Abismos da Pirolita

StormRic

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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Sempre admirámos aquela imponente sequência de arribas e falésias que se avistam assim que vindos de Cascais dobramos o Cabo Raso ou chegamos às areias do Guincho: desde a Praia do Abano/Guincho até ao Cabo da Roca o oceano tem escavado o flanco sudoeste da Serra de Sintra com talhes na rocha até 150m, na base do maciço ocidental que culmina na Peninha a 487m. Escarpas imponentes, enseadas escondidas, piscinas naturais com fundo de areia, pequenas baías de pedras roladas, túneis, cascatas, grutas, gargantas de entrada no núcleo da montanha, inúmeros locais de sonho para pescadores, paredes de rocha pura para escaladores, paraísos de caminhadas e de panoramas.

É fácil chegar ao topo do Cabeço da Pirolita pois há um estradão que serve várias moradias sobre os montes e termina na fascinante Casa da Pirolita, aquela última casa sobre as falésias rodeada de um pequeno muro já a descer a encosta e que sempre admiramos de lá longe pela localização arrojada.
A partir daí é possível encontrar caminhos que levem lá abaixo. Também do outro lado desse vale, para sul, há um caminho que quaisquer rodas todo-o-terreno permitem percorrer (para mim o melhor meio é sempre a pé), a partir de um desvio para a direita na estrada de acesso ao Convento de São Saturnino desde os Moinhos da Azóia. Este caminho percorre a crista da encosta norte na margem direita da Ribeira da Mata/Rio Touro. A partir do fim desse caminho, ou da Pirolita, começam vários caminhos que se podem seguir ao gosto e capacidades de cada um. Também é possível chegar aos domínios dos Abismos da Pirolita descendo o estradão de acesso ao Guincho Velho, já do lado sul do vale do Rio Touro, mas é mais longo.

Os locais terminais destas explorações não são seguros, embora sejam usados por pescadores e escaladores. Se um caminho deve ou não ser seguido depende da experiência de cada um e do conhecimento que tem da estabilidade de rochas e terrenos. Como regra geral, o estado de uso de um caminho é um indicador precioso da sua segurança. Há caminhos que seguem trajectos paralelos à costa e estão muito trilhados, são usados frequentemente em passeios de grupos, clubes de caminhadas, etc. Esses são seguros, mas os outros trilhos pouco nítidos que se destacam transversalmente podem ser perigosos. A existência de muitas pedras soltas com aspecto recente, de arestas vivas, também é um indicador de perigosidade devido a desmoronamentos.

(Clicar nas fotos para ver em grande na página original)

23 de Junho de 2012

A Baía da Pirolita

Neste dia o acesso foi pelo Guincho Velho (este lugar mais conhecido fica a aguardar outro tópico).

Aqui se vê o troço final do vale da Ribeira da Mata/Rio Touro:


E aqui o fabuloso azul/verde do oceano calmo, junto à foz do Rio Touro, penso que chamado de Porto Touro mas tenho dúvidas pois esse nome poderá sim designar o pequeno porto de abrigo que existia no lugar do Guincho Velho. Para mim, no entanto, uso o nome para este local. Aqui termina o trilho muito usado pelos pescadores que descem pelo lado esquerdo para uma rochas que são um bom ponto de pesca à linha. Lá vêm eles bem carregados a subir vagarosamente o trilho.


Continuando a descida atravessamos a ribeira. Tem uma pequena cascata terminal em local muito escuro que mesmo no verão tem água pois a bacia drenada é relativamente grande e nasce no Vale da Cabeceira entre os cumes da Peninha, Pedras Irmãs, Urquinha/Picotos e Adrenunes: todos vertem para esta ribeira.



O encanto de verão vai para a luz e as cores do local e placidez do oceano:



Subindo o trilho já na outra encosta e chegando à crista avistamos a baía da Pirolita, delimitada a norte pelo Esporão. A praia sempre a vi só com calhaus rolados, mas poderá eventualmente receber areia.


À procura de um local de descida das falésias quase a pique, será pelo desfiladeiro de alguma linha de água...


Encontrada por entre os pinheiros e mato denso uma cordada muito velha, instalada talvez por pescadores, com cinco troços de corda sucessivos, em cerca de 90m de desnível. Não é muito inclinado e o cuidado vai para não danificar a vegetação, a progressão, mesmo a descer, é lenta. Mas aquele azul chama por nós...



Não há muitos locais assim, sem um único ruído a não ser o ligeiro chapinhar da água e os pássaros lá em cima na mata ou algumas aves marinhas pelas rochas no mar. E este azul esmeralda irresistível...



Sem dúvida que a natureza nos sorri aqui:






Mesmo no solstício de verão, o sol põe-se cedo nestes lugares escondidos. Aqui já eclipsado por um pinheiro solitário no alto de um penhasco que recebe a luz reflectida pela falésia oposta ainda ensolarada:



Falésia essa em extra-prumo (inclinada para lá da vertical), desafio extremo para os escaladores:


Já de volta pela cordada acima. O troço final da corda já não existia, exigiu mesmo escalada de alguns poucos metros da rocha. Olhando para trás, a baía já sombria:


No topo da falésia, a caminho na direcção norte pelo trilho da Pirolita:




Chegados ao cimo do trilho, onde começa o caminho de terra batida que conduz aos Moinhos da Azóia. Lá embaixo o Esporão.


Chegada à Azóia ao pôr-do-sol. Nas primeiras vezes que trilhamos caminhos voltamos sempre de dia, para conhecer todos as dificuldades. Depois com o hábito os pés já conhecem as pedras e podemos voltar de noite.
 
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StormRic

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29 de Junho de 2012

Frente Atlântica e Esporão da Pirolita


Descida pelo Cabeço da Pirolita: chegados ao portão principal da Casa da Pirolita (casa de hóspedes), seguimos por um caminho do lado direito encostado ao muro. No fim do caminho temos múltiplas opções de caminhos.
Vista para sul. Em primeiro plano, mesmo a esta altitude o chorão das praias lá vai conseguindo proliferar e começar a asfixiar a vegetação autóctone, tão diversificada e preciosa. Sempre que virem esta invasora arranquem-nas pela raíz. O ideal seria pô-las em sacos e trazê-las para o lixo, pois deixá-las no terreno permite por vezes que ainda consigam enraizar outra vez. É um praga terrível e difícil de exterminar, nunca devia ter sido introduzida cá mas cativou pelas flores bonitas e julgou-se que era boa para segurar dunas e falésias, o que veio a revelar-se errado.


Vista para norte, na direcção do promontório do Espinhaço que antecede o Cabo da Roca. Muitos locais especiais neste troço de falésias, em particular a inacreditável piscina de Atlantis.



Viramos para sul, as areias do Guincho lá ao longe:


Caminhos difíceis de encontrar até passar o primeiro vale. O caminho mais fácil revelou-se sempre ser o que sai dos Moinhos da Azóia.
Já na primeira crista depois do desfiladeiro do vale e percorrendo-a até ao extremo chegamos à Frente Atlântica, local de escalada desportiva que está bem equipado. Um local muito bom para observação de ondas, mesmo com mar relativamente calmo como o deste dia:






As rochas no topo desta falésia relativamente baixa (30-40m) formam balcões ideais para a pesca e escalada:




Parede vertical equipada para escalada:


Vista para o Esporão:


Voltando atrás atravessa-se o segundo vale cuja ribeira se despenha de considerável altura formando em época chuvosa a Cascata da Pirolita. Passamos pelo topo da cascata que nesta altura estava quase seca e atingimos o início do Esporão, na cabeceira do caótico desfiladeiro da Rocha Amarela. O desmoronamento é recente mas não sei precisar quando ocorreu. É no entanto mais antigo do que o caminho alternativo trilhado que começa por percorrer a crista e depois desce para a encosta do lado esquerdo. Toda esta zona é perigosa.


Sobre a crista do desmoronamento:


Olhar para o topo da falésia onde termina o caminho que vem dos Moinhos da Azóia:


Memorial por um pescador:


A ponta do Esporão, não há mais trilho a partir daqui, só pela rocha, ainda não fui mais adiante:


Vista para o Guincho:


Olhando para baixo quase na vertical:


Olhando para trás na direcção da enseada da Pirolita, descobri uma caverna numa zona da praia inacessível pela longa cordada:


Já ao poente, vista para a Frente Atlântica:



e para a baía e Porto Touro:


Poente:




O Pinheiro da Pirolita vê-se desde longe, até do Guincho, na silhueta da encosta do Cabeço. Resiste isolado, talvez há um século, num pequeno local que tornou acolhedor para um piquenique. Um bom ponto de referência para a exploração dessa zona que vai terminar na Ponta do Rebolo onde há singularidades rochosas notáveis.


 
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StormRic

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4 de Julho da 2012

A caverna e a praia dos seixos


Depois de ter avistado a caverna desde o esporão, procurei um acesso àquela zona da baía da Pirolita.
No ponto onde começa o perigoso trilho do Esporão encontrei, como seria de esperar, uma outra cordada. É porque na verdade não há lugares por descobrir, já foram descobertos por gerações de pescadores, caminheiros e escaladores. Portanto se um local nos parece interessante deve sempre haver uma forma de acesso já experimentada anteriormente.
Embora bastante mais curta, talvez 30m de desnível ou menos, o estado do terreno e das cordas tornam esta cordada merecedora de mais cuidado. O terreno resvala em avalanche.
Lá em baixo há uma primeira malhada que a maré separa da praia dos seixos onde está a caverna. Nesta pequena enseada há umas reentrancias pouco profundas que se pode fazer parecer que são cavernas mas não chegam a isso.

Nesta primeira imagem lá está a árvore solitária no cimo de um penhasco, vista do lado do sol:


Uma falsa caverna:



A geologia do local compõe cenas pictóricas:


Sem esperar por a maré baixar completamente, saltamos de rocha em rocha (não recomendo) para chegar à praia dos seixos:


A entrada da caverna evoca as histórias de tesouros escondidos...


O que brilha lá dentro não são jóias nem moedas de um tesouro mas os pequenos seixos ainda molhados da maré que quando cheia enche a caverna:



Lá no fundo já é necessária iluminação artificial para não andarmos à cabeçada nas paredes de rocha. Estamos dentro da montanha.


...

A entrada da caverna até parece dourada mas na verdade o único tesouro que aqui se encontra é o da natureza quase intocada:


À luz do entardecer, a praia iluminada pela falésia ensolarada:



Seixos rolados de variados tipos de rocha, uns são propícios a serem cobertos por algas, outros não:




Pedras da fortuna para as lapas e outros univalves, a variedade de cores e tons é um encanto raro:




E olhem quem se encontra novamente ;)



As pedras "verdes" à luz baixa do ocaso, para despedida deste pequeno lugar mágico onde só fui duas vezes:





Esta pedrinha sorridente lá fica, porque é lá que ela pertence:


Se um dia lá forem e a virem... não a tragam, é um símbolo.:)
 
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Vitor TT

Nimbostratus
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21 Jan 2014
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Pedernais ( Ramada ) ( 160 mts )
Mais uma sequência de magnificas fotografias de um local ás portas de Lisboa, quem diria, quase que me faz transportar para a também belissima costa Alentejana que já conheço razoávelmente, em memória e em fotografia e video claro,

"troço" este que pretendo descobrir mais em promenor, excepto as idas ás praias, fica para os experientes e não para solitários como eu, porque envolve alguns riscos que já ia "provando" por exemplo na Pedra Amarela a quando de umas imagens que já por aqui coloquei.
 
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StormRic

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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Mais uma sequência de magnificas fotografias de um local ás portas de Lisboa, quem diria, quase que me faz transportar para a também belissima costa Alentejana que já conheço razoávelmente, em memória e em fotografia e video claro,

"troço" este que pretendo descobrir mais em promenor, excepto as idas ás praias, fica para os experientes e não para solitários como eu, porque envolve alguns riscos que já ia "provando" por exemplo na Pedra Amarela a quando de umas imagens que já por aqui coloquei.

As fotos estão soberbas :w00t::winner:

Obrigado!:D

Vitor, e eu que conheço quase nada da maravilhosa costa Alentejana, só estive na Arrifana! Tens que me dar umas dicas! E abrir aqui tópicos sobre esse tema!
Repara que não seria capaz destas explorações recentes se não estivesse "a solo", além disso a própria actividade de simultaneamente tirar fotografias (muitas centenas em cada saída de campo) demora extraordinariamente a progressão e permite tempos de descanso e observação que não posso impôr a outros. É verdade que parece haver riscos, mas na verdade nunca arrisco, nem um só passo ou gesto em falso. Os acidentes que tive foi a andar em meio urbanizado!:lol:
 
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Vitor TT

Nimbostratus
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Pedernais ( Ramada ) ( 160 mts )
Obrigado!:D

Vitor, e eu que conheço quase nada da maravilhosa costa Alentejana, só estive na Arrifana! Tens que me dar umas dicas! E abrir aqui tópicos sobre esse tema!
Repara que não seria capaz destas explorações recentes se não estivesse "a solo", além disso a própria actividade de simultaneamente tirar fotografias (muitas centenas em cada saída de campo) demora extraordinariamente a progressão e permite tempos de descanso e observação que não posso impôr a outros. É verdade que parece haver riscos, mas na verdade nunca arrisco, nem um só passo ou gesto em falso. Os acidentes que tive foi a andar em meio urbanizado!:lol:

Isso é uma falha grave :lmao:, a sério, é algo só mesmo visto, dou dicas com gosto embora haja pessoal das zonas que devem conhecer melhor que eu, se abrirem talvez ponha qualquer coisa,

como eu percebo isso, mas pensei que pudesses estar com algum pequeno grupo, ou mais alguém que "curte" a coisa, como por ezemplo no dia em que registei a "aragem" de 90 km/h na Peninha apareceram dois senhores (presumi que seriam irmãos ) com aspecto de caminhantes e monidos de GPS e até me perguntaram qual tinha sido a velocidade do vento que ja tinha registado e penso que teriam aparelho semelhante, pois não o tinham trazido,
o risco, é em qualquer lado, o meu receio e ia quase acontecendo a quando das ultimas fotos que tirei na pedra amarela, ia caindo, ora com tanto calhau á volta podia dar uma "caroldada" numa e ficar inconsciente frio e chuva que estava a chegar com a agravante de cá em casa apenas contarem comigo pelas 22:00 - 23:00h e ser um local onde muito provávelmente já não iria ninguém, possivelmente poderia não estar a escrever isto agora, é este o meu receio,
não fosse as dores nos joelhos e algumas articulações e mesmo assim ainda ando muito a pé em "todo-o-terreno" :lol: que é a unica forma de chegar "áquele sitio" ;).
 
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actioman

Cumulonimbus
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15 Fev 2008
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Elvas (~300m)
Que dizer....As cores, a luz, tudo perfeito!
Os adjectivos que utilizaria apenas serviriam para empobrecer estes verdadeiros guias ilustrados de tão belos recantos lusitanos que a maioria de nós por completo desconhece!

É um prazer desfrutar de tão belos postais, sempre acompanhados com uma forma singular de relatar e explicar a atmosfera circundante! Não só se pode visualizar como simultaneamente aprendemos mais e melhor do nosso belo Portugal tantas vezes por nós tão esquecido e maltratado...

Obrigado StormRic, deslumbrante como sempre! :uau:
 
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João Pedro

Super Célula
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14 Jun 2009
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Porto, Campo Alegre (50 m) | Samora Correia (10 m)
Belíssimas reportagens Ricardo! Fotografias e descrições que nos fazem sonhar! :)
Nem todos têm a sensibilidade necessária para captar todos os pequenos pormenores do que nos rodeia e exprimir em palavras as sensações que nos proporcionam mas tu, caro Ricardo, tens de sobra! :thumbsup:

Obrigado e continua a "levar-nos" contigo nestes teus passeios mais ou menos aventureiros por este belo e, ainda, selvagem troço do nosso litoral.

PS: aquela pedrinha sorridente faz-me lembrar o Stewie do Family Guy! :lol:
 
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jonas_87

Furacão
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11 Mar 2012
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.
Boas @StormRic

Tenho uma questão, tens fotos da piscina de ouriços da praia da grota?
Existe pouca coisa na net a falar desse sitio, mas parece-me espectacular.
 

StormRic

Furacão
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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Boas @StormRic

Tenho uma questão, tens fotos da piscina de ouriços da praia da grota?
Existe pouca coisa na net a falar desse sitio, mas parece-me espectacular.

Não tenho mas gostava. Nunca tive oportunidade de lá ir mesmo, só tenho vistas gerais da praia. Penso que deve ser parecida com a lagoa das estrelas do mar em Atlantis, entre a Pirolita e o Espinhaço, descobre só na maré baixa.

No fim do mês será uma boa altura para lá ir. ;)

Mesmo assim vou ver se nas fotos que tenho se percebe exactamente onde é.
 
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