Aqui fica uma das noticias que saiu hoje sobre o Fórum. No Público:
"Falta de carta de risco da costa alimenta caos imobiliário
14.07.2008, Idálio Revez
Nordeste brasileiro está a aplicar método da Universidade do Algarve para detectar recuo da costa e aumento médio do nível do mar
O aumento da temperatura e a ocupação intensa na orla costeira não estão a ser encaradas a sério na região algarvia e colocam em risco a segurança de pessoas e bens. Um dia, talvez nos próximos 50 anos, avisa Alveirinho Dias, da Universidade do Algarve, o mar pode atingir a Baixa de Faro. Esta foi uma das conclusões do fórum Alterações Climáticas - A última escolha, que decorreu no fim-de-semana em Lagoa.
A Universidade do Algarve apresentou uma proposta para elaboração de uma carta de riscos, que servisse de instrumento de trabalho para a elaboração dos planos directores municipais e outros instrumentos de planeamento, mas não teve acolhimento. Se o novo Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve tivesse em conta os perigos que pairam sobre a zona costeira, diz Alveirinho Dias, "não haveria tanta especulação imobiliária". As habitações mais caras, e que melhor se vendem, são precisamente as de maior vulnerabilidade.
O investigador, no final do fórum, lembrou que, em França, o potencial comprador de uma casa pode saber, pela Internet, o grau de risco do local onde pretende adquirir a habitação. No Algarve, fizeram-se estudos para desenvolver um projecto semelhante, "mas não houve interesse da parte das entidades com competência na matéria".
Os investidores dizem que sabem "qual é o sentido das alterações climáticas" e esse factor deveria estar presente nos instrumentos de planeamento. Não é o que sucede. Alveirinho Dias aponta o exemplo de Bordéus, cuja economia gira à volta do vinho e está a preparar-se para o que passa acontecer. "Estão a experimentar novas castas, para não perderem aquilo que têm e, eventualmente, valorizar ainda mais a produção."
No Algarve, onde foram "plantadas" casas nos terrenos de antigas vinhas, imperam os interesses imobiliários e turísticos. Nas áreas em risco de inundação, "em vez de aligeirar a construção - eventualmente transferir parte dessa ocupação para zonas seguras -, intensifica-se a ocupação". O especialista em erosão costeira lembra que, depois, virão as obras de engenharia pesada para construir estruturas de protecção costeira que, "sabe-se à partida, não são 100 por cento eficazes".
A prova de que não se pensa no futuro é que não existe carta de risco dos factores marítimos. O método, desenvolvido na Universidade do Algarve, para detectar qual o recuo de linha de costa e o aumento do nível médio do mar, "está a ser aplicado no Nordeste brasileiro, mas não no Algarve". A vulnerabilidade e a adaptação local às alterações climáticas foram também abordadas por Maria do Rosário Partidário, do Instituto Superior Técnico, lembrando que as áreas urbanas representam apenas quatro por cento do território português. Porém, são os "sítios errados", os mais cobiçados para erguer edifícios. O debate foi alimentado pelas imagens de casas a serem levadas pelas inundações noutros pontos do globo.
O presidente da Associação de Municípios do Algarve, Macário Correia, aproveitou a deixa para lembrar os anúncios de milhões, pelo ministro do Ambiente, para travar o avanço do mar sobre a Costa da Caparica - um investimento de efeito precário.
Polis cosmético?
Para tentar travar os efeitos da erosão do mar nas ilhas-barreira, vão ser investidos 87,5 milhões de euros através do programa Polis da Ria Formosa. "Receio muito que seja só uma operação puramente de cosmética e que os problemas, os verdadeiros problemas, não sejam resolvidos", comenta Alveirinho Dias, que manifesta algumas dúvidas com o efeito prático dos milhões a investir. "Tenho receio de que o Polis até venha intensificar a ocupação permanente nalgumas zonas", observa o investigador da universidade algarvia. As ilhas, admite, "podem ter ocupação sazonal, mas não deveriam ter ocupação permanente".
A duna de Pyla de Arcachon, no Sul da França, é um dos exemplos apontados pelo professor sobre "dunas activas". Situada a cerca de 120 metros acima do nível médio do mar tem quase três quilómetros de comprimento. Durante o Verão, o cordão dunal pode ser visitado, possui apoio ao turista com bar e restaurante. Quando acaba a época turística, todos os equipamentos são desmontados e, como explica Alveirinho Dias, "deixam a duna evoluir no período de mais energia, que é o Inverno".
No caso da ria Formosa, prevê-se o derrube de algumas casas para dar condições de melhor habitabilidade e segurança às casas que ficarem de pé. Uma solução que, para o especialista em dinâmica costeira, servirá apenas "até um dia", uma vez que, ao longo do litoral algarvio, abundam zonas que "correm risco de inundação", como as baixas de Faro e de Olhão.
A ocupação da ria Formosa é considerada "uma coisa bizarra". Quem tem casa "de direito" vive em Faro ou noutras cidades, funcionando ali a segunda habitação. "Os pescadores foram vendendo a casa que tinham nas zonas urbanizáveis e construíram uma outra em área clandestina", conta Alveirinho Dias. Agora, o programa Polis prevê o realojamento dos pescadores em zonas a definir com planos de pormenor, que ainda não foram elaborados. Só terão direito a permanecer nas ilhas os pescadores registados. O cordão dunar da ilha de Faro, nos próximos 50 anos, será galgado pelo mar. O cenário consta de um estudo da Universidade do Algarve, para a elaboração de uma carta de riscos. O perigo de o mar abrir uma barra natural foi equacionado, admitindo-se que as ondas cheguem ao aeroporto. O que acontecerá às casas de dois e três pisos na ilha? "Acabam por ser danificadas, cair, como já aconteceu a várias", antevê o especialista. A meia dúzia de quilómetros, o empreendimento Vale do Lobo procurou travar o avanço das águas com o enchimento artificial da praia, para travar a queda de casas construídas nas falésias. Uma medida temporária, pois precisa de mais recarga no areal. "