Sismos - País depende de 89 pontos críticos

Vince

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23 Jan 2007
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Braga
Artigo interessante sobre a vulnerabilidade de muitas infra-estruturas estratégicas nacionais em caso de sismos ou outros riscos.

No Jornal Expresso. Edição Premium: (Grátis até dia 25)
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País depende de 89 pontos críticos
Equipamentos fundamentais estão localizados em zonas sísmicas e são vulneráveis a actos terroristas

Valentina Marcelino
vmarcelino@expresso.pt

Três quartos das infra-estruturas estratégicas nacionais estão em zonas de intensidade sísmica máxima e 60% localizam-se em locais que podem ser ‘atractivos’ para atentados terroristas. Destruir alguns dos equipamentos pode paralisar o país.

“Não queremos causar alarme”, garante um dos autores deste estudo. Os responsáveis pelo trabalho, feito no âmbito do Conselho Nacional de Planeamento Civil de Emergência (CNPCE), do Ministério da Defesa, estão há quatro anos a formar esta base de dados, a maior que alguma vez se fez no país.

“Se queremos definir prioridades de acção face às possíveis ameaças a que estas infra-estruturas possam vir a estar expostas, este conhecimento é determinante”, explica o general Vasconcelos Piroto, vice-presidente daquele órgão. Este conselho, presidido pelo ministro da Defesa, é o organismo de consulta do primeiro-ministro numa situação de crise (calamidades ou atentados) e inclui representantes dos sectores estratégicos nacionais, de acordo com o que está definido pelo Sistema Nacional de Gestão de Crises.

Quase 11 mil infra-estruturas críticas estão mapeadas ao pormenor. Segundo uma classificação com base científica, com os dados recolhidos até agora, já estão identificadas 89 cuja destruição teria impacto nacional. São estas a prioridade e o principal objecto do trabalho do conselho.

Assim estudado, Portugal mostrou as suas fraquezas e fragilidades: “Fiquei surpreendido pelo elevadíssimo grau de interdependência funcional entre os diversos sectores estratégicos do país, o que induz efeitos de cascata que ampliam significativamente as consequências de quaisquer anomalias, mesmo que muitas fossem localizadas e aparentemente de pequena dimensão”, sublinha Vasconcelos Piroto.

E a seguir? Quem pode beneficiar com esta base de dados? Todos os sectores visados. E também a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), que protege e socorre a pop®ulação. “Pode ser de grande importância para o planeamento da intervenção, permitindo definir prioridades de socorro em situação de emergência”, afiança Isabel Pais, coordenadora deste projecto do CNPCE.

O presidente da ANPC, o major-general Arnaldo Cruz, aguarda “com grande expectativa vir a beneficiar desta partilha de informações”. No entanto, salvaguarda que “esta matéria tem mais afinidades com a área da segurança interna e com o sistema de gestão de crises e menor incidência na área do Sistema Nacional de Protecção Civil”.

Alertas já começaram Cabe a quem utiliza cada infra-estrutura elaborar o respectivo plano de emergência, por forma a garantir o seu funcionamento. Por isso, a equipa do general Piroto já começou a contactar os responsáveis por algumas das instalações. O sector energético foi o primeiro e o das comunicações vem a seguir. “Tem de haver um acompanhamento sector a sector. Provavelmente, será necessária legislação mais pragmática no que diz respeito à adopção de medidas de minimização de impacto de uma catástrofe nestes locais, pois são estratégicos para o funcionamento do país”, garante este responsável.

A presidência do Conselho de Ministros não respondeu às questões colocados pelo Expresso sobre este assunto. Nesta altura, todos os Estados-membros da União Europeia têm, ou estão a concluir, as suas cartas nacionais de pontos sensíveis. Em todos os países, a acção sísmica e os actos terroristas foram também considerados prioritários no âmbito desta análise.

A UE apresentou no final do ano passado uma proposta de directiva para a elaboração de uma carta das infra-estruturas críticas europeias — aquelas cuja destruição pode afectar mais que um Estado —, para executar um programa europeu para a sua protecção.

Major-general Leonel de Carvalho

GABINETE COORDENADOR DE SEGURANÇA

Esta carta de infra-estruturas críticas nacionais pode ser uma ferramenta de trabalho muito importante para o novo Sistema Integrado de Segurança Interna, que abrange organismos de segurança e de socorro. Numa situação de crise, facilita muito todo o trabalho de organização da resposta a colocar no terreno. No entanto, é de frisar que, relativamente a Portugal, não há nenhuma informação objectiva que nos permita dizer que há risco de um atentado terrorista. Como tenho dito, não é provável, mas é possível. Julgo que também devia ser tida em conta nesta avaliação de risco o perigo de sabotagem.

Arménio Marques Ferreira
EX-DIRECTOR NACIONAL ADJUNTO DO SIS

A ameaça terrorista é um dado estrutural no mundo ocidental. Veio para ficar e é uma ameaça permanente. Em Portugal, devemos admitir o melhor cenário e prepararmo-nos para o pior. A análise destes resultados pode ser um importante contributo para a organização da nossa quadrícula de segurança interna. No entanto, os critérios utilizados para a selecção de possíveis alvos fáceis são limitativos, como por exemplo o factor distância das forças de segurança. A prevenção de ataques terroristas faz-se muito mais pela troca e


Mário Lopes
PROFESSOR DE DINÂMICA E ENGENHARIA SÍSMICA DO IST
O país anda a dormir sobre este assunto. Lisboa, onde está 40% do PIB, é o país da Europa com maior concentração de infra-estruturas estratégicas em zonas de alto risco sísmico. Há cerca de dez anos participei num estudo com o LNEC, para a Protecção Civil, de levantamento de uma carta de infra-estruturas críticas, embora com critérios diferentes. A ideia era que as entidades de emergência pudessem orientar os seus planos com base nas vulnerabilidades detectadas no que diz respeito ao grau de ameaça sísmica em cada local. Não tenho conhecimento que utilidade lhe foi dada. Acho que caminhamos alegremente para uma catástrofe. Que pode ser nesta ou noutra geração. Mas é certa.

Major-general Lemos Pires
VICE-PRESIDENTE DA EURODEFENSE PORTUGAL

São surpreendentes estas conclusões. Quanto ao terrorismo, julgo que há uma grande vantagem em identificar potenciais alvos mais vulneráveis. No entanto, essa selecção não pode ser feita apenas com estes critérios. Este reconhecimento não é decisivo. A escolha dos terroristas é mais feita por critérios onde política e impacto mediático estão em primeiro plano internacional. O que não é o caso português. Quanto à questão sísmica, este levantamento é de enorme importância, pois vai permitir orientar as organizações de defesa civil para a minimização do impacto de uma situação deste género nestes locais.

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Minho

Cumulonimbus
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6 Set 2005
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Melgaço
O último sismo em Fevereiro já foi uma amostra com o colapso de várias centrais telefónicas.

Já se sabe quando se centraliza muito tem-se ganhos no controlo e gestão mas aumenta exponencialmente as debilidades. Esta paranóia do litoral cá em Portugal (que não vejo em mais lado nenhum) poderá sair-nos caro um dia...
 

Rui_MR

Cirrus
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10 Mai 2007
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Agualva-Cacém, Concelho de Sintra, Lisboa, Portuga
Bom dia.
Se me permitem a intromissão (tenho a mania da cortesia), gostaria apenas de referir uma notícia que os media difundiram há uns meses atrás (não tinham mais nada para dizer!), relativamente às comunicações da polícia e do Estado serem escutadas por radioamadores, por exemplo. E anunciavam, como se fosse uma grande cousa, que essa vulnerabilidade seria eliminada com a centralização de todas as comunicações das forças de segurança pública, protecção civil, bombeiros, comunicações o Estado...tudo com base num sistema informático e muito evoluído, à prova de escutas. Sistema único.
Em caso de calamidade, que é disso que este tópico trata, e caso esse sistema falhe, como é que os meios de segurança e salvamento são organizados? Por telepatia? Os media deram a entender que os radioamadores eram um perigo, por terem equipamento para fazer escuta dessas comunicações de estado. Mas não falam dos que não são radioamadores e que fazem piratarias todos os dias, inclusivamente nas "nossas" faixas de frequência. A venda deste tipo de equipamentos (receptores, emissores, transceptores, scanners) é livre, infelizmente.
É só para deixar a ideia de que, mais uma vez, a centralização tem graves desvantagens. Depois de se actualizarem os meios de comunicação do Estado para esse sistema mais evoluído, provavelmente os actuais rádios fm vao para o caixote do lixo, ou para o armário, e quando necessitarmos deles, ninguém os tem a funcionar.
Um rádio, com uma bateriazita, funciona sempre, e pode salvar muitas vidas.