Lince-Ibérico (Lynx pardinus)

belem

Cumulonimbus
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Belem,

a minha família tem vários caçadores, inclusive o meu pai já foi director de reservas de caça, e conheço muito bem a realidade do mundo cinegético no Algarve e Baixo Alentejo. Embora haja caçadores e associações que estão a tentar mudar a imagem do desporto, a realidade mostra o contrário, e em boa verdade as coisas não mudaram muito nos últimos trinta anos: os caçadores continuam a ser um dos maiores obstáculos à protecção da biodiversidade, pelo menos no Sul do país. Considera-se que os predadores, por se alimentarem das peças de caça, são um prejuízo para as reservas, que gastam dinheiro em plantações de trigo, vigilância, limpezas de terreno e bebedouros. Por isso garanto que há controlo de predadores, encapuçado, escondido, sim, há, e não pode continuar.

Sim, ainda há pouco tempo num forum de caça, vi um caçador admitir que matava as pegas-azuis, por exemplo. Claro que levou uma reprimenda exemplar de outros caçadores, mas sempre confirma o que dizes, na verdade há sempre alguém que faz controlo de predadores. E sim, não pode continuar... Eu explico, os predadores têm muito melhor olho que os caçadores, são eles os agentes de limpeza da floresta, com a qual vivem há muitos milhares de anos, atacando sobretudo os animais fracos ou doentes. Se for só o caçador a gerir uma coutada, passado uns tempos, já não há caça.
Agora claro que por vezes se deve gerir os excessos, mas a Natureza normalmente sabe lidar bem com isto, se há muita raposa ou mangusto, por alguma coisa deve ser, não deve ser certamente à pala das perdizes grandes e saudáveis ou dos coelhos sadios, mas antes de fontes alternativas, como roedores, restos do talho deixados em algum lado, animais doentes, etc...
Para todo o caso, a presença do lince-ibérico acabava com todos estes problemas, pois controlam de forma eficaz todos os animais abaixo da cadeia alimentar, com os quais se relacionam troficamente.
Conheço caçadores espanhois, que até protegem os linces das suas coutadas ( Doñana), para terem mais e melhores coelhos. Mas o problema é que a mentalidade dos caçadores varia... O ICN tem tentado alertar os caçadores da zona do Guadiana, com campanhas de sensibilização, mas sou um pouco céptico em relação a isto.
Por isso, algumas zonas, nem deviam ter licença de caça... O que até pode ser possível, baseando em fontes de rendimento alternativas.



Temos que encontrar uma forma de haver espaço para quem deseja a protecção da biodiversidade e para quem aprecia a caça. Temos cerca de 220 000 caçadores, mas aposto que o número de portugueses que deseja a protecção da sua fauna é largamente superior. Vivemos em democracia, e temos de encontrar uma forma de conjugar interesses opostos. .

Concordo perfeitamente.
A caça é uma actividade periférica, não tem a dimensão da agricultura como actividade económica primária no mundo rural e tem cada vez menos pessoas, isto comparando com anos anteriores.


Por tudo o que foi exposto, e tendo como exemplo a protecção e reintrodução do lince-ibérico, considero que a caça deve ser proibida em toda a Serra do Caldeirão e de Monchique, no Vale do Guadiana e em parte da região de Barrancos. O objectivo é que haja um corredor ecológico que vá desde a Costa Vicentina até à Serra Morena.

A serra algarvia tem poucas condições para a agricultura, é uma região de solos pobres e inclinados. A geografia da região é pouco propícia à fixação da população, não tenhamos ilusões. O melhor que há a fazer é apostar na produção de cortiça, alguma madeira, apicultura e turismo ambiental, muito turismo ambiental. A actual compartimentação da serra algarvia em reservas de caça é incompatível com a preservação do lince-ibérico, ponto final. Admito que possa haver reservas nas regiões menos propícias à presença do lince, por exemplo, em áreas do nordeste algarvio, zonas próximas do litoral, mais humanizadas. mas o coração da serra, como a Alcaria do Cume, Águas de Fusos, Barranco do Velho, Ameixial, Mu, Alferce, etc, essas zonas devem estar livres de actividade cinegética. .

Obrigado pelas referências que me dás, vou investigar um bocado sobre isso, embora já possa dizer que é possível esse corredor Costa Alentejana- Sierra Morena, tanto que ele já existe e devia ser melhor protegido.



E para quem quer argumentos económicos para tudo e mais alguma coisa, ficam aqui umas breves notas. Nunca vi um único turista estrangeiro a caçar em Portugal. Ao longo dos anos encontrei muita gente do Minho ou da região Centro que vinham ao Sul, alguns espanhóis, mas ingleses, alemães, holandeses, suecos, etc., nunca! Mas a fazer caminhadas nas nossas ribeiras, a observar aves na Ria Formosa ou no Sapal de Castro Marim, a passear de bicicleta no barrocal encontrei sempre às dezenas de turistas da Europa rica e civilizada. Já imaginaram quantos turistas poderíamos captar com a requalificação ambiental das serras algarvias? Com a reintrodução do lince-ibérico e de outras espécies que já estiveram presentes na região até tempos recentes, como o lobo-ibérico? .

Sem dúvida, já tenho reparado que o facto de termos espécies únicas na P. Ibérica atrae a atenção e a curiosidade de outras pessoas.
Penso que caminhadas para ver camaleões também deviam ser organizadas, sobretudo com a ajuda de guias e com o apoio de um centro de interpretação. Isto poderia dar mais postos de trabalho, era dinheiro melhor aplicado e um garante de um futuro mais sustentável.


Em suma, considero que a longo prazo a conservação do lince-ibérico em Portugal passa pela classificação da serra do Caldeirão e da serra de Monchique como áreas protegidas e a proibição da actividade cinegética na região. Acrescento ainda que serão necessárias outras medidas, como a avaliação das populações de coelho-bravo e uma vigilância eficaz, feita por pessoas que não sejam naturais do Algarve ou do Baixo Alentejo e de preferência biólogos.

Sei que as associações de caçadores têm uma enorme influência junto do poder político, e que as minhas medidas levantariam uma enorme contestação, mas faça-se um estudo sobre o tema, aposto que a maioria dos portugueses apoia a existência de áreas livres de caçadores e dedicadas á protecção do lince-ibérico; repito que vivemos em democracia e até agora a população que apoia a preservação da biodiversidade não tem sido ouvida, enquanto o lobby da caça tem ocupado parte substancial do território com reservas e recebe fortunas do dinheiro dos contribuintes.

Sem dúvida e até acho que há espaço para todos os interesses, tanto dos caçadores como da maior parte das pessoas.
Contudo, sem dúvida que certas zonas não poderão ser objecto de caça, porque existem interesses mais prioritários em torno da sua protecção.
Com alguma creatividade até se pode tornar mais económica uma gestão ambiental do que uma gestão cinegética.
A aposta no ecoturismo e nos produtos regionais, podem ser importantes trunfos.
 


Seattle92

Nimbostratus
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Nasceu mais uma cria de lince em Silves e está bem de saúde
08.04.2011
Helena Geraldes

Ainda não tem nome mas já se aguenta bem nas patas e tem um apetite voraz. Esta cria nasceu a 24 de Março e, de momento, é a única no centro de reprodução do lince-ibérico em Silves. Em Espanha há hoje 19 crias saudáveis, número que deixa antever um ano recorde nos esforços para salvar esta espécie da extinção.

Fruta vai fazer dois anos esta segunda-feira e já foi mãe. É a terceira fêmea que este ano deu à luz no Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro para o Lince-Ibérico (CNRLI). Biznaga e Fresa perderam as suas quatro crias. De momento, Azahar - o primeiro lince que chegou a Silves, a 26 de Outubro de 2009 - é a única com gravidez confirmada.

A cria de Fruta e Fresco, casal formado a 24 de Novembro do ano passado, tem “ritmos de aleitamento e actividades normais”, informou Sandra Moutinho, assessora de imprensa do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB). “Já começou a desprender as orelhas, a perder a ‘borra’ (pelagem neonatal) e mostra crescente coordenação de movimentos, já se aguentando nos seus próprios pés”.

Apesar de ser uma fêmea primeiriça e juvenil, Fruta – que chegou a Silves há apenas cinco meses, vinda do centro espanhol de El Acebuche, Doñana - “tem um cuidado extremo com a amamentação”, contou ao PÚBLICO. “Fruta acorda a cria de hora em hora para mamar quando está na caixa-ninho, e nunca sai mais de 2h40 da parideira”, acrescentou. “A actividade da cria é maior quando a Fruta demora mais a voltar ao ninho, o que é demonstrativo da saúde da cria e do comportamento adequado da Fruta. Sempre que a Fruta sai da caixa-ninho, a cria adormece e fica tranquila, sinal de que mamou e está satisfeita”.

Por estes dias, em plena época de cria, todos os cinco centros da rede ibérica de reprodução em cativeiro estão ao rubro. Iñigo Sanchez, coordenador do programa espanhol Ex-situ, revelou ao PÚBLICO esta quarta-feira que existem 19 crias vivas nos centros espanhóis. E esperam-se mais partos, incluindo em Silves. “Este número é magnífico, dado que supera em muito o recorde do programa, registado em 2009 quando tivemos 17 crias”, contou o responsável.

A morte de quatro crias no Centro da Herdade das Santinhas, em Silves, “não faz deste um ano mau”, salientou Iñigo Sanchez. “É preciso lembrar que este centro abriu há apenas ano e meio e que recebeu animais jovens e sem experiência reprodutora. O facto de todas as [oito] parelhas do centro terem copulado nesta temporada é um grande êxito e indicam que os animais se sentem bem lá”, comentou.

Ainda assim, é cedo para celebrar. Para a nova cria em Silves, sem irmãos, a fase mais crítica vai até aos 30 dias de idade. Durante este período, o animal “tem de desenvolver imunidade e aumentar uma percentagem significativa do seu peso diariamente”.

Para ajudar a que nada corra mal, é preciso “que o ambiente seja o mais tranquilo possível e que os animais se sintam confiantes”, explicaram os responsáveis do Centro. Há que “manter uma rotina mínima previsível e minimizar todas as tarefas extraordinárias”. Durante a época de cria, “intensifica-se a vigilância, medem-se comportamentos e as equipas preparam-se para potenciais intervenções”, de acordo com o protocolo definido.

A época de reprodução só é dada como terminada quando se der o desmame bem-sucedido de todas as crias nascidas e quando se ultrapassar a fase de luta entre crias da mesma ninhada.

A reprodução em cativeiro é uma solução de fim de linha para salvar uma espécie em extinção. O lince-ibérico Lynx pardinus, com pouco mais de 250 animais a viver em liberdade no planeta, tem o perfil perfeito. Ainda assim, o esforço não se fica por aqui. Em Espanha e Portugal procura-se recuperar o habitat para uma futura reintrodução de lince. Em Espanha já começaram a ser devolvidos animais à liberdade.

:thumbsup:
 

Seattle92

Nimbostratus
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Como se guardam 74 mil hectares de área protegida em Montesinho
23.04.2011

...

O pastor Jaime Maçaira, de 62 anos, surge de uma esquina na rua principal e António Vilela pára a carrinha. É mesmo com ele que os dois vigilantes querem falar no primeiro dia de uma nova missão no parque: procurar vestígios de lince-ibérico, o felino mais ameaçado do planeta.

“Ainda bem que o encontrámos”, cumprimenta Alexandre, fardado de verde, com um aperto de mão. “ Hoje viemos com uma missão específica. Disseram-nos que andavam para aqui uns animais que poderiam ser linces, do tipo gato grande. Viu alguma coisa?”, perguntou António, com os olhos franzidos por causa da luz do Sol. “Não sendo uns esquilozitos... não, não tenho visto. Ando por aí todos os dias mas nada me chamou a atenção.”

...

Durante este ano, o Parque Natural tem uma missão especial: cartografar e identificar locais com indícios do lince-ibérico, depois de terem chegado relatos à sede da área protegida, em Bragança. “Temos a suspeita da ocorrência de lince em Montesinho. Várias pessoas, em sítios diferentes, descreveram o animal tal e qual. Mas de concreto não temos nada”, explica António, já de novo ao volante da carrinha que avança devagar pelas ruas de Vilarinho. “Vamos falar com as populações e fazer trajectos à procura de indícios em zonas com nenhuma intervenção humana e perto dos locais onde as pessoas dizem ter visto lince.”

Depois de Vilarinho, os vigilantes seguem para os trilhos de terra batida das serras de Montesinho e Coroa, com poças de água, buracos e restos de neve.

Uma vez no coração da serra, os vigilantes param para procurar vestígios de lince. Em vez disso encontram pegadas de veado, corço, javali e gineta e excrementos de lobo.

...
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1491035

Interessante :)
 

DMigueis

Cumulus
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22 Jun 2011
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Aqui está uma boa oportunidade para o meu primeiro comentário aqui no fórum, e aproveito desde já para felicitar o mesmo, onde se discutem muito bem os assuntos relacionados com a Biosfera nacional! :)

Ainda não tinha conhecimento desta notícia, de possíveis observações de lince em montesinho, mesmo tendo alguma ligação com o Parque desde há dois anos para cá.
É uma notícia boa, que demonstra que Portugal tem boas condições para receber novamente espécies quase extintas ou em regressão no nosso território. Pena que algumas das espécies que se encontram em expansão resultem da melhor gestão que se faz em Espanha e que permite a expansão dessas espécies para território nacional, como é o caso do veado em Montesinho e no Tejo Internacional, e da cabra no Gerês, do caso da águia-real, abutres e cegonhas-negras, também em Montesinho, Douro Internacional, Tejo Internacional e Alentejo. Espero que as autoridades comecem a olhar para o potencial do território nacional e que comecem a gerir os recursos naturais com pés e cabeça, e não por interesses deste e daquele.
 

Seattle92

Nimbostratus
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Bem vindo.

Temos falado muito sobre esse tema. Efectivamente, muito do que de melhor tem acontecido em Portugal em termos de biodiversidade, apenas aconteceu devido ao esforço dos Espanhóis. É realmente triste...
 

Seattle92

Nimbostratus
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Más notícias. Raisparta esta espécie tão frágil :angry:

Hydra, a cria de Silves (2011), não sobreviveu

Hydra, a cria do CNRLI em Silves, filha de Fruta, teve o seu primeiro exame sanitário aos 34 dias de vida, no qual se detectou um peso considerado anormalmente baixo para uma cria da sua idade - 520g - , sendo o mínimo normal cerca de 800g, e uma ferida na região ventral do pescoço, provavelmente provocada pelo transporte pela mãe. Os linces transportam as crias abocanhando-as na região do cachaço, e Fruta terá ferido Hydra, devido à sua inexperiência, deslocando-a com frequência anormal. A ferida terá infectado e criado um abcesso subcutâneo.

Hydra, a cria assim chamada por pertencer à geração de linces da letra H, ano 2011, foi internada na sala de cria artificial para recuperação de peso, para diagnosticar as causas do seu fraco desenvolvimento durante o tempo que esteve sob os cuidados da mãe e, ainda, para administrar tratamento de desinfecção e cicatrização da ferida. Nos 43 dias que esteve internada, iniciou-se o desmame e introduziu-se carne combinada com a dieta normal de leite, que Hydra aceitou bem. Após a recuperação do peso para 1020g e total recuperação da ferida, regressou por períodos de 12 horas ao passeio contíguo ao cercado da mãe no dia 9 de Maio, de forma a manter uma interacção importante e facilitar e facilitar a futura união entre ambas. Enquanto se continuava a recuperação do peso em regime misto entre passeio e sala de cria, Hydra fez uma fractura do fémur esquerdo durante a noite na sala de cria sem que se tenha observado algum acidente ou comportamento estranho. A situação enquadrava-se com uma deficiência nutricional com distúrbio do metabolismo do cálcio pelo que se manteve o animal em espaço confinado, suplementando-se com vitamina D e cálcio e medicando-se para controlar a dor, como é prática comum em casos semelhantes.

A situação de Hydra evoluiu demonstrando maior mobilidade a cada um dos 14 dias de recuperação, mantendo bom apetite e continuando a ganhar peso, apesar de ter dificuldade em beber água sozinha, e mostrando níveis de actividade e comportamento normais para a sua idade.

Dia 8 de Junho detecta-se uma nova fractura, desta feita no fémur direito e a cria apresentou-se bastante prostrada. Foi medicada para a dor e aumentada a dose de cálcio e vitamina D dentro de doses seguras. No dia seguinte começou a apresentar posturas anormais e desencadeou um episódio de convulsões, que se detecta de imediato. Apesar de internada na clínica e de ter sido administrada medicação de emergência para controlar o episódio, acaba por morrer na sequência de uma série de convulsões mais fortes que levaram a uma paragem cardio-respiratória que não remitiu apesar de todas as tentativas de reanimação efectuadas na clínica do centro.

A necrópsia, realizada no Centro de Análises e Diagnóstico da Fauna Silvestre, em Espanha, confirmou o distúrbio de mineralização óssea, apesar de Hydra apresentar valores normais de cálcio no sangue, que estavam no seu limite superior. Aguardam-se com expectativa os resultados das análises da anatomia patológica que ajudem a explicar por que o animal, apesar de receber cálcio e vitamina D, tendo-os em valores aparentemente normais, não conseguia produzir tecido ósseo mineralizado.

Todas as decisões clínicas desta época de reprodução no CNRLI de Silves foram, tomadas em consonância com os veterinários e outros técnicos da rede de centros do Programa Ibérico de Reprodução em cativeiro de Lince-ibérico.

As mortes de crias no Programa de Reprodução Ibérico somaram nesta época de reprodução um total de 16, de entre os 40 que chegaram ao termo da gestação. Mantêm-se vivas 24 crias, o que se considera um valor habitual, tal como o número de fêmeas gestantes que este ano foi de 17. Duas crias foram manipuladas artificialmente mas serão submetidas a um maneio experimental que tem como objectivo que voltem a repartir as instalações da sua progenitora. As restantes crias vivem agora um período crítico do seu crescimento com uma fase agressiva típica em que travam lutas com irmãos, uma das quais se revelou já ser fatal este ano. Dada a necessidade de preparar novos animais para reintrodução na natureza só há intervenção humana nestas lutas quando existe grave risco de morte dos exemplares. Em geral as progenitoras experientes resolvem o conflito permitindo às crias continuar conjuntamente o seu crescimento e aprendizagens complexas, preparando-os da melhor forma para um dia encararem a vida na natureza.
http://linceiberico.icnb.pt/newsdetail.aspx?eid=441&menuid=26
 

belem

Cumulonimbus
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Aqui está uma boa oportunidade para o meu primeiro comentário aqui no fórum, e aproveito desde já para felicitar o mesmo, onde se discutem muito bem os assuntos relacionados com a Biosfera nacional! :)

Ainda não tinha conhecimento desta notícia, de possíveis observações de lince em montesinho, mesmo tendo alguma ligação com o Parque desde há dois anos para cá.
É uma notícia boa, que demonstra que Portugal tem boas condições para receber novamente espécies quase extintas ou em regressão no nosso território. Pena que algumas das espécies que se encontram em expansão resultem da melhor gestão que se faz em Espanha e que permite a expansão dessas espécies para território nacional, como é o caso do veado em Montesinho e no Tejo Internacional, e da cabra no Gerês, do caso da águia-real, abutres e cegonhas-negras, também em Montesinho, Douro Internacional, Tejo Internacional e Alentejo. Espero que as autoridades comecem a olhar para o potencial do território nacional e que comecem a gerir os recursos naturais com pés e cabeça, e não por interesses deste e daquele.

Concordo com tudo! :)
 

Seattle92

Nimbostratus
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Morte trágica de Lince-ibérico reintroduzido reacende polémica em torno do Controlo de Predadores


Três associações ambientalistas espanholas já pediram às autoridades do país vizinho que o caso seja investigado a fundo e que sejam suspensas todas as autorizações para a implementação do controlo de predadores até que sejam homologadas metodologias comprovadamente selectivas. Por seu lado, os caçadores acusam os ecologistas de serem os responsáveis por estar a atrasar este processo, que se estivesse concluído poderia ter evitado a morte do exemplar de lince-ibérico.

A morte recente de um exemplar de lince-ibérico do Programa de Reintrodução da espécie numa armadilha de caixa utilizada para o controlo de predadores em territórios de caça gerou uma onda da indignação entre os ambientalistas espanhóis, e reacendeu a polémica em torno desta prática, que os opõe aos caçadores.

Os ecologistas contestam o controlo de predadores, que é direccionado sobretudo às raposas, mas causa mais danos nas populações de outras espécies, nomeadamente de carnívoros. Este controlo é na maioria das vezes realizado com armadilhas de laço e de caixa que, sendo pouco selectivas, acabam frequentemente por vitimar exemplares de espécie não-alvo, muitas vezes ameaçadas, como é exemplificado por Grazalema, defendem os ambientalistas.

No passado dia 21 as associações de Ambiente Ecologistas en Acción, SEO/Birdlife e WWF consideraram a morte de Grazalema um caso muito grave, salientando o facto de pertencer a uma espécie que está a ser alvo de um plano de recuperação com um financiamento avultado.

Deste modo, exigem que o incidente seja investigado a fundo, tendo também pedido à Consejería de Agricultura que suspenda as autorizações para as acções de controlo de predadores até que sejam homologados métodos que sejam, garantidamente, selectivos.

Os ambientalistas referem que em Castela La Mancha, onde teve lugar a morte trágica de Grazalema, o uso de métodos de controlo de predadores é, devido à “política permissiva da Delegaciones de Agricultura”, generalizado apesar de ilegal.

As três ONGA fazem referência à lei 42/2007, e, em particular ao artigo 62.3a, que proíbe a utilização de procedimentos não-selectivos para a captura e morte de animais, e a obrigatoriedade de homologação dos métodos com base em critérios de selectividade e bem-estar estabelecidos em convenções internacionais, que ainda não aconteceu.

A APROCA – Asociación de Proprietários para la Gestión Cinegética y Conservación del Médio Natura, já reagiu às afirmações das associações dizendo que é devido aos entraves colocados pelos ecologistas que ainda não foram homologados os métodos de controlo dos predadores no país.

Se já o tivessem sido, teriam já tido lugar acções formativas que não só dariam a conhecer as metodologias que passaram nos testes de selectividade e bem-estar, entre as quais não estão as armadilhas de caixa, mas também as regras da sua utilização, uma das quais é a obrigatoriedade de verificação diária dar armadilhas, que teriam evitado a morte do exemplar de lince reintroduzido.

Os ambientalistas defendem que, em vez do controlo de predadores, se deve optar pelo controlo da predação, através da gestão de habitat, argumentando que, em zonas com habitats complexos, há uma comunidade de carnívoros variada e, consequentemente, uma diminuição da densidade da raposa.
http://www.iberlinx.com/index.php?o...trolo-de-predadores&catid=4:noticias&Itemid=7

Uns a trabalhar, para os outros estragarem :mad:
 

Seattle92

Nimbostratus
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Conservação do lince e abutre-preto ganha 5000 hectares no Alentejo
29.02.2012
Helena Geraldes

O lince-ibérico e o abutre-preto, duas das espécies mais ameaçadas de Portugal, ganharam 5000 hectares de refúgio no Baixo Alentejo, no âmbito de uma parceria para a sua conservação assinada na Herdade da Contenda.

Com mais de 5000 hectares, a Herdade da Contenda – gerida pela Câmara Municipal de Moura – vai ser alvo de uma série de medidas para “melhorar as condições de sobrevivência, alimentação e reprodução do lince-ibérico e do abutre-preto”, explicou Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e coordenador do projecto LIFE - Natureza “Habitat Lince Abutre”, iniciado em Janeiro de 2010.

O protocolo de parceria foi assinado em Dezembro e, nos próximos cinco anos, serão instalados ninhos artificiais de abutre-preto e um campo de alimentação para esta ave necrófaga, e implementadas medidas de melhoria do habitat para o coelho-bravo, presa do lince-ibérico (Lynx pardinus) e do abutre-preto (Aegypius monachus).

“A Contenda é um espaço muito especial”, contou ao PÚBLICO Eduardo Santos. “É considerada, há muito tempo, uma das melhores áreas de habitat para o lince-ibérico e para o abutre-preto. Está bem conservada e tem uma área geográfica com muito boa dimensão”, acrescentou.

Eduardo Santos lembrou que, na Contenda "são observados regularmente, em média, 20 abutres-pretos. A zona é usada por estas aves como área de alimentação e alguns já foram vistos a pernoitar no perímetro da herdade". Esta está localizada a 20 quilómetros de uma colónia de abutre-preto em Espanha com 100 casais. Além disso está próxima da Serra Morena, habitat de lince-ibérico.

Ainda assim, há trabalho a fazer, como conseguir que a população de coelho-bravo aumente. “De momento não existem grandes populações de coelho-bravo mas há um núcleo que tem potencial para crescer”, considerou.

A Contenda tem áreas de pinhal, montado e sobreiral e uma zona de caça nacional. "Dentro de poucos anos poderemos esperar ter abutres-pretos a nidificar na Contenda", disse Eduardo Santos.

O projecto LIFE Natureza “Promoção do Habitat do Lince-ibérico e do Abutre-preto no Sudeste de Portugal” é co-financiado a 75% pelo Programa LIFE da Comissão Europeia e tem um orçamento global de cerca de 2,6 milhões de euros. O Projecto, com duração de 4 anos, de Janeiro de 2010 a Dezembro de 2013, será implementado nas regiões de Mourão, Moura e Barrancos, do Vale do Guadiana e da Serra do Caldeirão, nas áreas da Rede Natura 2000 aí existentes.

Até ao momento, e além da Herdade da Contenda, o projecto já estabeleceu protocolos com propriedades privadas, totalizando cerca de 7000 hectares, com o objectivo de “promover a conservação da paisagem natural que serve de habitat” àquelas duas espécies Criticamente em Perigo, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Em Portugal, actualmente não se conhecem populações reprodutoras de lince-ibérico e em Espanha estima-se que existam apenas 200 indivíduos em duas populações. Quanto ao abutre-preto, depois de se ter extinguido como reprodutor nos anos 70, em 2010, quatro casais voltaram a nidificar em Portugal, na região do Tejo Internacional.
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1535862
 

belem

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Muito boas notícias.

E é verdade, que não se verifica reprodução de lince-ibérico, mas a sua presença no nosso país, tem sido confirmada.

E quem quiser colaborar com sobreiros ou azinheiras, para o projeto de Contenda, pode contatar o ICN, a LPN ou o projeto LIFE para esse efeito.
 

Brigantia

Cumulonimbus
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20 Jan 2007
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E é verdade, que não se verifica reprodução de lince-ibérico, mas a sua presença no nosso país, tem sido confirmada.

Fez em Fevereiro 1 ano após a confirmação oficial do avistamento de um lince na Culebra (mesmo ao lado de Montesinho).
Será que foi mesmo um erro?!!! Durante o último ano não se viram mais notícias da presença de linces nesta região.
 

belem

Cumulonimbus
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Fez em Fevereiro 1 ano após a confirmação oficial do avistamento de um lince na Culebra (mesmo ao lado de Montesinho).
Será que foi mesmo um erro?!!! Durante o último ano não se viram mais notícias da presença de linces nesta região.

Não te sei dizer ao certo...

Mas também ninguém tem andado a procurar por linces nessa zona ( foi um avistamente acidental), por isso se ninguém os viu no último ano, também não é de surpreender ( são animais muito difíceis de encontrar, mesmo quando são procurados propositadamente).