Já agora uma questão sobre este assunto: Tenho reparado (posso estar a ver mal) que as tempestades a partir de Setembro começam a "curvar" mais cedo para este em direcção à Europa. É mesmo assim? Se sim terá a ver com alguma alteração da circulação atmosférica nessa altura do ano?
Dá uma olhadela neste esquema que fiz:
(clicar para aumentar)
a) Salta logo à vista o anticiclone, durante a temporada no Atlântico entre Junho e Agosto o anticiclone é muito forte.
Mesmo que por vezes o ciclone enfraqueça e/ou se afaste da sua posição habitual permitindo a subida rápida para norte de sistemas de Cabo Verde, o ambiente por exemplo em Julho e Agosto nesta zona leste do Atlântico costuma ser hostil, geralmente há muito ar seco do Sahara. Tens agora até 2 exemplos, a DT#10 e o 98L, que ainda se vão safando ao indo para NW e estamos já em finais de Agosto, mas se tivessem uma trajectória mais para norte em Julho por exemplo é quase sempre uma sentença de morte. Claro que como em tudo, há sempre excepções.
Em Setembro e Outubro esse ambiente vai melhorando naquela zona, mas aí entra em cena outro revés. Agora a ZCIT já está a descer, e as perturbações a partir de certa altura já não se conseguem soltar das proximidades do equador. É a razão porque a "sub-temporada" de Cabo verde acaba mais cedo que a temporada do Atlântico.
b) Pode não ser muito perceptível na imagem, mas as nossas águas vão aquecendo, são mais quentes em Setembro e partes de Outubro.
c) Entra ainda em cena outro factor. Em finais de Setembro e Outubro começa já a entrar algum ar frio em altura, e esse ar frio melhora o gradiente vertical para convecção, ou seja, o gradiente entre a água mais quente nessa altura, compensando assim por uns graus as nossas águas que nunca são mesmo quentes. Nesta altura também pode haver certas interações, o Vince por exemplo teve uma génese complexa, da interação dos restos de uma depressão tropical que na altura passou despercebida com uma frente atlântica. Ou pode haver sistemas que evoluem para ciclones híbridos ou mesmo tropicais.
Olhando para estes 3 factores é fácil de perceber que a nossa janela de oportunidade é bastante reduzida, qualquer coisa entre finais de Setembro e finais de Outubro.
E portanto, não é por mero acaso que o Vince de 2005 foi entre 9 e 11 de Outubro, ou o
ciclone tropical de 1842 recentemente "descoberto" que foi entre 8 e 11 de Outubro. Temos ainda a Tempestade Tropical Grace de 2010 que se formou nas nossas águas no início de Outubro de 2009.
E há ainda um outro caso, nunca falei dele porque estou à espera de mais evoluções. Há cerca de 2 anos eu em princípio descobri um furacão nos Açores que não está documentado oficialmente na climatologia, foi a propósito
deste tópico. Na altura contactei com a NOAA. Esse sistema faz parte duma tese submetida no final do ano passado por um investigador na universidade de Miami relativamente à reanálise desses anos. Ainda não sei se o furacão vai mesmo ser oficialmente incluído na climatologia oficial, quando souber direi alguma coisa.
E essas pessoas com que na altura troquei informações pediram-me dados ou notícias antigas pois estavam a analisar dados que indicavam um ciclone tropical também não documentado terá atingido Portugal continental entre 16 a 17 de Outubro de 1944 ainda com alguma intensidade. Foi em plena 2ª guerra mundial e não há muitos registos. O sistema terá evoluído entre oeste dos Açores no dia 11, passando a norte do arquipélago e finalmente terá descido de latitude atingindo Portugal e/ou Espanha. Registos de barcos indicam que o ciclone seria tropical, provavelmente como Tempestade Tropical. Um dia destes também devo receber mais informações sobre o estudo deste sistema.
Portanto este será mais um caso a ocorrer novamente em Outubro.
Digamos que se brincássemos às temporadas, a nossa temporada oficial seria Outubro
Isto falando do continente e Madeira, ou de ciclones formados nas nossas águas, que os Açores como todos sabem tem um bom historial nesta matéria.