Há um gigante na serra!
É um gigante tamanho
qu'a gente sente o gigante
mas não lhe vê o tamanho!
É tão grande o gigante
qu'a gente vê-lhe um pedaço
mas aonde o gigante acaba
já a vista não alcança.
Conhece o gigante a serra
e anda sempre escondido,
ora s'esconde no vento
ora finge que é luar,
ora se mistura na terra
e muitas vezes no ar,
cuida a gente que é o mar
qu'stá de longe a falar,
cuida a gente que são nuvens
que andam pla serra a passar,
cuida a gente andar na serra
e no gigante vai andar!
(...)
Pela serra ao luar
ia um menino sozinho
sem sono para se deitar.
Ia o menino a pensar
porque seria ele só
sem sono para se deitar?
Ia o menino a pensar
que há tanto por pensar
e a cidade a descansar.
Ia o menino a pensar
que se nasce para pensar
e nunca pra descansar.
Ia o menino a pensar
porque seria ele só
sem sono para se deitar.
Ia o menino a pensar
para nunca descansar
e ficar sempre a pensar.
Quem dorme sem ter pensado
deve ter sono emprestado,
não é sono bem ganhado.
Ia o menino a pensar
como poder arranjar
muita força para pensar.
Ia o menino a arranjar
muita força para pensar
e o próprio sono ganhar!
Veio o gigante do norte
disfarçado com o luar,
julgava que eu dormia,
(...)
José de Almada Negreiros
Servem estes excertos do poema "O menino d'olhos de gigante" para introduzir o sentimento místico que se experimenta (mesmo não sendo místicos) ao percorrer os caminhos escondidos, longe das estradas, na Serra de Sintra, especialmente ao fim do dia e, claro, à noite.
Poder-se-á perguntar, mas o que se consegue ver à noite na Serra?
Neste tópico vou tentar responder a essa pergunta. Também será um mergulho no microclima dos cimos da Serra.
Primeiro local:
Adrenunes
Há um lugar na serra de onde se tem a mais longa perspectiva entre os cimos, avistando-se desde o Cabo da Roca ao Castelo dos Mouros: a colina de Adrenunes de altitude 422m, a norte da Peninha. O acesso pedestre está sinalizado (mas não identificado pelo nome) desde a estrada da Azóia para a Peninha.
No topo da suave colina há uma formação rochosa que segundo alguns estudos poderia ser um monumento megalítico, uma anta ou dólmen, a Anta de Adrenunes. No entanto outras opiniões sustentam que os blocos de pedra foram naturalmente colocados naquela posição.
Nesta página há suficiente informação sobre o local:
http://www.serradesintra.net/en/penedos-da-serra-de-sintra/adrenunes
Lugar de excelência para ver o pôr-do-sol no oceano, acima do Cabo da Roca, por exemplo no dia
19 de Outubro de 2013
Na cavidade entre os rochedos compreende-se a estranheza de ver os blocos naquela posição e as suas formas, daí ter nascido a ideia de ser uma obra com mão humana:
Encostado aos rochedos há um pequeno bosque druídico de carvalhos anões que resistem ao vento forte e persistente desta encosta virada a noroeste:
Quando há luar no Monte da Lua é a melhor altura para as vistas nocturnas. A lua envolta nos nevoeiros e neblinas produz ambientes misteriosos:
Nesta noite o vento soprava de oes-sudoeste e do lado norte as nuvens desgarravam-se e abriam-se facilmente:
Por fim até as estrelas são claramente visíveis num céu azul de luar, aqui na direcção oeste com o farol da Roca bem lá em baixo. Fotograficamente é possível fazer parecer quase de dia, excepto pelas estrelas e luzes...
As fotos seguintes são de 3 de janeiro de 2012, uma noite sem Lua e com poucas estrelas:
Este ano já fui lá por duas vezes tendo colocado aqui no fórum fotos desses dias, 1 de Julho e 25 de Novembro.
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