Medicane Daniel - Setembro 2023

StormRic

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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
Aparentemente e que se veja, é uma barragem de terra e não tem um descarregador de superfície,

Os descarregadores de superfície não existiam
Todas as barragens mencionadas têm (tinham) descarregadores de superfície do tipo poço, e que são visíveis nas fotos pelo funil que encima o poço. São semelhantes por exemplo ao descarregador de superfície da barragem da Paradela. São umas das soluções características das barragens de aterro, como as mencionadas existentes naqueles cursos de água da Líbia. É óbvio que a capacidade do túnel do poço devia ser superior ao caudal máximo expectável para os cursos de água interceptados pela barragem. Mas no caso de regimes de chuva típicos das regiões desérticas ou sub-desérticas, a maior parte do ano e dos anos é caracterizada por baixos caudais, interrompidos por eventos de enxurradas. Quer o poço quer o túnel de evacuação da água são uma obra em betão armado e com peso significativo no custo económico de toda a obra, provavelmente o seu dimensionamento resulta de uma minimização do encargo económico à custa de uma sub-avaliação do caudal máximo expectável. Como em qualquer obra de hidráulica dependente do regime pluviométrico de uma região, o dimensionamento das estruturas é feito para eventos com um certo período de retorno, sendo que o custo económico da obra aumenta proporcionalmente ao período de retorno considerado. Ninguém vai dimensionar para um período de retorno de, por exemplo, 100 anos ou até mesmo de 50 anos num país de fraca economia, se é que neste caso tinham sido feitos os estudos dos períodos de retorno com séries suficientemente grandes de observações, provavelmente por inexistência sequer de redes adequadas de estações de medição da pluviosidade ou de caudais.
 
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AnDré

Moderação
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22 Nov 2007
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Odivelas (140m) / Várzea da Serra (930m)
Todas as barragens mencionadas têm (tinham) descarregadores de superfície do tipo poço, e que são visíveis nas fotos pelo funil que encima o poço. São semelhantes por exemplo ao descarregador de superfície da barragem da Paradela. São umas das soluções características das barragens de aterro, como as mencionadas existentes naqueles cursos de água da Líbia. É óbvio que a capacidade do túnel do poço devia ser superior ao caudal máximo expectável para os cursos de água interceptados pela barragem. Mas no caso de regimes de chuva típicos das regiões desérticas ou sub-desérticas, a maior parte do ano e dos anos é caracterizada por baixos caudais, interrompidos por eventos de enxurradas. Quer o poço quer o túnel de evacuação da água são uma obra em betão armado e com peso significativo no custo económico de toda a obra, provavelmente o seu dimensionamento resulta de uma minimização do encargo económico à custa de uma sub-avaliação do caudal máximo expectável. Como em qualquer obra de hidráulica dependente do regime pluviométrico de uma região, o dimensionamento das estruturas é feito para eventos com um certo período de retorno, sendo que o custo económico da obra aumenta proporcionalmente ao período de retorno considerado. Ninguém vai dimensionar para um período de retorno de, por exemplo, 100 anos ou até mesmo de 50 anos num país de fraca economia, se é que neste caso tinham sido feitos os estudos dos períodos de retorno com séries suficientemente grandes de observações, provavelmente por inexistência sequer de redes adequadas de estações de medição da pluviosidade ou de caudais.
Está tudo às cegas. Não se sabe exactamente a quantidade de precipitação que caiu, muito menos o seu período de retorno. Mas quer-me parecer que é muito mais de 100 anos. Muito mais mesmo.
Há algum registo de lagos no deserto da Líbia, como aqueles que se vêem nas imagens de satélite? Talvez, no inverno com a escorrência para sul das águas retidas pela serras. Mas em Setembro? Esta quantidade?

Capturar12345.PNG


Na mesma cidade, uns quilómetros a oeste, e sem o colapso de nenhuma barragem, a destruição provocada por um curso de água (com uma bacia muito menor) também é significativa. Também aqui a água e os detritos levaram tudo à frente.

Antes:
Capturar1.PNG


Depois:

Capturar2.PNG


Um pouco por toda a costa o cenário é de destruição:

Antes:
3111.PNG



Depois:

Capturar1234567.PNG
 

Younger Dryas

Nimbostratus
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8 Nov 2019
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...

Orion

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5 Jul 2011
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Não estando prevista chuva nos próximos dias e se barragem ainda não rebentou, se calhar não vai acontecer?






E o mais importante, provavelmente deve ter a mesma falta de manutenção que as restantes. Em contrapartida, deve ter recebido menos precipitação.

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JCARL

Cumulus
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29 Nov 2010
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Vila Velha de Ródão
Todas as barragens mencionadas têm (tinham) descarregadores de superfície do tipo poço, e que são visíveis nas fotos pelo funil que encima o poço. São semelhantes por exemplo ao descarregador de superfície da barragem da Paradela. São umas das soluções características das barragens de aterro, como as mencionadas existentes naqueles cursos de água da Líbia. É óbvio que a capacidade do túnel do poço devia ser superior ao caudal máximo expectável para os cursos de água interceptados pela barragem. Mas no caso de regimes de chuva típicos das regiões desérticas ou sub-desérticas, a maior parte do ano e dos anos é caracterizada por baixos caudais, interrompidos por eventos de enxurradas. Quer o poço quer o túnel de evacuação da água são uma obra em betão armado e com peso significativo no custo económico de toda a obra, provavelmente o seu dimensionamento resulta de uma minimização do encargo económico à custa de uma sub-avaliação do caudal máximo expectável. Como em qualquer obra de hidráulica dependente do regime pluviométrico de uma região, o dimensionamento das estruturas é feito para eventos com um certo período de retorno, sendo que o custo económico da obra aumenta proporcionalmente ao período de retorno considerado. Ninguém vai dimensionar para um período de retorno de, por exemplo, 100 anos ou até mesmo de 50 anos num país de fraca economia, se é que neste caso tinham sido feitos os estudos dos períodos de retorno com séries suficientemente grandes de observações, provavelmente por inexistência sequer de redes adequadas de estações de medição da pluviosidade ou de caudais.
Mas estas "barragens" foram feitas no tempo do Kadafi, e nessa altura havia dinheiro, e lembro-me que muito foi falado nas obras de irrigação líbias.
Um descarregador de superfície clássico tipo W é sempre mais barato, seguro e menos complexo que o tipo de usado nestas, para além da vantagem de não entupirem.
De qualquer forma, depois do rompimento da 1ª a montante era muito difícil a 2ª suster a massa de água, lama e terra que lá chegou.
Uma tristeza para aquela toda a gente que foi apanhada com aquilo.
 
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Orion

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5 Jul 2011
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Novamente, os terrenos inundados de Derna são uma espetacular oportunidade.




+ -> https://www.africanews.com/2023/09/14/libya-floods-pm-takes-shared-responsibility-for-dam-failures/ & https://www.thenationalnews.com/men...tokes-anger-over-libyas-corruption-and-chaos/

-> https://www.france24.com/en/africa/20230913-libya-s-deadly-dam-collapse-was-decades-in-the-making

A research paper published in November 2022 by Omar al-Mukhtar University hydrologist Abdelwanees A. R Ashoor warned that the dams holding back the seasonal waterway – known as a wadi – needed urgent attention, citing a number of floods that had repeatedly struck the river basin since WWII.

Do resumo:

As a result of the model applied, the annual runoff volume for forty years during 1960–2000 in the study area was estimated by 138.51 Mm3. Furthermore, a volume flood has been estimated, based on the flood of October 1945 and late November 1986. Those events called for average precipitation of 145 and 64.14mm respectively. The rainfall of 1945 produced a volume flood of 53.36 Mm3, which represents 40 % of annual runoff volume, while the flood of November 1986 was 14.8 Mm3, which is in good agreement with the recorded flood in the basin.

Inundação de 1986:

HvfrSWn.png


O primeiro valor (50mms) refere-se ao acumulado em Derna.

Não tenho nenhuma dúvida que as barragens serão eventualmente reconstruidas. Tenho é sim muitas dúvidas acerca do valor final...
 
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StormRic

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Volto a insistir nestes aspectos:

"Liz Stephens, a professor in climate risks and resilience at the University of Reading’s Department of Meteorology, said that the dams' collapse had been catastrophic.
“While Storm Daniel brought exceptional rainfall totals to eastern Libya, the tragic loss of life will have been largely due to the failure of dams, with a sudden release of water providing little time to reach safety, and the entrained debris adding to the violent force of the floodwaters,” she told FRANCE 24."

"
“It is too early to determine whether the failure of the dam was caused by a lack of maintenance or whether it was not designed to be resilient to the exceptional amount of rainfall that fell,” she said. “Monitoring of the condition of the dam could have perhaps supported early warning of potential failure, and precautionary evacuations of the people in harm's way.”

Although Stephens stressed that it was still unclear to what extent even a well-maintained dam of the same proportions could have withstood the hurricane-strength storm’s onslaught, she said that such extreme weather events would only become more common as the climate crisis worsened. "

Em resumo, na minha opinião:
- É possível que a barragem estivesse sub-dimensionada relativamente a um evento de precipitação desta magnitude.
- É possível que a falta de manutenção tenha potenciado o rebentamento da barragem mas não me parece que mesmo havendo manutenção a barragem resistisse ao galgamento.
- O galgamento teria sido inevitável devido também a provável falta de capacidade do descarregador de poço, sub-dimensionado relativamente ao afluxo de água trazido pela tempestade.
- Havendo vigilância em tempo real da barragem, teria sido possível salvar vidas se um imediato aviso sonoro tivesse ecoado na cidade. Sistema de aviso esse que aparentemente não existia. Mesmo assim, o alarme imediato pela monitorização das afluências à barragem teria sido dado.
 

BMF

Cirrus
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7 Dez 2022
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Não sei se viram bem as imagens de satélite mas os descarregadores das duas barragens desapareceram. Portanto a manutenção ou falta dela não estava em causa. As barragens estavam subdimensionadas para o nível de pluviosidade que caiu em pouco tempo.

Há barragens dotadas com descarregadores de emergência de baixo custo, chamados comportas fusíveis. Estas comportas quando o caudal é elevado acima de uma determinada cota, soltam-se da estrutura aumentando a área de escoamento do descarregador.

Este é um exemplo com apenas 3 comportas, existem barragens com mais de 10:

Dove Stone Reservoir
 

StormRic

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23 Jun 2014
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Póvoa de S.Iria (alt. 140m)
As barragens estavam subdimensionadas para o nível de pluviosidade que caiu em pouco tempo.
Precisamente. Nem sequer a manutenção as segurava. Mas a vigilância em tempo real na situação meteorológica prevista teria sido fundamental, e não me parece que custasse muito, bastavam dois observadores na área da barragem em comunicação tlm a entidades na cidade e alguma sirene de alarme. Será que era muito difícil ter implementado isto em um dia? :disgust:
 

Orion

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5 Jul 2011
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Será que era muito difícil ter implementado isto em um dia? :disgust:

Terias uma opinião diferente se passasses a noite na primeira barragem e a fonte de luz mais intensa à tua disposição ser algo deste género:

283461.jpg


Acrescento que a precipitação se calhar foi tão intensa que nem poderias sair do carro. Sendo assim, que utilidade terias tido?
 
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