Oceano mais quente torna furacões mais violentos
A alteração de um grau centígrado na temperatura da água dos oceanos resulta num aumento da frequência global de grandes ciclones de 13 para 17 por ano, ou seja, mais 31%. Actualmente, há quatro tempestades activas no Atlântico norte
O Gustav ainda faz estragos nos EUA, o Hanna ameaça Cuba e a República Dominicana depois de deixar mais de 25 mortos no Haiti, o Ike está a ganhar força no Atlântico e o Josephine acabou de se formar. Este é um ano particularmente activo no que diz respeito a tempestades tropicais e furacões que, segundo um estudo publicado hoje na Nature, estão a tornar-se mais violentos com o aquecimento das águas.
Os cientistas das universidades da Florida e do Winsconsin calculam que o aumento de um grau centígrado na temperatura das águas resulta num aumento da frequência global de grandes ciclones de 13 para 17 por ano, ou seja, mais 31%. Os investigadores analisaram os dados estatísticos sobre os ciclones tropicais, que recebem o nome de furacão na América e de tufão na Ásia, num período de 25 anos (1981-2006).
"Notámos tendências de aumento nos valores máximos estimados de ventos dos ciclones tropicais mais fortes em cada um dos oceanos, com um aumento maior nos do Atlântico Norte", escrevem James Elsner, James Kossin e Thomas Jagger na revista Nature. A excepção é o Pacífico sul, mais quente do que as outras regiões desde o início do período analisado, mas que não registou um aumento de temperatura da água significativo nos últimos 25 anos.
Segundo o último relatório do grupo de peritos sobre as alterações climáticas, as temperaturas médias da superfície do globo devem aumentar entre 1,8 e 4 graus centígrados até ao fim do século. Nos oceanos, a média não se aplica, porque aquecem mais lentamente, apesar do seu impacto sobre o clima ser maior.
Sobre a actual situação no Atlântico norte, os peritos notam que este ano as temperaturas das águas estão mais altas que o normal. Isso serve de combustível às tempestades que se formam. Além disso, as condições de vento são bastante favoráveis à formação dos ciclones - nos trópicos sopram para o oeste e nos subtrópicos para leste, formando um efeito de espiral. Finalmente, o efeito de ventos a alta atitude que costuma enfraquecer os furacões ou pelo menos impedir a sua formação está praticamente ausente.
Segundo os cientistas contactados pela AP, quatro tempestades ao mesmo tempo numa época é estranho, mas não é novidade. Em 1995, registaram-se cinco simultaneamente. E em 1998, houve quatro furacões ao mesmo tempo. O pico da época de tempestades é a 10 de Setembro, mas até agora já se deu o nome a dez (a média em toda uma estação). "Espero que não estejamos ainda a falar de furacões na véspera de Natal", disse o professor de Meteorologia Hugh Willoughby, da Universidade da Florida.
SUSANA SALVADOR
04/09/2008
DN