corte de árvores para madeira. Caso do extraordinário Carvalhal Escuro, perto da Ermida.

Há claramente um excesso de turistas que deveria ser regulado, com a colocação de portagens de entrada no parque. Parte da culpa é do marcelismo, que abriu aquela fronteira na Portela do Homem. Foi um dos maiores crimes ambientais que foram cometidos em Portugal. E naquela época chegou-se a pensar em colocar estradas no maciço central do Gerês. Felizmente nunca saiu do papel. Não compreendo a mania dos portugueses colocarem obra em todo o lado. Parece complexo de inferioridade, parece que se querem sentir civilizados por terem estradas até no topo das serras, em zonas onde ninguém mora e em boa verdade ninguém deve ir.

O excesso de pessoas nas zonas sensíveis do parque nacional impede a regeneração da floresta, devido ao pisoteio; impede a nidificação das espécies mais sensíveis; acarreta o problema da colheita de azevinho e cogumelos de espécies ameaçadas; afugenta os mamíferos do seu habitat natural.

Esperemos que no futuro outras gerações mais sensibilizadas para o valor do Gerês tomem medidas. O encerramento da fronteira da Portela do Homem e da estrada da mata da Albergaria já não me parece possível. Mas deveria haver portagens para moderar o trânsito e o influxo turístico. Deveria haver um limite ao número de turistas que entram por dia em algumas zonas do parque.
 

james

Cumulonimbus
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Penso que a Peneda-Gerês tem uma maior biodiversidade botânica que Montesinho. No entanto, parece~me que a gestão do parque é uma desgraça. As invasores proliferaram de uma forma brutal nos últimos 10 a 20 anos. Isto é incompetência. As mimosas começam por colonizar sempre as valas junto às estradas, o que facilitaria muito a sua contenção. Bastaria localizar os núcleos que fossem aparecendo e eliminá-las. Nem que fosse a herbicida na estação seca.

Há locais escondidos tão importantes como a Mata da Albergaria sem qualquer estatuto especial de conservação, ameaçados pelo corte de árvores para madeira. Caso do extraordinário Carvalhal Escuro, perto da Ermida.

Há claramente um excesso de turistas que deveria ser regulado, com a colocação de portagens de entrada no parque. Parte da culpa é do marcelismo, que abriu aquela fronteira na Portela do Homem. Foi um dos maiores crimes ambientais que foram cometidos em Portugal. E naquela época chegou-se a pensar em colocar estradas no maciço central do Gerês. Felizmente nunca saiu do papel. Não compreendo a mania dos portugueses colocarem obra em todo o lado. Parece complexo de inferioridade, parece que se querem sentir civilizados por terem estradas até no topo das serras, em zonas onde ninguém mora e em boa verdade ninguém deve ir.

O excesso de pessoas nas zonas sensíveis do parque nacional impede a regeneração da floresta, devido ao pisoteio; impede a nidificação das espécies mais sensíveis; acarreta o problema da colheita de azevinho e cogumelos de espécies ameaçadas; afugenta os mamíferos do seu habitat natural.

Esperemos que no futuro outras gerações mais sensibilizadas para o valor do Gerês tomem medidas. O encerramento da fronteira da Portela do Homem e da estrada da mata da Albergaria já não me parece possível. Mas deveria haver portagens para moderar o trânsito e o influxo turístico. Deveria haver um limite ao número de turistas que entram por dia em algumas zonas do parque.


A Mata da Albergaria tem um estatuto especial de Conservação , e uma reserva natural integral . E a zona do parque com mais medidas especiais de proteção , como proibição de estacionamento e de passagem de autocarros com mais de 40 lugares . Já esteve bem pior , ainda me lembro de haver la uma festa que deitavam foguetes de cana , havia campismo selvagem e PIC - nics no meio da mata . A festa foi proibida e quase todas as entradas para a mata foram fechadas ao transito automóvel . Mas reconheço que mais deveria ser feito , podia - se perfeitamente fechar o caminho que vai do Campo do Geres a zona do antigo viveiro de trutas .

Mas fechar essa fronteira e complicado , tem um valor histórico . Se e verdade que foi fechada no Estado Novo , essa fronteira já existia a muito , foi onde os castelhanos invadiram Portugal no século 14 e as tropas napoleônicas bateram em retirada numa das invasões .
 
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Pek

Cumulonimbus
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lreis

Cumulus
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22 Dez 2010
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Por que motivo não há praticamente floresta em Montesinho mas há em abundância na serra da Coroa? Será do tipo de solo?

Tendo em conta que tanto a Serra da Coroa como a de Montezinho são espaços silvestres integrados em áreas baldias e (co)geridos pela administração pública florestal, há pelo menos 60 anos, refiro o seguinte:
- os esforços de arborização nos dois lados foram diferenciados (pelo menos) nos últimos 20/30 anos. O padrão de fogos entre as regiões ao longo do tempo não é assinalavelmente diferente. Mas, enquanto na Coroa, tem ardido e tem-se plantado nova floresta, na serra de Montezinho esse esforço já não se faz com expressão territorial há algum tempo. Não apuro as razões de ser desta situação.
- isto leva a que hoje a Montezinho esteja praticamente "careca" enquanto a serra da Coroa, o nível de arborização permite a existência de largas zonas arborizadas, embora com variações entre a ponta nascente (junto ao concelho de Bragança) e a ponta poente (junto ao de Chaves);
- decorre do falado que não existem razões de natureza edafoclimática que contribuam para o referido por frederico, aliás os solos tem genericamente o mesmo padrão de origem e o clima não tem variações assinaláveis.

Se calhar dever-se-á apanhar o "estado da arte" no sentido de criar o ambiente perfeito, manchas de floresta entrecortadas por espaços abertos (matos, pastagens, etc), envolvendo sempre as comunidades locais, que devem ser os primeiros interessados nos espaços. Penso que será este tipo de habitat que melhore favorece as populações animais na região e quem sabe o vindouro urso.
 
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