adiabático
Cumulus
Bom dia à audiência do Meteo Forum. Há algum tempo que me ligo para ler os posts e não tenho feito qualquer intervenção, até porque sou mais curiosa e preocupada com os fenómenos climáticos do que propriamemente perita, longe disso, no entanto hoje não resisti e gostaria apenas de dizer que ultimamente este forum parece uma guerrilha de egos, ou seja, alguns dos participantes vêm apenas criticar os outros, sem demonstrar nenhum conhecimento, apenas para desconstruir o que é aqui comentado ou informado. Chegam a ser malévolos e a maioria nem sabe escrever português, mostrando muita ignorância da língua portuguesa.
Depois desta observação espero que se continue a fazer aqui o que é suposto, ou seja, falar do que é realmente interessante: o clima, as suas alterações e as previsões possíveis. Estou satisfeita por estar a chover, gostaria que não fosse episódico, porque o Inverno a que me acostumei era chuvoso, tendo mudado bastante em relação a alguns invernos passados. Tenho pena se a Península Ibérica estiver condenada, por estupidez humana, à desertificação e à miséria, esperaria da boa fé dos homens que tal não viesse a acontecer, mas a ganância parece falar mais alto...só que a Natureza é um organismo vivo e vai vingar-se do Homem. Até porque o Homem existe porque a Natureza é VIVA e tem permitido ... vamos ver quem vence!
Gostei do tom acutilante. Também é raro eu comentar aqui, embora siga o fórum com interesse há anos, especialmente em Dezembro/Janeiro. Quero só acrescentar que costumo frequentar muitos outros fóruns, poucos assiduamente, muitos esporadicamente, visto que começam a ser uma excelente fonte de informação e respostas à maior parte das questões que preciso de resolver rapidamente, seja a que título for... E que este fórum, particularmente, não me parece ser dos mais belicosos, nem de longe! A batalha de egos... Concordo com o Vince, muito se deve à complexidade da meteorologia, como ciência que ilustra, por um lado, a insuficiência dos modelos determinísticos e, por outro, a nossa dependência deles. Este segundo aspecto leva-me a um tema que me é caro hoje em dia. Desde já peço desculpa pelo off-topic... Vou com a onda!
Quando me comecei a interessar pela meteorologia comprei um livrinho que era um manual de meteorologia para o curso de marinheiro de Algés. Para além da "Física aplicada", referia-se longamente à observação visual do céu e à repetibilidade de certos fenómenos, localmente contidos (por exemplo, tempestades - tropicais ou não - de que podemos mais facilmente "prever" a evolução, uma vez formadas, do que a sua formação). Estas características - fenómenos observáveis e repetibilidade - são aquilo que sempre permitiu ao ser humano compreender o mundo exterior e que, de certa forma, aprender a sobreviver nele, sabendo o que procurar e o que evitar.
Acredito profundamente nisto: as consequências dos fenómenos atmosféricos para as sociedades humanas, em termos de prejuízos materiais, financeiros, sinistralidade, etc - fenómenos nem sempre tão extremos como as ditas consequências - têm por maior culpado o próprio homem, mas não a espécie humana. O culpado é o homem urbano, que vive num universo cada vez mais saturado de informação, enquanto essa informação é cada vez menos alimentada pela observação do mundo real, nomeadamente da paisagem. Cada vez mais engenheiros - físicos, agrónomos ou civis - são nascidos na cidade, formados na cidade e assumem a responsabilidade de gestão e transformação de um território que nunca conheceram directamente.
O "culpado" é o homem urbano, isto para mim não carece de qualquer dúvida, nem sequer metódica. Problema do nosso sistema político e tecnocrático, visto que só ao homem urbano, praticamente, é dado acesso à educação superior moderna, às modernas "ferramentas" de trabalho, à própria ascenção social que lhe permite chegar a lugares de decisão. O fim mais provável destas sociedades é algo como a redoma de vidro no planeta estéril, símbolo que ilustra duas realidades importantes: primeiro, a "confiança" moderna na técnica e na nossa capacidade de sobreviver, por meio dela, até às piores catástrofes; o segundo aspecto, mais importante para mim, é a razão da dimensão dessa redoma de vidro para a dimensão o planeta, que ilustra a o limite da técnica e da nossa capacidade de controlar um ambiente artificializado.
O grande salto na nossa capacidade de modelação da atmosfera (e, já agora, da biosfera, visto que para mim há coisas que não são separáveis) vai acontecer quando os computadores ganharem três características da inteligência que nós, homens urbanos, perdemos: humildade, capacidade de contemplação e bom-senso.