Jovem apanhada pela alga tóxica, estudava a matéria
«A microalga produtora de toxinas que levou à proibição de banhos em 11 praias algarvias foi detectada acidentalmente por uma estudante da matéria, de férias no Algarve, que sofreu lesões na pele e vias respiratórias, soube hoje a Lusa.
A estudante não precisou de hospitalização, porque as lesões causadas pela microalga são de carácter ligeiro, disse a investigadora Ana Amorim, do Centro Oceanográfico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
A cientista revelou que o incidente ocorreu quarta-feira, quando a estudante de doutoramento numa Universidade do País Basco (Espanha) começou a sentir problemas respiratórios e prurido nas mãos, após um banho na praia de Salema, Vila do Bispo.
Considerou tratar-se de uma “espantosa coincidência”, já que a tese de doutoramento da estudante versa precisamente sobre a detecção da microalga ostreopsis na Península Ibérica e, em Portugal, nunca tinha sido encontrada em tão grandes concentrações como ocorreu precisamente com ela.
Constatados os sintomas, a estudante contatou o Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR), que recolheu amostras de água do mar em várias praias dos concelhos de Lagos e Vila do Bispo, acabando por se confirmar sexta-feira que se trata daquela alga.
As praias em que a autoridade marítima hasteou bandeira vermelha ao princípio da tarde de sexta-feira, por determinação das autoridades de saúde, são D. Ana, Camilo, Porto de Mós, Luz (concelho de Lagos), Burgau, Cabanas Velhas, Boca do Rio, Salema, Furnas, Zavial e Ingrina (concelho de Vila do Bispo).
De acordo com Ana Amorim, a ostreopsis não é causadora de problemas der saúde muito graves, ficando-se os problemas que causa pelas dificuldades respiratórias, conjuntivites e irritações cutâneas.
Ao contrário do que acontece com outras microalgas, tropicais e sub-tropicais, mais perigosas para o homem.
Até há pouca décadas também aquela microalga era exclusiva desses climas, mas desde finais da década de 90 do século passado tem sido identificada em todo o Mediterrâneo – sobretudo em Itália – e o banho em várias praias tem sido interditado devido à sua presença.
Em Portugal, o género ostreopsis - que tem várias espécies características dificilmente distinguíveis -, foi localizado pela primeira vez em 2007, em Sines, e posteriormente em 2008, na baía de Cascais, havendo também registos nas Desertas (Madeira), mas nunca em tão altas concentrações como agora ocorre no barlavento algarvio.
Segundo a especialista, está confirmado que a espécie agora recolhida, já identificada como “siamensis”, não produz toxinas diarreicas ou paralisantes, como acontece com algumas suas congéneres, endémicas sobretudo no Pacífico sul.
Há vários anos que a investigadora do Centro Oceanográfico da Universidade de Lisboa e a sua colega Teresa Moita, do IPIMAR, se dedicam ao estudo e detecção desta família de microalgas em Portugal.
“Nunca tivemos apoios institucionais de peso, porque sempre se considerou que estas microalgas não constituíam qualquer risco em Portugal”, lamentou, sustentando que a ocorrência no Algarve “pode mostrar que afinal não é bem assim”.
Nos próximos dias as águas das praias de Lagos e Vila do Bispo serão monitorizadas, aguardando-se agora pelos resultados de novas análises, no início da próxima semana.»
Observatório do Algarve