@david 6 Existe uma estação na localidade
Branca, que acumulou
17.6mm em
30 minutos com um
rainrate máximo de
55,19mm.
Eu ontem literalmente passei pelas células na zona sul do concelho de Coruche. Foi a maior tormenta que eu vi em muitos, muitos anos...
Estava numa espécie de
stormchasing de automóvel e, por volta das 18:05, reparei que estava uma enorme célula na zona de Coruche, com um eco roxo. Lá fui eu em direção à célula, a caminho de Lavre.
No caminho era visível não só a parede extremamente negra da célula (apesar de não estar de todo céu limpo) como foram visíveis vários relâmpagos ao longe e um ou outro trovão. Após passar a aldeia dos Foros de Vale Figueira, vieram enormes rajadas de vento vindas da célula (provavelmente um
downburst) acompanhado de uma chuva forte repentina que apareceu quase do nada. Várias coisas estavam a voar naquele momento, o que apenas demonstra a força do vento. A temperatura também caiu rapidamente, dos 19ºC em Foros de Vale Figueira para os 13ºC pouco antes de chegar a Lavre no termómetro do carro.
A coisa até acalmou entretanto. Na altura não consegui ver as imagens de radar mas apercebi-me de que as zonas mais escuras estavam a oeste. Assim, decidi mudar a trajetória e virei em direção às Cortiçadas de Lavre e daí em direção aos Foros de Carapuções, São Torcato, Biscainho e, por fim, à Reta do Infantado.
Após passar a zona das Cortiçadas de Lavre começou um espetáculo brutal de luz, som e precipitação. A situação entre os Foros de Carapuções e São Torcato estava medonha, com chuva torrencial e um ou outro lençol de água na estrada. No entanto, entre São Torcato e Pelados a situação estava um pandemónio - enormes lençóis de água, enxurradas e continuava a chuva torrencial. Nesse momento ainda tentei enviar uma mensagem aqui para o fórum mas infelizmente parece que a ligação de Internet foi cortada por causa do tempo extremo. De salientar o facto de muitas ervas estarem bastante viçosas até, contrastando com a situação há duas semanas.
A chuva parou ligeiramente na zona de Fazenda das Figueiras e no cruzamento com a R251, mas rapidamente voltou a piorar. Vi inclusive vários relâmpagos impressionantes diante dos meus olhos, a poucas centenas de metros, e entre Fazenda das Figueiras e Casa Branca chegou a cair granizo. Na zona entre a Casa Branca e o Biscainho a temperatura atingiu os 7ºC no termómetro do carro e inclusive, ao pé dos cursos de água, havia alguma névoa à superfície (apesar da trovoada e da chuva forte).
A Reta do Infantado entre Biscainho e Santo Estêvão estava totalmente esbranquiçada, sinal de que tinha caído ali granizo há poucos minutos. Já não apanhei nenhum granizo mas continuou a chuva forte até à rotunda do Infantado. Após passar a rotunda a chuva começou a cessar e a temperatura começou a subir rapidamente. Se na zona de Santo Estêvão estavam 14ºC, em Porto Alto já estavam 21ºC. Entre Porto Alto e Vila Franca de Xira, com o sol a brilhar e com a nuvem extremamente negra nas costas, ainda caiu um aguaceirozinho que sujou o carro todo. Por volta das oito da noite subi ao miradouro do Monte Gordo, em Vila Franca de Xira (onde estavam 24ºC a essa hora), e a visão a essa hora é simplesmente brutal: por um lado, a brisa de noroeste, a humidade vinda do oceano e o céu geralmente limpo e, por outro lado, a autêntica escuridão das células de trovoada no Ribatejo. Ainda vi um arco-íris em Alverca mas não deu para fotografar nada porque estava a conduzir na autoestrada...
Eu vivi durante muitos anos em Corroios, portanto eu sei muito bem que este tipo de inundações e enxurradas não são causadas com apenas 20 mm de precipitação. Tendo em conta aquilo que vi com os meus próprios olhos diria que houve zonas ali que acumularam possivelmente 60 mm ou mais num curto espaço de tempo, a nível localizado (e onde não há estações meteorológicas), e eu passei exatamente por essas zonas onde a precipitação foi mais intensa e onde passaram os ecos roxos e vermelhos. E ainda bem que estas bestas despejaram nestas zonas maioritariamente rurais porque, se estas tempestades tivessem passado pela Área Metropolitana de Lisboa teriam causado estragos brutais, não tenho dúvidas nenhumas.
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Quanto à minha zona, digamos que pouco se tem passado. Lá se vão vendo as enormes bigornas no Interior e ouvindo um ou outro trovão longínquo de vez em quando (que mal se vai notando no meio do barulho do vento nas árvores - tirando os cães, que começam logo a ladrar), mas tirando isso não tem ocorrido grande coisa.
O céu está constantemente pouco nublado, o vento é fraco, há uma ou outra nortada durante a tarde, as temperaturas têm estado na média desta altura do ano e há sempre aquele sol de trovoada, bastante abafado. A temperatura atual é de 22ºC.