Boas pessoal.
No passado dia 28 de Março de 2008, lá estive eu em mais um evento meteorológico. Naquela que foi a 3ª e última palestra, cujo tema era:
“Tempo, Clima e Variabilidade Climática”, e da qual tentarei em seguida fazer um resumo imparcial daquilo que ouvi.
Mais uma vez, toda a sessão foi presidida pelo meteorologista Henrique Oliveira Pires que começou por fazer um breve resumo das duas sessões anteriores, cujos temas foram O Tempo, e o Clima, e introduziu o tema desta sessão:
Alterações Climáticas. Antes de começar, quero referir que desta vez a plateia estava mais composta. O interesse pelo tema é geral. No entanto penso que mais uma vez liderei o top jovem das presenças!
Existem ou não alterações climáticas?
Foi assim que começou a palestra.
Para responder a esta pergunta, o meteorologista diferenciou um clima estacionário de um clima não estacionário. Clima estacionário é um clima que obedece a uns parâmetros normais, no qual existe variação climática, ou seja, um determinado mês não tem necessariamente de ter a mesma temperatura média ou a mesma quantidade de precipitação.
Um clima não estacionário é um clima irregular que muda constantemente, ou seja, um clima sobre o qual não se pode definir “normalidades”. Por exemplo, o facto deste ano o mês “y” ter sido o mais frio do ano, não quer dizer que para o ano não venha a ser o mais quente. No fundo é um clima sem estações onde tudo pode acontecer em qualquer altura do ano.
Concluiu-se portanto que
vivemos num clima estacionário.
Depois, o professor diferenciou Alterações Climáticas de Variações Climáticas.
Para existir uma alteração, significa que o processo anormal susceptível a alteração, tem de se repetir uma série de vezes de modo a que este possa fazer a diferença em valores estatísticos. Fenómenos isolados, ou cuja repetição seja ocasional ou em curto período, dá-se o nome de variação e não alteração.
Assim sendo, o palestrista concluiu que
em Portugal não se verificou até ao momento qualquer Alteração climática, mas apenas variações de clima.
Falou-se posteriormente de tendências futuras para Portugal com base nas observações feitas. Em relação à temperatura, verificou-se um aumento generalizado desta em todo o território português. Um aumento na ordem da décima de grau. (Por exemplo, o geofísico de Lisboa, entre 1856 e 2000 apresenta uma tendência de +0.0108ºC/ano).
E por causa das dúvidas das medições da temperatura devido ao urbanismo, o professor apresentou também 3 outros pontos de observação nos quais se fazem medições de temperatura desde 1956. São elas em Leixões, em Peniche e em Sines e todas elas a 250m da costa. As tendências apresentadas nestas 3 estações para o período 1956-2000 são:
Leixões:+0,04ºC/ano.
Peniche:+0,02ºC/ano.
Sines: +0,04ºC/ano.
Em relação à precipitação, a tendência é para um decréscimo ligeiro desta, em especial nas regiões do interior português. Chamou no entanto especial atenção para os meses de Março e Outubro, uma vez que estes são os meses que nos últimos anos têm registado uma alteração significativa em relação aos parâmetros normais anteriores. Em regra, o mês de Março está a ficar mais seco, ao contrário de Outubro que está cada vez mais chuvoso. Como disse, esta foi a única variação susceptível a alteração enunciada pelo meteorologista Henrique Pires.
No fim de tudo, o professor concluiu:
“
Em Portugal, os fenómenos de tempo ou clima extremos são associados à variabilidade climática”, e não a alterações climáticas.
De forma a desvalorizar o poder de sensibilidade térmica humana e valorizar os dados recolhidos pelos termómetros das estações meteorológicas, o meteorologista deu um exemplo de termodinâmica que acho importante enunciar:
Pegamos em três bacias e enchemo-las com água: uma fria, outra morna e outra quente.
Pomos as duas mãos, uma na bacia de água fria e outra na bacia de água quente.
Seguidamente pomos as duas mãos na água morna. Concluiremos que a mão que estava na água fria irá sentir calor, e a que estava na água quente irá sentir frio.
Falou-se seguidamente de
Alterações/Variações Climáticas ao nível global, no qual o professor disse, que ao contrário das observações no território português cujos registos eram directa ou indirectamente da sua responsabilidade, os dados que a partir de agora apresentaria eram da responsabilidade da OMM.
Começou por dar ênfase à concentração de CO2 na atmosfera, dizendo que este era essencial para a vida na terra, mas em quantidades adequadas assim como em tudo o resto na vida. Disse também que se estima que toda a natureza (incluindo o respirar do homem) é responsável por cerca de 280pmv de CO2 atmosférico, e que se as últimas observações dão conta de 385pmv de CO2 então algo estava a contribuir para esse aumento generalizado. Perguntou ironicamente se alguém tinha duvida que se esse aumento fosse de origem antropogénica? E que isso só ao nível ambiental era mais que suficiente para se arranjarem medidas para se diminuírem as emissões de CO2 sem termos de estar sempre a relaciona-las com as “alterações climáticas”.
Na relação "CO2 vs aumento da temperatura", o professor chamou a atenção para não vermos isso como uma razão directa, “
mas que o CO2 se relaciona com o variar da temperatura não há duvidas”.
E explicou o seguinte:
A água na atmosfera está em equilíbrio com a água dos oceanos. A água não acumula, mas o nitrato de carbono, responsável pela temperatura, tem vindo a acumular-se. Ao que parece, o aumento da concentração de CO2 aumenta a concentração de
óxido nitroso (correcção quimica feita dia 01-03-2008, obrigado pessoal) e esse sim é responsável pelo aumento da temperatura, e daí o “aquecimento global”. Importante ainda de referir que aquecimento global não significa que todo o planeta esteja a aquecer ao mesmo tempo, mas que em média esteja a aquecer. Ou seja, podem haver zonas do globo mais frias, e outras mais quentes, mas em média há cada vez mais calor. “
Não estamos a falar de unidades em graus, mas de décimas de graus, que a manter-se a tendência, poderão ascender à unidade ao longo do século.”
Depois, mostrou alguns gráficos com cenários futuros, uns mais quentes outros mais mornos, tendo em conta o desenvolvimento socio-económico ao nível mundial. No entanto todos eles apontam para um aumento generalizado da temperatura. Mais uma vez ele disse que não significa que a temperatura suba linearmente e que daqui para a frente seja tudo quente, ou a aquecer. Em média tendemos para o aquecimento, o que não quer dizer que não hajam anos mais frescos que outros.
No final da palestra, o senhor
Rui Moura, autor de Mitos climáticos, que assistiu atentamente às 3 sessões, deu os parabéns ao professor Henrique Pires, dizendo que tinha aprendido muito naquelas três sessões, mas que tinha algumas duvidas, as quais fez questão de expor:
Começou por dar atenção à pressão atmosférica dizendo que “
um aumento da pressão atmosférica é antinómica ao aquecimento global”.
Em resposta o professor Henrique Pires, disse que a massa atmosférica não varia, o que significa que é constante. Logo a pressão atmosférica não pode variar. Se nuns lados aumenta, significa que noutros lados diminui. Dizer-se que a pressão está a aumentar/diminuir ao nível mundial, implica alterar a constante do gradiente de pressão.
Disse ainda que é errado associarmos anticiclones ao frio, uma vez que ao nosso largo temos um exemplo daquilo que é um anticiclone quente: o AA.
Apesar de aparentemente o senhor Rui Moura não ter ficado plenamente satisfeito com a resposta, resolveu elaborar outra questão. Perguntou o porquê dos cenários climáticos não darem conta deste “regresso à normalidade” (ao nível da temperatura) no início do ano de 2008.
O professor Henrique Pires, explicou que os cenários são feitos pelas observações actuais e suas tendências, e justificou mais uma vez que o facto o planeta estar com tendência em aquecer, não significa que este siga um comportamento linear. Mais uma vez disse “em média…” e chamou atenção para a variação climática que a tanto deu destaque na sua palestra.
Entretanto e no meio destes esclarecimentos todos, a plateia foi saindo, uma vez que a hora já ia adiantada. Meia hora depois do final da palestra, estavam apenas no auditório, os meteorologistas Henrique Pires e Luís Pessanha, o senhor Rui Moura e eu, sentado numa cadeira a assistir a todas aquelas duvidas e respostas algumas das quais confesso não ter percebido muito bem, daí só ter escrito aquilo que percebi, tentando ser o mais correcto possível.
Sei que no fim, e já num ambiente um pouco mais quente (ou frio, não sei bem
), se falava de anticiclones polares móveis, de modelos e fórmulas físicas de previsão. Mas por falta de tempo tiveram de parar por aí, e seguir cada um o seu caminho.
De qualquer forma foi interessante tal “confronto”.
Peço desculpa pelo texto extenso mas quis transparecer aquilo que muitos gostariam de ter assistido, mas que por várias razões não puderam assistir.