Árvores e Florestas de Portugal



frederico

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Outra espécie de tília que ocorre no Norte de Espanha.

Tylia platyphyllos

1024px-Tilia_platyphyllos_range.svg.png
 

frederico

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Uma forma de inferior a vegetação dominante de um local no passado é olhar para a toponímia.

Em Portugal há inúmeros locais com toponímias que evocam a presença de carvalhos. Um exemplo é a serra do Cercal, no litoral alentejano, onde nos dias de hoje o carvalho-cerquinho é raríssimo, mas teria sido a árvore dominante séculos atrás.

Alguns topónimos que me recordo de ver em Portugal:

- Carvalhal, Carvalhos, Carvalhoso, Carvalhido, Sobral de Monte Agraço, Azinhal, Zambujal, Zambujeiro, Cercal, Murta, Murteira, Espinheira, Vidoeiro, Sobreiro, Carvalha, Castanheira de Pêra, Castanheira, Espinhal, Avelar, Avelãs de Caminho, Pinheiro, Freixial, Freixoso.

Certamente que a lista é muito mais extensa.
 

frederico

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Uma pena que na lista não tenham posto em primeiro lugar a espécie mais importante de todas: o carvalho-roble. Já vi um estudo genético e os carvalhos do Centro de Portugal são diferentes dos carvalhos do Minho. Por isso, deveriam ser usadas bolotas de árvores locais.

Porra, que o desgraçado do carvalho-roble está regularmente a ser esquecido e desprezado!
 
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frederico

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9 Jan 2009
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Drone promete semear 100 mil árvores por dia

Os drones (ou um determinado drone) são assunto de ordem do dia e alvos de críticas pelas aparições em zonas proibitivas, sendo “misturados” drones de asa fixa com outros tipos de drones, há alguma desinformação sobre o assunto e, no futuro próximo, essa falta de rigor poderá condicionar a utilização deste dispositivo.

Hoje mostramos como os drones podem ter uma importância extrema no combate à desflorestação. Sim, há drones que estão já a semear milhares de árvores por dia.

Um drone pode ser utilizado para criar florestas
A batalha tem estado a ser perdida no que toca à compensação de quem trabalha para plantar o que é arrancado, queimado ou destruído. O pulmão do mundo é afetado diariamente e, de acordo com a Scientific American, a maioria dos analistas atribui que 15% das emissões globais de carbono têm como “responsável” a desflorestação. Isso significa que, ao cortar ou a queimar as florestas, estamos a contribuir diretamente para um rápido aumento das alterações climáticas.



https://pplware.sapo.pt/informacao/drone-promete-semear-100-mil-arvores-por-dia/


Todos os anos poderíamos ter voluntários a apanhar bolotas em bosques relíquia e depois poderiam ser espalhadas por via aérea. Já me tinha ocorrido esta ideia para recuperar a serra algarvia mas nunca tinha pensado em drones.
 

PedroNTSantos

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27 Dez 2008
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Covilhã [562m]/Algoz (Silves)[49m]


No mês passado participei numa atividade, junto à N2, um pouco a norte de São Brás, e fotografei o que me parece ser um Q. faginea; com sorte ainda era da sub-espécie que referes!!...

Quanto ao sobreiro....concordo contigo, empiricamente também me parece que uma parte do problema no sul é o facto de existirem zonas de sobreiro que estão há muito em stress hídrico; por outras palavras, por estar em locais mais propícios à azinheira, ao carrasco ou até mesmo ao zambujeiro. Já levo tempo suficiente no Algarve (15 anos) para observar como a sucessão de anos secos está a debilitar a espécie...
Mas quando, por outro lado, vou a Braga (a minha mulher é de lá...) que maravilha de sobreiros, estão por todo o lado: viçosos, pujantes, magníficos... Vejo sobreiros a crescer até a poucos metros do mar, em Esposende e mesmo na Mata do Camarido, em Caminha, à sombra de austrálias!!...Não tenho dúvidas que o sobreiro é muito mais característico do Noroeste do que de grande parte do interior Sul.

Também me parece que tens razão quanto às tílias; acho que só mesmo nos Cantábricos elas encontram um cilma atlântico puro que lhes permite prosperar; e mesmo aí, do pouco que conheço, nunca são o elemento fundamental da floresta, sempre aquém dos carvalhos e das faias.

Apesar de tudo, em partes da Beira Interior, continua a ser possível ver imensidões de carvalhos; há poucos anos, fiz a estrada entre Vilar Formoso e o Sabugal e fiquei maravilhado com a enorme mancha, quase intocada, de Q. pyrenaica. Mesmo na Cova da Beira, onde os pomares e o regadio ainda não chegaram, parece-me haver mais carvalhos hoje do que me lembro de ver em criança (em parte também pelo crescente desinteresse pelo pinhal). Infelizmente, nas faldas da Estrela, como em muitas outras zonas, a exponencial progressão da Acacia dealbata tem interferido com a regeneração e progressão dos carvalhais.
E, claro, temos ainda o Reino Maravilhoso de Trás-os-Montes, que será hoje a parcela do continente onde a paisagem, e a biodiversidade, estarão mais preservadas.
 

frederico

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Em Inglaterra ainda se preservam os espaços em torno de muitas igrejas, que não foram pavimentados, especialmente nas áreas mais rurais. Uma das árvores mais comuns nestes espaços é o teixo! Já encontrei referência à presença de teixos no passado junto às capelas e igrejas do Norte de Espanha. Será que num passado distante esta tradição também existiu no Norte de Portugal? O teixo era uma árvore sagrada para os celtas, tal como o carvalho. O Norte de Portugal e o Norte de Espanha, antes da invasão romana, faziam parte do vasto mundo da cultura celta. Falava-se uma língua celta como no ocidente de França e ilhas britânicas, usavam-se os mesmos símbolos, alimentos ou instrumentos musicais. Quando o cristianismo foi implementado, adoptou muita coisa do paganismo. Por isso aparecem green men nas igrejas medievais portuguesas. A partir do século XVI, com a Contra Reforma e a Inquisição, a Igreja em Portugal passou a considerar o «culto das árvores» uma prática pagã e até satânica e muita coisa nas igrejas portuguesas foi destruída à picareta. Será que os teixos também ocorriam junto a igrejas e capelas no Norte do país?

Yew-Tree.jpg
 

frederico

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No mês passado participei numa atividade, junto à N2, um pouco a norte de São Brás, e fotografei o que me parece ser um Q. faginea; com sorte ainda era da sub-espécie que referes!!...

Quanto ao sobreiro....concordo contigo, empiricamente também me parece que uma parte do problema no sul é o facto de existirem zonas de sobreiro que estão há muito em stress hídrico; por outras palavras, por estar em locais mais propícios à azinheira, ao carrasco ou até mesmo ao zambujeiro. Já levo tempo suficiente no Algarve (15 anos) para observar como a sucessão de anos secos está a debilitar a espécie...
Mas quando, por outro lado, vou a Braga (a minha mulher é de lá...) que maravilha de sobreiros, estão por todo o lado: viçosos, pujantes, magníficos... Vejo sobreiros a crescer até a poucos metros do mar, em Esposende e mesmo na Mata do Camarido, em Caminha, à sombra de austrálias!!...Não tenho dúvidas que o sobreiro é muito mais característico do Noroeste do que de grande parte do interior Sul.

Também me parece que tens razão quanto às tílias; acho que só mesmo nos Cantábricos elas encontram um cilma atlântico puro que lhes permite prosperar; e mesmo aí, do pouco que conheço, nunca são o elemento fundamental da floresta, sempre aquém dos carvalhos e das faias.

Apesar de tudo, em partes da Beira Interior, continua a ser possível ver imensidões de carvalhos; há poucos anos, fiz a estrada entre Vilar Formoso e o Sabugal e fiquei maravilhado com a enorme mancha, quase intocada, de Q. pyrenaica. Mesmo na Cova da Beira, onde os pomares e o regadio ainda não chegaram, parece-me haver mais carvalhos hoje do que me lembro de ver em criança (em parte também pelo crescente desinteresse pelo pinhal). Infelizmente, nas faldas da Estrela, como em muitas outras zonas, a exponencial progressão da Acacia dealbata tem interferido com a regeneração e progressão dos carvalhais.
E, claro, temos ainda o Reino Maravilhoso de Trás-os-Montes, que será hoje a parcela do continente onde a paisagem, e a biodiversidade, estarão mais preservadas.


O sobreiro não se adapta a precipitações inferiores a 500 mm por ano. No litoral algarvio ainda se vê em zonas que têm entre 450 e 500 mm porque o calor do Verão é atenuado pela brisa marítima, os solos são profundos e há mais humidade no ar. Já em Mértola não existem este factores atenuantes!

Podes ver sobreiros perto da Praia Verde, junto ao pinhal, mas alguns estão a morrer, junto à EN 125 na Altura ou no pinhal do Ludo. O sobreiro terá sido comum no sotavento algarvio e Algarve Central associado ao pinheiro-manso e à azinheira, junto ao litoral. Estas formações são raríssimas, e estão muito degradadas e em risco de desaparecer devido à pressão humana. Onde encontras este tipo de habitat com extensão decente é na Andaluzia Ocidental. Seria óptimo que houvesse uma boa mata nativa no sotavento algarvio, pública e extensa. E que o pinhal de Monte Gordo fosse recuperado como deve ser.
 

frederico

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Uma formação pouco conhecida mas com grande valor ecológico são os piornais. Este tipo de mata arbustiva é típica de solos arenosos litorais do sotavento algario e Andaluzia ocidental. Em Portugal há um bom piornal entre Manta Rota e Cacela Velha, e entre a Altura e Praia Verde. Na realidade até décadas atrás existiu um piornal contínuo entre o início da Ria Formosa e a mata da Praia Verde.

Antes da florestação com pinheiros, a maior parte da mata de Monte Gordo era um extenso piornal. Em Espanha também há piornais interessantes na província de Huelva. Este é o habitat perfeito para o camaleão. No piornal da Manta Rota quando era criança abundavam os coelhos e lebres, e havia uma ou outra raposa. Em Doñana, há linces.

O piorno (Retama monosperma) tem grande potencial para uso em jardinagem, que é desprezado em Portugal mas aproveitado noutros países. A espécie fica ressequida nas áreas dunares nos meses de Verão, mas em solos agrícolas aguenta-se bem verde todo o ano.

arbusto-lleno-de-flores-blancas.jpg


Bons piornais:

- Entre a Manta Rota e início da Ria Formosa;
- Entre Altura e Praia Verde;
- Ponta da Areia, Vila Real de Santo António;
- Restinga da Ilha Canela, perto de Ayamonte;
- Reserva natural da foz do Rio Piedras em Lepe.

PS: parte substancial do litoral da Andaluzia Ocidental era um piornal. Os pinheiros que lá vemos foram plantados pelo Homem para estabilizar a linha do litoral.
 

Pek

Cumulonimbus
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Em Inglaterra ainda se preservam os espaços em torno de muitas igrejas, que não foram pavimentados, especialmente nas áreas mais rurais. Uma das árvores mais comuns nestes espaços é o teixo! Já encontrei referência à presença de teixos no passado junto às capelas e igrejas do Norte de Espanha. Será que num passado distante esta tradição também existiu no Norte de Portugal? O teixo era uma árvore sagrada para os celtas, tal como o carvalho. O Norte de Portugal e o Norte de Espanha, antes da invasão romana, faziam parte do vasto mundo da cultura celta. Falava-se uma língua celta como no ocidente de França e ilhas britânicas, usavam-se os mesmos símbolos, alimentos ou instrumentos musicais. Quando o cristianismo foi implementado, adoptou muita coisa do paganismo. Por isso aparecem green men nas igrejas medievais portuguesas. A partir do século XVI, com a Contra Reforma e a Inquisição, a Igreja em Portugal passou a considerar o «culto das árvores» uma prática pagã e até satânica e muita coisa nas igrejas portuguesas foi destruída à picareta. Será que os teixos também ocorriam junto a igrejas e capelas no Norte do país?

Yew-Tree.jpg

E no presente. Contando apenas Astúrias já existem actualmente 280 igrejas com teixos:

https://www.elcomercio.es/v/20111227/oriente/tejos-iglesia-oriente-20111227.html

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3.jpg


E continuam plantando:
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Pek

Cumulonimbus
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Obrigado @Pek pela informação.

Alguém tem conhecimento de algo assim no Norte de Portugal?

Se serve, em Sanabria e outras áreas de Zamora muito próximas à raia também há teixos, ou azevinhos em seu defeito, ao lado das igrejas. Duas espécies de clara tradição celta. Além disso, em vales portugueses até 1640 (Hermisende-Ermesende), essas espécies ainda permanecem nas igrejas.
 

MSantos

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3 Out 2007
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No mês passado participei numa atividade, junto à N2, um pouco a norte de São Brás, e fotografei o que me parece ser um Q. faginea; com sorte ainda era da sub-espécie que referes!!...

Quanto ao sobreiro....concordo contigo, empiricamente também me parece que uma parte do problema no sul é o facto de existirem zonas de sobreiro que estão há muito em stress hídrico; por outras palavras, por estar em locais mais propícios à azinheira, ao carrasco ou até mesmo ao zambujeiro. Já levo tempo suficiente no Algarve (15 anos) para observar como a sucessão de anos secos está a debilitar a espécie...
Mas quando, por outro lado, vou a Braga (a minha mulher é de lá...) que maravilha de sobreiros, estão por todo o lado: viçosos, pujantes, magníficos... Vejo sobreiros a crescer até a poucos metros do mar, em Esposende e mesmo na Mata do Camarido, em Caminha, à sombra de austrálias!!...Não tenho dúvidas que o sobreiro é muito mais característico do Noroeste do que de grande parte do interior Sul.

Também me parece que tens razão quanto às tílias; acho que só mesmo nos Cantábricos elas encontram um cilma atlântico puro que lhes permite prosperar; e mesmo aí, do pouco que conheço, nunca são o elemento fundamental da floresta, sempre aquém dos carvalhos e das faias.

Apesar de tudo, em partes da Beira Interior, continua a ser possível ver imensidões de carvalhos; há poucos anos, fiz a estrada entre Vilar Formoso e o Sabugal e fiquei maravilhado com a enorme mancha, quase intocada, de Q. pyrenaica. Mesmo na Cova da Beira, onde os pomares e o regadio ainda não chegaram, parece-me haver mais carvalhos hoje do que me lembro de ver em criança (em parte também pelo crescente desinteresse pelo pinhal). Infelizmente, nas faldas da Estrela, como em muitas outras zonas, a exponencial progressão da Acacia dealbata tem interferido com a regeneração e progressão dos carvalhais.
E, claro, temos ainda o Reino Maravilhoso de Trás-os-Montes, que será hoje a parcela do continente onde a paisagem, e a biodiversidade, estarão mais preservadas.



Pela imagem parece mais carvalhiça, ou carvalho-anão (Quercus lusitanica). :)