Meteorologistas estudam criação de novo alerta

David sf

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8 Jan 2009
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Oeiras / VN Poiares
Meteorologistas estudam criação de novo alerta

Antigo Instituto de Meteorologia garante que era impossível prever o tornado de Silves, mas admite estar a estudar a possibilidade de criação de um novo tipo de aviso de tempo severo.

Mário Lino, correspondente no Algarve (www.expresso.pt)


O tornado que assolou Silves há duas semanas terá sido previsto, alegadamente, dois dias antes por meteorologistas internacionais amadores, num relatório emitido no Estofex, o Centro Europeu de Previsão de Tempestades, disponível aqui .

Os meteorologistas terão reforçado o alerta de mau tempo junto à costa sul de Portugal, avisando que não poderia ser afastada a possibilidade de um tornado. Mas Paulo Pinto, meteorologista responsável pelo relatório do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (antigo Instituto de Meteorologia), garante que não havia qualquer hipótese de prever - com os recursos humanos e técnicos existentes em Portugal - o tornado que se desenvolveu no Algarve.

Da leitura Doppler feita pelo radar mais próximo, situado na Serra do Caldeirão, em Loulé, os meteorologistas portugueses apenas conseguiram ler a associação de vento e precipitação muito fortes. "De facto, não é possível prever, como se faz em relação a outros fenómenos. Nos Estados Unidos conseguem fazê-lo, ainda que com pouca antecedência, mas baseado numa rede de radares móveis e de groundspotters, os observadores no terreno que avisam quando o tornado toca no chão", explica Paulo Pinto, do IPMA .

Por cá, em Portugal e na Europa, dada a reduzida ocorrência deste tipo de fenómenos quando comparada com a América, o sistema não existe e não se sabe se algum dia existirá. "Podemos avançar para aí mas isso implicaria investimento e termos uma rede de colaboradores no terreno, com algum conhecimento técnico, que fossem capazes de nos avisar quando um tornado toca no chão", acrescenta Paulo Pinto.

Mesmo que um dia um sistema similar venha a ser implantado, as garantias de sucesso assentam sempre em probabilidades. "Mesmo lá, a antecedência quando o tornado está no chão é zero. Pode ser útil para pessoas que estejam longe. Ainda assim, no caso dos radares autotransportados, o tempo de avanço ronda os 10/12 minutos", garante o meteorologista do IPMA.

"Esse tempo existe quando o fenómeno ocorre, mas isso acontece apenas em 25% das vezes. Na verdade, em cada dez oito não se confirmam", regista Paulo Pinto, que reconhece a vantagem dos avisos de tornado, desde que eficazes.

A história de "Pedro e o lobo"

O problema dos avisos com altas taxas de incerteza faz lembrar o clássico infantil de "Pedro e o lobo", em que uma criança assusta os adultos fazendo-os acreditar erradamente na chegada iminente de um lobo. Até que, certo dia, o lobo chega e ninguém vai em seu socorro. Com os tornados - diz Paulo Pinto - a cena pode repetir-se.

O tema tem gerado alguma controvérsia, inclusive nos Estados Unidos onde os tornados são frequentes, devido ao elevado número de falsos alarmes pelo grau de incerteza na previsão. "Nos EUA, há cerca de 1400 tornados por ano. Se houver avisos em 300 desses episódios é bom. Se a 'máquina' estivesse implantada na Europa e continuassemos a ter o que temos tido, que é um quarto ou um quinto dos tornados registados na América, será que era suficiente para convencer a população?", questiona o especialista.

Pelo sim pelo não, o IPMA está a estudar a hipótese de criar avisos de tempo severo, à semelhança dos que já existem para a temperatura, chuva e vento, mas que possam ser utilizados de forma mais sectorial. "Pretende-se ter outro tipo de aviso, para chamar a atenção da possibilidade de tempo severo, mas em vez do que acontece com a chuva e vento, que é em larga escala - para a ilha da Madeira, por exemplo - aqui são condições meteorológicas de um outro tipo, que podem afetar alguém em Ourique, ou Silves ou Lagoa", explica Paulo Pinto.

Algo que, ainda assim, não resolverá a questão dos tornados. "O problema do tornado é que é temporal e globalmente conhece-se mal o seu comportamento", resume o meteorologista português.

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