Seguimento Açores e Madeira - Janeiro 2016

lserpa

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Vince

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Diamantino Henriques é um bom profissional. Durante uns anos foi membro discreto mas participativo aqui do fórum antes de mudar de funções. Imagino que continue a passar aqui com regularidade, pena não suceder mais vezes com profissionais do IPMA e de outras entidades. Gosto do dinamismo da página do IPMA Açores e do acompanhamento de situações que por vezes vejo por ex. na RTP Açores. Longe do que acho perfeito, mas melhor que vejo aqui no continente. Há todo um potencial bastante inexplorado por parte de organismos oficiais nestes tempos de tecnologia, redes sociais, smartphones, comunicação instantânea. Nem é preciso inventar a roda ou ir longe procurar ideias e modelos, basta olhar aqui para o lado em Espanha, onde acordaram tarde mas num ano ou dois conseguiram criar uma presença muito informativa e dinâmica.

E @Azorean Storm Buster, parabéns pelo entrevista. A sugestão que faço sempre é que quando na Net ou redes sociais se tem audiência, tem que se ter a responsabilidade que isso implica. Ter sempre muita ponderação no que se transmite. Nos últimos anos vi nascer muitas coisas nesta área da meteo que são meras caças aos likes, há até quem entre em completo desespero se a meteorologia está monótona e isso não lhes permitir o exagero, espalhafato e likes. A audiência conquista-se lentamente, com trabalho, qualidade e ponderação.
 
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1 Set 2015
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Ainda bem que acharam interessante esta iniciativa. Na minha perspetiva, o meteorologista Diamantino Henriques é um completo conhecedor na matéria e um excelente comunicador. Se considerar que tenho mais questões para fazer num futuro, mais ou menos distante, talvez, quem sabe. Fiquei contente com a favorabilidade do Dr em responder. :)
 

Orion

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Bom, fazendo um resumo das estações do IPMA. Nas Flores, chuva moderada e contínua:

rCY4qJR.png


O Nordeste acabou por ser o local surpresa:

FYwGzTE.png


Muito ar frio no G. Ocidental que está a contrastar com os restantes (ilhas das Flores):

OtbCBXp.png


Acho que nem vale a pena seguir o Hirlam:

fKHQOoA.png

Inicialmente critiquei o Hirlam mas a nebulosidade/chuva de facto afetou mais o G. Ocidental.

Pelo satélite a convecção não foi muito intensa (mas acredito que tenha sido muito dispersa e recorrente mas de curta duração tendo isto aumentado os acumulados). Os núcleos mais significativos foram dispersos:

dEBpbnK.gif
 
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lserpa

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Hoje o dia mantém-se cinzento e com períodos de chuva. Hoje o acumulado é notoriamente superior ao de ontem.
Não vai ficar por aqui, ainda falta a passagem da frente fria, o que deverá acontecer esta noite e consequentemente fará com que haja uma nova descida da temperatura. Desta vez a ISO 0 (850hpa) não deverá chegar ao grupo central, mas andará bem próxima. Apenas deverá nevar no topo da montanha do Pico.
O gradiente vertical da temperatura será bastante espaçado.
 
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Gostaria mesmo de perceber qual a dinâmica que é ativada no Nordeste, por vezes. Em 2 de setembro de 2015, tivemos 231,6 mm em 6 horas, com vento, julgo eu (corrijam-me se estiver errado) do quadrande SE e ontem, contra todas as expectativas, tivemos registo de 91,9 mm em 9 horas, com vento, segundo o que previa pelo menos (não confirmei nessas horas com as observações do IPMA) também SE, embora depois rodando para S e SW. Eventos extremos, imprevisíveis, mas com este aspeto em comum.
 
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Relembrando que esta madrugada se registou no Nordeste chuva por vezes forte, com o máximo horário de 33,2 mm em 1 hora, e 91,9 mm em 6 horas.
Estive a pensar, e dando um começo de um possível debate sobre a questão orográfica... Vou estar atento às próximas horas no Nordeste, pois poderá verificar-se novamente esta noite um evento da mesma natureza que ontem (embora provavelmente menos intenso).
Verifica-se, desde as 10 horas UTC, a formação contínua de uma massa de nuvens com topo relativamente elevado (últimas 3 imagens). Esta formação ocorreu num ambiente em que o mid shear esteve praticamente nulo, o que talvez possa ter ajudado a elevar um pouco mais as nuvens que se desenvolveram graças à influência do relevo e altitude da ilha. Ora, para as primeiras horas desta noite este mid shear deverá continuar quase nulo, o que, com o aumento da humidade aos níveis médios-baixos (700 hpa), poderá ajudar a desenvolver esse efeito.
Para além disso, está prevista uma tendência de aumento da humidade relativa aos 2 metros, o qual já se verifica, situando-se, contudo, ainda numa percentagem inferior à desta madrugada. Quanto ao vento, está com uma velocidade aproximada à da noite passada, o que poderá ser (ou não) uma variável comum ao referido episódio de chuva intensa.
Poderão ser algumas achegas...:intrigante:

ytnN3cD.png
oskuEo6.png
EdHuWrr.png
sa2MavQ.png
3xU3lhh.png
lPJqT3V.png
0DM5HSt.png
NpgrUP8.png
6zyqlsN.png
 

Orion

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Gostaria mesmo de perceber qual a dinâmica que é ativada no Nordeste, por vezes. Em 2 de setembro de 2015, tivemos 231,6 mm em 6 horas, com vento, julgo eu (corrijam-me se estiver errado) do quadrande SE e ontem, contra todas as expectativas, tivemos registo de 91,9 mm em 9 horas, com vento, segundo o que previa pelo menos (não confirmei nessas horas com as observações do IPMA) também SE, embora depois rodando para S e SW. Eventos extremos, imprevisíveis, mas com este aspeto em comum.

Na minha opinião...

Se vires a animação no Eumetsat dinâmico, durante o dia de hoje as montanhas da ponta este de S. Miguel perturbaram o ar. São montanhas altas o suficiente para levantar o ar mas não são altas o suficiente para reter toda a chuva. O rasto de condensação foi óbvio e persistente:

v6DGHeM.png


9HSRw6M.png


Isto é bem visível na imagem principal da página do facebook do IPMA mesmo com bom tempo. São ondas gravitacionais:

https://pt-pt.facebook.com/dra.ipma.pt

A sudoeste do Nordeste há uma pequena cordilheira montanhosa:

FUsToa0.jpg


Na perspetiva de um nordestino...

BvvlGft.png
 
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Ora, para as primeiras horas desta noite este mid shear deverá continuar quase nulo, o que, com o aumento da humidade aos níveis médios-baixos (700 hpa), poderá ajudar a desenvolver esse efeito.

É ao contrário. Quanto maior for a velocidade das correntes húmidas pior. Se o ar estiver parado ou mover-se lentamente como é que haverá chuva orográfica intensa?

---

Fui rever o que escrevi anteriormente e as coisas fazem sentido mas não como publiquei anteriormente. A chuva mais intensa ocorreu por volta das 3 da manhã. Nessa altura não havia rasto muito óbvio porque o vento era de Sudoeste:

B2zbYRU.jpg


Mas a relação entre ventos e chuva não é muito linear. Basta ver o registo da estação:

WI9GDud.png


Tendo em conta que o Nordeste fica ao lado da maior cordilheia e a que está a sudoeste, em teoria, será a que afeta mais, os grandes acumulados de sul não fazem muito sentido. Melhor seria saber a direção do vento em graus.

De qualquer das formas já se fica avisado. Correntes de sul e sudoeste são propícias a grandes acumulados. Foi provavelmente essa a razão da sua instalação lá.
 

lserpa

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Se formos a ver bem, a Povoação com o vento no quadrante sul e companhia é um óptimo ponto de convergência e ao mesmo tempo uma catapulta enorme! Creio que esse fator orográfico é o ponto principal
 
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É ao contrário. Quanto maior for a velocidade das correntes húmidas pior. Se o ar estiver parado ou mover-se lentamente como é que haverá chuva orográfica intensa?
O vento não pode estar parado, senão não havia dinâmica nenhuma. O meu raciocínio foi: o vento precisa de estar numa velocidade adequada. Nem fraco, obviamente, nem muito intenso, senão, a meu ver, fragmentaria o processo de ascensão do ar húmido. Dito mais explicitamente: precisa de ter uma velocidade suficiente para subir, mas quando o desvio do vento derivado da ascensão forçada do ar na serra acaba, a partir de dada altitude, o vento toma a sua trajetória "normal" (no sentido horizontal, e não vertical). Logo não faria sentido nenhum que fosse demasiado forte, sob pena de a energia cinética exercida horizontalmente pelo vento "decapitar" a ascensão do ar/a formação da nuvem. Até porque gostaria também de perceber porque é que em dias de vento muito forte ou tempestuoso, com condições semelhantes noutros factores, não me recordo de dilúvios de origem orográfica. Mas se houver alguma fórmula a esse respeito, gostaria de a conhecer, porque é um fenómeno que me interessa muito.
 
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Se formos a ver bem, a Povoação com o vento no quadrante sul e companhia é um óptimo ponto de convergência e ao mesmo tempo uma catapulta enorme! Creio que esse fator orográfico é o ponto principal
É como se tivesse sido feito de propósito pela natureza.. como se vê bem na imagem que o @Orion publicou, de São Miguel, todo o ar que entra na vila da Povoação vinda de Sul não encontra outra saída senão subir. Cercado de Leste, Oeste e Norte, o vento não tem outra alternativa.
 
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Orion

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Nem fraco, obviamente, nem muito intenso, senão, a meu ver, fragmentaria o processo de ascensão do ar húmido.

Não há fragmentação nenhuma. O vento ao ser forçado a subir a montanha perde alguma velocidade. E quanto mais depressa o ar subir mais forte será a convecção.

Dito mais explicitamente: precisa de ter uma velocidade suficiente para subir, mas quando o desvio do vento derivado da ascensão forçada do ar na serra acaba, a partir de dada altitude, o vento toma a sua trajetória "normal" (no sentido horizontal, e não vertical).

O vento não toma a sua direção original. Há o surgimento de turbilhões para restabelecer a circulação 'normal' do ar:

rCOzoQC.gif


Logo não faria sentido nenhum que fosse demasiado forte, sob pena de a energia cinética exercida horizontalmente pelo vento "decapitar" a ascensão do ar/a formação da nuvem.

Quando o ar sobe, força o que está mais acima a subir. As consequências posteriores dependem das restantes condições atmosféricas. As montanhas não se movem. Portanto, enquanto o fluxo se mantiver com as mesmas condições haverá ali uma constante condensação. Mesmo que o vento acima seja muito forte continuará a haver condensação. As nuvens podem é ficar muito esticadas e não crescerem muito verticalmente (e se reparares na imagem a nuvem está torta mas chove na mesma):

6XsLTY9.jpg


O cisalhamento decapita a convecção fraca (que de si não dura muito). As tempestades severas precisam de cisalhamento intenso e de fortes correntes ascendentes.

Faço referência ocasionalmente a isto. Os Açores não têm insolação e muito menos orografia suficiente para gerar trovoada e/ou nuvens de grande desenvolvimento vertical. Só sistemas frontais e depressões. Neste dia não houve trovoada. Nem mesmo com 2431 de CAPE e -5.5 de LI:

http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-acores-e-madeira-julho-2015.8312/page-6#post-497936

Até porque gostaria também de perceber porque é que em dias de vento muito forte ou tempestuoso, com condições semelhantes noutros factores, não me recordo de dilúvios de origem orográfica.

Correntes de sudoeste/sul, com elevado conteúdo de água precipitável e ar tendencialmente muito saturado. Ventos fortes são aconselháveis mas o dilúvio na Terceira no ano passado indica que mesmo a orografia pode gerar instabilidade local e persistente (e há sempre os factores inesperados na meteorologia):

ysDrMJM.png


Sistemas frontais de oeste nem sempre captam o ar húmido de sul. Daí que pode haver frentes frias e depressões fortes mas não despejam a mesma quantidade de água.
 
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Obrigado pela ex
Não há fragmentação nenhuma. O vento ao ser forçado a subir a montanha perde alguma velocidade. E quanto mais depressa o ar subir mais forte será a convecção.



O vento não toma a sua direção original. Há o surgimento de turbilhões para restabelecer a circulação 'normal' do ar:

rCOzoQC.gif




Quando o ar sobe, força o que está mais acima a subir. As consequências posteriores dependem das restantes condições atmosféricas. As montanhas não se movem. Portanto, enquanto o fluxo se mantiver com as mesmas condições haverá ali uma constante condensação. Mesmo que o vento acima seja muito forte continuará a haver condensação. As nuvens podem é ficar muito esticadas e não crescerem muito verticalmente (e se reparares na imagem a nuvem está torta mas chove na mesma):

6XsLTY9.jpg


O cisalhamento decapita a convecção fraca (que de si não dura muito). As tempestades severas precisam de cisalhamento intenso e de fortes correntes ascendentes.

Faço referência ocasionalmente a isto. Os Açores não têm insolação e muito menos orografia suficiente para gerar trovoada e/ou nuvens de grande desenvolvimento vertical. Só sistemas frontais e depressões. Neste dia não houve trovoada. Nem mesmo com 2431 de CAPE e -5.5 de LI:

http://www.meteopt.com/forum/topico/seguimento-acores-e-madeira-julho-2015.8312/page-6#post-497936



Correntes de sudoeste/sul, com elevado conteúdo de água precipitável e ar tendencialmente muito saturado. Ventos fortes são aconselháveis mas o dilúvio na Terceira no ano passado indica que mesmo a orografia pode gerar instabilidade local e persistente (e há sempre os factores inesperados na meteorologia):

ysDrMJM.png


Sistemas frontais de oeste nem sempre captam o ar húmido de sul. Daí que pode haver frentes frias e depressões fortes mas não despejam a mesma quantidade de água.
Obrigado pela explicação ;)