Árvores e Florestas de Portugal

Aristocrata

Super Célula
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28 Dez 2008
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Paços de Ferreira, 292 mts
Boa noite.

Ainda ontem fui ao terreno de cultivo do meu pai.
Tem por lá vários castanheiros, nada de excessivo que o terreno é pequeno. Como há muita água crescem de forma rápida, por vezes exponencial de um ano para o outro.
Na base de alguns mostrei aos miúdos castanhas germinadas, já com o pedúnculo (perdoem-me se o termo for incorrecto) bem preso ao solo.
Arranquei um pé com 25 cm (raiz com 25 cm também).
Também apanhamos um amieiro com 10 cm de altura, um carvalho com cerca de 15 cm e um loureiro com 15 cm.
Tudo a pedido dos miúdos...;)
Já em casa apanhei 5 pés de azevinho.
Perguntam vocês: para quê?!
Bem, a ideia dos miúdos é plantarem estas árvores nativas junto ao uma linha de água\ribeiro a 1000 metros de casa - querem criar uma mini-floresta. Quem sou eu para lhes dizer que não? É claro que os apoio...

As plantas que apanhamos nunca iriam ter grande vida no terreno, já que estavam claramente a mais - as outras árvores são suficientes e ainda jovens. Os azevinheiros são seguramente mais de 40-50, tudo com menos de 2 anos, frutos que os pássaros apanham no azevinheiro de um vizinho e trazem para aqui. Na minha intenção gostaria de lhes dar uso, não os deixo crescer por cá debaixo das ramadas, sebes e jardim que tenho, o espaço já é pouco. :)

Curiosidade: ontem apanhei no meu terreno 2 morangueiros selvagens. Plantei-os no morangal que fiz esta semana, são óptimos para polinização cruzada, melhoram imenso o sabor dos morangueiros comprados - com o senão de diminuírem um pouco o tamanho das variedades comerciais, mas com isso posso eu. :D
 


frederico

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9 Jan 2009
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Ao fazer umas investigações na internet encontrei dados interessantes.

-Está referida a presença de um exemplar de Quercus patrae na Extremadura espanhola. Será o que resta de alguma população relíquia? Nos últimos 10 mil anos houve períodos mais secos na Península Ibérica alternados com períodos mais húmidos. Nos períodos secos a azinheira subia em latitude, nos períodos húmidos os carvalhos desciam. Também há Quercus patrae na Sanábria, bem perto da fronteira. Isto reforça a minha ideia de que existem algumas chances da espécie já ter existido em Portugal, em reduzido número.

- Existe apenas uma única população de Quercus robur estremadurensis na província de Badajoz, numa serra que por acaso conheço e onde já vi carvalhos de outras espécies. Parece que só existem 5 indivíduos. Havia outra população na área que desapareceu nos últimos 10 anos. Em risco estão também as populações que restam de Quercus robur na zona norte da província de Cáceres. Não sabia que a espécie existia nas serras de Gata, Francia ou Gredos, o que levanta a hipótese de também ter existido na Malcata! O local mais a sul e a Leste onde vi carvalhos-roble em abundância em Portugal foi a serra da Gardunha.

- Parece que de facto podem ainda existir Quercus canariensis em Monchique em reduzido número, eu por acaso nos meus passeios só encontrei Quercus marianica... ou então identifiquei mal.

Não consigo encontrar uma referência que tinha para a presença de Quercus robur robur no Alto Minho. O que temos em Portugal é Quercus robur broteroana, uma subespécie típica da Galiza e do Norte e Centro de Portugal que está adaptada ao nosso clima, a uma estação seca curta de 2 a 3 meses.

Alguém um dia tinha perguntado aqui qual era a vegetação original da serra a Boa Viagem na Figueira da Foz. É altamente provável que na serra houvesse carvalho-roble, em zonas mais frescas, pois no Litoral Centro a espécie aparecia pelo menos até à Marinha Grande e reaparecia na serra de Sintra. A Sul da Cordilheira Central o carvalho-roble aparecia em zonas altas serranas (serra de São Mamede, serra Sul de Badajoz) ou como espécie de galerias ripícolas (serra da Ossa, serra do Caldeirão, serra de Aracena).

- O castanheiro até ao séciulo XIX foi muito mais comum do que pensamos, era talvez tão abundante quanto os sobreiros são nos dias de hoje. A azinheira também foi mais abundante.
 

frederico

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Penso que seria assim a serra do Caldeirão antes das Campanhas do Trigo e da destruição imposta pelos incêndios dos últimos 30 anos.

- A região mais seca e quente do Nordeste, já no concelho de Alcoutim e perto do rio Guadiana, seria dominada por montado de azinheira Nas encostas mais íngremes e secas das ribeiras da Foupana ou Vascão haveria matos de zambujal, aroeira ou palmeira-anã. O sobreiro seria raro. A vegetação ripícola seria dominada pelo lódão-bastardo, pelo freixo e pelo loendreiro. No vale do Guadiana e do Beliche haveria plantações de citrinos. Ou seja, uma paisagem algo idêntico à de Barca de Alva, no Alto Douro.

- Haveria depois uma zona de transição, já nas freguesias de Vaqueiros, Azinhal ou Odeleite, ou a norte da freguesia de Cachopo. Nesta zona o sobreiro já começa a substituir a azinheira, à medida que a precipitação média anual aumenta. Teríamos uma paisagem mosaico, secções de montado, matos de esteva com murtas e catapereiros, sobrais e azinhais antigos e plantações amendoeira, figueira e alfarrobeira, estas mais comuns nas vertentes voltadas para Sul.

- Na secção central e ocidental da serra, mais húmida, nos concelhos de Tavira, São Brás de Alporte ou Loulé, o sobreiro seria a árvore dominante. Além dos sobrais para produção de cortiça haveria matos abundantes com medronheiro, esteva ou murta. Nos vales das ribeiras teríamos plantações de castanheiros e de nogueiras, e galerias ripícolas com freixo, amieiro, carvalhos (Quercus marianica e Quercus robur estremadurensis), álamo ou choupo.
 

frederico

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Em terrenos abandonados do barrocal algarvio têm nascido espontaneamente muitos pinheiros-mansos. Num terreno perto da casa dos meus pais nasceram dois há uns anos. Como as sementes foram lá parar é um mistério pois num raio de 1000 metros não há nenhum pinheiro-manso. Quem passar na A22 e prestar atenção à paisagem pode ver estes pinheiros dispersos pelo maquis do barrocal. Pessoalmente penso que os mapas de distribuiçao natural do pinheiro-manso não estão correcto. Creio que a espécie se estenderia bem a Norte do Cabo Mondego, talvez até às rias galegas, e no Sul estender-se-ia para o interior, por exemplo, no Algarve chegaria até à serra.
 

camrov8

Cumulonimbus
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14 Set 2008
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Em terrenos abandonados do barrocal algarvio têm nascido espontaneamente muitos pinheiros-mansos. Num terreno perto da casa dos meus pais nasceram dois há uns anos. Como as sementes foram lá parar é um mistério pois num raio de 1000 metros não há nenhum pinheiro-manso. Quem passar na A22 e prestar atenção à paisagem pode ver estes pinheiros dispersos pelo maquis do barrocal. Pessoalmente penso que os mapas de distribuiçao natural do pinheiro-manso não estão correcto. Creio que a espécie se estenderia bem a Norte do Cabo Mondego, talvez até às rias galegas, e no Sul estender-se-ia para o interior, por exemplo, no Algarve chegaria até à serra.
Portugal infelizmente e devido ao seu tamanho e por ventura de más politicas agrícolas tem uma distribuição arbórea e não só artificial existem poucas áreas intactas onde a vegetação cresça naturalmente. O que vejo é a monocultura com as árvores que melhor se adaptam ao clima como o pinheiro e afim depois temos as infestantes e no fim o eucalipto. Acho que por aqui já todos estiveram em eucaliptos, são desertos autenticos só infestantes ou como leguminosas como o tojeiro e as maias. não existe alimento nenhum como arbustos com bagas tirando as silvas. O ano passado foi detectado um urso no norte, digam-me o iria ele comer em eucaliptais e pinhais
 

"Charneca" Mundial

Super Célula
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28 Nov 2018
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Portugal infelizmente e devido ao seu tamanho e por ventura de más politicas agrícolas tem uma distribuição arbórea e não só artificial existem poucas áreas intactas onde a vegetação cresça naturalmente. O que vejo é a monocultura com as árvores que melhor se adaptam ao clima como o pinheiro e afim depois temos as infestantes e no fim o eucalipto. Acho que por aqui já todos estiveram em eucaliptos, são desertos autenticos só infestantes ou como leguminosas como o tojeiro e as maias. não existe alimento nenhum como arbustos com bagas tirando as silvas. O ano passado foi detectado um urso no norte, digam-me o iria ele comer em eucaliptais e pinhais
O urso foi para a Galiza, e na Galiza as políticas florestais também não são as melhores...
Há apenas uma geração havia um bosque tradicional enorme na encosta norte do Gerês (do lado galego), cheio de carvalhos, castanheiros, freixos, etc. Entretanto há uns 15 anos desbastaram a floresta toda e plantaram pinheiros-bravos e eucaliptos. E isto tudo com o apoio da Xunta e da ENCE, que é a empresa nacional de celulose de Espanha. E assim acabou uma das últimas florestas autóctones do oeste da Galiza. Restam umas quantas florestas no leste da Galiza, na Cordilheira Cantábrica, mas mesmo essas pouco a pouco vão desaparecendo, tanto que já existem petições para proteger a floresta autóctone. :(
 

RStorm

Cumulonimbus
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11 Dez 2017
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Penso que seria assim a serra do Caldeirão antes das Campanhas do Trigo e da destruição imposta pelos incêndios dos últimos 30 anos.

- A região mais seca e quente do Nordeste, já no concelho de Alcoutim e perto do rio Guadiana, seria dominada por montado de azinheira Nas encostas mais íngremes e secas das ribeiras da Foupana ou Vascão haveria matos de zambujal, aroeira ou palmeira-anã. O sobreiro seria raro. A vegetação ripícola seria dominada pelo lódão-bastardo, pelo freixo e pelo loendreiro. No vale do Guadiana e do Beliche haveria plantações de citrinos. Ou seja, uma paisagem algo idêntico à de Barca de Alva, no Alto Douro.

- Haveria depois uma zona de transição, já nas freguesias de Vaqueiros, Azinhal ou Odeleite, ou a norte da freguesia de Cachopo. Nesta zona o sobreiro já começa a substituir a azinheira, à medida que a precipitação média anual aumenta. Teríamos uma paisagem mosaico, secções de montado, matos de esteva com murtas e catapereiros, sobrais e azinhais antigos e plantações amendoeira, figueira e alfarrobeira, estas mais comuns nas vertentes voltadas para Sul.

- Na secção central e ocidental da serra, mais húmida, nos concelhos de Tavira, São Brás de Alporte ou Loulé, o sobreiro seria a árvore dominante. Além dos sobrais para produção de cortiça haveria matos abundantes com medronheiro, esteva ou murta. Nos vales das ribeiras teríamos plantações de castanheiros e de nogueiras, e galerias ripícolas com freixo, amieiro, carvalhos (Quercus marianica e Quercus robur estremadurensis), álamo ou choupo.
Desculpem a minha ignorância, mas não fazia ideia de que a palmeira-anã era nativa de Portugal :confused: Estamos sempre a aprender :)
 
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"Charneca" Mundial

Super Célula
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Corroios (cota 26); Aroeira (cota 59)
@RStorm A palmeira-anã é uma espécie autóctone de muitos pontos da Bacia Mediterrânica: Algarve, Andaluzia, Levante, Castela-Mancha, Catalunha, sul de Aragão, Mediterrâneo francês, Península Itálica, algumas ilhas mediterrânicas e Marrocos. :)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Chamaerops

P.S. Isto é uma palmeira-anã:
palmeira-ana_PT_500_0000376.jpg
 
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frederico

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Em meio natural elas dificilmente atingem essas dimensões. Tirei esta imagem da net, são normalmente estas as dimensões do que se vê no Algarve.

No entanto... conheço um local onde elas fazem galeria ripícola e estão bem crescidinhas. Se passar lá quando for ao Algarve no Verão tiro fotos e meto aqui no fórum.

Chamaerops+humilis++%2528P+I%2529.JPG
 

frederico

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Desculpem a minha ignorância, mas não fazia ideia de que a palmeira-anã era nativa de Portugal :confused: Estamos sempre a aprender :)

Em Portugal já vi a sua presença na serra de Castro Marim e Cacela, litoral do Barlavento, e no litoral alentejano (concelho de Santiago do Cacém).

O ICN no seu Guia de árvores de Portugal indica que a espécie ocorre no Algarve e litoral alentejano. Na Andaluzia é muito mais abundante.

Antigamente era utilizada para fazer vassouras. Em meio natural não se pode dizer que é uma espécie abundante pois as lavouras dão cabo delas.
 

Dan

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O ano passado foi detectado um urso no norte, digam-me o iria ele comer em eucaliptais e pinhais

O urso apareceu aqui no norte do concelho de Bragança. Não foi numa região de eucaliptos ou mimosas, foi numa área de castanheiros, carvalhos e outros tipos de folhosas, também poderá ter algum pinheiro silvestre ou pinheiro bravo, mas dominam as folhosas.
 

bandevelugo

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Portugal infelizmente e devido ao seu tamanho e por ventura de más politicas agrícolas tem uma distribuição arbórea e não só artificial existem poucas áreas intactas onde a vegetação cresça naturalmente. O que vejo é a monocultura com as árvores que melhor se adaptam ao clima como o pinheiro e afim depois temos as infestantes e no fim o eucalipto. Acho que por aqui já todos estiveram em eucaliptos, são desertos autenticos só infestantes ou como leguminosas como o tojeiro e as maias. não existe alimento nenhum como arbustos com bagas tirando as silvas. O ano passado foi detectado um urso no norte, digam-me o iria ele comer em eucaliptais e pinhais

"O que é que ele iria comer em eucaliptais e pinhais"???!!!! De que é que o urso veio à procura quando entrou em Portugal?

Aquilo que come, mel.

http://kapitaldonordeste.pt/urso-pardo-delicia-se-com-50-quilos-de-mel-em-montesinho

Logo, não me parece que vá passar fome no norte do país.





[Nota adicional, agora sem ironia: sinceramente, faz-me confusão esta permanente desqualificação da floresta privada de pinheiros e eucaliptos. Oxalá esteja enganado, mas se calhar só com as provações que estão aí a chegar é que talvez nós, portugueses, comecemos a dar valor aos recursos que temos no país e a agradecer a quem, do seu bolso, investiu em floresta]
 

RStorm

Cumulonimbus
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@RStorm A palmeira-anã é uma espécie autóctone de muitos pontos da Bacia Mediterrânica: Algarve, Andaluzia, Levante, Castela-Mancha, Catalunha, sul de Aragão, Mediterrâneo francês, Península Itálica, algumas ilhas mediterrânicas e Marrocos. :)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Chamaerops

P.S. Isto é uma palmeira-anã:
palmeira-ana_PT_500_0000376.jpg
Em Portugal já vi a sua presença na serra de Castro Marim e Cacela, litoral do Barlavento, e no litoral alentejano (concelho de Santiago do Cacém).

O ICN no seu Guia de árvores de Portugal indica que a espécie ocorre no Algarve e litoral alentejano. Na Andaluzia é muito mais abundante.

Antigamente era utilizada para fazer vassouras. Em meio natural não se pode dizer que é uma espécie abundante pois as lavouras dão cabo delas.
Não fazia mesmo ideia de que elas também faziam parte da nossa flora. Não é muito comum ver esta espécie fora dos nossos jardins.
Quando for ao Algarve terei melhor atenção para ver se as encontro ;) Obrigado pelo esclarecimento aos dois :thumbsup: