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Os três ingredientes básicos para convecção profunda são instabilidade, forçamento e cisalhamento (shear) vertical do vento.
Em muitas situações sem uma boa fonte de forçamento (por ex. uma frente, cavado, convergência vento na superfície, divergência em altura, forçamento orográfico, etc) que sirva de mecanismo de disparo, a parcela de ar com instabilidade condicionada terá dificuldade em ascender para além da CLA (camada limite atmosférica ou planetária) e gerar uma tempestade persistente.
E sem cisalhamento vertical (mudança na direcção e/ou velocidade do vento na vertical da atmosfera) a tempestade terá dificuldade em manter-se mais do que 45 minutos e acabará por morrer em vez de se organizar num cluster de trovoadas ou SCM (sistema convectivo de mesoescala); ou mesmo desenvolver uma corrente ascendente com rotação; situações meteorológicas adversas capazes de gerar tempo severo.
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CAPE é a energia potencial que uma parcela de ar tem quando é elevada até ao nível de convecção livre (NCL) e se torna mais quente que o ar circundante, experimentando flutuabilidade ascendente. A energia potencial pode converter-se em energia cinética reflectida num movimento ascendente. Em teoria a partir do CAPE pode calcular-se (vmax = (2*CAPE)^0,5) a velocidade vertical máxima (da corrente ascendente) mas a "teoria da parcela" não é perfeita. Arrasto gerado por precipitação intensa, entre outros factores, podem reduzir essa estimativa da velocidade a metade ou menos. Contudo, elevados valores de CAPE habitualmente implicam tempestades mais fortes com maior probabilidade de saraiva de maiores dimensões e outro tipo de tempo severo. Dito isto, refira-se que o CAPE sendo muito importante tem contudo menos importância que o cisalhamento (shear) vertical do vento num cenário favorável à formação de tornados.
Factores que contribuem para a presença de CAPE são um forte gradiente vertical de temperatura desde os níveis baixos aos níveis médios, e uma camada limite quente e húmida. Quanto mais frios estão os níveis médios comparados com a parcela e quanto mais alto a parcela experimenta flutuabilidade ascendente (nível de equilíbrio alto), maior é o CAPE. Contudo, refira-se que uma camada quente e seca nos níveis baixos pode funcionar como tampão (cap, camada de inversão 1) que bloqueia a ascensão de parcelas da camada limite ao nível de convecção livre, prevenindo a formação de tempestades.
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Finalmente tenha em conta que o valor do CAPE é muito sensível a pequenas diferenças na humidade e perfil de temperatura, tal como o cálculo e a parcela modelada. Pelo que é um pouco irrelevante falar por exemplo de 855 J/Kg ou 900J/k. Se um mapa indica 1000J/kg, uma sondagem pode depois facilmente mostrar valores tanto de 500 ou 1500J/kg, uma margem de erro que pode ser significativa em relação ao modelado.
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1 Cap (tampão, tampa), ou camada de inversão - Estrato ou camada de ar relativamente quente, localizado normalmente a algumas centenas ou milhares de metros de altitude, que inibe ou atrasa o desenvolvimento de tempestades. As parcelas de ar que ascendem no interior desta camada tornam-se mais frias que o ar circundante, inibindo a sua capacidade de continuar a subir Portanto, o tampão previne ou atrasa o desenvolvimento da tempestade, mesmo na presença de instabilidade extrema. Contudo, se esse tampão desaparece ou enfraquece, podem formar-se tempestades de forma explosiva.
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