Árvores e Florestas de Portugal

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
Fazendo aqui um pequeno off-topic… todo o Norte e Centro do país sofrem um processo muito intenso de transformação de paisagem mais Atlântica numa paisagem mais mediterrânica… isso ocorre muito por um processo de selecção positiva do sobreiro e azinheira. Como o sobreiro e a azinheira são árvores protegidas por lei sempre que há limpezas de terrenos ou necessidade de madeira as vítimas acabam por ser os carvalhos. Ao fim de umas décadas os carvalhos desaparecem e o ficam os sobreiros e as azinheiras que entretanto proliferaram. Assisti a este processo in loco no Grande Porto.
 


frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
Toda a vertente norte do alto Sabor está ainda bem coberta por bosques de floresta mediterrânica, com muita azinheira. Ver anexo 3972
O Quercus pyrenaica faz a associação com a azinheira em áreas de transição. Mas há outras árvores que participam neste tipo de floresta e algumas estão quase extintas em Portugal, resistindo apenas pequenas núcleos isolados.
 

Crazyrain

Nimbostratus
Registo
16 Jan 2020
Mensagens
924
Local
Viana do Castelo , Neiva ( 43 m )
Fazendo aqui um pequeno off-topic… todo o Norte e Centro do país sofrem um processo muito intenso de transformação de paisagem mais Atlântica numa paisagem mais mediterrânica… isso ocorre muito por um processo de selecção positiva do sobreiro e azinheira. Como o sobreiro e a azinheira são árvores protegidas por lei sempre que há limpezas de terrenos ou necessidade de madeira as vítimas acabam por ser os carvalhos. Ao fim de umas décadas os carvalhos desaparecem e o ficam os sobreiros e as azinheiras que entretanto proliferaram. Assisti a este processo in loco no Grande Porto.

OFF- TOPIC: Aqui no Minho , eu verifico ( durante as minhas caminhadas e incursões montanhistas ) , que o Carvalho ainda é de longe a espécie que mais cresce de forma espontânea , mesmo em zonas dominadas por pinheiros e eucaliptos . E no Alto Minho ainda existem muitas extensões de carvalhais bem conservados , tal como no Baixo Minho na Serra da Lameira . No Grande Porto , o problema é de duas ordens de grandeza : a urbanização excessiva por um lado e por outro a falta de visão estratégica pois as serras á volta do Porto ( com um enorme potencial ambiental paisagístico e turístico ) , foram transformadas num imenso eucaliptal .
 
Última edição:

PedroNTSantos

Nimbostratus
Registo
27 Dez 2008
Mensagens
514
Local
Covilhã [562m]/Algoz (Silves)[49m]
No vale do Sabor, até aos 700 / 800 metros de altitude, domina a azinheira, cotas superiores, são já o reino do carvalho negral. Nas margens do rio, amieiros e outras folhosas de grande porte.
Na Serra da Estrela a azinheira surge até altitudes da ordem dos 1300m, por exemplo, junto ao posto de vigia acima da Pousada de Portugal (no antigo sanatório) ou ainda na parte superior do vale do Beijames (por onde o fogo, infelizmente, passou neste Verão). Apesar de, em teoria, já ser território do carvalho-negral, a azinheira consegue prosperar em condições extremas, ainda que assuma um porte mais arbustivo.
Toda a Estrela, como zona de transição entre o mundo atlântico e o mundo mediterrânica, é muito interessante do ponto de vista da botânica. Na encosta da Covilhã, por exemplo, crescem azinheiras, sobreiros, carvalho-negral e alvarinho e, se vamos para o domínio das herbáceas, a diversidade e riqueza será ainda mais interessante.
 

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
Na Serra da Estrela a azinheira surge até altitudes da ordem dos 1300m, por exemplo, junto ao posto de vigia acima da Pousada de Portugal (no antigo sanatório) ou ainda na parte superior do vale do Beijames (por onde o fogo, infelizmente, passou neste Verão). Apesar de, em teoria, já ser território do carvalho-negral, a azinheira consegue prosperar em condições extremas, ainda que assuma um porte mais arbustivo.
Toda a Estrela, como zona de transição entre o mundo atlântico e o mundo mediterrânica, é muito interessante do ponto de vista da botânica. Na encosta da Covilhã, por exemplo, crescem azinheiras, sobreiros, carvalho-negral e alvarinho e, se vamos para o domínio das herbáceas, a diversidade e riqueza será ainda mais interessante.
Na zona do vale do Zêzere entre a Gardunha e a Covilhã pareceu-me que a árvore dominante seria o Quercus robur, que depois continua a aparecer encosta acima na Covilhã e na Gardunha o Quercus robur parece-me dominante com o Quercus pyrenaica. Malta da Quercus disse-me há muitos anos que a azinheira ocupava territórios do carvalho ou do sobreiro no Interior Norte e Centro quando os solos eram sujeitos a erosão extrema. Depois como o clima mudou nos últimos milénios ficaram bosques relíquia de azinheira em território que seria actualmente do carvalho se não fosse a acção humana. Toda a Serra da Estrela parece-me um Gerês em potência no que diz respeito a biodiversidade arbórea mas com uma maior acção do Homem que nos trouxe até ao cenário desolador actual.

PS: se eu mandasse pelo menos 25% da Estrela seria para renaturalizar com floresta nativa. Mas não temos população nem elites políticas dispostas a isto. Também introduziria portagens no acesso à Torre (o dinheiro seria para investir no Parque em renaturalização e apoio às populações e não sairia um cêntimo do parque para funcionalismo, passadiços, teleféricos e outras eco-paroladas).
 
Última edição:

PedroNTSantos

Nimbostratus
Registo
27 Dez 2008
Mensagens
514
Local
Covilhã [562m]/Algoz (Silves)[49m]
Na zona do vale do Zêzere entre a Gardunha e a Covilhã pareceu-me que a árvore dominante seria o Quercus robur, que depois continua a aparecer encosta acima na Covilhã e na Gardunha o Quercus robur parece-me dominante com o Quercus pyrenaica. Malta da Quercus disse-me há muitos anos que a azinheira ocupava territórios do carvalho ou do sobreiro no Interior Norte e Centro quando os solos eram sujeitos a erosão extrema. Depois como o clima mudou nos últimos milénios ficaram bosques relíquia de azinheira em território que seria actualmente do carvalho se não fosse a acção humana. Toda a Serra da Estrela parece-me um Gerês em potência no que diz respeito a biodiversidade arbórea mas com uma maior acção do Homem que nos trouxe até ao cenário desolador actual.

PS: se eu mandasse pelo menos 25% da Estrela seria para renaturalizar com floresta nativa. Mas não temos população nem elites políticas dispostas a isto. Também introduziria portagens no acesso à Torre (o dinheiro seria para investir no Parque em renaturalização e apoio às populações e não sairia um cêntimo do parque para funcionalismo, passadiços, teleféricos e outras eco-paroladas).
O vale do Zêzere, entre a Covilhã e a Gardunha, é, na atualidade, sobretudo Quercus pyrenaica, com núcleos, mais ou menos localizados, de sobreiro(que podem, de facto, ser, ou ter sido, potenciados por ação humana); claro que também existe Quercus robur mas, na Cova da Beira, pelo que observo na atualidade, tendem a ser exemplares isolados.
Ao contrário, assim que se começa a subir em altitude até aos 900/1000m, na encosta da Covilhã, o Quercus robur começa a ganhar preponderância e, ao palmilhar vários troços dessa encosta, vejo, com alguma surpresa, muitos mais rebentos de Q. robur do que de Q. pyrenaica. Na encosta, o sobreiro é pouco frequente e nunca sobe acima dos 800m e a azinheira aparece, precisamente, a maior altitude, em solos onde, provavelmente, devido à erosão, o Quercus pyrenaica não consegue prosperar.

Na encosta do Fundão da Serra da Gardunha, a expansão contínua de pomares de cereja, tem limitado os carvalhais que seriam, provavelmente, mais de Q. robur do que de Q. pyrenaica, à semelhança do que se observa na encosta da Covilhã.

Estas conclusões, visíveis a qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos (e de interesse) pelo assunto, contrariam aquela ideia estanque de que a Serra da Estrela tem apenas 3 andares: o basal, até aos 800m, dominado em termos arbóreos pelo sobreiro e pela azinheira; o intermédio, dominado pelo carvalho-negral e o superior, onde as árvores cederiam a posição dominante a arbustos, como o zimbro.



A verdade é que a Estrela, como a generalidade das serras do Centro e do Norte de Portugal, incluindo algumas serras do Sul, como São Mamede e mesmo Monchique, são uma deliciosa mistura de elementes atlânticos e do Mediterrâneo, a que acrescem efeitos da continentalidade (sobretudo em Trás-os-Montes), o que torna as nossas serras apaixonantes pelo convívio entre espécies aparentemente tão antagónicas.

Depois temos o lado negativo da influência humana, como os incêndios e o que de pior se lhes segue, nomeadamente o imparável avanço das espécies invasoras, como as mimosas e outras espécies de acácias. E nisso, o Gerês e a Estrela também padecem do mesmo mal...Este é um dos motivos pelos quais gosto cada vez mais das paisagens transmontanas, por, ao contrário do Minho e das Beiras, ainda terem uma presença muito escassa das "amigas australianas".
 
Última edição:

frederico

Furacão
Registo
9 Jan 2009
Mensagens
10,319
Local
Porto
Estas descrições antigas da vegetação em Portugal como a que referes dos tais andares estão muito desactualizadas e incorrectas. No Sul o Carvalho-português seria muito mais comum do que se diz, esta espécie tolera muito melhor a seca que o sobreiro. Nas descrições antigas do barrocal algarvio falam muito do maquis e da azinheira mas o que vejo no terreno é outra coisa: o Pinheiro-manso a crescer espontaneamente nos terrenos abandonados, o Carvalho-português a aparecer nas encostas voltadas a Norte, e nos vales entre as colinas e cerros muitos freixos, choupos, e até há ulmeiros. Portanto a realidade iria muito além de azinheiras e matos de aroeira.

Na serra de Monchique as descrições também estão erradas. Não existe apenas um Carvalho na serra. Na realidade naquela zona há 4 carvalhos. O Quercus robur e o Quercus canariensis aparecem também nas serranias de Aljezur e de Odemira, há presença do Quercus robur, hoje quase extinto, e há o Quercus faginea. O castanheiro não se restringe ao topo da serra mas surge também nas serras de Odemira a muitos quilómetros de Monchique. O rododendro também ocorre longe da serra e já vi vários perto de Odeceixe.

Infelizmente em Portugal no século XIX o território foi quase totalmente privatizado. Acabaram os baldios, terras comunitárias, as terras da Igreja e das Ordens religiosas. O processo continuou no século XX. E por causa desses processos históricos não temos floresta pública e comunitária. No clima português a regeneração da floresta é muito lenta, por causa do Verão seco. O que resta de bosquetes relíquia está em terrenos abandonados de privados. No dia que forem vendidos ou houver partilhas já se sabe o que acontecerá. Estão condenados a prazo. Sem floresta pública vigiada ou nas mãos de Organizações ambientais não há futuro. Nem o que é do Estado já está a salvo basta ver o que aconteceu na Mata dos Medos.