Há pouco nevou um bocado, mas era neve muito molhada e só foi curta duração. Sigo com temperatura pouco acima dos 0ºC novamente. Entrou uma massa mais fria em altitude e a humidade desceu um pouco. Tudo facilitou o regresso da neve, embora pouca.
Como podem ver, a relação humidade-temperatura na previsão de neve é bastante fiável. Com humidade elevada, acima dos 80%, geralmente só começa a cair neve abaixo dos +1ºC ou mesmo exactamente aos 0ºC (quando a humidade é muito elevada). Com humidade mais baixa, à volta dos 60-70%, a neve já pode cair aos +3ºC. Ao longo dos meus vários anos de seguimento metereológico, esta tendência têm-se aplicado tanto em Portugal como aqui na Islândia, ou tal como quando vivia na Áustria.
O outro factor é a temperatura em altitude. Se houver ar quente em altitude, associado a entradas de sudeste, sul, sudoeste ou mesmo oeste (frentes quentes), geralmente chove, inclusivé com temperatura à volta ou até abaixo dos 0ºC (ou geralmente começa com neve intensa, passando gradualmente a chuva, à medida que a temperatura sobe). Se houver muito ar frio instalado à superfície, então só costuma cair neve. Este tipo de comportamento costuma ser fácil de prever na prática diária.
Ar frio em altitude, geralmente associado a entradas polares do quadrante norte, é muito mais fácil para neve, mas essas massas de ar costumam ser mais secas, e tal como em Portugal, quase toda a precipitação fica retida nas montanhas do norte da Islândia.
E é com isto, que digo sempre que realmente é díficil nevar em Portugal. Vejo frequentemente muito optimismo para os episódios de neve, mas geralmente entradas de oeste dificilmente resultam em neve, somente entradas de noroeste ou norte ou até de leste, com ar polar associado (mas geralmente são massas que rapidamente trazem ar mais seco). Isto aplica-se à maioria da Europa. Podemos verificar uma entrada de leste nos últimos dias em Paris e Londres, que resultou em intensos nevões. Em Portugal essas massas chegam quase secas. Já as entradas de noroeste são mais promissoras, embora necessitem de ar bastante frio em altitude ou instalado à superfície. Já as entradas de norte costumam ficar retidas na Galiza, mas no resto da Europa resultam muito facilmente em nevões copiosos.
Este inverno tenho reparado que têm havido um fluxo quase constante de entradas de sudoeste, e as entradas de norte têm sido muito menos frequentes do que o habitual. Tudo isto têm resultado num inverno quase recorde na sua ausência de neve na Islândia.
Sigo com +4C e chuva forte hoje, após máxima de 0ºC durante a manhã. Mais uma frente que recusou trazer qualquer neve. E o Inverno continua assim, sem ser inverno.