Fogos queimam em 10 dias um quarto da área ardida em nove meses
O mês de Outubro já está quase ao nível de Agosto O mês de Outubro já está quase ao nível de Agosto.
Os fogos de Outubro já queimaram nos primeiros 10 dias do mês 12.107 hectares de espaços florestais em Portugal. Os números são do Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais (EFFIS) que, através de vários satélites, contabiliza diariamente as áreas ardidas superiores a 20 hectares em toda a Europa e Norte de África.
Os últimos dados oficiais, da Autoridade Florestal Nacional, contabilizam quase 42 mil hectares ardidos entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro, o que significa que só em 10 dias arderam mais de um quarto do que se queimou nos restantes nove meses. As previsões meteorológicas apontam para a continuação de tempo quente e seco, o que fez com que ontem a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) prolongasse o alerta amarelo (o segundo numa escala de quatro) para todos os distritos até às 20h de segunda-feira.
O número de incêndios florestais registados nos primeiros 12 dias deste mês, segundo a ANPC, ultrapassa as 3800 ignições, um valor muito próximo do registado em Agosto (3978 ocorrências) e que deverá superar Julho (4367), o mês que contabilizou o maior número de fogos. O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, sublinha a anomalia deste cenário. "Não há memória de 12 dias de Outubro com um contínuo e tão elevado número de incêndios", afirma. E acrescenta: "Há sete dias contínuos que se registam mais de 300 ocorrências diárias, uma situação que, em alguns anos, não se verifica sequer em Agosto".
Picos de incêndios fora do período mais crítico dos fogos não são inéditos e Caldeira acredita que são cada vez mais frequentes. Em 2007, por exemplo, em Outubro e Novembro, os fogos destruíram 12 mil hectares de espaços florestais, mais de um terço da área ardida nesse ano. Novembro ficou registado nas estatísticas oficiais de 2007 como o mês com maior área ardida do ano, ultrapassando os nove mil hectares, um número 96 vezes superior à média desse mês nos cinco anos anteriores (95 hectares). Também em Março de 2009 ocorreu um pico atípico com quase 13.600 hectares ardidos, bastante mais que os 3000 hectares da média desse mês nos dez anos anteriores.
"Isto vem mostrar que é uma barbaridade continuar a falar em época de incêndios e que progressivamente deverá desaparecer o conceito de dispositivo especial de combate. O que é preciso é um reforço das estruturas permanentes", defende Caldeira, que aplaude os resultados do combate num mês em que boa parte dos meios terrestres já foi desactivada.
Menos optimista, Manuel Rainha, engenheiro florestal e ex-responsável pelas equipas de sapadores florestais, insiste que é necessário fazer um esforço de racionalização dos meios existentes. "O dispositivo que existe não está preparado para se ajustar às necessidade", alega. E exemplifica: "Em 2010, o dispositivo de combate do distrito do Porto teve uma taxa média de ocupação de 20%. O que quer dizer que, na maior parte do tempo, os meios estavam preparados para sair, mas não foram necessários". Por isso, o engenheiro florestal defende que o ideal era ter uma estrutura que funcionasse todo o ano, e, quando não houvesse fogos, dedicava-se à prevenção, como acontece com os sapadores.
Com o alargamento do período crítico dos fogos, a ANPC recorda que não é permitido realizar queimadas, nem fogueiras, lançar foguetes ou fumar na floresta.