A região Oeste do Algarve tem um clima bastante particular: ameno no Verão devido à circulação típica de NW, particularmente na Costa Ocidental, é também conhecido pelos Invernos suaves, devido à sua influência marítima, com oceano em 2 quadrantes (W e S). No entanto, esconde temperaturas absolutamente gélidas em várias noites ao longo do ano em vários locais. É bastante conhecido pela comunidade neste fórum o caso de Aljezur, onde uma estação oficial do IPMA localizada na grande várzea regista, não poucas vezes durante o ano, a temperatura mínima mais baixa da rede nacional de EM. Nesta altura em que muito se discute as inversões térmicas, muito desconhecidas do público em geral, abro aqui uma discussão sobre o potencial desta região: Será que Aljezur é o local mais frio, ou existem pontos com ainda maior potencial? Em Invernos passados, esta estação já registou temperaturas abaixo dos -8ºC, é possível atingir-se a barreira dos -10ºC no Oeste Algarvio?
Começo por caracterizar a topografia desta região. É sem dúvida muito particular, única no país: Temos a Serra de Monchique com um pico de 902 m de altitude na Fóia, e 20 km para Oeste em linha recta, encontra o mar. Pelo meio, terreno extremamente acidentado, com centenas de pequenas ribeiras que se vão juntando ao longo do caminho e formar grandes várzeas (Odeceixe e Aljezur). A costa em si é constituída por sistemas dunares, que terminam em altas falésias de xistos e grauvaques, interrompidas por vários barrancos fundos e estreitos, ou por praias de dunas onde desembocam as maiores ribeiras (Praia Amoreira, Odeceixe, Carrapateira, Amado, etc...).
Portanto, são dezenas e dezenas de vales e convergências, barrancos e outros buracos para explorar o potencial das inversões térmicas que naturalmente ocorrem neste tipo de terreno tão acidentado. Eu próprio estive a investigar alguns locais onde, na minha opinião, seria interessante fazer umas medições nas noites certas, que passo a apresentar.
Começo por Aljezur só para ter um contexto e um ponto de comparação, por ter observações bem conhecidas.
É uma das estações com maiores inversões térmicas da rede IPMA, e talvez muito se deva à enorme quantidade de "fontes de frio". A EM encontra-se num local de convergência de muitos vales, alguns dos quais descem desde a Serra de Monchique e dos seus 902 m de altitude. A EM encontra-se a 12 m de altitude e está rodeada de encostas entre os 60/130 m de altura, de vegetação preferencialmente rasteira.
Vou deslocar-me um pouco para o interior de Aljezur, a um vale bem encaixado num local chamado Moinho do Bispo:
É um dos vales que vai desembocar na vila de Aljezur:
Vales estreitos, entre 70/85 m de altitude, rodeados de montes entre 230 a 350 m de altitude, portanto com desníveis enormes de 200 m ou mais. Com certeza o sol deixa de incidir nalguns pontos muito cedo. Muito potencial, na minha opinião, para excelentes mínimas. Mais que Aljezur? Não sei...
Odeceixe é um local com várias semelhanças a Aljezur. E com inversões que já detectei nas poucas passagens nocturnas que ali fiz (normalmente viajo para o Rogil, 5 km a sul, durante o dia). Vários vales em convergência para uma várzea bastante grande, a apenas 2/5 metros acima do nível do mar, e com montes em volta a rondar os 100 metros. Parece ter tudo para dar mínimas valentes, possivelmente com um nível de potencial semelhante ao de Aljezur...
Um pouco para o interior temos a Zambujeira de Baixo. É um buraco situado num vale muito comprido onde corre a ribeira de Seixe (que desagua na Praia de Odeceixe). Com apenas 24 m de altitude, está rodeado de montes entre 100 a 250 m de altitude, portanto um desnível muito considerável. Por ser estreito, deixa de ter sol bastante cedo. Mais um "buraco" cujas mínimas gostava de investigar...
Bem perto do mar, a sul de Aljezur temos uma pequena aldeia chamada Bordeira. Fica num vale rodeado por colinas com cerca de 100 m de altitude.
Agora mais numa de curiosidade e não propriamente de potencial. A Praia da Amoreira é onde desagua a Ribeira de Aljezur, que passa junto da EM de Aljezur. Já fiz a viagem na estrada para a praia, que acompanha o vale, de manhã bem cedo em dias de inversão. No princípio de Outubro de 2017, em dias ainda bastante quentes, com máximas a rondar os 25ºC, registei no carro 3ºC junto da EM de Aljezur às 7:00h, e na Praia da Amoreira, junto ao areal, estavam somente 5ºC. Noutros dias, sem registo de temperaturas, mas com geada, o frio na Praia era insuportável com uma pequena brisa de leste. O frio era tanto, que se via a olho nu a evaporação da "quente" àgua do mar, obsevando-se fumo ascendente nas primeiras centenas de metros mar adentro. Demonstra o potencial daquele vale e do ar frio que se mantém e desloca mar adentro.
Por fim, vou referir os barrancos que terminam no mar, e que são imensos nesta costa. Há vários buracos muito fundos, quase ao nível do mar, com encostas ingremes de cerca 100 m. Muitos pontos nunca vêm sequer a luz do dia. Que potencial terão estes locais?
Deixo terminando um exemplo de uma viagem que fiz para uma pescaria de manhã bem cedo, na 2a semana de Dezembro, que pode ajudar na interpretação: Saímos do Rogil, um planalto aos 90 m, com 6ºC. Passámos em Aljezur, com queda de temperatura para os -1,5ºC. Depois de uma subida na estrada a sul, seguimos em direcção à Carrapateira. Na passagem pela Bordeira, a temperatura desceu novamente, para os 0ºC. Ao chegar ao local onde estacionámos o carro (ponto a vermelho na imagem), num planalto junto do mar, a temperatura era de 10ºC. Agora o mais espantoso: ao iniciar o caminho a pé, temos de passar por um pequeno barranco com um desnível de apenas 20/25 m como se vê na imagem seguinte, antes de subir novamente. Ao descer apenas aqueles metros, sentiu-se no corpo uma descida enorme da temperatura, com geada visível na erva. O local ainda não tinha apanhado sol. Ora, se aquilo acontece em apenas 20 m, o que dizer dos barrancos, mesmo junto ao mar, com desníveis de 100 m e que nunca vêm sol?
Vimos alguns tipos de locais com características diferentes: vales e buracos estreitos e bem encaixados, rodeados por elevações consideráveis; várzeas largas, com bastante convergência de pequenos vales e ribeiras; barrancos. Para terminar, deixo algumas perguntas no ar onde podem dar a vossa opinião:
1- Qual dos locais tem maior potencial?
2- Será possível atingir -10ºC nesta região do país?
3- Qual o potencial verdadeiro destes barrancos encaixados nas falésias marítimas?

Começo por caracterizar a topografia desta região. É sem dúvida muito particular, única no país: Temos a Serra de Monchique com um pico de 902 m de altitude na Fóia, e 20 km para Oeste em linha recta, encontra o mar. Pelo meio, terreno extremamente acidentado, com centenas de pequenas ribeiras que se vão juntando ao longo do caminho e formar grandes várzeas (Odeceixe e Aljezur). A costa em si é constituída por sistemas dunares, que terminam em altas falésias de xistos e grauvaques, interrompidas por vários barrancos fundos e estreitos, ou por praias de dunas onde desembocam as maiores ribeiras (Praia Amoreira, Odeceixe, Carrapateira, Amado, etc...).
Portanto, são dezenas e dezenas de vales e convergências, barrancos e outros buracos para explorar o potencial das inversões térmicas que naturalmente ocorrem neste tipo de terreno tão acidentado. Eu próprio estive a investigar alguns locais onde, na minha opinião, seria interessante fazer umas medições nas noites certas, que passo a apresentar.
Começo por Aljezur só para ter um contexto e um ponto de comparação, por ter observações bem conhecidas.

É uma das estações com maiores inversões térmicas da rede IPMA, e talvez muito se deva à enorme quantidade de "fontes de frio". A EM encontra-se num local de convergência de muitos vales, alguns dos quais descem desde a Serra de Monchique e dos seus 902 m de altitude. A EM encontra-se a 12 m de altitude e está rodeada de encostas entre os 60/130 m de altura, de vegetação preferencialmente rasteira.
Vou deslocar-me um pouco para o interior de Aljezur, a um vale bem encaixado num local chamado Moinho do Bispo:

É um dos vales que vai desembocar na vila de Aljezur:

Vales estreitos, entre 70/85 m de altitude, rodeados de montes entre 230 a 350 m de altitude, portanto com desníveis enormes de 200 m ou mais. Com certeza o sol deixa de incidir nalguns pontos muito cedo. Muito potencial, na minha opinião, para excelentes mínimas. Mais que Aljezur? Não sei...
Odeceixe é um local com várias semelhanças a Aljezur. E com inversões que já detectei nas poucas passagens nocturnas que ali fiz (normalmente viajo para o Rogil, 5 km a sul, durante o dia). Vários vales em convergência para uma várzea bastante grande, a apenas 2/5 metros acima do nível do mar, e com montes em volta a rondar os 100 metros. Parece ter tudo para dar mínimas valentes, possivelmente com um nível de potencial semelhante ao de Aljezur...

Um pouco para o interior temos a Zambujeira de Baixo. É um buraco situado num vale muito comprido onde corre a ribeira de Seixe (que desagua na Praia de Odeceixe). Com apenas 24 m de altitude, está rodeado de montes entre 100 a 250 m de altitude, portanto um desnível muito considerável. Por ser estreito, deixa de ter sol bastante cedo. Mais um "buraco" cujas mínimas gostava de investigar...

Bem perto do mar, a sul de Aljezur temos uma pequena aldeia chamada Bordeira. Fica num vale rodeado por colinas com cerca de 100 m de altitude.

Agora mais numa de curiosidade e não propriamente de potencial. A Praia da Amoreira é onde desagua a Ribeira de Aljezur, que passa junto da EM de Aljezur. Já fiz a viagem na estrada para a praia, que acompanha o vale, de manhã bem cedo em dias de inversão. No princípio de Outubro de 2017, em dias ainda bastante quentes, com máximas a rondar os 25ºC, registei no carro 3ºC junto da EM de Aljezur às 7:00h, e na Praia da Amoreira, junto ao areal, estavam somente 5ºC. Noutros dias, sem registo de temperaturas, mas com geada, o frio na Praia era insuportável com uma pequena brisa de leste. O frio era tanto, que se via a olho nu a evaporação da "quente" àgua do mar, obsevando-se fumo ascendente nas primeiras centenas de metros mar adentro. Demonstra o potencial daquele vale e do ar frio que se mantém e desloca mar adentro.

Por fim, vou referir os barrancos que terminam no mar, e que são imensos nesta costa. Há vários buracos muito fundos, quase ao nível do mar, com encostas ingremes de cerca 100 m. Muitos pontos nunca vêm sequer a luz do dia. Que potencial terão estes locais?

Deixo terminando um exemplo de uma viagem que fiz para uma pescaria de manhã bem cedo, na 2a semana de Dezembro, que pode ajudar na interpretação: Saímos do Rogil, um planalto aos 90 m, com 6ºC. Passámos em Aljezur, com queda de temperatura para os -1,5ºC. Depois de uma subida na estrada a sul, seguimos em direcção à Carrapateira. Na passagem pela Bordeira, a temperatura desceu novamente, para os 0ºC. Ao chegar ao local onde estacionámos o carro (ponto a vermelho na imagem), num planalto junto do mar, a temperatura era de 10ºC. Agora o mais espantoso: ao iniciar o caminho a pé, temos de passar por um pequeno barranco com um desnível de apenas 20/25 m como se vê na imagem seguinte, antes de subir novamente. Ao descer apenas aqueles metros, sentiu-se no corpo uma descida enorme da temperatura, com geada visível na erva. O local ainda não tinha apanhado sol. Ora, se aquilo acontece em apenas 20 m, o que dizer dos barrancos, mesmo junto ao mar, com desníveis de 100 m e que nunca vêm sol?

Vimos alguns tipos de locais com características diferentes: vales e buracos estreitos e bem encaixados, rodeados por elevações consideráveis; várzeas largas, com bastante convergência de pequenos vales e ribeiras; barrancos. Para terminar, deixo algumas perguntas no ar onde podem dar a vossa opinião:
1- Qual dos locais tem maior potencial?
2- Será possível atingir -10ºC nesta região do país?
3- Qual o potencial verdadeiro destes barrancos encaixados nas falésias marítimas?
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