Nevascas causam transtornos no hemisfério norte
Recorde histórico pode ser estabelecido em Washington e na Filadélfia, duas cidades cobertas de branco
Depois das nevascas históricas do fim de semana – apelidadas de “Snowmageddon” (apocalipse de neve) –, estavam previstas para ontem e hoje na Costa Leste dos Estados Unidos novas tempestades, com a neve atingindo entre 25 e 50 centímetros.
– É bonito de se ver, mas, quando em excesso, atrapalha a vida da gente. No sábado, fiquei meia hora tirando entre 40 e 50 centímetros de neve de cima do meu carro. No outro dia, tirei a neve em volta do carro, para movê-lo do lugar. Perdi umas duas horas – relata o consultor de tecnologia gaúcho Daniel Gralewski, 32 anos, morador de Washington.
A capital americana, aliás, é uma das mais atingidas pelo mau tempo. As repartições do governo federal permaneceram fechadas ontem, assim como escolas de algumas zonas da cidade. Há dois anos nos EUA, Gralewski relata que, neste inverno, já nevou mais do que nos outros dois que passou no país juntos. O gaúcho Paulo Giovanni Azevedo, 46 anos, concorda:
– Houve uma nevasca muito forte em 1996, mas logo depois esquentou bastante, e a neve começou a derreter. Só que estamos passando por um frio intenso, então a neve não derrete e cai mais em cima. E ainda tem todo o mês de fevereiro pela frente.
Se nevar mais 22,5 centímetros entre ontem e hoje, Filadélfia e Washington estabelecerão um recorde – este será o inverno mais nevado desde 1884, quando os dados começaram a ser registrados.
Entrevista: “Está intransitável”
Paulo Giovanni Azevedo, Gaúcho em Washington
Enquanto as nevascas dão dor de cabeça para a maioria dos moradores de Washington, o gaúcho Paulo Giovanni Azevedo (foto ao lado), 46 anos, tem motivos para sorrir. Natural de São Sebastião do Caí e há 15 anos na capital americana, ele é proprietário de uma empresa de jardinagem – que, entre outros serviços, remove a neve da frente de casas, lojas e prédios públicos no inverno. Apesar dos transtornos que o mau tempo provoca, Azevedo confessa: nunca teve tanto serviço. Confira os principais trechos da entrevista:
Zero Hora – Como têm sido os últimos dias na capital?
Paulo Giovanni Azevedo – Está um caos. Nos 15 anos em que moro aqui, nunca aconteceu isso. A cidade não estava preparada. Não tem mais lugar para caminhar. Está intransitável. Pessoas colocam placas na frente de casa pedindo ajuda para tirar a neve e sair com o carro. Em alguns lugares, a neve está quase na minha cintura. E hoje (ontem) vai chegar mais uma tempestade de neve. Não sei o que vai virar isso aqui, todos estão apavorados.
ZH – Qual tem sido a demanda pelos serviços da sua empresa?
Azevedo – A neve é tanta que estamos usando retroescavadeira para abrir as estradas principais, chamadas de rotas de emergência. Trabalhamos sem descanso, dia e noite, revezando os turnos. Sábado passado trabalhei 16 horas sem parar. O telefone não para de tocar, todo mundo querendo remover a neve “para ontem”. Tínhamos nove funcionários, mas precisei contratar mais gente para botar na rua. Eu tenho contratos, mas tem muita gente ligando porque vê a propaganda na caminhonete. O próprio condomínio onde moro pediu que eu limpasse o local para a próxima nevasca, sete escolas me chamaram ontem, mas não tive condições. Pessoas te atacam na rua pedindo para as levarem ao aeroporto. A gente fica de coração partido, mas têm outras pessoas te esperando.
ZH – Então, para os negócios, essas nevascas têm sido muito boas...
Azevedo – Olha, o pessoal está ganhando bastante dinheiro, principalmente quem tem muitas retroescavadeiras pequenas. Em Maryland, os brasileiros que têm companhias de cimento estão com todo o equipamento alugado, ganhando cerca de US$ 2 mil, US$ 3 mil por dia trabalhando para o governo. Os brasileiros estavam passando por uma situação muito difícil no setor de construção. Pelo menos agora eles conseguiram fazer um dinheiro bom. Estão todos contentes. Ruim para uns, bom para outros.
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