Previsões médio prazo (até 2 semanas) - Dezembro 2020

microcris

Cumulus
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11 Set 2017
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Arouca / Gafanha da Nazaré
Ainda é a mais de 190h, mas era bom que acontecesse. Preciso de tempo frio para matar o porco, tenho lá um bicho com 2 anos porque no ano passado (quase que) nem deu para formar geada.
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Mr. Neves

Cumulonimbus
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Bom dia

Os modelos estão de facto interessantes, em relação ao próximo fim-de-semana faltam ainda acertar várias/muitas agulhas para um evento ideal. A complexidade deste tipo de situações é sempre grande e de algum modo "antagónica". Se por um lado desejamos ar seco e frio para que os flocos de neve sobrevivam mais tempo e ao longo de um perfil atmosférico mais alargado, por outro precisamos de ar húmido o suficiente para que possa ocorrer precipitação...

As semelhanças entre GFS e ECMWF são algumas nomeadamente no que toca à chegada de uma massa de ar continental durante a próxima semana o que nos traria imensas de horas de frio instalado. Porém não há um consenso muito firme para já nos episódios de precipitação.

Relativamente à possibilidade de neve a cotas baixas no próximo fim-de-semana:

O fim de semana deve marcar um processo de transição para ar com traços de maior secura. A bordo da massa continental irá desenvolver-se uma depressão pelo golfo da Biscaia que nos trará um fluxo do quadrante N nos vários níveis da atmosfera. O que se passa é que esta não é a posição nem o contexto que mais favorece uma situação de neve a cotas baixas.
OOrR69h.jpg


Em primeiro lugar porque se se gerar um fluxo predominantemente de Norte, isso irá limitar a chegada de precipitação devido à barreira orográfica que constitui a cordilheira cantábrica, algo que não seria colmatado, tão pouco pelas correntes de jato que não assumem uma circulação compatível (as correntes de jato intensas costumam ajudar a precipitação na transposição destas montanhas).

Em segundo lugar, porque um fluxo de norte não é um fluxo de leste e embora tenha a sua quota parte de ar seco associado, acaba por introduzir sempre uma componente húmida, o que de resto limita os fenómenos de arrefecimento evaporativo. Isto implica que atmosfera tenha que se encontrar bastante mais fria para compensar este efeito, recorde-se sempre que num processo de arrefecimento evaporativo o perfil seco dos níveis médios da atmosfera possibilita a passagem ao estado gasoso dos cristais de neve (processo endotérmico), baixando a temperatura do ar envolvente.

Fluxo do quadrante N (níveis médios):
78-314SP_hvk6.GIF


Tendo por base o último ponto fazemos a pergunta, e que frio há em altitude?

Tanto GFS como ECMWF parecem estar bastante em acordo para valores na ordem dos -3ºC aos 850hPa e valores a rondar os -30ºC aos 500hPa especialmente na região norte. Estes valores por si não possibilitam cotas de neve muito baixas, porém atendendo a que a massa de ar não será totalmente húmida, atendendo a que ainda haverá algum frio acumulado à superfície (especialmente no interior) e que a espessura da atmosfera parece decrescer significativamente na noite de sábado para domingo, julgo que podem ocorrer surpresas particularmente na região norte e eventualmente em zonas mais próximas ao litoral.

A acrescer a tudo isto espero sinceramente que a precipitação possa ocorrer durante a noite, porque de outro modo a radiação diurna pode comprometer em larga escala todo o possível evento.

Repare-se nos níveis baixos da iso 0 nessa noite mostrados pelo GFS:
7e6LMl7.gif


Redução da espessura atmosférica para valores próximos a 530DAM:
126-21SP_ghr3.GIF


Temperaturas aos 850hPa, 700hPa e 500hPa (GFS):
IeuPZgz.png

Y2z7AcP.png

Muito frio nos níveis médios também:
AOIrFTe.png


O problema reside como sempre na precipitação, é que se o GFS ainda prevê alguma precipitação nessa noite, o ECMWF está muito mau, teremos que aguardar as próximas saídas. Por esta ordem de ideias a nevar em cotas baixas não espero grandes acumulações, para não dizer sem acumulação.

Ausência de precipitação para já pelo ECMWF:
VZxnpJq.jpg


Repare-se ainda que a precipitação que eventualmente pudesse ocorrer nesta noite teria um caráter mais estratiforme, ou seja não há grande convergência que possa criar células esporádicas. Por um lado este tipo de precipitação pode ser vantajoso porque a reduzida influência dos movimentos verticais faz com que a neve dependa em menor escala das temperaturas mais baixas em altitude.
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Última edição:

Ricardo Carvalho

Cumulonimbus
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Mr. Neves

Cumulonimbus
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Bom dia

Os modelos estão de facto interessantes, em relação ao próximo fim-de-semana faltam ainda acertar várias/muitas agulhas para um evento ideal. A complexidade deste tipo de situações é sempre grande e de algum modo "antagónica". Se por um lado desejamos ar seco e frio para que os flocos de neve sobrevivam mais tempo e ao longo de um perfil atmosférico mais alargado, por outro precisamos de ar húmido o suficiente para que possa ocorrer precipitação...

As semelhanças entre GFS e ECMWF são algumas nomeadamente no que toca à chegada de uma massa de ar continental durante a próxima semana o que nos traria imensas de horas de frio instalado. Porém não há um consenso muito firme para já nos episódios de precipitação.

Relativamente à possibilidade de neve a cotas baixas no próximo fim-de-semana:

O fim de semana deve marcar um processo de transição para ar com traços de maior secura. A bordo da massa continental irá desenvolver-se uma depressão pelo golfo da Biscaia que nos trará um fluxo do quadrante N nos vários níveis da atmosfera. O que se passa é que esta não é a posição nem o contexto que mais favorece uma situação de neve a cotas baixas.
OOrR69h.jpg


Em primeiro lugar porque se se gerar um fluxo predominantemente de Norte, isso irá limitar a chegada de precipitação devido à barreira orográfica que constitui a cordilheira cantábrica, algo que não seria colmatado, tão pouco pelas correntes de jato que não assumem uma circulação compatível (as correntes de jato intensas costumam ajudar a precipitação na transposição destas montanhas).

Em segundo lugar, porque um fluxo de norte não é um fluxo de leste e embora tenha a sua quota parte de ar seco associado, acaba por introduzir sempre uma componente húmida, o que de resto limita os fenómenos de arrefecimento evaporativo. Isto implica que atmosfera tenha que se encontrar bastante mais fria para compensar este efeito, recorde-se sempre que num processo de arrefecimento evaporativo o perfil seco dos níveis médios da atmosfera possibilita a passagem ao estado gasoso dos cristais de neve (processo endotérmico), baixando a temperatura do ar envolvente.

Fluxo do quadrante N (níveis médios):
78-314SP_hvk6.GIF


Tendo por base o último ponto fazemos a pergunta, e que frio há em altitude?

Tanto GFS como ECMWF parecem estar bastante em acordo para valores na ordem dos -3ºC aos 850hPa e valores a rondar os -30ºC aos 500hPa especialmente na região norte. Estes valores por si não possibilitam cotas de neve muito baixas, porém atendendo a que a massa de ar não será totalmente húmida, atendendo a que ainda haverá algum frio acumulado à superfície (especialmente no interior) e que a espessura da atmosfera parece decrescer significativamente na noite de sábado para domingo, julgo que podem ocorrer surpresas particularmente na região norte e eventualmente em zonas mais próximas ao litoral.

A acrescer a tudo isto espero sinceramente que a precipitação possa ocorrer durante a noite, porque de outro modo a radiação diurna pode comprometer em larga escala todo o possível evento.

Repare-se nos níveis baixos da iso 0 nessa noite mostrados pelo GFS:
7e6LMl7.gif


Redução da espessura atmosférica para valores próximos a 530DAM:
126-21SP_ghr3.GIF


Temperaturas aos 850hPa, 700hPa e 500hPa (GFS):
IeuPZgz.png

Y2z7AcP.png

Muito frio nos níveis médios também:
AOIrFTe.png


O problema reside como sempre na precipitação, é que se o GFS ainda prevê alguma precipitação nessa noite, o ECMWF está muito mau, teremos que aguardar as próximas saídas. Por esta ordem de ideias a nevar em cotas baixas não espero grandes acumulações, para não dizer sem acumulação.

Ausência de precipitação para já pelo ECMWF:
VZxnpJq.jpg


Repare-se ainda que a precipitação que eventualmente pudesse ocorrer nesta noite teria um caráter mais estratiforme, ou seja não há grande convergência que possa criar células esporádicas. Por um lado este tipo de precipitação pode ser vantajoso porque a reduzida influência dos movimentos verticais faz com que a neve dependa em menor escala das temperaturas mais baixas em altitude.
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Bom, caso típico para dizer que fiz a festa, deitei os foguetes e apanhei as canas... Enfim as mínimas possibilidades que existiam de neve no Domingo esfumaram-se literalmente nas últimas horas. A depressão foi completamente arrumada para o mediterrâneo e com isso termina qualquer hipótese de precipitação.

Cá fica o ensemble médio com a nova posição mais provável:
gens-31-1-72_ibu0.png


Creio que a causa desta grande alteração está no comportamento do jet que de alguma forma inicialmente constituiria um bloqueio à passagem da depressão para o mediterrâneo:
Antes:
gfs-5-120_nec0.png

Atualmente:
gfs-5-72_qum1.png
 

David sf

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8 Jan 2009
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Oeiras / VN Poiares
A confirmarem-se as previsões tanto do GFS como do ECMWF (fortemente alicerçadas nos respectivos ensembles) deveremos ter a partir de hoje um período de 9 a 10 dias, pelo menos, com a iso 0 a 850hpa a cobrir todo o Portugal continental. A isto junta-se circulação quase sempre continental e pouco vento, o que ajudará a potenciar as mínimas. Não tenho memória de um período tão longo de frio consecutivo (e poderia juntar os últimos dias, a maioria do Interior Norte e Centro registou mínimas negativas em 5 dos 6 últimos dias). Provavelmente será preciso recuar a fevereiro/março de 2005 para termos algo semelhante, mas mesmo assim duvido que tenha durado tanto tempo.

Quanto a possíveis surpresas é ir vendo dia a dia. Haverá quase sempre muito frio em altura (-30 a -35ºC a 500 hpa) o que poderá originar precipitações localizadas. O cenário de nevão com entrada de Sul parece estar descartado; uma ciclogénese na costa Ocidental na 3ªf ou 4ªf pode acontecer, uma vez que haverá muita instabilidade e esse parece ser para já o melhor cenário para termos uma situação generalizada de neve e não apenas aguaceiros esporádicos, mas neste momento nenhum modelo o prevê. O mais provável é que seja uma entrada fria maioritariamente seca, mas com janela aberta para surpresas em forma de pequenos "nevinhos" localizados. No Interior Norte amanhã e sábado há alguns modelos a preverem aguaceiros...
 

Mr. Neves

Cumulonimbus
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22 Jan 2013
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Tondela-290m
O problema apesar de tudo mantém-se no posicionamento da depressão que refiro no post anterior estando agora o foco virado a partir de segunda feira. Mas honestamente é mesmo difícil fazer qualquer tipo de análise, a desorientação modelística continua grande.

Veja-se o ensemble aqui para a zona de Viseu, onde a grande incógnita continua sobretudo na precipitação, aos 850hPa o cenário parece bastante mais resolvido em termos de temperaturas, e que de resto em termos de temperatura em altitude será até mais esta camada que nos importaria e não tanto aos 500hPa visto que estaremos a falar de um possível evento em que um dos fatores mais decisivos é o arrefecimento evaporativo que ocorre nos níveis médios/baixos através de um fluxo de leste. Muito embora o frio em altitude mais elevada possa ser um ingrediente interessante para gerar movimentos verticais e auxiliar algum mecanismo convergente que possa desencadear outros núcleos depressionários na nossa costa...
graphe_ens3_ekf0.gif


Mas veja-se também a desbaratinação do GFS no que toca ao geopotencial, onde o cenário que mais nos interessaria seria o da run de controle, cenário que está um pouco desfasado da média:
graphe_ens4_rjp5.gif


Comparando os ensembles médios do GFS e do ECMWF, bom curiosamente as diferenças até nem são muitas... Estas cartas preocupam-me porque as áreas de mais baixo geopotencial parecem querer centrar-se mais longe de PT e isso traz até nós menos instabilidade e uma atmosfera mais espessa. Nestas cartas não há qualquer tendência para que se venha a formar alguma ciclogénse na nossa costa, mas também isso pode dever-se à sua resolução, afinal estaríamos sempre a falar de alguma depressão muito localizada. Com isto e tal como o Davidsf diz, o cenário de um nevão generalizado a cotas baixíssimas desaparece literalmente...

gens-31-1-120_agr5.png

EDM1-120_oib4.GIF



A última saída operacional do ECMWF não está má, não nos traria o famoso evento com fluxo de sul, mas coloca-nos baixos geopotenciais e abre a hipótese para a formação de algum núcleo depressionário na nossa costa, o GFS também vê alguma instabilidade costeira apesar de que em momentos distintos face ao ECMWF. Este núcleo para além de nos trazer precipitação seria um importante reforçador da corrente de ventos de leste ajudando à manutenção do frio e vida dos cristais de neve:
KHbikIz.jpg

Carta com mais detalhe do ECMWF:
B0twuSF.jpg


GFS:
jEgDd67.jpg


A possibilidade da formação desta ciclogénese pode ser a grande chave para termos um evento de um não evento e análise da sua formação requer esperarmos por mais algumas saídas e eventualmente por modelos de mesoescala.
 
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"Charneca" Mundial

Super Célula
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Eu ainda não perdi as esperanças ao nível da precipitação...
sqMHlPQ.png


Estão a ver aquela depressão no Golfo de Cádis, no dia 5? Se aquilo viesse um pouco mais para norte, seria animação garantida para a metade sul do país em geral. :rain: De facto, o ensemble do ECMWF demonstra uma enorme incerteza ao nível dos acumulados a sul, para esse período. Vejamos:
Tavira (até dia 9)
  • Máximo: 87,5 mm
  • Percentil 90: 68,9 mm
  • Mediano: 20,1 mm
  • Percentil 10: 0,4 mm
  • Mínimo: 0,2 mm
  • Saída operacional: 10,7 mm
Veremos o que acontece! :pray:
 

VimDePantufas

Nimbostratus
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10 Fev 2014
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Eu ainda não perdi as esperanças ao nível da precipitação...
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Estão a ver aquela depressão no Golfo de Cádis, no dia 5? Se aquilo viesse um pouco mais para norte, seria animação garantida para a metade sul do país em geral. :rain: De facto, o ensemble do ECMWF demonstra uma enorme incerteza ao nível dos acumulados a sul, para esse período. Vejamos:
Tavira (até dia 9)
  • Máximo: 87,5 mm
  • Percentil 90: 68,9 mm
  • Mediano: 20,1 mm
  • Percentil 10: 0,4 mm
  • Mínimo: 0,2 mm
  • Saída operacional: 10,7 mm
Veremos o que acontece! :pray:
Tens toda a razão na tua análise, veremos mas que choverá disso não tenho quaisquer dúvidas, mas enfim todos os anos a mesma coisa, a n/posição geográfica de nada nos ajuda, temos que ter calma e agradecer sempre que caem dois pingos de neve, sempre assim foi e sempre assim continuará a ser .
 

dvieira

Nimbostratus
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22 Mar 2017
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Fátima (349 m)
Continente
Previsão para 2ª feira, 4.janeiro.2021

Tempo frio, com períodos de céu muito nublado.
Aguaceiros fracos no litoral oeste, estendendo-se gradualmente
às regiões do interior Centro e Alto Alentejo, podendo ser de neve
acima dos 800/1000 metros no final do dia.
Vento fraco, soprando fraco a moderado (até 30 km/h) do quadrante
oeste nas terras altas da região Sul.
Neblina ou nevoeiro matinal em alguns locais.
Formação de gelo ou geada, em especial no interior.

METEOROLOGISTA(S):
Madalena Rodrigues

Atualizado a 31 de dezembro de 2020 às 14:50 UTC

Como sempre o IPMA sempre modesto quanto á cota da neve. Apenas em cima do acontecimento vai revendo suas previsões.
 

c0ldPT

Nimbostratus
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20 Out 2017
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Gandra, Paredes (132 m) | Foz, Porto (35 m)
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Previsão para 2ª feira, 4.janeiro.2021

Tempo frio, com períodos de céu muito nublado.
Aguaceiros fracos no litoral oeste, estendendo-se gradualmente
às regiões do interior Centro e Alto Alentejo, podendo ser de neve
acima dos 800/1000 metros no final do dia.
Vento fraco, soprando fraco a moderado (até 30 km/h) do quadrante
oeste nas terras altas da região Sul.
Neblina ou nevoeiro matinal em alguns locais.
Formação de gelo ou geada, em especial no interior.

METEOROLOGISTA(S):
Madalena Rodrigues

Atualizado a 31 de dezembro de 2020 às 14:50 UTC

Como sempre o IPMA sempre modesto quanto á cota da neve. Apenas em cima do acontecimento vai revendo suas previsões.
Sabemos bem que há frio para cotas bem inferiores, mas é bom sinal que falem em precipitação