O presente tópico visa discutir um assunto que merece pouca ou nenhuma atenção por parte dos portugueses e das suas elites académicas.
É reconhecido que na Europa existem alguns estilos de jardim diferentes entre si e que reflectem em última análise características das «almas» desses povos. Temos o jardim inglês, o italiano, o francês ou o andaluz. Pouco ou nada se fala mas existe um jardim português que já foi até estudado e valorizado por estudiosos ingleses (tenho um livro que trouxe de um alfarrabista de Cambridge que versa sobre o tema).
Os nossos jardins têm sofrido enormes agressões nas últimas décadas, e uma enorme descaracterização. No entanto, ainda é possível traçar características comuns mas é preciso salientar que existem notórias diferenças regionais e não se pode comparar a tradição do jardim vernacular com o jardim das casas senhoriais ou dos conventos, das casas dos brasileiros ou das instituições públicas.
Além disso, não é possível dissociar o nosso jardim vernacular das hortas. Árvores de fruta misturam-se frequentemente com árvores nativas e ornamentais e flores.
Começo o tópico pelo Algarve.
A casa tradicional da quinta ou monte algarvio tinha frequentemente uma ou várias árvores de grande porte cujo objectivo era dar sombra à carroça e a alfaias agrícolas. Muitas destas árvores foram cortadas em anos recentes, devido à expansão urbana e abandono das quintas tradicionais, facto lamentável que já tem décadas.
- Alfarrobeira: Cheguei a conhecer montes com alfarrobeiras monumentais, com mais de 20 metros, centenárias. Sei onde resistem duas. A antiga casa do monte do meu avô tinha uma destas alfarrobeiras. Além da sombra e do abrigo que proporciona a alfarrobeira era muito apreciada pela mulheres. Porquê? As algarvias consideravam que era a terra mais fértil para colocarem em vasos de flores ornamentais. E quando precisavam de terra para vasos, retiraram a camada fértil superficial do solo junto ao tronco das alfarrobeiras. Lamentavelmente, são cada vez mais raras as alfarrobeiras monumentais, devido a podas criminosas e ao corte.
- Palmeira-das-canárias: era um símbolo de riqueza. Os algarvios mais abastados plantavam-nas junto ao monte. Em anos recentes a maioria das palmeiras centenárias desapareceram devido a uma praga e a corte.
- Amoreira (Morus alba): muito comum por todo o Algarve no passado. Era a árvore de vários montes algarvios e também era um símbolo de riqueza. Hoje restam pouquíssimas amoreiras monumentais. Foram quase todas cortadas.
- Plátano: menos comum mas ocasionalmente utilizado. Encontrei alguns exemplares muito antigos numa quinta na Luz de Tavira e também noutra na Asseca. O plátano já era utilizado com fins ornamentais pelos romanos na Península Ibérica. Hoje em dia praticamente não é utilizado nos jardins da região.
Estas eram as árvores utilizadas preferencialmente como «árvore do monte». As mulheres costumavam ter várias plantas em vasos dispersos junto às casas e havia também as «moitas» perto dos poços. (continua)...
É reconhecido que na Europa existem alguns estilos de jardim diferentes entre si e que reflectem em última análise características das «almas» desses povos. Temos o jardim inglês, o italiano, o francês ou o andaluz. Pouco ou nada se fala mas existe um jardim português que já foi até estudado e valorizado por estudiosos ingleses (tenho um livro que trouxe de um alfarrabista de Cambridge que versa sobre o tema).
Os nossos jardins têm sofrido enormes agressões nas últimas décadas, e uma enorme descaracterização. No entanto, ainda é possível traçar características comuns mas é preciso salientar que existem notórias diferenças regionais e não se pode comparar a tradição do jardim vernacular com o jardim das casas senhoriais ou dos conventos, das casas dos brasileiros ou das instituições públicas.
Além disso, não é possível dissociar o nosso jardim vernacular das hortas. Árvores de fruta misturam-se frequentemente com árvores nativas e ornamentais e flores.
Começo o tópico pelo Algarve.
A casa tradicional da quinta ou monte algarvio tinha frequentemente uma ou várias árvores de grande porte cujo objectivo era dar sombra à carroça e a alfaias agrícolas. Muitas destas árvores foram cortadas em anos recentes, devido à expansão urbana e abandono das quintas tradicionais, facto lamentável que já tem décadas.
- Alfarrobeira: Cheguei a conhecer montes com alfarrobeiras monumentais, com mais de 20 metros, centenárias. Sei onde resistem duas. A antiga casa do monte do meu avô tinha uma destas alfarrobeiras. Além da sombra e do abrigo que proporciona a alfarrobeira era muito apreciada pela mulheres. Porquê? As algarvias consideravam que era a terra mais fértil para colocarem em vasos de flores ornamentais. E quando precisavam de terra para vasos, retiraram a camada fértil superficial do solo junto ao tronco das alfarrobeiras. Lamentavelmente, são cada vez mais raras as alfarrobeiras monumentais, devido a podas criminosas e ao corte.
- Palmeira-das-canárias: era um símbolo de riqueza. Os algarvios mais abastados plantavam-nas junto ao monte. Em anos recentes a maioria das palmeiras centenárias desapareceram devido a uma praga e a corte.

- Amoreira (Morus alba): muito comum por todo o Algarve no passado. Era a árvore de vários montes algarvios e também era um símbolo de riqueza. Hoje restam pouquíssimas amoreiras monumentais. Foram quase todas cortadas.
- Plátano: menos comum mas ocasionalmente utilizado. Encontrei alguns exemplares muito antigos numa quinta na Luz de Tavira e também noutra na Asseca. O plátano já era utilizado com fins ornamentais pelos romanos na Península Ibérica. Hoje em dia praticamente não é utilizado nos jardins da região.
Estas eram as árvores utilizadas preferencialmente como «árvore do monte». As mulheres costumavam ter várias plantas em vasos dispersos junto às casas e havia também as «moitas» perto dos poços. (continua)...