EMA vs RUEMA



AnDré

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22 Nov 2007
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Mas as estações actuais não definem por completo o país climatológicamente, faltam estações nos locais mais extremos de Portugal.

"Não existe no topo, mas existe à meia altura nas Penhas Douradas".

Isto a quando a minha questão do porquê de não haver uma estação meteorológica no ponto mais alto de Portugal continental. Enfim..
 

Vince

Furacão
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23 Jan 2007
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Julgo que algumas coisas que foram ditas ao André foram ditas sem o necessário enquadramento pois provavelmente nem o local nem o tempo disponível o permitiam.

Interpreto a afirmação de que não são precisas mais estações com naturalidade, penso que a ideia terá sido o de dizer que é preferível ter menos estações mas de maior qualidade e automatismo, do que ter muitas estações tecnologicamente atrasadas, etc,etc. Trata-se apenas de racionalizar os recursos. Isso é um debate que se coloca actualmente a todos os niveis, desde hospitais, escolas, ambulâncias, etc, em que se tenta procurar um equilibrio entre uma boa distribuição geográfica e a qualidade do serviço. Olhando para os números de estações existentes julgo que há de facto muitas, e que é preferivel ter menos desde que mais modernas, e eventualmente melhorar lacunas em localizações importantes.

Quanto ao radar julgo que também faltou explicar melhor a afirmação. Na minha opinião talvez tenha a ver com o facto de que hoje em dia as estações meteorológicas perderam boa parte da importância que tinham no passado. Haver menos estações oficiais é uma tendência mundial, na última década perderam-se centenas de estações oficiais no mundo inteiro, isso até tem sido um argumento recorrente dos cépticos do aquecimento global. Não é difil perceber porquê. As estações há muitas décadas eram importantes para prever e seguir a evolução do estado do tempo, hoje em dia há um grande leque de outros meios mais sofisticados, satélites, radares, sondagens, modelos, etc. Em termos de previsão do tempo é hoje muito mais importante uma sondagem aerológica do que muitas estações por exemplo. Uma boa rede de estações continua a ser muito útil para o nowcasting mas bons radares permitem um seguimento ainda melhor. Não esquecer que os radares não fornecem apenas aquilo que nós vemos na Internet do IM, a precipitação. No seu modo doppler também fornecem dados do vento e rumo das tempestades ,etc. Olhemos por exemplo para os EUA, o país com a maior densidade de estações do mundo. Essa densidade compreende-se, foi uma rede que começou a ser criada já no final do século XIX, era um país geográficamente muito grande e o seguimento da formação de grandes tempestades só era possível devido a essa cobertura de estaçoes e observadores. Mas com o advento dos satélites, e posteriormente do radar, esse seguimento passou a ser feito muito melhor via a rede nexrad, é aí que são detectados muitas vezes com preciosos minutos de antecipação a formação de tormentas severas, tornados, etc.
 

HotSpot

Cumulonimbus
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Também concordo que antes poucas mas boas (estações).

Os EUA são um exemplo do melhor que pode ser feito na informação ao cidadão sobre condições meteorológicas, avisos, disponibilização de informação, etc... Sim eles tem muitos meios, dinheiro mas acima de tudo "vontade" de manter a população informada.

Quem olha para Portugal a realidade é completamente diferente e com a agravante da politica do IM levar a que cada vez mais estejamos privados dessa informação. Desculpem podemos ter direito a ela mas pagando.

Ora isto é ridiculo mas sendo um organismo do estado temos "todo o direito" de criticar e revoltarmos sobre este cenário.

Acho eu que os administradores deste forum devem criar um documento com a ajuda de todos de forma a criticar esta politica do IM e enviar este documento para o IM entidades competentes e comunicação social.

Acreditem que Portugal só melhora quando nestes casos passarmos da critica mesquinha e fechada aqui no forum à acção.

p.s. não sou radicalista, comunista ou sindicalista :p
 

Daniel Vilão

Super Célula
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22 Mar 2007
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Acho eu que os administradores deste forum devem criar um documento com a ajuda de todos de forma a criticar esta politica do IM e enviar este documento para o IM entidades competentes e comunicação social.

Acreditem que Portugal só melhora quando nestes casos passarmos da critica mesquinha e fechada aqui no forum à acção.

p.s. não sou radicalista, comunista ou sindicalista :p

Concordo perfeitamente, defendi isso noutro tópico.
Acho que nos devíamos unir todos e aderir em massa a essa petição ao I.M., para que nos possamos fazer ouvir, tal como a AEMET ouviu os espanhóis.
Quanto à comunicação social, parece algo mais extremo, mas também não me importava que isto chegasse à mesma, era uma forma de verem que nós existimos. :)
 

Vince

Furacão
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23 Jan 2007
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Eu agora vou fazer um bocado o papel de advogado do diabo.

Toda a polémica que vimos em Espanha enquadra-se numa questão mais complexa que tem a ver com o que é público e o que é privado. Como vivemos em democracias mistas que não são nem 100% socialistas (tudo público) me 100% liberais (tudo privado) por vezes torna-se difícil analisar de forma mais fácil estas questões.

Já no ano passado referi que não é mau o IM cobrir metade do orçamento com venda de serviços e produtos, antes pelo contrário, é bom que assim seja, para bem do contribuinte. Porque não tenhamos ilusões, dados de climatologia são importantes para muitos negócios e a própria meteorologia será cada vez mais também um negócio. Esta evolução do IMN para AEMET em Espanha não foi acidental, tem precisamente a ver com o facto de que despontam cada vez mais empresas privadas no país vizinho que fornecem produtos e serviços a cada vez mais sectores, desde a agricultura às eólicas.

Todos os Institutos vendem informação, mesmo o IMN de Espanha antes de ser agência já o fazia. Podem ver por exemplo neste PDF a longa lista de preços dos serviços e a lista de itens de interesse público que eram gratuitos no anterior INM: -> http://www.meteopt.com/forum/files/20060201.pdf (PDF)

Sendo um Instituto de Meteorologia uma entidade pública, quer aqui quer em Espanha, a coisa mais importante nestes debates é saber distinguir o que é serviço público que interessa a todos os cidadãos que pagam impostos, e o que é serviço que interessa sobretudo ao negócio de empresas privadas. Se há dados que interessam maioritáriamente ao negócio privado, é bom que esses dados sejam comercializados, pois de contrário somos nós contribuintes que financiamos com os nossos impostos os dados que servem negócios privados.

É nesta distinção que todos se devem concentrar. Saber o que é serviço público e nunca prescindir dele e lutar por ele se ele nos for sonegado e também lutar para que ele seja melhorado. Mas também compreender que há informação que sendo gratuíta interessa sobretudo a interesses privados e que custa impostos ao contribuinte.

Olhando para Espanha, para aquilo que o AEMET tinha retirado. O radar regional por exemplo era um grande disparate, sem qualquer sentido. Obviamente que para a população era importantissimo terem acesso aos radares regionais, só um louco pode ter tido a ideia de passar isso para os serviços pagos. Mas por exemplo, olhando para o exemplo do HIRLAM. Será que ele pode ser considerado serviço público ? É discutivel, é um produto que não se destina ao público em geral, apenas se destina a dois sectores muito específicos, ou ao sector privado que também faz previsão do tempo, ou aos meteo-entusiastas que somos todos nós. Neste caso o AEMET recuou por causa dessa grande comunidade existente em Espanha.

Estes debates fazem-se também noutros países. Já falámos aqui muitas vezes da diferença entre o modelo global americano GFS e o europeu ECMWF, o primeiro tem todos os dados disponíveis gratuitamente, o segundo não. A abertura completa do GFS deu-se por ordem do governo americano há uns anos atrás mas ultimamente tem aumentado as pressões no sentido de alterar essa situação. Para muitos senadores o GFS é suportado pelo contribuinte americano e os seus dados estão a servir para negócios privados que até aqui eram maioritáriamente americanos, mas que hoje em dia começam a ser em todo o mundo. Compreende-se esse ponto de vista, porque terão que ser os americanos a financiar industria privada noutros países?

Claro que a nós, entusiastas, quanto mais informação tivermos melhor, e tudo o que se perder será mau, mas também há coisas que acho que deveremos ser mais compreensíveis devido ao que expliquei mais acima. Podemos tentar fazer uma analogia, por exemplo à saúde e educação. Seria admissível por exemplo uma universidade privada só ter salas de aulas e docentes mas servir-se por exemplo dum dispendiosolaboratório púbico para o seu negócio privado de ensino? Seria admissível por exemplo um hospital privado que concorre com um público recorrer aos equipamentos de diagnóstico de um hospital público pago pelos contribuintes?

Quanto a mim, aquilo que sempre foi a minha opinião quanto ao IM, é que quero melhor informação que é de interesse público. Por exemplo os radares hoje tem menos atraso do que tinham há uns tempos atrás, mas se calhar ainda podiam melhorar as actualizações, em vez dos 30 minutos serem menos. Em vez de ter mais estações, preferia que elas tivessem os dados em tempo real e sem falhas. Mas também compreendo que pela tal vertente dos negócios não possam por exemplo ter históricos de estações e se calhar também por isso é que removeram tanta coisa dos relatórios. Isso para mim pode ser compreensível até certo ponto mas se calhar exageraram um bocado, podiam perfeitamente ter alguns dados mais detalhados do último mês na forma de gráficos por exemplo, e remover talvez as tabelas com dados mais detalhados em formato texto. E sobretudo acho que se retiram coisas o deveriam ter feito com contrapartidas, melhorarem a informação de interesse público para compensar a que foi elininada, que foi o que o AEMET fez, apresentou melhorias nalgumas coisas para compensar a perca de outras.
 

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Cumulonimbus
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Não concordo.

Eu como contribuinte quero ter direito a toda a informação para a qual JÁ ESTOU A PAGAR.

No rodapé do meu site tenho o seguinte texto "É um serviço público e sem fins lucrativos"

Eu financio a estação de um fundo privado, o meu, para disponibilizar gratuitamente aos sectores publicos e privados.

E se um dia quiser mudar este cenário, tenho toda a legitimidade para o fazer.

Agora fica aqui o filme do meu primeiro contacto com o IM:

Há alguns meses atrás pedi ao IM dados historicos sobre a Moita (medias de temperatura 1961-90 e precipitação) e em resposta o IM mostrou disponibilidade, mediante o pagamento de 60€ mais IVA, para fornecer os dados recolhidos pela estação do Montijo só do ano de 2006. Ora, a estação do Montijo, não é do IM, e se quiser saber esses dados vou ao Ogimet.

E o INAG até quando vai disponibilizar a informação das suas estações? Estas se calhar com informação ainda mais valiosa que as do IM para certas areas de negócio.

E como muito bem disseste os EUA estão preocupados porque fornecem material muito útil a interesses internacionais, internacionais....
 

AnDré

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22 Nov 2007
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Saber toda a informação pormenorizada de um certo e determinado lugar tem os seus custo, e aí até percebo que seja cobrado alguma coisa. Agora o meu desagrado vai de encontro ao facto de poderem haverem estações em excesso que aparentemente são deixadas ao abandono porque não há verbas para a manutenção. Quantos de nós não gostavam de ficar com uma delas? E nem nos iriamos importar de suportar os custos da sua manutenção, e ainda divulgar os dados gratuitamente. Passamos parte do nosso tempo a namorar uma estação que muitas vezes não podemos comprar, e depois surge uma instituição pública onde há excesso delas. Eu percebo que com menos estação até se possa aumentar a qualidade do serviço, mas por favor não as deixem apodrecer. Se sabem que não conseguem suportar os custos de manutenção, então deem-nas que haverá certamente quem cuide delas!

Quanto à informação disponibilizada ao publico, e na minha opinião, não se pretende uma tese climática referente a cada mês, mas um detalhe quantitativo que complemente aquilo o que é dito de forma qualitativa. Agora, dizer-se que foi o mês "x" foi frio ou quente, ou chuvosos ou seco, sem se justificar isso com dados exactos, é quase tão relativo como dizermos: "hoje está frio!" Percebem? As informações dos ultimos dois relatórios são tão generalistas que qualquer um de nós as poderia escrever. Pior do que isso, e falando do dia 18 de Fevereiro, no meteopt temos mais dados de recolha que o próprio IM no qual por ironia do destino, uma das suas estações deixou de funcionar naquelas que foram talvez as 3h mais importantes da sua vida de EMA.
Ainda assim é irónico pensar que para 2008 queriamos a presença dos dados nas nossas ilhas nos relatórios mensais e no logo no primeiro relatório mensal do ano ficámos sem os dados do continente. :disgust:


Por fim, apenas o seguinte: Para estudos individualizados do clima de uma determinada região, são pedidos estudos a entidades que não ao IM. Por exemplo, ao nível da eólica, penso que seja o INETI quem está a construir um atlas do vento do nosso país, e não o IM.:disgust:
 

rafaeltanga

Cirrus
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18 Mar 2008
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Florianópolis/SC/Brasil
EMA = Estação Meteorológica Automática.
RUEMA = Rede Urbana de Estações Meteorológicas Automáticas.

Mas no fundo qual é a sua verdadeira diferença?
Porque é a estação da Gago Coutinho (Lisboa) uma EMA e não uma RUEMA, se também está integrada numa zona urbana?
Porque é considerada a estação do Aeroporto de Faro uma EMA e a estação do IM em Faro uma RUEMA?
Porque é que Loures e Sintra têm uma RUEMA e não uma EMA?
:huh::huh:

Parto do principio, que mais do que ao urbanismo, a distinção das estações é feita a partir das características destas mesmas.

Agora casos práticos:
Já todos devem ter reparado que as temperaturas máximas medidas pelas RUEMAs são quase sempre mais elevadas do que as registadas pelas EMAs. A que se deve isso e o porquê disso? Poderia ser porque num lugar urbano há menor circulação de ar e daí um aumento de temperatura, mas como disse em cima também há EMAs em zonas urbanas. Nomeadamente as duas da cidade de Lisboa: Gago Coutinho e Geofisico. E quase me atrevo a dizer que a RUEMA de Loures tem um factor urbanistico bem menor do que as duas estações de Lisboa que enunciei.

Outro ponto: tendo em conta que os valores das RUEMAs são "correctos", e atendendo de forma especial ao Verão, em que estas obtêm temperaturas máximas médias superiores às EMA, porque é que os seus valores não são tido em conta a quando o relatório mensal?
Outro exemplo, se não estou em erro, quando Lisboa chegou aos 40ºC em Julho de 2007, mas RUEMAs de Benfica e Loures tocaram nos 43ºC. No entanto esse valor nunca foi referido. Porquê?

Nem mais, ontem dia 7 de Março, a temperatura máxima na RUEMA de Lisboa (Benfica) chegou aos 23ºC e Lisboa (Baixa) aos 24ºC. A Gago Coutinho (EMA) ficou-se pelos 19ºC.

Afinal, qual a utilidade de uma RUEMA?
:huh:

;) olá pessoal!
A utilidade das RUEMAs é para observar as variáveis meteorológicas dentro das cidades ajudando assim a identificar as ilhas de calor.

" Ilha de calor é a designação dada à distribuição espacial e temporal do campo de temperatura sobre a cidade que apresenta um máximo, como se fosse uma ilha quente localizada. Há um contraste grande nas fronteiras cidade-campo, cidade-floresta, cidade-corpo de água. Alterações da umidade do ar, da precipitação e do vento também estão associadas à presença de ilha de calor urbana. "

Resumindo: As ilhas de calor ocorre principalmente devido a maior capacidade de absorção de calor das estruturas presentes nas zonas urbanas, como o asfalto, concreto e outros. Consiste também em parcelas de ar com temperaturas mais elevadas que formam sobre os centros das grandes cidades.

As RUEMAs são tão importantes quanto as EMAs!!!

Abraço a todos!