Os aquecimentos estratosféricos são ainda muito discutidos na comunidade científica, sendo que os seus efeitos nos níveis mais baixos são ainda mais polémicos.
A importância destes eventos, que ocorrem quase todos os invernos, é que permitem um bloqueio a larga escala da circulação zonal (circulação de depressões entre os 40º e os 60º, no sentido oeste-este). Esse tipo de circulação acaba por ser desinteressante no nosso inverno, originando alguma precipitação a norte e tempo mais seco a sul, com temperaturas acima da normal. Portanto, sempre que esta circulação é bloqueada, a probabilidade de assistirmos a um bom evento aumenta bastante (mas não é 100% certo que isso ocorra).
A nível estratosférico (camada exterior da atmosfera), as diferenças entre uma situação normal com o vórtice polar (VP) relativamente centrado no pólo e uma situação anormal de bilocação do VP, em locais distantes do pólo, pode ser exemplificado nas seguintes cartas dos ECMWF, para os 30 hpa. A primeira, referente ao dia de hoje, mostra uma situação típica de circulação zonal, se bem que ligeiramente desfasada do pólo, e a segundo, para daqui a uma semana, mostra uma bilocação do VP, com um núcleo na Euroásia, e outro na América do Norte:
No primeiro caso, a circulação a 30 hpa ocorre, num circulo fechado em sentido anti-horário, em torno do ponto de menor pressão, como ocorre nos sistemas depressionários típicos na troposfera. No segundo caso, há dois núcleos de circulação fechados, o que favorece uma diminuição, ou até mesmo uma inversão do fluxo zonal nos níveis mais baixos. Veja-se a diferença das velocidades da circulação zonal para os dois momentos referidos nas cartas acima (a vermelho, valores positivos, circulação de oeste, a azul, valores negativos, circulação de este):
Para que haja implicações à superfície é necessário que a diminuição da velocidade da circulação zonal, ou a sua inversão, atinja os níveis mais baixos. Empiricamente, tendo por base situações passadas, essa propagação geralmente ocorre, e costuma afectar os níveis mais baixos, cerca de 2 ou 3 semanas após o aquecimento estratosférico (SSW).
Mas, se formos a ver situações passadas, houve alguns SSW que não tiveram expressão à superfície. Outros, como o de 2009, em que houve expressão à superfície, mas o anticiclone dos Açores forte fez com que não afectasse em nada a Península Ibérica. Isto também depende do local onde ocorre o SSW no círculo polar. Outros houve em que tudo correu bem, e fomos afectados por entradas frias de este ou norte (a maior parte dos casos) ou por uma circulação zonal a latitudes mais baixas.
Como exemplos de SSW que "correram bem", temos o de 2010:
http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/2010_01_31.gif
O de 1985:
http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/1985_01_03.gif
E mais recentemente, o de 2012:
http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/2012_01_17.gif
Como exemplo de um SSW que passou-nos ao lado, afectando fortemente a Itália, o de 2009 (não sei se pode ter a ver, com o facto de a bolsa estratosférica mais quente ter ficado na vertical da Península Ibérica):
http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/2009_01_29.gif
E por fim, um exemplo em que o SSW não teve grande expressão à superfície, 1988:
http://curriculum.pmartineau.webfactional.com/wp-content/svw_gallery/test/gif/1987_12_12.gif