Gripe: mais 11 países, além de Portugal, reportam excesso de mortes de idosos
Portugal não foi o único país da Europa a registar, em Fevereiro e Março, um elevado número de mortes entre os idosos, avança o jornal Público. Em mais 11 países, dos 14 que forneceram dados, verificou-se um excesso de mortalidade (total de óbitos acima do valor esperado para esta altura do ano) na população com idade igual ou superior a 65 anos, revela a revista Eurosurveillance, publicada pelo Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças. A Alemanha e a Dinamarca constituíram as excepções.
O excesso de mortalidade observado neste Inverno desencadeou grande polémica em Portugal. Após várias semanas consecutivas com um número de mortes muito elevado, vários especialistas em saúde pública e políticos vieram a público defender que este fenómeno poderia ter que ver com as crescentes dificuldades no acesso aos serviços de saúde e com a crise económica.
Os responsáveis da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) atribuíram desde o início o excesso de óbitos ao período de frio extremo, em conjugação com a ocorrência tardia da epidemia de gripe, aliado ao facto de, este ano, a estirpe do vírus predominante ser a A(H3N2), que afecta sobretudo os idosos, escreve o Público.
Enfatizando a natureza preliminar desta análise, os especialistas que assinam o artigo da Eurosurveillance defendem agora que o "regresso" desta estirpe do vírus da gripe deverá ser, de facto, o principal factor que explica o acréscimo da mortalidade, associado à vaga de frio que se fez sentir na Europa. E isto porque, nos dois Invernos anteriores, a estirpe em circulação foi a do vírus pandémico, a A(H1N1), que afecta sobretudo os mais jovens e poupa os mais idosos.
"O que estes dados demonstram é que, independentemente das diferenças económicas e sociais, este Inverno houve um excesso de mortalidade na maior parte dos países. E tudo aponta para que isto resulte do H3N2 e do frio, sobretudo da duração do período de frio", comenta o pneumologista e consultor da DGS Filipe Froes. "Devemos, mesmo assim, continuar a analisar o eventual impacto que as medidas tomadas (como as taxas moderadoras) podem ter no acesso aos cuidados de saúde e o impacto das dificuldades económicas" neste fenómeno, acentua.
O excesso de mortalidade tem sempre "uma explicação multifactorial, mas a hipótese que parece mais plausível é a das características do vírus", reforça o presidente do INSA, José Pereira Miguel. "Ninguém pode afastar os efeitos da crise, mas os fenómenos sociais demoram mais tempo a produzir efeito", nota Pereira Miguel, que diz que vai ser necessário aguardar mais alguns meses até que o estudo sobre as causas da mortalidade esteja concluído.
Seja como for, há muitas diferenças entre a progressão da epidemia de gripe e a mortalidade observada entre os vários países analisados no artigo da Eurosurveillance. Os gráficos permitem perceber que, em Portugal, Espanha, França e Bélgica, o pico do excesso de mortalidade foi mais acentuado do que o registado nos outros países. E a mortalidade por todas as causas entre os idosos esteve acima da linha de base durante sete semanas em Portugal, em Espanha e na Bélgica, enquanto na Irlanda e na Grécia isso aconteceu apenas durante uma semana.
Por outro lado, se numa grande parte dos países analisados o excesso de mortalidade coincidiu com o crescimento da actividade gripal (como aconteceu em Portugal), noutros, como a Bélgica, a Suécia e a Holanda, as mortes começaram a exceder o esperado ainda antes de a epidemia de gripe se manifestar. O que significa, concluem os especialistas, que a gripe não explica tudo e que haverá "outros factores" a considerar.
Fonte:
rcm pharma