A Memória Meteorológica...

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A título de curiosidade coloco este artigo do Correio do Minho de 30 Janeiro deste ano em que um habitante de Castro Laboreiro de 75 anos diz:

Está mesmo muito, muito frio. Tenho 75 anos e não me lembro de um Inverno tão gelado

Por isso é preciso ter cuidado quando ouvimos afirmações dos mais velhos, quando dizem que nunca tinham visto coisa assim. A memória meteorológica é péssima!!


Notícia Completa:

30 Jan 2007

Castro Laboreiro passa os dias à lareira, que o frio é “do diacho”

A neve já chegou a Castro Laboreiro, em Melgaço. Por isso, as lareiras, são por estes dias as melhores aliadas dos habitantes. No entanto, este Inverno ainda não se registaram grandes complicações na circulação, não só porque a neve tem sido pouca, mas também porque a Câmara de Melgaço tem máquinas convertidas em veículos limpa-neve e tractores preparados para limpar o pavimento.

As lareiras são, por estes dias, as melhores aliadas dos habitantes de Castro Laboreiro, uma freguesia de Melgaço que fica a mais de mil metros de altitude e onde a neve já chegou, provocando “um frio do diacho”.
“Está mesmo muito, muito frio. Tenho 75 anos e não me lembro de um Inverno tão gelado”, disse à Lusa Manuel Novo, um habitante de Castro Laboreiro que garante que, por aquelas bandas, os termó- metros têm andado, nos últimos dias, “muito abaixo” dos zero graus.
Manuel Novo, secretário da Junta de Castro Laboreiro, diz mesmo que, a meio da tarde de quarta-feira, tiveram que ser interrompidos uns trabalhos num caminho da freguesia “porque os trabalhadores não aguentavam mais com o frio”.

É precisamente por causa do frio que Castro Laboreiro é uma das poucas aldeias do Alto Minho onde ainda se pratica a chamada transumância.
Depois de terem passado as estações mais quentes nas zonas altas (brandas), onde há melhores pastos para os animais, a partir de meados de Dezembro as pessoas de Castro Laboreiro pegam no gado e começam a descer para as suas casas na aldeia (inverneiras), para fugir ao frio. “Se aqui na aldeia está este frio todo, nem quero imaginar-me lá em cima”, atira Manuel Novo.
Este habitante não teve outro remédio senão instalar aquecimento central em casa, para não passar “dias e noites a bater o dente”.
Mas nem todos têm “as posses” de Manuel Novo, pelo que “uma boa parte” das famílias de Castro Laboreiro ainda encontra nas lareiras as melhores - e únicas - aliadas contra o frio.
“É gente que faz como a formiga, arrecada lenha durante o Verão para depois ter algum calor durante o Inverno”, explica.

Palmira Fernandes é uma das habitantes de Castro Laboreiro que, por esta altura, se refugia junto à lareira lá de casa, a mesma onde “cura” o fumeiro tradicional que vende no seu estabelecimento comercial. “É juntar o útil ao agradável”, diz, fazendo questão de frisar que o seu fumeiro, entre chouriço, presunto e toucinho, “é todo caseirinho”.
Castro Laboreiro é uma freguesia onde praticamente só vive gente idosa.

Manuel Novo garante que, actualmente, a localidade tem apenas “cinco ou seis” alunos a frequentar a escola, desde o primeiro ao nono anos de escolaridade.
“E isto num centro escolar de uma freguesia vizinha (Pomares), porque, entretanto, as seis ou sete escolas que havia na freguesia, e que chegavam a ter mais de 20 alunos cada, foram fechando, uma a uma, por falta de crianças”, acrescenta.
Como os idosos têm que ter cuidados especiais com as baixas temperaturas, há dias em que nas ‘ruas’ de Castro Laboreiro “praticamente não se vê ninguém”, porque as pessoas se refugiam em casa, a ver televisão e a “tentar enganar” o frio com “um bom bagaço”, que “está sempre de prevenção”.

Os animais, esses, ficam retidos nos curros, por dias e dias, porque a neve e o frio não os deixam sair, mas também aqui cabe a tal história da formiga, já que os celeiros são devidamente “recheados” durante o ano para que ninguém seja apanhado desprevenido quando chegarem os rigores do Inverno. “De dia, o frio ainda se vai aguentando. O diacho é antes do Sol acordar e depois de ele se pôr”, atira Manuel Novo, referindo que este Inverno apenas caiu neve há uns dias atrás, mas a geada “é fria que corta”".

A geada e o gelo são assim, por enquanto, os piores inimigos dos condutores, sobretudo os que têm que circular no troço da Estrada Nacional 202-3, que liga Lamas de Mouro a Castro Laboreiro.
“São sete a oito quilómetros onde todo o cuidado é pouco”, diz fonte da GNR, que volta e meia está no local para aconselhar os automobilistas a usar correntes nas rodas.

No entanto, este Inverno ainda não se registaram grandes complicações ou constrangimentos na circulação, não só porque a neve tem sido pouca, mas também porque a Câmara de Melgaço tem máquinas convertidas em veículos limpa-neve e tractores preparados para limpar o pavimento.
É um material que a Câmara se viu “forçada” a comprar há cerca de seis anos, para evitar situações como as que até então se registavam frequentemente, com as aldeias mais montanhosas a ficarem isoladas pela neve, às vezes durante semanas a fio.
Mas a Câmara não se fica por aqui, já que há muito que aposta na deposição de sal nas vias que são pouco expostas ao Sol, para derreter o gelo e assim prevenir acidentes. “Este ano, já tivemos que recorrer ao sal por algumas vezes”, referiu o presidente da Câmara, Rui Solheiro.
Nesta altura, por aquelas bandas, os dias correm realmente gelados. Com a sua chegada, as habituais ‘romarias’ de turistas ao fim- de-semana já começaram. Apesar do frio ser “do diacho”.

www.correiodominho.com

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Dan

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Sim, não se pode confiar na memória meteorológica na maior parte dos casos. Este caso até é um pouco o inverso do habitual. Normalmente até costumam dizer que antigamente fazia mais frio ou nevava muito mais que agora.
 

Rog

Cumulonimbus
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Sim, não se pode confiar na memória meteorológica na maior parte dos casos. Este caso até é um pouco o inverso do habitual. Normalmente até costumam dizer que antigamente fazia mais frio ou nevava muito mais que agora.

Essa parece ser uma situação parecida em todo o lado. Por aqui também ao perguntar às pessoas mais velhas, referem que antes o tempo era muito diferente.
Mas até pode-se explicar, teoricamente até certo ponto, estes desfasamentos.. Um homem com 75 anos não trabalha o mesmo que um de 35 e têm precepções diferentes da realidade como o frio...
 

Fil

Cumulonimbus
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He he quantas vezes eu não vi na televisão idosos a dizerem que nunca tinham visto nevar tanto quando no ano anterior tinha nevado mais :rolleyes: :lol:

A memória meteorológica é sem dúvida das piores, até a mim me falha e eu interesso-me por isto.
 

Vince

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A minha teoria é a de que todos nós humanos temos uma curta memória meteorológica. O nosso organismo necessita sempre de algum tempo para se habituar. Quando vem muito frio ou muito calor, achamos sempre que é terrível e do pior já sentido. Mas ao fim de 3 ou 4 dias adaptamo-nos. Se esperassem uns dias para fazer as entrevistas, se calhar as respostas seriam outras :)