Funchal: Chuva em Fevereiro sete vezes acima da média
A superfície frontal polar que assolou o Atlântico durante o mês de Fevereiro deu origem a 80 por cento de dias com precipitação (acima de 0,1 mm) na Região Autónoma da Madeira, quando a média é de 20 por cento. Até agora, o mês de Fevereiro mais chuvoso dos últimos 30 anos tinha ocorrido em 1969, com 438,1 mm (1 mm de chuva equivale a 1 litro de água em 1 metro quadrado), valor este que foi já ultrapassado. Entre 1 e 28 de Fevereiro, e segundo dados do Observatório de Meteorologia, a média é já de 470 milímetros (mm), sendo que 70 por cento deste valor caiu nos dias 2 e 20 de Fevereiro.
«Na minha vida profissional, nunca tinha visto chuva como no dia 20, nem em quantidade nem intensidade», diz mesmo Victor Prior, delegado regional da Madeira do Observatório Meteorológico do Funchal. O total do mês de Fevereiro para o Funchal representa sete vezes mais que a média dos últimos 30 anos (1971-2000), que é de 66 mm.
Outro valor alto é o do Areeiro, onde a quantidade de precipitação em Fevereiro foi de 1.380 mm, quando a média dos últimos 30 anos era de cerca de 380 mm. «Isto dá quatro vezes mais aquilo que é normal. Vamos pensar, por exemplo, numa piscina particular que tenha 2,5 metros de profundidade numa ponta e 1 metro noutra. A quantidade de precipitação que foi registada no Areeiro, em Fevereiro, quase dava para enchê-la», explica o nosso interlocutor.
Neste início de 2010, a média é já de cerca de 600 mm, sendo o valor normal da precipitação no Funchal da ordem dos 610 mm. «Só nestes dois meses, estamos próximos daquilo que é normal»., prossegue.
Fevereiro rigoroso e muito severo - O máximo de precipitação anual na Região está, actualmente, nos 1.006 mm, registado em 1969. Questionado sobre a possibilidade de, em 2010, a Região aproximar-se destes valores, Victor Prior salienta que a época da chuva está quase a terminar, embora a partir de 1 de Outubro se inicie novo ano hidrológico, com Novembro e Dezembro associado. «Neste momento, ninguém sabe qual é que vai ser o futuro, mas teremos um ano que será muito acima do normal, seguramente», adverte.
Relativamente a esta última quinta-feira, o nosso interlocutor refere que os valores da precipitação registados entre as 15 horas e as 20 horas foram de 110 mm no Areeiro e 10mm no Funchal Entre as 9 horas de 4 de Março e as 9 horas de dia 5 de ocorreram 140,8 mm no Areeiro e 19 mm no Funchal.
Valores que estão dentro do previsto, embora a terra já não consiga absorver mais água. «Em Outubro já foram registados 100 mm, em Novembro quase 70 mm, em Dezembro 290 mm. Os solos já estão saturados e praticamente não permitem absorver mais água. Tudo aquilo que cai, neste momento, é em excesso», justifica.
Sobre as teorias que dizem que a Madeira está mais vulnerável a intempéries, Victor Prior diz que «estudos são estudos, teorias são teorias, mas nada me leva a crer que haja qualquer tipo de alteração no clima da Madeira».
Radar já tem processo a decorrer - Victor Prior continua a dizer que o radar meteorológico é um dos melhores instrumentos no que respeita à vigilância do estado do tempo, com duas a três horas de antecedência. Depois do que sucedeu a 20 de Fevereiro, refere mesmo que «justifica-se ter essa informação aqui na Madeira».
Ao JM revelou que, da parte do Observatório, já foi desencadeado o processo, assim como do Instituto de Meteorologia. «De acordo com informações o presidente do Instituto, também da parte do Ministério também já foi dado o acordo – não sei em que termos – para avançarmos já. Uma das coisas que me pediram - e já foi feito - foi o projecto de telecomunicações que é necessário para receber a informação de grande volume do radar, tanto para aqui como para Lisboa», contou.
A localização deste equipamento será no Porto Santo, dadas as caraterísticas da ilha. «Será um bom ponto para cobrir cerca de 200 km à volta do arquipélago», complementou.
Diz ainda que o próximo passo será o de contactar entidades regionais, por forma a ver como é possível ao Observatório ter um espaço para colocar um radar no Porto Santo. «Um obstáculo que será ultrapassado facilmente», acredita.
Anticiclone de regresso protege a Região - Os próximos cinco dias serão caracterizados por bom tempo. Poderão ocorrer aguaceiros pontuais e chuviscos, mas estarão essencialmente associados à orografia da Madeira, segundo Victor Prior.
«Não há nenhum alerta de tempo muito severo. Precipitação pontual e aguaceiros vão continuar a ocorrer, mas nada de grave. O vento nas zonas mais baixas poderá atingir os 70 quilómetros, sendo entre 90 a 100 km/hora nos pontos mais altos», especifica.
Esta situação fica a dever-se ao facto de o anticiclone dos Açores estar a regressar ao seu ponto normal, conforme explica. «A frente polar - linha que dá a volta ao globo no Pólo Norte a uma determinada latitude - desceu ligeiramente em relação aos outros anos, dando origem a esta passagem sucessiva de superfícies frontais de pressões que atingiram a Madeira de forma bastante severa. Esta frente já tem associada consigo as condições favoráveis para que se formem tempestades formadas sobre o Atlântico e que surgem de sudoeste. Podem ser mais ou menos graves de acordo com a temperatura do ar, da água do mar e da quantidade de água que trazem. Por sua vez, o anticiclone estava bastante a sul. Neste momento, está a tomar as suas dimensões e a sua realidade e aparentemente caminha para uma posição normal. Ao mesmo tempo, está formado um anticiclone com pressões bastante elevadas na zona da Grã-Bretanha. A partir de agora, a Madeira fica suficiente protegida», concluiu.
Celso Gomes
Fonte: Jornal da Madeira
A superfície frontal polar que assolou o Atlântico durante o mês de Fevereiro deu origem a 80 por cento de dias com precipitação (acima de 0,1 mm) na Região Autónoma da Madeira, quando a média é de 20 por cento. Até agora, o mês de Fevereiro mais chuvoso dos últimos 30 anos tinha ocorrido em 1969, com 438,1 mm (1 mm de chuva equivale a 1 litro de água em 1 metro quadrado), valor este que foi já ultrapassado. Entre 1 e 28 de Fevereiro, e segundo dados do Observatório de Meteorologia, a média é já de 470 milímetros (mm), sendo que 70 por cento deste valor caiu nos dias 2 e 20 de Fevereiro.
«Na minha vida profissional, nunca tinha visto chuva como no dia 20, nem em quantidade nem intensidade», diz mesmo Victor Prior, delegado regional da Madeira do Observatório Meteorológico do Funchal. O total do mês de Fevereiro para o Funchal representa sete vezes mais que a média dos últimos 30 anos (1971-2000), que é de 66 mm.
Outro valor alto é o do Areeiro, onde a quantidade de precipitação em Fevereiro foi de 1.380 mm, quando a média dos últimos 30 anos era de cerca de 380 mm. «Isto dá quatro vezes mais aquilo que é normal. Vamos pensar, por exemplo, numa piscina particular que tenha 2,5 metros de profundidade numa ponta e 1 metro noutra. A quantidade de precipitação que foi registada no Areeiro, em Fevereiro, quase dava para enchê-la», explica o nosso interlocutor.
Neste início de 2010, a média é já de cerca de 600 mm, sendo o valor normal da precipitação no Funchal da ordem dos 610 mm. «Só nestes dois meses, estamos próximos daquilo que é normal»., prossegue.
Fevereiro rigoroso e muito severo - O máximo de precipitação anual na Região está, actualmente, nos 1.006 mm, registado em 1969. Questionado sobre a possibilidade de, em 2010, a Região aproximar-se destes valores, Victor Prior salienta que a época da chuva está quase a terminar, embora a partir de 1 de Outubro se inicie novo ano hidrológico, com Novembro e Dezembro associado. «Neste momento, ninguém sabe qual é que vai ser o futuro, mas teremos um ano que será muito acima do normal, seguramente», adverte.
Relativamente a esta última quinta-feira, o nosso interlocutor refere que os valores da precipitação registados entre as 15 horas e as 20 horas foram de 110 mm no Areeiro e 10mm no Funchal Entre as 9 horas de 4 de Março e as 9 horas de dia 5 de ocorreram 140,8 mm no Areeiro e 19 mm no Funchal.
Valores que estão dentro do previsto, embora a terra já não consiga absorver mais água. «Em Outubro já foram registados 100 mm, em Novembro quase 70 mm, em Dezembro 290 mm. Os solos já estão saturados e praticamente não permitem absorver mais água. Tudo aquilo que cai, neste momento, é em excesso», justifica.
Sobre as teorias que dizem que a Madeira está mais vulnerável a intempéries, Victor Prior diz que «estudos são estudos, teorias são teorias, mas nada me leva a crer que haja qualquer tipo de alteração no clima da Madeira».
Radar já tem processo a decorrer - Victor Prior continua a dizer que o radar meteorológico é um dos melhores instrumentos no que respeita à vigilância do estado do tempo, com duas a três horas de antecedência. Depois do que sucedeu a 20 de Fevereiro, refere mesmo que «justifica-se ter essa informação aqui na Madeira».
Ao JM revelou que, da parte do Observatório, já foi desencadeado o processo, assim como do Instituto de Meteorologia. «De acordo com informações o presidente do Instituto, também da parte do Ministério também já foi dado o acordo – não sei em que termos – para avançarmos já. Uma das coisas que me pediram - e já foi feito - foi o projecto de telecomunicações que é necessário para receber a informação de grande volume do radar, tanto para aqui como para Lisboa», contou.
A localização deste equipamento será no Porto Santo, dadas as caraterísticas da ilha. «Será um bom ponto para cobrir cerca de 200 km à volta do arquipélago», complementou.
Diz ainda que o próximo passo será o de contactar entidades regionais, por forma a ver como é possível ao Observatório ter um espaço para colocar um radar no Porto Santo. «Um obstáculo que será ultrapassado facilmente», acredita.
Anticiclone de regresso protege a Região - Os próximos cinco dias serão caracterizados por bom tempo. Poderão ocorrer aguaceiros pontuais e chuviscos, mas estarão essencialmente associados à orografia da Madeira, segundo Victor Prior.
«Não há nenhum alerta de tempo muito severo. Precipitação pontual e aguaceiros vão continuar a ocorrer, mas nada de grave. O vento nas zonas mais baixas poderá atingir os 70 quilómetros, sendo entre 90 a 100 km/hora nos pontos mais altos», especifica.
Esta situação fica a dever-se ao facto de o anticiclone dos Açores estar a regressar ao seu ponto normal, conforme explica. «A frente polar - linha que dá a volta ao globo no Pólo Norte a uma determinada latitude - desceu ligeiramente em relação aos outros anos, dando origem a esta passagem sucessiva de superfícies frontais de pressões que atingiram a Madeira de forma bastante severa. Esta frente já tem associada consigo as condições favoráveis para que se formem tempestades formadas sobre o Atlântico e que surgem de sudoeste. Podem ser mais ou menos graves de acordo com a temperatura do ar, da água do mar e da quantidade de água que trazem. Por sua vez, o anticiclone estava bastante a sul. Neste momento, está a tomar as suas dimensões e a sua realidade e aparentemente caminha para uma posição normal. Ao mesmo tempo, está formado um anticiclone com pressões bastante elevadas na zona da Grã-Bretanha. A partir de agora, a Madeira fica suficiente protegida», concluiu.
Celso Gomes
Fonte: Jornal da Madeira