Também fui!
Achei interessante, com bastante assistência (na minha perspectiva)...talvez pouco participada, eventualmente fruto de pouca frequência de encontros desta natureza e nesse sentido acho que a Associação está de parabéns...sentar na mesma sala Técnicos, Professores, Investigadores, Utilisadores e Apreciadores da Meteorologia foi muito positivo espera-se continuidade...
Foi sem dúvida um debate de ideias bastante interessante, e é muito positivo e essencial juntar os especialistas do país nestes assuntos.
Já agora aproveito para fazer um resumo do que se passou e discutiu para quem estiver interessado.
No início, cada investigador (Pedro Miranda da FCUL, Rui Salgado da Univ de Évora e dois meteorologistas do IM) apresentou a sua versão do acontecimento acerca do fenómeno e a sua previsão/acompanhamento da situação 1 ou 2 dias antes da tempestade, através das imagens das saídas dos modelos nos dias 18 e 19 de Fevereiro. O prof.Pedro Miranda mostrou que os modelos utilizados na previsão meteorológica do IDL (Instituto D. Luiz sediado na FCUL) previram a situação com 2 dias de antecedência. Já os dois meteorologistas do IM, afirmaram que até quase à própria hora do evento ainda havia bastante incerteza quando à severidade do mesmo, pois os vários modelos utilizados divergiam de opinião. Realmente, nalgumas saídas de alguns modelos chegou a ser modelada uma grande quantidade de precipitação, mas nem todos apontavam essa solução. Chegou-se á conclusão que os modelos de resolução mais elevada (malha mais pequena) resolviam melhor o problema local da orografia que os modelos mais gerais (ECMWF), e apostaram em precipitações muito mais elevadas. Porém os modelos de alta resolução apresentam outros problemas, como a diferença de fase (erros na hora e localização exacta do evento). O IM não pareceu, na minha opinião, muito interessado em desenvolver modelos de pequena malha, referindo que as precipitações nesses modelos são muito sobreestimadas: "Ficaria muito mais preocupado se visse o ECM prever 50 mm do que se fosse o ALADIN".
Outro dos temas muito debatido, além do problema da resolução dos modelos, foi a instalação do radar meteorológico. Aqui, as opiniões divergiram um bocado. Uns defendem que o radar seria útil, podendo ajudar no "nowcasting" de um evento deste género, complementando a informação dos modelos e de satélites. Porém, alguns colocaram problemas na utilização do radar. Um deles é a sua localização, devido aos ecos e a cobertura deficiente de um radar num terreno muito acidentado como o da Madeira. Depois, a sua informação é muito tardia para se tomarem precauções. E além disso, ainda há o problema de que grande parte da precipitação na Madeira é causada pelo orografia da ilha, ou seja, quando vem do mar, a precipitação mostrada pelo radar não seria significativa, só se começando a ver os "monstros" quando se começassem a formar junto ás montanhas, ou seja, em cima do acontecimento.
De resto, acho que o Prof Pedro Miranda referiu um aspecto para muito importante. Será que, mesmo que se tivesse a certeza da precipitação que iria acumular, alguém iria adivinhar o que iria causar na Madeira? Acho que não. O Professor mostrou também que nos últimos anos já houve dias que choveu quantidades até maiores que no dia 20 no Pico do Areeiro, e que nada ou pouco aconteceu. A questão é que, além da previsão meteorológica, ainda se tem de considerar a quantidade de precipitação das últimas semanas para prever uma catástrofe do género. O IM não referiu este aspecto, atribuindo "culpa" á forma muito abrupta como caiu a chuva, isto é, muita chuva e muito pouco tempo. Claro que ajudou, mas não explica tudo, já tendo isso acontecido antes sem danos de maior.
Também se falou da interacção IM-protecção civil e a forma como comunicam, alguns sectores de trabalho do IM e a maneira como lidam com estas situações mais complicadas, etc.
Chingula, caso queiras acrescentar ou corrigir algo, agradeço.
Cumps