© HFI. Lusa/expressoBragança, 08 Jan (Lusa) - Alguns cabo-verdianos a estudar em Bragança admitiram hoje à Lusa que não obstante "tremerem com o frio" preferem o gelado Inverno ao tórrido Verão transmontano.
Natalino Andrade, um jovem cabo-verdiano há mais de dois anos em Portugal, não tinha a mínima noção do que era o frio até deixar o seu ameno país africano e vir estudar para Bragança.
No entanto, o cabo-verdiano que chegou num mês de Outubro quando as temperaturas começavam a descer e tremeu de frio nos primeiros tempos, depois de dois anos na cidade do Nordeste português garante que prefere o gelado Inverno ao tórrido Verão transmontano.
"É muito quente", disse à Lusa, afirmando que prefere dias como o de hoje em que acordou com seis graus negativos aos cerca de 40 graus que tem de enfrentar no Verão.
Qualquer época do ano no Nordeste Transmontano é diferente do clima ameno de Cabo Verde com temperaturas na casa dos 20 graus.
A região transmontana é de extremos, fazendo jus ao ditado popular dos "nove meses de Inverno e três de Inferno".
Quando se preparava para partir para Bragança falaram-lhe no frio, mas Natalino confessa que não tinha a noção do que isso era.
"Não acreditava que fosse impossível de suportar", mas depressa se apercebeu que as camisas de meia manga e as calças de pano eram insuficientes para enfrentar os rigorosos Invernos do Nordeste Transmontano.
Em Cabo Verde "não há essa roupa", afirmou Natalino referindo-se aos agasalhos que teve de comprar em Bragança.
Ainda assim, não era dos que mais roupa trazia hoje entre as dezenas de alunos que saíam de uma sala de aula no Instituto Politécnico de Bragança (IBP), onde Natalino frequenta o curso de Engenharia Biomédica.
Nem ele, nem duas outras alunas cabo-verdianas - Eunice Dias e Zuleica Tavares - que começaram, no entanto a usar, pela primeira vez, cachecóis, casacos e sapatilhas quando chegaram a Bragança.
Na bagagem traziam apenas as chinelas e as t-shirts que compunham o seu guarda-roupa em Cabo Verde.
Uma chegou em Novembro e outra em Dezembro, há dois anos, e depressa se aperceberam de que as roupas que traziam eram insuficientes.
Todos tiveram também de se familiarizar com outro acessório até então desconhecido, o aquecedor.
"Foi difícil" adaptarem-se ao frio, mas agora - admitem - já estão habituados e nem sequer têm tido "grandes problemas com a gripe".
Confessam, porém que o frio é um dos factores que mais custa na integração, dificultada também pelas diferenças culturais.
Foi em Bragança que viram e tocaram pela primeira vez na neve, e que se surpreenderam com o outro branco das geadas que se seguem a noites de baixas temperaturas, amenizadas por dias de sol, ainda que de tímido calor.
Os transmontanos já se habituaram às gélidas temperaturas que, embora baixas, continuam longe dos recordes históricos.
Em Janeiro de 1945 e, no mesmo mês de 1997, os termómetros marcarem 12 graus negativos em Bragança.
As temperaturas voltaram a ter uma súbita quebra em Dezembro de 2001, chegando aos onze graus abaixo de zero.
Embora não contando para a média oficial, as estações de medição das temperaturas do Instituto Politécnico de Bragança já chegaram a registar 17,5 graus negativos, na zona da "Veiga de Gostei", próximo da cidade.
Situações excepcionais para os transmontanos são casos como o nevão histórico de 1956, que "soterrou" aldeias e o comboio que na altura ainda circulava na região.
Eu também prefiro acordar com 8ºC negativos do que trabalhar com 40ºC
Os -17,5ºC na estação da Veiga de Gostei foram registados no dia 12 de Fevereiro de 1983.
Só uma nota para os alunos do "nosso" IPB. É fantástico ver como reagem aos nevões, muitos deles são do litoral e deliciam-se, ainda mais do que nós com este tempo.