Aquecimento estratosférico repentino

Rainstorm

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Com um possível ou mesmo certa divisão do vórtice polar em dois núcleos, podemos assistir a algo bem diferente e mesmo inédito do que estamos habituados:D

Que podem acrescentar ou falar sobre este evento?
 


Paulo H

Cumulonimbus
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2 Jan 2008
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Com um possível ou mesmo certa divisão do vórtice polar em dois núcleos, podemos assistir a algo bem diferente e mesmo inédito do que estamos habituados:D

Que podem acrescentar ou falar sobre este evento?

Apesar de não ser nenhum expert na matéria, posso dizer que com um vortice bipartido, o jet-stream pode descer mais em latitude, pois irá ondular mais (serpentear).

O que é que isto implica para nós aqui na península ibérica? Significa tudo e nada! :) Isto é.. depende para onde descaia o jet-stream e até que latitude pode descer! Imagina que nos calha um anticiclone dos açores a servir de barreira, nesse caso de pouco nos vale os efeitos do vortice bipartido, pois pode calhar a sorte à costa este dos estados unidos e canadá (o costume)!

Mas pronto, regra geral significa uma mudança de padrão na circulação. Mas nunca podemos afirmar com certeza o que vai ocorrer, pois existem muitos outros indicadores ou teleconexões a ter em conta!

Mas por agora os possíveis efeitos ou mudanças, só chegarão na 2a quinzena de janeiro. Depois do dia de reis, mais tardar dia 10, já poderemos afirmar com mais segurança a tendência mais provável.
 

Agreste

Furacão
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Não parece tão promissor como o de 1985 e muito menos espectacular como o de 2009. Mas está a andar bem.

As consequências são já bem conhecidas destes eventos. Circulação muito mais baixa, quase parada durante alguns dias. Não sabemos se seremos afectados por baixas pressões de oeste ou de este. O anticiclone dos açores tenderá a subir bastante de latitude ficando fora da sua posição também durante alguns dias...
 

Rainstorm

Nimbostratus
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Não parece tão promissor como o de 1985 e muito menos espectacular como o de 2009. Mas está a andar bem.

As consequências são já bem conhecidas destes eventos. Circulação muito mais baixa, quase parada durante alguns dias. Não sabemos se seremos afectados por baixas pressões de oeste ou de este. O anticiclone dos açores tenderá a subir bastante de latitude ficando fora da sua posição também durante alguns dias...

Que queres dizer com circulação muito mais baixa??

Já agora será que alguém me podia explicar como se dá um rompimento do vórtice polar??
 

Agreste

Furacão
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29 Out 2007
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quero dizer 2 semanas com passagens sucessivas de sistemas frontais... e para isso basta verificares os mapas de janeiro-fevereiro de 2009.
 

Paulo H

Cumulonimbus
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quero dizer 2 semanas com passagens sucessivas de sistemas frontais... e para isso basta verificares os mapas de janeiro-fevereiro de 2009.

Se não houver nenhum AA a bloquear, sim.. Mas não é possível ocorrer a passagem de sucessivos sistemas frontais durante 2 semanas, por toda a nossa latitude, em todo o globo terrestre simultaneamente. Embora a questão do vortice polar, se aplique ao hemisfério norte, as consequencias não serão as mesmas!

Poderão ser, e vão! Temos de ter esperança! :p
 

stormy

Super Célula
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7 Ago 2008
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Os aquecimentos estratosfericos dão-se geralmente nos bordos do vortice polar, a latitudes entre os 45 e os 65º, onde ocorrem a maioria das baixas pressões subpolares.

Os aquecimentos comecam em regioes onde há bloqueios troposfericos associados a ondulacoes do jet com amplitudes grandes, que causam fricção entre o fluxo troposferico e o fluxo, muito mais estavel, na estratosfera.
Essa fricção actua sobre a base da Estratosfera gerando o aquecimento do ar nessas regiões, que pode ser muito rapido e violento devido á fraca densidade do ar.

Quando o ar aquece na estratosfera expande-se e devido á força de coriolis adquire uma rotação anticiclonica, inversa á do VP.

Depois a circulação do VP começa a distorcer-se ao interagir com essa anomalia, e o vortice desintegra-se...entretanto, esse processo extende-se da Estratosfera de volta para a Troposfera nas latitudes altas, e todo o vortice polar desde os niveis baixos até á media/baixa Estratosfera ( ~10hpa) se desintegra.

Este processo causa uma distenção da célula de circulação polar ( ver- Circulação Geral da Atmosfera), empurrando o jet para sul, onde vai encontrar ar energético latitudes anormalmente baixas ( 25-35ºN) e muitas vezes fundir-se com o Jet subtropical....este comportamento induz mais ciclogeneses intensas a latitudes médias e tende a causar extensos bloqueios e ainda mais aquecimento estratosferico.
 

Agreste

Furacão
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Um MMW decente com altas pressões a penetrarem até ao polo...

ecmwf100f240.gif


e a onda 2 quer tentar atingir o nível da onda 2 em janeiro de 85 mas em princípio será mais fraca...

ecmwfzmha2f240.gif


timepreswave2meanallnh1.gif
 

stormy

Super Célula
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O tema é muito complexo mas é estranho sugerires que o processo se realimenta... As ondas que assaltam a estratosfera são pulsos nas regiões tropicais e estão ligados à fase este da QBO.

http://ugamp.nerc.ac.uk/hot/ajh/qbo.htm

A QBO é outra coisa, não tem a ver com os SSW´s propriamente...a QBO é um ciclo da circulação estratosferica...a circulação estratosferica é complexa e mais "estranha" que a circulação Troposferica, e tem a caracteristica de por vezes se fazer no sentido E-W e outras no W-E, e isso impacta no vortice polar porque o vortice tem sempre uma circulação W-E, pelo que quando a estratosfera tropical está na fase E-W ocorre fricção entre as duas circulações, que desestabilizam o VP.
 

David sf

Moderação
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8 Jan 2009
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Oeiras / VN Poiares
Os aquecimentos estratosféricos são ainda muito discutidos na comunidade científica, sendo que os seus efeitos nos níveis mais baixos são ainda mais polémicos.

A importância destes eventos, que ocorrem quase todos os invernos, é que permitem um bloqueio a larga escala da circulação zonal (circulação de depressões entre os 40º e os 60º, no sentido oeste-este). Esse tipo de circulação acaba por ser desinteressante no nosso inverno, originando alguma precipitação a norte e tempo mais seco a sul, com temperaturas acima da normal. Portanto, sempre que esta circulação é bloqueada, a probabilidade de assistirmos a um bom evento aumenta bastante (mas não é 100% certo que isso ocorra).

A nível estratosférico (camada exterior da atmosfera), as diferenças entre uma situação normal com o vórtice polar (VP) relativamente centrado no pólo e uma situação anormal de bilocação do VP, em locais distantes do pólo, pode ser exemplificado nas seguintes cartas dos ECMWF, para os 30 hpa. A primeira, referente ao dia de hoje, mostra uma situação típica de circulação zonal, se bem que ligeiramente desfasada do pólo, e a segundo, para daqui a uma semana, mostra uma bilocação do VP, com um núcleo na Euroásia, e outro na América do Norte:

m9Qai.gif


Bf4IQ.gif


No primeiro caso, a circulação a 30 hpa ocorre, num circulo fechado em sentido anti-horário, em torno do ponto de menor pressão, como ocorre nos sistemas depressionários típicos na troposfera. No segundo caso, há dois núcleos de circulação fechados, o que favorece uma diminuição, ou até mesmo uma inversão do fluxo zonal nos níveis mais baixos. Veja-se a diferença das velocidades da circulação zonal para os dois momentos referidos nas cartas acima (a vermelho, valores positivos, circulação de oeste, a azul, valores negativos, circulação de este):

VkU4y.gif


fpoci.gif


Para que haja implicações à superfície é necessário que a diminuição da velocidade da circulação zonal, ou a sua inversão, atinja os níveis mais baixos. Empiricamente, tendo por base situações passadas, essa propagação geralmente ocorre, e costuma afectar os níveis mais baixos, cerca de 2 ou 3 semanas após o aquecimento estratosférico (SSW).

Mas, se formos a ver situações passadas, houve alguns SSW que não tiveram expressão à superfície. Outros, como o de 2009, em que houve expressão à superfície, mas o anticiclone dos Açores forte fez com que não afectasse em nada a Península Ibérica. Isto também depende do local onde ocorre o SSW no círculo polar. Outros houve em que tudo correu bem, e fomos afectados por entradas frias de este ou norte (a maior parte dos casos) ou por uma circulação zonal a latitudes mais baixas.

Como exemplos de SSW que "correram bem", temos o de 2010:

http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/2010_01_31.gif

LjO7T.png


O de 1985:

http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/1985_01_03.gif

k6ojH.png


E mais recentemente, o de 2012:

http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/2012_01_17.gif

9kEvg.png


Como exemplo de um SSW que passou-nos ao lado, afectando fortemente a Itália, o de 2009 (não sei se pode ter a ver, com o facto de a bolsa estratosférica mais quente ter ficado na vertical da Península Ibérica):

http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/2009_01_29.gif

Y6JRW.png



E por fim, um exemplo em que o SSW não teve grande expressão à superfície, 1988:

http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/1987_12_12.gif

fvYyd.png