Cheias de 25 de Novembro de 1967

Gerofil

Furacão
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21 Mar 2007
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Estremoz
ARTIGO DE OPINIÃO

Inundações em Lisboa
(Por Jorge Lage)

Os políticos são o que sempre foram e quando parecem diferentes do que sempre foram, apenas estão a teatralizar perante a opinião pública.
Lisboa cresceu imenso no pós-25 de Abril, mas não em bom planeamento, segurança e bem-estar dos seus habitantes, apesar de a Natureza ir lançando os seus sérios avisos de protesto de como é tratada.
Fiquei chocado e indignado com a teatralização de alguns comentadores e dos meios de comunicação social sobre a impossibilidade de se resolverem os problemas das inundações em Lisboa com as chuvas mais fortes.
Eu vivo numa rua (muito antiga) do centro de Braga e o que o presidente da câmara fez foi substituir a pequena conduta de águas pluviais por uma muito maior. A partir daí toda a água tem escoamento mais ou menos normal.
Em Lisboa, o «arrumar a casa» que o presidente do município e os seus sábios vereadores dizem ter feito será, em certos aspectos, um exercício de retórica. Lá diz o ditado: - Bem prega S. Tomás!
«Arrumar a casa», com tanta massa cinzenta em volta do presidente, deveria ser resolver todos os graves problemas da cidade e que incomodam os seus habitantes.
Deviam fazer o levantamento dos locais mais problemáticos com as chuvas e resolvê-los em tempo razoável. Em certas zonas de declive em que as condutas são muito extensas terão de ser substituídas por outras muitíssimo maiores, mas o seu escoamento ao chegar às partes baixas deveria ser independente das ali existentes e desembocarem directamente no rio ou linhas de água. Penso que nas zonas de inundações habituais se deve repensar toda a rede de esgotos. Isso exige muito esforço, muitos gastos, não se vê, mas dá segurança e evita gastos maiores.
Era bom que esse trabalho fosse feito já, que ainda há fundos comunitários e as empresas construtoras de condutas de cimento lutam por sobreviver, vendendo o material a preço de saldo. Além disso, evitavam-se, no futuro, novos males ou prejuízos aos munícipes.
Mas o que nos indignou foi a displicência de alguns comentadores e dos meios de comunicação, como se não houvesse nada a fazer. Estamos a ver uma professora geógrafa, duma universidade de Lisboa, que parecia estar mais interessada em transmitir uma boa imagem sua para a televisão, do que ir ao fundo da questão. Mas tem de haver solução dentro do razoável e muito necessário!
Um agricultor que faz drenagens dos solos, saberia dizer qual era a solução e que decorre do simples «saber de experiência feito».
Se calhar arrumar a casa lisboeta pode ser mais a fachada, porque problemas graves como os das inundações ou insegurança parecem não figurar tanto no caderno de encargos.

Fonte: NetBila 2009
 


GARFEL

Cumulus
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5 Set 2008
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Tomar - http://carpaxion.blogspot.com
26 DE NOVEMBRO DE 1967
tinha eu 8 anitos e dez dias, porém há imagens na memória que não se apagam e que provavelmente jamais se apagarão.
Dei por mim acordado cerca da meia-noite quando o meu tio Libório e a minha tia Georgete vindos de sua casa na Damaia de Cima se refugiaram na casa de meus pais na Damaia de Baixo.
Viviam então na cave de um prédio de habitação e ainda os ouço comentar que aqueles 2 ou 3 km a pé foram um verdadeiro tormento devido ao caudal de agua que cada rua trazia e que pura e simplesmente em todo aquele trajecto nunca eles souberam onde punham os pés.
E de mais não me lembro até que............. .
De manhã (penso que ligeiramente solarenga) foi tempo de verificar os estragos, e da casa ainda alagada pouca coisa se salvou. Á beira do prédio dos meus tios abriu-se tal clareira no chão que ainda hoje pergunto porque razão o prédio não desabou( cabiam lá certamente 2 automóveis no buraco ).
Na zona do aqueduto das aguas livres por onde hoje passa o comboio por cima, na Damaia, amontoavam-se carros, alguns animais mortos, entulho e lama, aliás todas as ruas estavam cobertas de lama.
No local onde termina Lisboa e começa a Amadora ( Portas de Benfica / Venda Nova ) havia na época um bairro social muito precário que foi talvez o que mais me impressionou pois, de umas dezenas de casas que lá existiam, nada restou a não ser as paredes exteriores e algumas interiores, no interior pasme-se só havia.....................lama...........e mais lama, não me lembro de ter visto uma mesa, uma cama, uma cadeira, um briquedo sequer, nem faço a minima ideia se em toda aquela zona houve mortes a lamentar, mas certamente foi talvez uma das zonas onde os prejuizos financeiros e morais mais se fizeram sentir.
Que me lembre nunca mais aquelas casas foram habitadas, e posteriormente terão sido demolidas.
Que eu saiba não corre nem corria na altura nenhuma ribeira por perto.
Apesar de muito raramente ter falado neste tema durante estes anos todos, eu próprio me espanto de como me lembro de tanta coisa tendo apenas oito anitos. Se estas imagens ficaram gravadas em alguem com essa idade é porque realmente o que se passou foi deveras impressionante.
E foi.

desculpem o desabafo mas foi o tirar cá para fora talvez pela 1ª vez ( desta forma foi-o certamente ) algo que estava apenas adormecido.

Pela memória de todos - os novos - os mais velhos - e dos que partiram

Viva o forum meteo

garfel
 
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rijo

Cumulus
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19 Nov 2007
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Através do Cidadania Queluz, chegaram dois relatos no Facebook:

"Aliás já aconteceu em Novembro de 1967.Morreram várias pessoas afogadas no Jamor levadas pela corrente entre Belas e os Arcos de Queluz junto ao mercado tendo inclusivamente caído 2 prédios, cujas estruturas foram levadas pela corrente."

"e efectivamente a corrente do Jamor matou nesses prédios ao pé dos Arcos. Eu estudava em Massamá e uma aluna faleceu. Se fosse viva teria 53/52 anos. era minha colega.Foram umas cheias pavorosas. recordo-me mt bem do prédio que caiu.....para ir para Massamá para a escola não tinhamos caminho alternativo, por isso era doloroso passar por aí, diariamente..."

De duas pessoas diferentes.
 

jonas_87

Furacão
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11 Mar 2012
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.
Encontrei isto.

Mesmo aqui ao lado, 129 mm em 5 horas, que brutalidade.

2pos8l1.jpg


Fonte: http://geografianosecundario.blogspot.pt/2014/05/as-cheias-na-regiao-de-lisboa.html
 
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Rachie

Nimbostratus
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8 Ago 2012
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ARTIGO DE OPINIÃO

Inundações em Lisboa
(Por Jorge Lage)
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Eu vivo numa rua (muito antiga) do centro de Braga e o que o presidente da câmara fez foi substituir a pequena conduta de águas pluviais por uma muito maior. A partir daí toda a água tem escoamento mais ou menos normal.

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Fonte: NetBila 2009

Em Cacilhas, quando fecharam a Cândido dos Reis ao trânsito, aproveitaram e fizeram o mesmo. Reza a lenda que aquilo era uma autêntica ribeira quando chovia muito, e agora a água escoa em condições. Claro que ainda entra água para um ou outro estabelecimento mais baixo, mas dizem os habitantes mais antigos que nem se compara ao que era.

Se fizessem o mesmo em Lisboa... Mas nem as estradas alcatroam....