A costa do Parque Natural de Sintra-Cascais tem lugares tão surpreendentes quanto inacessíveis.
Percorrendo os caminhos ao longo da beira das falésias e vertiginosas encostas que terminam em abruptos de altura variável, em alguns pontos até 150m e noutros permitindo chegar mesmo ao nível do oceano, vai-se descobrindo lugares que nos inspiram a imaginar lendas e segredos ou locais que são mesmo pequenos paraísos reais.
Agora que o tempo está quente no interior mas fresco neste litoral e o mar como um lago e com águas mornas (20ºC no litoral à volta da Roca!) é o ideal para explorar esta região. Preparando novas aventuras recordo algumas visitas de anos anteriores.
"Atlantis" ou "Atlântida" foi assim nomeado não por alguma realidade histórica mas por ser um lugar singular que nos leva a imaginar histórias e mitos; por ser longe de tudo e exigir para ser atingido aquele esforço que só o fascínio da descoberta consegue sustentar.
Claro que já era bem conhecido desde sempre por pescadores das rochas, capazes de encontrar caminhos e passagens para os mais tortuosos lugares que os levem àquele ponto ideal onde a pesca é mais prolífera, onde a sensação de desafio é maior, onde o isolamento e a proximidade do oceano é mais profunda.
Então pouco direi sobre os segredos para atingir Atlantis, apenas que se situa... a sul da Roca e a norte da Pirolita. Embora o acesso pela Pirolita seja o mais longo, mas relativamente fácil até se chegar próximo, é por aí que recomendo que se faça o caminho de descoberta: permite observar todo o trecho de costa para norte até ao Espinhaço (o promontório paralelo à Roca e que possui na sua extremidade uma das mais antigas fortificações de costa, uma relíquia já em ruínas) e ir passando por notáveis falésias e formações rochosas.
Há um acesso muito mais curto mas mais vertiginoso pela Azóia, pelo caminho bem arranjado que também leva ao Espinhaço. Este caminho também permitirá atingir a Greta, na base de uma das falésias mais impressionantes deste litoral e onde se pratica escalada numa parede de cerca de 100m. Lá iremos.
Tomar o caminho exterior ao longo do muro norte da propriedade da Casa da Pirolita e chegando ao fim, onde se tem a melhor vista, virar para o caminho que desce a noroeste, deixando ainda à esquerda o trilho que leva até lá abaixo à enigmática Ponta do Rebolo, um lugar que merece várias visitas de investigação, mais tarde.
O caminho bem trilhado e muito agradável segue ao longo da meia altura das encostas e acima das falésias até começar a ter, pela esquerda, várias derivações que levam mais para junto da beira. Aqui começa a descoberta ao estilo de cada um.
8 de Julho de 2012
A pedra da cabeça, fora dos trilhos, não é obrigatório passar aqui, é apenas um exemplo, como esta há numerosas rochas ocas ou esvaziadas bizarramente pela erosão:
Mesmo à beira, o desfiladeiro que vem da Greta/Espinhaço, onde se começa a perceber que aqui o mar é... especial.
A primeira visão da Piscina de Atlantis deixa-nos incrédulos pela placidez e cor das águas de fundo de areia, quase imaginamos que já podemos mergulhar daqui, mas... 30 a 40m de altura!
A diferença de cor entre a piscina e o oceano aberto. A ponte (ao centro) e a península de Atlantis (à esquerda) protegem a piscina das ondas e é possível nadar nela mesmo quando há ondulação significativa.
Procurando acesso, sobre o desfiladeiro, tem-se, olhando para trás, uma visão da península.
Alguns esforços depois, incluindo uma corda permanente numa pequena parede vertical, e chegamos ao pé da água, mas deste lado da piscina. A península não é acessível por aqui, a não ser que vamos a nado. Boa sugestão, embora seja necessário algo insuflável para levar a seco roupas e material. Tem de haver outra maneira... mas por agora desfrutamos desta incrível piscina natural, um sonho de águas calmas e aquecidas pelo calor das paredes rochosas verticais.
Não há correntes e embora deste lado tenha umas boas pedras para se entrar ou descansar, é do lado da península que as condições são simplesmente magníficas e acessíveis com qualquer maré. Toda a zona central da piscina tem fundo de areia, cerca de 3 metros na maré baixa.
Primeira tentativa de chegar à península, uma corda ajuda ao equilíbrio para subir a um promontório mais a norte de onde se tem uma boa vista sobre...
...o Templo:
Em primeiro plano as rochas têm um intrincado padrão de linhas e desenhos, parecem pergaminhos.
Descendo o promontório, vemos as formações de rocha talhadas de acordo com o sistema de diacláses, superfícies de fractura que ocorrem quando a rocha é submetida a variações de tensão. O talhe nesta zona é tão perfeito que chega a parecer artificial, obra de Antigos, e o maciço toma assim na nossa imaginação o aspecto de um templo milenar:
Deste ponto de vista e para norte pode observar-se os rochedos da Greta e a parede do Espinhaço, cujo topo culmina a cerca de 130m.
Como subir encostas íngremes é sempre menos perigoso do que descer, a volta deve fazer-se pelo caminho da Azóia. Vista para o Cabo da Roca, do lado norte do Espinhaço (Assentiz fica entre os dois promontórios):
26 de Julho de 2012
Um aspecto a meio do trajecto desde a Pirolita, olhando para trás, a costa do Guincho/Cabo Raso ao longe:
Nesta segunda visita foi encontrada uma forma de transpôr a "ponte" de entrada na península de Atlantis: envolve percorrer de lado uma estreita aresta de uma parede rochosa com outra aresta mais acima a servir de apoio às mãos. Estranhamente nesta parte não há cordas de apoio e bem precisas eram. Desconfio que haverá outra forma mas como esta serviu não procurei mais. Pelo mar com ondulação fraca é possível aportar ao Templo, por isso talvez seja essa a explicação para a clara frequência de pescadores neste local, embora nunca tenha encontrado qualquer um, mas evidenciada pelos lamentáveis e usuais detritos deixados no local.
Do cimo do Templo é esta a vista para a Ponte, e por trás, na sombra, a parede que foi preciso descer de forma precária:
Aspectos das rochas talhadas pelas diacláses, as superfícies de fractura têm uma regularidade espantosa:
O "Olho":
Os "Triângulos":
Sobre a Ponte, o piso de rocha é notavelmente liso. Acima o diedro das paredes do Templo:
(continua)
Percorrendo os caminhos ao longo da beira das falésias e vertiginosas encostas que terminam em abruptos de altura variável, em alguns pontos até 150m e noutros permitindo chegar mesmo ao nível do oceano, vai-se descobrindo lugares que nos inspiram a imaginar lendas e segredos ou locais que são mesmo pequenos paraísos reais.
Agora que o tempo está quente no interior mas fresco neste litoral e o mar como um lago e com águas mornas (20ºC no litoral à volta da Roca!) é o ideal para explorar esta região. Preparando novas aventuras recordo algumas visitas de anos anteriores.
"Atlantis" ou "Atlântida" foi assim nomeado não por alguma realidade histórica mas por ser um lugar singular que nos leva a imaginar histórias e mitos; por ser longe de tudo e exigir para ser atingido aquele esforço que só o fascínio da descoberta consegue sustentar.
Claro que já era bem conhecido desde sempre por pescadores das rochas, capazes de encontrar caminhos e passagens para os mais tortuosos lugares que os levem àquele ponto ideal onde a pesca é mais prolífera, onde a sensação de desafio é maior, onde o isolamento e a proximidade do oceano é mais profunda.
Então pouco direi sobre os segredos para atingir Atlantis, apenas que se situa... a sul da Roca e a norte da Pirolita. Embora o acesso pela Pirolita seja o mais longo, mas relativamente fácil até se chegar próximo, é por aí que recomendo que se faça o caminho de descoberta: permite observar todo o trecho de costa para norte até ao Espinhaço (o promontório paralelo à Roca e que possui na sua extremidade uma das mais antigas fortificações de costa, uma relíquia já em ruínas) e ir passando por notáveis falésias e formações rochosas.
Há um acesso muito mais curto mas mais vertiginoso pela Azóia, pelo caminho bem arranjado que também leva ao Espinhaço. Este caminho também permitirá atingir a Greta, na base de uma das falésias mais impressionantes deste litoral e onde se pratica escalada numa parede de cerca de 100m. Lá iremos.
Tomar o caminho exterior ao longo do muro norte da propriedade da Casa da Pirolita e chegando ao fim, onde se tem a melhor vista, virar para o caminho que desce a noroeste, deixando ainda à esquerda o trilho que leva até lá abaixo à enigmática Ponta do Rebolo, um lugar que merece várias visitas de investigação, mais tarde.
O caminho bem trilhado e muito agradável segue ao longo da meia altura das encostas e acima das falésias até começar a ter, pela esquerda, várias derivações que levam mais para junto da beira. Aqui começa a descoberta ao estilo de cada um.
8 de Julho de 2012
A pedra da cabeça, fora dos trilhos, não é obrigatório passar aqui, é apenas um exemplo, como esta há numerosas rochas ocas ou esvaziadas bizarramente pela erosão:
Mesmo à beira, o desfiladeiro que vem da Greta/Espinhaço, onde se começa a perceber que aqui o mar é... especial.
A primeira visão da Piscina de Atlantis deixa-nos incrédulos pela placidez e cor das águas de fundo de areia, quase imaginamos que já podemos mergulhar daqui, mas... 30 a 40m de altura!
A diferença de cor entre a piscina e o oceano aberto. A ponte (ao centro) e a península de Atlantis (à esquerda) protegem a piscina das ondas e é possível nadar nela mesmo quando há ondulação significativa.
Procurando acesso, sobre o desfiladeiro, tem-se, olhando para trás, uma visão da península.
Alguns esforços depois, incluindo uma corda permanente numa pequena parede vertical, e chegamos ao pé da água, mas deste lado da piscina. A península não é acessível por aqui, a não ser que vamos a nado. Boa sugestão, embora seja necessário algo insuflável para levar a seco roupas e material. Tem de haver outra maneira... mas por agora desfrutamos desta incrível piscina natural, um sonho de águas calmas e aquecidas pelo calor das paredes rochosas verticais.
Não há correntes e embora deste lado tenha umas boas pedras para se entrar ou descansar, é do lado da península que as condições são simplesmente magníficas e acessíveis com qualquer maré. Toda a zona central da piscina tem fundo de areia, cerca de 3 metros na maré baixa.
Primeira tentativa de chegar à península, uma corda ajuda ao equilíbrio para subir a um promontório mais a norte de onde se tem uma boa vista sobre...
...o Templo:
Em primeiro plano as rochas têm um intrincado padrão de linhas e desenhos, parecem pergaminhos.
Descendo o promontório, vemos as formações de rocha talhadas de acordo com o sistema de diacláses, superfícies de fractura que ocorrem quando a rocha é submetida a variações de tensão. O talhe nesta zona é tão perfeito que chega a parecer artificial, obra de Antigos, e o maciço toma assim na nossa imaginação o aspecto de um templo milenar:
Deste ponto de vista e para norte pode observar-se os rochedos da Greta e a parede do Espinhaço, cujo topo culmina a cerca de 130m.
Como subir encostas íngremes é sempre menos perigoso do que descer, a volta deve fazer-se pelo caminho da Azóia. Vista para o Cabo da Roca, do lado norte do Espinhaço (Assentiz fica entre os dois promontórios):
26 de Julho de 2012
Um aspecto a meio do trajecto desde a Pirolita, olhando para trás, a costa do Guincho/Cabo Raso ao longe:
Nesta segunda visita foi encontrada uma forma de transpôr a "ponte" de entrada na península de Atlantis: envolve percorrer de lado uma estreita aresta de uma parede rochosa com outra aresta mais acima a servir de apoio às mãos. Estranhamente nesta parte não há cordas de apoio e bem precisas eram. Desconfio que haverá outra forma mas como esta serviu não procurei mais. Pelo mar com ondulação fraca é possível aportar ao Templo, por isso talvez seja essa a explicação para a clara frequência de pescadores neste local, embora nunca tenha encontrado qualquer um, mas evidenciada pelos lamentáveis e usuais detritos deixados no local.
Do cimo do Templo é esta a vista para a Ponte, e por trás, na sombra, a parede que foi preciso descer de forma precária:
Aspectos das rochas talhadas pelas diacláses, as superfícies de fractura têm uma regularidade espantosa:
O "Olho":
Os "Triângulos":
Sobre a Ponte, o piso de rocha é notavelmente liso. Acima o diedro das paredes do Templo:
(continua)
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