Grupo Lobo - Preservar uma espécie em vias de extinção
Sobre este animal recaem mitos ancestrais temores e histórias predatórias, de noites de ataques sorrateiros aos rebanhos, de uivos invernais. É mesmo visto, por vezes, como «demoníaco». Ainda assim, o lobo constitui uma espécie que, se não for preservada, corre o risco de caminhar para a extinção, não só no mundo como também em Portugal, onde existem apenas cerca de 300 indivíduos. O Grupo Lobo é uma associação criada para «trabalhar este animal», promovendo medidas de preservação da espécie que atenuem o conflito 'Homem-Lobo' e que «garante as condições do ecossistema onde o animal vive», como nos conta o presidente da instituição, Francisco Petrucci-Fonseca.
Ana Clara | sexta-feira, 6 de Agosto de 2010
O Grupo Lobo nasceu em 1985 na sequência da «vontade colectiva» de um conjunto de pessoas que «estavam preocupadas com a situação do lobo» no país.
«Nessa medida, desde então trabalhamos, em conjunto, o lobo ibérico (Canis lupus signatus) como é conhecido em Portugal», afirma Petrucci-Fonseca, presidente do Grupo.
Com cerca de 1300 sócios, esta organização não governamental (ONG) realiza o seu trabalho com o apoio de particulares e instituições públicas ou privadas, como é o caso dos sócios do Grupo Lobo, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a Fundação Bernd Thies (Suíça).
O presidente do Grupo refere que actualmente a distribuição do lobo em Portugal abrange a zona Norte (serra Amarela, Parque Nacional da Peneda-Gerês, Chaves, Marão, Valpaços, Parque Natural de Montesinho e que vai até Miranda do Douro).
A sul da linha do rio Douro existe também um núcleo, mais reduzido, de 25 a 30 animais, que se passeia desde a Serra da Arada, entre o distrito de Aveiro e de Viseu e que abrange ainda as zonas de Cinfães e Trancoso.
«De vez em quando surgem alguns indivíduos na zona fronteiriça do Sabugal, que podem estar a migrar da região do sul do Douro ou que chegam da parte espanhola», informa, lembrando que este é um grupo que «está isolado da restante população lupina ibérica».
Sobre as condições existentes nestas regiões para a sobrevivência do animal, Francisco Petrucci-Fonseca adianta: «a zona fronteiriça no norte do país tem bons índices, não só em relação à qualidade do ar como no que respeita a condições de habitat para albergar a população lupina». Estas condições dizem respeito a áreas sossegadas, floresta nativa que pode albergar populações das presas silvestres do lobo (como o corço, o javali e o veado).
Com uma população total de 300 indivíduos - 250 no norte fronteiriço e a restante isolada mais a sul - um dos principais problemas advém dos prejuízos causados pelo lobo aos pastores e populações do Interior. Apesar de os processos não serem tão céleres quanto se deseja, de acordo com a lei, o Estado assegura sempre o pagamento dos estragos causados.
«Essa é uma das áreas de intervenção do nosso Grupo, desde acções de divulgação junto das escolas e populações bem como investigação científica», realça o presidente do Grupo Lobo. Com a população escolar, o Grupo faz sessões de divulgação, há ainda uma exposição itinerante e está a ser finalizado um pacote pedagógico centrado no lobo.
Centro de Recuperação
Há ainda o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, organismo que integra o Grupo Lobo, e que desenvolve acções de «divulgação ambiental bem como aplicação de medidas práticas de conservação».
Situado no concelho de Mafra, este Centro alberga dez lobos que não podem viver em liberdade, visto que já foram criados em cativeiro, conta Francisco.
«Se eles fossem libertados aproximavam-se das pessoas e seriam abatidos imediatamente. Aproveitamos estes animais não só para os recuperar, mas também para os dar a conhecer às pessoas e desmistificar a ideia negativa que as pessoas ainda têm sobre este animal», realça.
Recorde-se que, em Portugal, foi a partir da década de 70 do século passado que se verifica um decréscimo significativo quer do efectivo populacional quer da área de distribuição da espécie em Portugal, sobretudo na faixa litoral. Com a sucessiva diminuição registada até 1970, o problema da extinção foi-se agravando até aos dias de hoje.
Actualmente, a população lupina não se distribui de forma contínua, como já foi dito, mas a fragmentação das zonas onde o animal vive está também a levar ao seu desaparecimento.
Por essa razão, o presidente do Grupo Lobo diz que apesar de a população a norte do rio Douro estar estável, «a verdade é que a construção de diversas infra-estruturas - como estradas, parques eólicos, barragens, etc. - podem alterar a forma como o animal lida com esta mudança».
«Não sabemos o que pode acontecer com essa população. Se eles se habituarem a esta construção, isso será óptimo. Mas a regressão ou aumento na dimensão de área está condicionada por isso mesmo. O nosso trabalho também passa por isso, ajudar o lobo nesse trabalho».
Por fim, alerta: «o lobo é um animal que precisa ser compreendido e ajudado na relação com o ser humano. O nosso trabalho passa por isso. Queremos que tanto humanos como lobos possam viver em conjunto».