Compreendo o ponto de vista pessoal.
Mas este é exactamente um tipo de visão das coisas que quanto a mim devemos evitar precisamente pelos motivos que assinalei.
Dizes que não são eventos comuns. Mas se olharmos aos últimos 2000 anos, período temporal que não deixa de ser curto pois o Holoceno começa há quase 12.000 anos atrás, casos destes ou piores são às centenas.
O que nós achamos "raro" e "incomum" passa a ser absolutamente comum , repetitivo, verificável no território e até previsível, assim que nos afastamos das limitações da perspetiva humana individual e aceitamos ver as coisas numa perspetiva um pouco mais abrangente.
Apenas há umas meras décadas atrás encontramos registos de tragédias localizadas bem piores que estas. Por exemplo, em Lisboa em 1967. Se formos buscar eventos localizados como estes (porque na verdade é um evento restrito a uma pequena região de um pequeno país), teremos eventos "recorde" desde que temos registos todos os anos um pouco por todo o lado.
Se fores ao Porto ou a Ponte de Lima encontras edifícios com marcas de cheias absolutamente descomunais apenas no século passado:
Ver anexo 3607
Tu mesmo admites que a tua família já presenciou eventos destes antes. Imagina então a quantidade de cheias e dias de precipitação extrema que ocorreram ao longo dos séculos e milénios.
Certamente que depois de considerares isso não poderás referir-te ás mesmas como eventos raros tendo em conta que estas ocorrências estão inseridas em padrões climáticos que tem de ser analisados e julgados ao longo de vários séculos / milénios e não através das lentes de uma ou duas gerações.
É verdade que podemos todos aqui presentes vir a morrer sem ver outro cenário idêntico no Alentejo. Contudo, em 1997 existiu um semelhante, também ele localizado. Se não vier a ocorrer, o que dizer sobre eles? Que são ocorrências incomuns? Ou que por outro lado são episódios que sempre aconteceram e que vão voltar a sê-lo mais tarde ou mais cedo?
Eu cá continuaria a não construir em leitos de cheia, mesmo no Alentejo, precisamente porque sei perfeitamente que um dia alguém há de ir no enxurro se continuarmos a olhar para estes fenómenos como uma anormalidade.