Os custos é que no final podem não justificar tão avultado investimento... mas o que é certo é que as novas vias que estão a ser costruídas aqui na Madeira, e uma nova que começou aqui no norte a alguns meses, terão outra segurança que estas estradas regionais cavadas na rocha têm hoje.
Os túneis aplicados nestas novas vias-expresso são a melhor opção neste tipo de terreno acidentado e também com menos impacto na paisagem.
De facto, o ideal seria uma combinação dos dois. Num terreno acidentado como o que tem a ilha da Madeira, optar por uma sucessão de túneis e viadutos permitiria não só (nem principalmente) encurtar distâncias, mas, sobretudo, conseguir separar a estrutura da superfície do terreno (que é, logicamente, a zona mais instável). Os viadutos sobre pilares permitem aplicar a carga em pontos muito específicos e dão alguma liberdade para os escolher. Esses pontos podem ser reforçados. Outras vantagens, é contar enquanto te fores lembrando: não há corte hídrico (ou seja, a água continua a escorrer pela vertente sem interrupção - numa estrada normal é forçoso que existam alguns pontos de atravessamento e, por conseguinte, o escoamento concentra-se nesses pontos, aumentando a sua acção erosiva a jusante e criando um risco associado a eventual falha ou insuficiência nos pontos de atravessamento); não há barreira ecológica física (embora continue a existir uma barreira associada à perturbação causada pela estrada, em termos de ruído, vibrações, poluição, etc) - este aspecto, que diminui o impacto ecológico, para mim, prevalece sempre sobre o eventual impacto visual; permite reduzir o território expropriado e manter a continuidade da rede cadastral (quando uma propriedade é "cortada" por uma autoestrada, é diferente teres uma situação em que podes atravessar em qualquer ponto ou outra em que tens que criar pontos de atravessamento; em sistema de minifúndio, teres uma ou duas courelinhas do outro lado da estrada, obrigando-te a um desvio que pode acrescentar uns quiómetros ao teu trajecto inicial, pode significar que essas terras deixem de ser viáveis economicamente); os custos, vale a pena insistir, não serão assim tão superiores. Rog, uma estrada numa vertente inclinada implica sempre um corte que vai aumentar o declive em ambos os lados da estrada, com custos associados ao transporte e deposição dos materiais escavados, à estabilização das vertentes, à construção de redes de drenagem, etc. Um talude em montanha não é o mesmo que um talude na planície... Não se estabiliza com hidrossementeiras! Se a vertente for anticlinal ainda vá, mas se for sinclinal é praticamente impossível de estabilizar sem recurso a muros de betão armado ou outras estruturas pesadas - o que pode levar a que o traçado seja condicionado por mais este factor, associado ao próprio contorno das encostas, e isso também representa custos. E até onde estabilizar a encosta? Ainda que se construam muros junto à estrada nos taludes mais críticos, isso não protege a estrada de derrocadas que tenham origem mais acima. Agora isto: a construção dos viadutos até é mais simples e rápida. Pode ser tudo pré-fabricado e mondado a partir de quantas frentes quiseres. O principal inconveniente técnico destas estradas elevadas, penso eu, prende-se com as brisas e rajadas de encosta, um factor que não compreendo muito bem. No entanto, alguma razão levou a que, mesmo neste nosso pobrezinho país, se tivesse passado a recorrer muito mais aos viadutos (para não referir os túneis), veja-se a A2 na serra algarvia ou a A13 ali em Benavente/Savaterra de Magos... Este último exemplo é excelente: uma estrada na planície, em que se construiram tantos quílómetros de viaduto como na ponte Vasco da Gama. A lezíria agradece... O impacto visual, mais uma vez, é relativo: o facto de ser mais "visível" não significa que tem pior impacto, uma vez que tudo tem associado algum valor semântico. Eu tendo a olhar para as infraestruturas, quando construidas com critérios que espelham uma visão civilizacional que partilho, em que os valores ecológicos são conhecidos e respeitados tecnicamente (não apenas como uma ideologia de pacotilha), como sinais dessa mesma visão e reconforta-me ver esses sinais na paisagem, porque nenhuma civilização pode evitar deixar alguma marca.