Existem locais cujo acesso deve ser restrito. Mas é o próprio estado que estimula por vezes o acesso a esses locais sensíveis, ou que os destrói.
Exemplos? O plano de Ordenamento costeiro para o sotavento prevê a abertura de um trilho pedonal para o Ludo, junto à ribeira de São Lourenço. Ora o Ludo é das áreas mais sensíveis do parque do ponto de vista da avifauna. Lá nidificam inúmeras espécies e quem observa aves e percebe do assunto sabe que com a presença humana as fêmeas «enjeitam» os ovos, ou seja, abandonam o ninho e não têm criação. O correcto seria limpar e renaturalizar, e vedar o acesso.
Outro exemplo. Há uns 5 ou 6 anos foi aberta uma barra na península de Cacela, numa zona onde o cordão arenoso estava estável. Resultado? O mar não pára de avançar e a maior parte da península já foi destruída. Quando há vendavais, a água salgada avança sobre as dunas e destrói a vegetação que segura as areias. Aquilo tem sido um cemitério de piornos mortos pela água salgada. Para piorar a situação, os turistas de Verão acorrem em massa para a zona, pisoteando as dunas e deixando lixo. Como tem uma das únicas populações de camaleões viáveis em Portugal, penso que seria uma área que merecia restrições no acesso.
Mais um. Desde que abriu o hotel Albacora que o aumento da pressão humana nas salinas não parou. Nem vi mais a colónia de flamingos que havia naquela zona. E patos, só perto da foz da ribeira do Almargem, que entretanto levou com uma urbanização em cima do lado de Cabanas de Tavira. Compreendo que era importanto a recuperação e aproveitamento do arraial Ferreira Neto, mas deveriam ter sido tomadas metidas. Junto à estrada poderiam ser plantados ciprestes. As árvores fariam um muro e assim as aves não veriam os humanos e os veículos na estrada. O acesso às salinas por parte dos turistas também deveria ter sido vedado. Outro local onde são urgentes medidas de protecção: o Sapal de Castro Marim.
Recordo que no Sapal de Castro Marim o dinheiro para a abertura de esteiros foi desviado para a construção de uma sede megalómana em plena reserva. O sapal foi seco ao longo dos séculos e merecia acções de renaturalização e recuperação de esteiros. A reserva também deveria ser ampliada para passar a incluir a foz da ribeira do Beliche, cujo sapal e vale deveriam ser recuperados.