Bom dia,
A explicação para o nevoeiro de Terça-feira vem hoje no jornal Diário Insular:
"Nem tudo o que parece é. As brumas que na terça-feira pareciam antever o regresso de D. Sebastião, eram afinal nuvens formadas por poeiras do Saara e dióxido de enxofre, segundo Félix Rodrigues.
Afinal, o nevoeiro que assolou, na terça-feira, as ilhas do grupo central não era nevoeiro, mas poeiras do Saara, associadas a dióxido de enxofre.
A Terceira acordou debaixo de um manto branco, num dia de sol. O nevoeiro a que as ilhas estão tão habituadas parecia, no entanto, diferente dos outros dias.
Félix Rodrigues, doutorado em Ciências do Ambiente e especialista em Poluição, também achou o nevoeiro estranho.
O investigador da Universidade dos Açores chegou à conclusão de que se tratava afinal de uma concentração de poeiras do Saara muito finas, associadas a dióxido de enxofre.
Entre o fim do inverno e o início da primavera, é habitual o transporte de poeiras de Saara para os Açores, mas normalmente não se formam nuvens, como aconteceu esta terçafeira.
Segundo Félix Rodrigues, o impacto visual das poeiras verificado só foi possível porque estavam reunidas várias condições de pressão e temperatura.
Até ao final da primavera, é provável que voltem a ser transportadas poeiras do Saara para os Açores, mas dificilmente se voltarão a formar nuvens, até porque é mais fácil que isso ocorra no inverno.
Para que tal aconteça, é preciso que a humidade relativa do ar seja elevada.
Na terça-feira, estava a 100%. A pressão deve ainda ser constante e não deve haver ventos.
Por outro lado, as partículas transportadas têm de ser “muito finas”, com diâmetro inferior a um micrómetro, e em grandes quantidades.
À massa de ar do norte de África que transportava as poeiras do Saara, juntou-se uma massa de ar da Europa, com uma concentração elevada de dióxido de enxofre, o que provocou o fenómeno curioso nas ilhas do grupo central.
Segundo o especialista em Poluição, ao caírem sobre a superfície, as poeiras vão formando vapor e surge uma espécie de “nuvens à superfície”.
Aumento da poluição
Apesar da beleza das nuvens sobre as paisagens das ilhas, que motivou inúmeras fotografias, o fenómeno é de facto uma mistura de poluição de origem antrópica com poluição natural.
Por enquanto, os valores apresentados não são preocupantes, segundo Félix Rodrigues, mas a tendência é para que aumentem.
“Não tem impactos em termos de saúde pública, mas se fosse mais elevado, poderíamos ter um evento de poluição extrema”, explicou Félix Rodrigues.
Todos os anos se repete com maior ou menor intensidade o transporte de poeiras do Saara para os Açores, mas normalmente os valores de partículas transportadas estão dentro do aceitável.
A situação mais preocupante verificou-se em 2000, ano em que chegaram à Região 120 microgramas por metro cúbico de partículas de maior dimensão.
Nas partículas menores (até 2,5 micrómetros) é recomendado que não se ultrapasse os 20 microgramas por metro cúbico, enquanto nas partículas maiores (até 10 micrómetros) não deverão existir mais de 50 microgramas por metro cúbico.
Segundo Félix Rodrigues, desde 2000 que não se tem atingido esses valores nos Açores.
Ainda assim, este fenómeno exige atenção, até porque as alterações climáticas incrementam a intensidade dos ciclones “Shared”, cujos ventos levam as poeiras a grande altitude."
Cumprimentos,
Turlu